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MÉTODOS DE

ESTUDO BÍBLICO
Prof. Vitor Gadelha
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO 1

POR QUE ESTUDAR A BÍBLIA?

Praticamente todos os cristãos concordam que temos o dever e a necessidade

de ler, conhecer e amar a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. Porém, muitos acham

estranha (às vezes, hostilizando) a idéia de que devemos estudá-la. Teria fundamento

este tipo de opinião ou não passa ela de uma visão estereotipada e preconceituosa

acerca do significado do estudo, da piedade cristã e da própria Palavra de Deus?

O dicionário Aurélio (1988) apresenta 14 sentidos para a palavra estudar:

1. Aplicar a inteligência a, para aprender. 2. Dedicar-se à apreciação, análise ou compreensão


de; examinar, analisar. 3. Observar atentamente. 4. Procurar fixar na memória; esforçar-se para
saber de cor. 5. Freqüentar o curso de; cursar. 6. Examinar ou observar atentamente. 7.
Exercitar-se ou adestrar-se em. 8. Ensaiar previamente (uma atitude, um gesto, um acessório, a
posição dum objeto, etc.), para ter idéia do efeito. Int. 9. Aplicar o espírito, a memória, a
inteligência, para saber, ou adquirir instrução ou conhecimentos. 10. Exercitar-se, adestrar-se.
11. Ser estudante. 12. Ser estudioso. 13. Meditar, pensar; assuntar. 14. Aprender a conhecer-se;
observar-se; analisar-se.

Podemos observar, com a ajuda desta análise (excetuando-se os sentidos 5 e 8),

que estudar significa simplesmente o processo sistemático e organizado para aquisição e

domínio de conhecimentos verdadeiros e aprofundados sobre determinado objeto. Chamamos

este processo de sistemático porque deve ser habitual e intencional; não-esporádico.

Organizado porque segue procedimentos (daí a justificativa de nossa disciplina:

métodos são os procedimentos que produzem melhores resultados). Que visa a

aquisição e domínio de conhecimentos porque objetiva tanto a assimilação quanto a

prática dos saberes adquiridos – que devem ser verdadeiros, fugindo de falácias e

autocontradições e, tanto quanto possível, aprofundados, sem cair na superficialidade

ou no senso comum. O nosso objeto de estudo, é óbvio, é a Palavra de Deus.

Embora a palavra “estudo” só apareça literalmente uma única vez na Bíblia

(em Ec 12.12), a idéia aparece, com outras palavras, em várias passagens, destacando

sua importância e necessidade:


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Não cesses de falar deste livro da lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de

fazer segundo a tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás

bem-sucedido (Js 1.8).

Antes o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.2).

Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus (Mt 22.29).

Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela

paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança (Rm 15.4).

Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica, pois receberam a palavra com

toda a avidez examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram de fato assim

(At 17.11).

A Bíblia deve ser estudada porque ela é o único livro capaz de proporcionar:

a) Salvação: Jo 5.24, 39, 6.68; Ef 1.13; 2Tm 3.15; Tg 1.21

b) Direção: Sl 119.105

c) Fé: Rm 10.17

d) Esperança: Rm 15.4; 2Pe 1.19

e) Alegria: Sl 19.8; Jr 15.16

f) Paz: Sl 119.65

g) Sustento: Dt 8.3; Mt 4.4; 1Tm 4.6

h) Crescimento: 1Pe 2.2

i) Pureza: Sl 119.9; Jo 15.3; Ef 5.26; 1Pe 1.22

j) Santidade: Jo 17.17; Ef 5.26

k) Maturidade: Hb 5.12-14

l) Sabedoria: Sl 119.98-100; 2Tm 3.15

m) Defesas espirituais: Mt 4.1-11; Ef 6.17.b

n) Eficácia espiritual: 2Tm 3.16-17


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o) Introvisão: Hb 4.12; Tg 1.22-25

p) Cosmovisão: Rm 16.25-27

q) Bem-aventurança: Sl 119.1; Lc 11.27-28; Ap 1.3

A Palavra deve ser estudada porque dessa maneira a conheceremos melhor.

Conhecendo-a melhor, conheceremos ao Pai melhor. Conhecendo ao Pai melhor,

viveremos melhor – e este viver renovado será uma expressão de culto a Ele.
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CARACTERÍSTICAS ESPIRITUAIS DE UM

ESTUDANTE DA BÍBLIA

a) Reverência: É indispensável aproximar-se da Bíblia sem o devido respeito a

ela e a seu Autor (1Ts 2.13).

b) Anelo: Deus promete saciar aqueles que O buscam com sinceridade e

intensidade (Jr 29.13).

c) Humildade: Submissão à voz de Deus e a necessária disposição para

obedecê-Lo (Sl 25.9; Is 66.2; 1Co 2.14-15).

d) Perseverança: Para percorrer todos os passos que levam ao crescimento

espiritual (Jo 8.31; 2Pe 1.3-11).

Podemos encerrar esta parte introdutória citando as palavras de Frank Charles

Thompson:

É indispensável uma atitude espiritual. E de suma importância que o leitor ou o estudante se


aproxime da Bíblia de modo reverente, vendo-a como a Palavra inspirada de Deus, e não
somente como literatura.
Pode-se ler ou estudar a Escritura com o mesmo espírito com que se lê ou se estuda um livro
de Camões ou de Shakespeare, ou como uma obra histórica, e achá-la interessante e
proveitosa, mas o simples estudante de literatura ou o crítico literário, por mais persistente
que seja, nunca descobrirá os tesouros mais preciosos da Palavra de Deus.
A necessidade consciente é essencial. A Bíblia deve ser estudada com a mesma ânsia que uma
pessoa faminta busca comida. (...)
Estude a Bíblia como um viajante que deseja obter um conhecimento completo e experimental
de outro país.
Vá pelos vastos campos da verdade; desça a seus vales; suba suas montanhas de percepção;
siga suas correntes de inspiração; entre nos corredores de sua instrução; visite suas
maravilhosas galerias de obras de arte.
Trate de entender as coisas profundas de Deus. Estude a Palavra como um garimpeiro escava
a terra em busca de ouro, ou como um mergulhador desce às profundezas do mar em busca
de pérolas.
A maioria das grandes verdades não estão na superfície, e por isso só podem ser trazidas à luz
mediante trabalho paciente1.

1 Frank Charles THOMPSON, Bíblia de Referência Thompson, pág. 1167.


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FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO BÍBLICO

I. APRIMORANDO OS HÁBITOS DE LEITURA2

Dado que a revelação de Deus a nós foi dada de forma escrita, é essencial que

aprimoremos, de forma quantitativa e qualitativa, nossos hábitos de leitura.

a) Aprenda a gostar de ler: não é tão difícil quanto parece – geralmente as

pessoas não gostam de ler porque para elas a leitura sempre esteve

associada a uma obrigação, de forma que não conseguiram descobrir que ler

pode ser uma atividade prazerosa.

b) Leia com atenção: leia com concentração, interesse e vigor mental. Interaja

com o texto (nem é preciso dizer que o ambiente onde a Bíblia deve ser lida

ou estudada deve ser, preferencialmente, tranqüilo e livre de distrações...).

c) Leia repetidamente: você sempre descobrirá algo novo ao reler uma

passagem bíblica. Leia-a em diferentes traduções, de diferentes formas (em

voz alta, em fitas k-7, etc.).

d) Leia pacientemente: seja paciente com o texto e consigo mesmo.

e) Leia seletivamente: saiba o quê e sobre o quê você está lendo; pince as

informações do texto.

f) Leia com oração: ore antes, durante e após a leitura do texto bíblico.

g) Leia imaginativamente: transporte-se para dentro do texto.

h) Leia meditativamente: reflita sobre o que você está lendo.

i) Leia com propósito: descubra o objetivo da passagem.

j) Leia aquisitivamente: busque reter as informações descobertas no texto.

k) Leia telescopicamente: leia as partes da Bíblia à luz do todo.

2 Adaptado de Howard e William HENDRICKS, Vivendo na Palavra, cap. 8.


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II. MARCANDO A BÍBLIA

Uma das estratégias mais usadas por aqueles que estudam a Bíblia consiste em

marcá-la (sublinhando, destacando, circulando partes dela). Sugerimos os seguintes

cuidados para que a marcação da Bíblia seja feita da forma mais proveitosa possível:

a) Preste atenção no material que você irá utilizar (certos marcadores borram

o verso das páginas; outros possuem cores muito escuras, que cobrem as

letras).

b) Preste atenção se o exemplar da Bíblia que você está utilizando para estudo

pessoal é impresso com o tipo de papel e letra que favorecerá a marcação.

c) Preferencialmente, faça também anotações nas margens da Bíblia, junto

com suas marcações (estas anotações podem estar relacionadas aos

motivos da marcação, às suas descobertas no texto ou serem de caráter

devocional/pessoal; você pode anotar também referências paralelas).

d) Estabeleça um método organizado de marcação, onde as informações

sejam classificadas.

e) Não marque tudo na Bíblia!

f) Saiba o que você está marcando (a informação) e por quê (sua

importância).

III. MNEMOTECNIA DA BÍBLIA

Memorizar a Bíblia não é tão difícil quanto parece – é uma questão de treino e

de descobrir qual é a melhor estratégia a ser adotada para que você venha a decorá-

la, de acordo com a especificidade de sua memória:

a) Certas pessoas têm mais facilidade em decorar aquilo que ouvem (podem

ler em voz alta), outras o que vêem (deverão utilizar uma Bíblia marcada),

e ainda há aqueles que retém melhor na memória aquilo que sentem

(poderão transcrever passagens bíblicas).

b) No processo de memorização, é interessante trabalhar com apenas uma

versão da Bíblia.
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c) Tente estabelecer associações que o levarão a estabelecer “ganchos”

mentais entre as passagens (esteja atento também a coincidências entre as

passagens que você deseja decorar).

d) Mais importante: queira realmente memorizar a Bíblia, e empregue esforço

mental positivo neste sentido.

IV. O USO DE MATERIAIS DE APOIO

Naturalmente podemos aprender com o que outros cristãos mais maduros já

descobriram em suas leituras da Bíblia (através de pregações, comentários bíblicos,

livros devocionais, etc.). Além disso, certas informações que descobrirmos no texto

poderão ser melhor elucidadas por pessoas que tenham conhecimento mais técnico

em determinadas áreas (geografia, história, literatura, etc.). Sendo assim, nosso

estudo bíblico pode ser enriquecido com o uso de materiais secundários. Dentre eles,

podemos destacar os seguintes:

a) Concordância/chave bíblica: mostram as passagens (ou as principais

passagens) da Bíblia onde determinadas palavras aparecem (geralmente

elas são de uma versão bíblica específica). Certas Bíblias eletrônicas

também possuem sistemas de busca de versículos muito úteis.

b) Dicionários da língua portuguesa: é impossível entender o que o texto

significa antes de entender o que ele diz...

c) Dicionários bíblicos: apresentam o significado e os usos de um termo

dentro da Bíblia Sagrada.

d) Comentários Bíblicos: trazem a análise e (o que muitos esquecem) as

opiniões do comentarista sobre o texto.

e) Manuais bíblicos: são obras que tentam apresentar, de forma condensada,

os principais recursos que podem ser obtidos em obras como comentários

bíblicos e livros de introdução bíblica (alguns deles trazem ainda


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informações sobre história eclesiástica e secular, biografias, notas

teológicas, mapas, etc.).

f) Bíblias de estudo: além do texto bíblico, trazem auxílios variados para seu

estudo e compreensão. Estes auxílios podem variar muito, dependendo de

cada Bíblia de estudo: comentários em notas de rodapé, referências, notas

teológicas, análise de temas centrais, etc. É muito importante, antes de

comprar uma Bíblia de estudo identificar os recursos que ela contém, a

tradução, a posição teológica do comentarista, etc.

g) Atlas bíblicos: Algumas Bíblias trazem mapas anexados em seu final. Além

destes, existem obras especializadas que os apresentam de forma mais

detalhada.

h) Livros de história secular: é muito importante sincronizar os fatos da

história bíblica com os fatos que ocorriam em outras nações no mesmo

período.

IMPORTANTE: A consulta e o uso de comentários e manuais bíblicos devem

ser sempre o ÚLTIMO PASSO de seu estudo bíblico – caso contrário, você será

apenas um reprodutor de opiniões alheias...


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ETAPAS DO ESTUDO BÍBLICO

Quatro passos são fundamentais para o estudo e compreensão de qualquer

texto bíblico, e devem ser sempre executados, não importando o método de estudo

adotado pelo estudante.

I. OBSERVAÇÃO

Consiste na captura/registro atento das informações trazidas pelo texto. É ler a

Bíblia com os olhos de um detetive. São úteis os seguintes procedimentos para uma

leitura mais atenta (e, conseqüentemente, mais rica) das Escrituras:

a) Não se esqueça do Espírito Santo: Ele é o seu Mestre que irá te guiar nas

Escrituras ministrando às suas necessidades.

b) Registre as informações descobertas: não confie demasiadamente na

memória... Anote (na própria Bíblia, em uma folha à parte, em um caderno

específico, etc.) todas as informações que chamaram sua atenção, que você

considerou importantes.

c) Determinação: para ler a Bíblia com vontade firme e vigorosa, com ânsia

por conhecê-la e aprender com ela.

d) Persistência e paciência: os frutos do estudo bíblico não são fáceis e nem

obtidos em curto prazo.

e) Cautela: é muito bom saber ler nas entrelinhas de um texto – mas tome

muito cuidado para não perder-se em divagações infundadas!

f) Aborde o texto com perguntas-chave (Quem? O quê? Quando? Onde?

Como? Por quê? Para quê?):

g) Verifique a estrutura da passagem: verifique o estilo literário da passagem

(narração, ensino, linguagem poética, etc.) e a maneira com que o autor


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trata do assunto (através de exposição, perguntas e respostas, exortações

negativas ou positivas, etc.)

h) Existe uma palavra-chave? Palavras-chaves são os termos principais da

passagem, em torno dos quais gira o assunto (geralmente, ela ocorre várias

vezes na passagem).

i) Existe uma ilustração? Ilustrações visam facilitar a compreensão de um

assunto abordado – esteja atento! Compreenda a intenção do autor ao

utilizar uma ilustração; o que ele esperava que seus leitores entendessem

com ela.

j) Existem explicações? Jamais deixe de perceber o óbvio buscando

minúcias...

k) Existem citações paralelas? A passagem que você está lendo cita outra

passagem da Bíblia?

l) Esteja atento ao fluxo da argumentação do autor: as partes e a progressão

de seu argumento. Esteja atento a repetições, comparações e contrastes.

m) Ao final, faça um sumário de suas observações. Seja criativo.


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II. INTERPRETAÇÃO

Interpretar significa descobrir o sentido de. Tendo alistado as informações do

texto (observação), agora chega a hora de entendê-las (interpretação).

a) Descubra o propósito do autor da passagem: relacione as intenções do

autor em relação a seus primeiros leitores em relação a nós, seus leitores

contemporâneos. Lembre-se que um texto da Bíblia não pode significar

para nós o que ele jamais teria significado para seus primeiros leitores.

b) Identifique a idéia central da passagem: o “coração” ou tese principal do

argumento. Após isto, reescreva esta grande verdade espiritual do texto

com suas próprias palavras. Isto facilitará sua assimilação (ajuda muito

neste passo a identificação do fluxo de argumentação da passagem).

c) Faça o levantamento de todas as informações contextuais relevantes: além

de relacionar a passagem estudada com o todo do livro estudado (contexto

imediato), verifique também aspectos literários, históricos e culturais

relacionados.

d) Dê especial atenção à linguagem figurada: linguagem simbólica não

implica em interpretação figurada das Escrituras. Descubra a figura de

linguagem, o significado do símbolo, e sua relação com a idéia

representada.

III. CORRELAÇÃO

Após descobrir a mensagem do texto e seu significado, devemos

relacioná-lo com outras porções das Escrituras. Esta relação pode ser realizada de

forma mais restrita (dentro do livro onde se encontra a passagem estudada) ou mais

ampla (as Escrituras como um todo). A correlação complementa e enriquece o

entendimento da passagem que estudamos, bem como evita falsas conclusões que

poderiam ser tiradas dela devido a uma análise por demais isolada do texto. As

partes adquirem maior significado a luz do todo: “A Escritura interpreta a Escritura”.


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As principais ferramentas utilizadas neste processo são os esboços de livros

bíblicos e as referências paralelas.

a) Os esboços de livros ajudam a correlacionar a passagem dentro de seu

próprio contexto. Vários deles são-nos disponíveis atualmente, em

comentários e Bíblias de estudo, variando entre si em grau de

minuciosidade. Nada impede, no entanto, que você venha a enriquecer

estes esboços ou mesmo criar os seus próprios, usando sua criatividade,

fazendo esboços ilustrados, em formato de gráfico, tabela, etc.

b) Da mesma forma você também pode construir esboços e gráficos

abordando determinados temas dentro da Bíblia.

c) Acerca de referências paralelas, conscientize-se de que existem referências

paralelas verbais (que apresentam a mesma terminologia) e referências

paralelas reais (que realmente tratam do mesmo assunto, sem empregar

necessariamente os mesmos termos). Também é muito interessante a

comparação entre as referências do Antigo Testamento usadas no Novo e a

comparação entre passagens bíblicas que falam de temas opostos (como o

sucesso de José e o fracasso de Davi perante a lascívia).


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IV. APLICAÇÃO

Deus não nos deu Sua Palavra meramente para nos informar, mas para nos

transformar. Estudo bíblico sem aplicação não gera vida, não cumpre os propósitos

de Deus (Dt 32.46-47; Tg 1.22). Devemos praticar na vida cristã diária tudo aquilo que

aprendemos nas Escrituras.

Os seguintes princípios podem nos orientar quanto à aplicação das verdades

bíblicas em nosso dia-a-dia:

a) Interrogue o texto de forma prática – pergunte: há um exemplo a ser

seguido? Um pecado a se evitar? Uma promessa para esperar? Uma

oração a repetir? Um mandamento a obedecer? Uma condição a atender?

Um versículo a memorizar? Um erro a corrigir? Um desafio a enfrentar?

Algum novo pensamento a assimilar?

b) Seja específico ao observar os pontos de aplicação do texto bíblico: não faça

generalizações do tipo “Segundo o Efésios 4.29, Deus não quer que eu diga

palavras torpes”, mas relacione o texto com sua situação de vida – “à luz

de Efésios 4.29, adotarei o propósito de usar minhas palavras apenas com

objetivos construtivos, evitando qualquer uso delas que venha a ofender a

Deus e ao próximo, como fofocas, mentiras, depreciações; corrigindo o meu

mau hábito de, por vezes, envolver-me em fofocas”. Além disto, tente

estabelecer atitudes práticas que podem ser tomadas para aplicar as

verdades bíblicas.

c) Tome muito cuidado com a questão cultural: é necessário discernir, em

uma passagem bíblica, os elementos teológicos (imutáveis) dos elementos

culturais (mutáveis) de um determinado preceito. Devemos estabelecer

“pontos de conexão” entre nossa cultura e a cultura do período bíblico, a

fim de podermos descobrir os equivalentes culturais que podem nos


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fornecer parâmetros para que a Palavra de Deus seja obedecida em nossos

dias.

d) Seja pessoal: aplique o texto na primeira pessoa do singular!

e) Transcreva as máximas de aplicação pessoal obtidas.

f) Estabeleça um procedimento de auto-verificação e auto-avaliação acerca de

sua obediência à Palavra – que terá relação vital com seu crescimento

espiritual.

g) E, finalmente, lembre-se de que a Bíblia é um livro de PRINCÍPIOS: ela nos

traz verdades gerais que devem ser interpretadas e relacionadas ao nosso

dia-a-dia para que sejam praticadas.

Podemos concluir esta parte com a síntese de Hendricks, que diz que os

passos básicos para a aplicação bem-sucedida do texto bíblico são: conhecimento do

texto, relação do texto com a experiência pessoal, meditação no texto e prática do

texto3. São os passos naturais que geram crescimento espiritual e mudança de vida.

3 Op. cit., cap. 40.


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MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO

A Palavra de Deus é rica e vasta (Sl 119.96). Seu conteúdo nunca se

desatualiza. Atende a todos os grandes anseios do homem, em todas as épocas.

Sempre terá novas lições a ensinar para seus leitores. E, acima de tudo, conduz os

homens à vida eterna, levando-os a conhecer Jesus Cristo (Rm 10.9-17).

O estudo bíblico pode analisar a Palavra de diversas maneiras (aliás, é natural

que seja assim, dada sua riqueza inerente), através de diferentes ângulos dos quais

poderá extrair preciosas verdades. Como George Muller afirmava: “Já li a Bíblia toda

cem vezes e sempre com maior deleite. Cada vez se me apresenta um texto novo”.

Nesta próxima parte de nossa apostila, estaremos transmitindo algumas

propostas metodológicas de abordagem ao texto, incluindo seus principais

fundamentos.

I. MÉTODO ANALÍTICO DE ESTUDO DA BÍBLIA – Análise de um versículo

Este método foca o estudo em um versículo bíblico, dentro de seu contexto.

a) Escolha um versículo “completo” em si mesmo (que apresenta uma idéia

completa).

b) Observe-o, anotando quaisquer observações ou possíveis aplicações. Tente

descobrir o vocábulo mais importante do versículo; dê especial atenção a

verbos e termos que precisem ser elucidados.

c) Relacione o versículo com seu contexto.

d) Parafraseie a idéia central que o autor bíblico está dizendo.

e) Procure referências bíblicas que contenham idéias parecidas às que você

está descobrindo nesta passagem.

f) Faça o levantamento de aplicações a serem executadas e problemas

pessoais que podem ser sanados com a ajuda deste versículo.


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II. MÉTODO ANALÍTICO DE ESTUDO DA BÍBLIA – Análise de passagens mais

extensas

O processo é muito semelhante ao mencionado acima; só que agora é aplicado

a passagens maiores.

a) Leia cuidadosamente a passagem, anotando suas observações (inclusive

suas dúvidas). Preste atenção nos verbos e substantivos (passagens

doutrinárias costumam apresentar mais substantivos; passagens

exortativas empregam maior número de verbos).

b) Tente descobrir a idéia-chave de cada versículo e escreva-as. Após isto,

tente construir uma sentença coerente e coesa, unindo todas as idéias-

chave elencadas.

c) Verifique a idéia-chave de cada parágrafo (grupos de 2 ou 3 versículos) e

da passagem toda. Acostume-se com a idéia de trabalhar com parágrafos

dentro do texto (afinal, a maneira como a Bíblia foi dividida em capítulos e

versículos não é inspirada; e às vezes ela quebra o raciocínio do autor.)

d) Dê um título para cada parágrafo e para a passagem como um todo.

e) Não se esqueça de anotar as possíveis aplicações do texto.


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f) Verifique a possibilidade de decorar a passagem toda ou os principais

trechos dela.

III. MÉTODO SINTÉTICO DE ESTUDO DA BÍBLIA – Estudo de um livro

Podemos comparar o método de estudo analítico a uma investigação

microscópica das várias pequenas partes que compõem o todo. O método sintético,

por sua vez, assemelha-se a uma observação telescópica deste todo em sua

amplitude. È o método ideal para o estudo de livros inteiros da Bíblia.

a) Faça uma leitura completa do livro, fazendo também o registro de suas

observações (argumentação, textos e palavras-chave, fatos, locais, pessoas,

dificuldades de interpretação, referências, possíveis aplicações). Tente lê-lo

todo de uma vez só.

b) Releia o livro, agora tentando compreender o tema principal da

argumentação do autor – ou seja, a idéia-chave do livro.

c) Leia o livro novamente. A partir desta leitura você construirá o esboço do

livro.

d) Faça o levantamento das informações históricas relacionadas ao livro

(autor, data, ambiente do autor e dos leitores, informações geográficas e da

história geral do período, etc.).

e) Verifique o estilo utilizado pelo autor na apresentação de seus argumentos.

f) Verifique o papel e as contribuições que o livro estudado traz ao todo da

Bíblia.

g) Examine as aplicações trazidas pelo livro, relacionando-as à sua vida

pessoal.

Apesar de suas diferenças, os métodos analíticos e sintético são

complementares entre si. Sendo assim, ambos devem ser utilizados pelo estudante da

Bíblia.
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IV. MÉTODO TÓPICO DE ESTUDO DA BÍBLIA – Estudo de um tema nas

Escrituras

Esta metodologia apresenta princípios para o estudo de um tópico dentro da

Bíblia ou em porções dela.

a) Escolha o tema a ser estudado e onde (na Bíblia toda? No Antigo

Testamento? No Novo? Dentro dos escritos de determinado autor?).

Localize as principais referências a este tema (provavelmente você

precisará de algum material de apoio nesta etapa – concordância ou chave

bíblica, software de pesquisa bíblica, etc.).

b) Analise atentamente as passagens levantadas, sempre anotando os

resultados de suas observações, dúvidas e possíveis aplicações.

c) Escreva o pensamento-chave de cada passagem estudada.

d) Classifique as passagens estudadas de acordo com os subtemas que podem

existir dentro de seu assunto. Nomeie cada categoria de passagens, À luz

de seu tema.

e) Escreva o pensamento-chave de cada grupo de passagens que você acabou

de agrupar. Depois disso, escreva o pensamento-chave do estudo

completo.

f) Trabalhe as aplicações que o texto sugere.

g) Se você assim desejar, construa um gráfico esboçando as verdades

descobertas em seu estudo.

V. MÉTODO BIOGRÁFICO DE ESTUDO DA BÍBLIA – Estudo da vida de um

personagem bíblico

Este constitui-se em um tipo de estudo muito rico e fascinante:


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a) Escolha o personagem que você deseja analisar, delimitando também o

período de sua vida que fará parte de seu estudo (certos personagens

apresentam muito material para que sua vida possa ser estudada em um

único momento), caso não possa fazer um estudo completo de sua vida.

b) Faça o levantamento das principais passagens que falam, direta ou

indiretamente, do personagem.

c) Realize a abordagem das passagens selecionadas, sempre anotando os

resultados de suas observações, especialmente no que diz respeito a quem

foi e que fez o personagem em questão. Não se esqueça de abordar o fundo

histórico da vida do personagem.

d) Faça um breve esboço da vida do personagem.

e) Registre as virtudes e fraquezas do personagem;também seus acertos e

erros.

f) De todas as passagens que você levantou, escolha um versículo que pode

ser definido como o versículo-chave da vida daquela pessoa.

g) Resuma a vida do personagem em uma frase, expressando seu conceito

sobre ele (pode ser positivo ou negativo).

h) Faça uma pequena dissertação acerca da filosofia de vida do personagem:

seus valores, motivações, objetivos, etc.

i) Se preferir, faça um resumo de seu estudo sob a forma de gráfico.

j) Compare/contraste o personagem com outros da Bíblia.

k) Não se esqueça da aplicação: você sem dúvida irá descobrir muitas lições

importantes sobre a vida do personagem para serem aplicadas à sua vida

pessoal.

Importante: no caso do estudo de personagens da Bíblia, não aprendemos

somente com seus bons exemplos, mas também com seus maus exemplos,

observando como não devemos agir.

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