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A forma do real Introdugao aos estudos visuais Josep M. Catala Domenech ile 1. Polissemias e poliformas da imagem A cic etn da intlignci’ Gaston Bachelard ‘Perguntarmo-nos o que ¢ uma imagem significa que jé percorremos parte importante do caminho que nos leva & compreensto dos fendmenos visuais,j& que a pergunts implica estarmos em condighes de compreender que a existéncia das imagens nto tem nada de natural nem estas possuem algum tipo de vineulo bisica com a reali- dade. Nosso conhecimenta avangou sempre por esse tipo de vitéras sobre 0 que se considera implicito, o que se di por compreendido, e uma das iimas conquistas desse process racionaléo que concerne & nossa visto e aos processosestéticos, emo- cionais e comunicativos que podémos estabelecer por meio de suas wepresentagdes se articulam mediante 0 que chamamos de imagens. O mundo ¢ a humanidade poderiam existr sem imagens, mas seriam um mundo € uma humanidade essencial mente distintos. [Ease procesto de estranhamento & menos ainda uma operaglo ffeil, wma vex ‘que a imagem sempre caminhou pela fronteira que separa o natural do construida c,em grande parte do tempo, se vin fortemente atraida por una atitude naturalists 61 realsta que alegou que sua fancio primordial era assemelhar-se tanto &realidade {que acabasse se confundindo com ela. Essa postura fo, curiosamente, a contrapartids cexata daquela outra que desconfiava da imagem pela mesma tazio: porque copia a realidade, ‘Assim, as mais antigas lendas que circulam sobre as origens da arte nos reintam as historias daqueles artistas, como Zeuxis,eujas pinturas eram tho perfeitas que nA0 fe distinguiam da realidade, de maneira que quando pintava was, por exemplo, os péssaro se langavam a bicé-la. Outros atingiam niveis ainda mais altos de perteigao fem suas operagbes miméticas, Assim, Parrasios, em uma disputa sobre perteigto ‘estética, conseguiu enganar o proprio Zeuxis pintando uma cortina que este qi retirar para ver 0 suposto quadro que estava embaixo: uma boa ftnagem nfo era s6 aquela capaz de enganar os pssaros, mas também o ina perio dos seres hamasios. ‘Os mitos fandadores sto difces de erradicar e ainda hoje as imagens digitas tendem a prvilegir essa condi hiper-ealista do visual, como podeinos comsprova rnocinema € nos vdegames, A tecnologia, que nfo est isenta de seus proprios mites. 1. Do que podria ddr que a ensea et destinads ase a incite dace 12 Joseral caTALA DOMENECH. também no fica alhein a esa tendéncia, ¢ assim vemos como proliferam as cAmeras de video (ou a8 acopladas a robés) que propugnam um tipo de imagens que seriam llheias aos atributos do olhar humano e, supostamente,alcangariam por isso 0 maior igrau de realismo possivel. [Em contrapartda a essa postura, temos 0 mito da caverna de Platdo ¢ todas as suas consequéncias ideolbgicas que propdem um tipo de desconfianga das imagens baseada precisamente em uma firme crenca em seu realismo, um realismo que torna quase certa a posilidade de que substiuam perversamente 0 contato com fo verdadeiro real. De Angulos diferentes, Baudrillard, com sua teoria do simulacro (1987), e Guy Debord (2002), com sua deniincia da sociedade do esperéeulo, sto duas ‘manifestagdes contempordneas desse mito ancestral ‘Tanto os que aplaudemo realismo fundamental das imagens com base na esté- tica como os que o denunciam apoiados na ética concedem a imagem um pequeno {grau de manobra, ao sueit-a, positiva ou negativamente, a uma funglo estrtamente ‘mimética, Sto posturas que podemos ver repetidas ao longo da historia, com mo- rmentos-chave em que as imagens experimentam procestos cruciais de reconvers8o. Localizamos esses pontos de transigao no Renascimento, no Século das Luzes, na modernidade do século XIX e na atualidade pés-moderna. Em todas essas ocasibes, fs duas posturas anttéticas mas igualmente realistas reconfiguraram suas posighes ‘miituas, mas sempre airando para fora qualquer pensamento que quisesse entender asimagens de outra maneira que nao 0 Ambito constituido por elas. No Renascimento, ‘uma disputa famosa entre os representantes de duas eras que se crvzavam ¢ repre- sentativa disso: Johannes Kepler e Robert Fludd, Certamente também é importante nessa mesma época a constituiglo das técnicas da perspectiva pitbrica como forma hhegeménica de representagdo, mas trataremos disso em outro momento. ‘Kepler (1575-1630) ¢ o representante prototipico do novo expirito cientifico {que estava tomando forma na Europa no principio do século XVI, enquanto Fludd (1574-1673) pertence intelectualmente a um passado de tradigio neoplatOnica cuja Jmportincia esth desvanecendo, Ambos se ervolvem em uma disputa prolongada em torno de tum dos livros de Fhudd sobre a esséncia metafisica do real. Olivro era repleto de ihustragbesintrigantes cuja pretensio nfo era s6 didética, mas fundamentalmente ‘ontoldgica, ou aeja, representativa da verdadeira forma da realidade. Foram preci- samente essas imagens ¢ suas pretensBes que chamaram a atengio de Kepler, que fem suas indagagées astrondmicas também fazia uso de imagens ~ ainda que de ‘caracteristicas supostamente muito distintas, [Nao se pode dizer que Kepler conceda um lugar insignificante as imagens em seu pensamento, mas ele entende que a relagao delas com a realidade & muito diferente da que Fludd propoe. Uma das imagens mais famosas de toda a historia da cincia € 0 modelo do sistema solar que Kepler constréi mediante um conjunto de poliedrossituados uns dentro dos outros como caixas chinesas. Para o astr6nomo, essa imagem é uma metifora da realidade; porém, por sua biografia, que nos informa como ele veio a conceber essa estrutura que Ihe servin para descobrir a razao que AvORIADORNAL 13 determina 8 orbita dos planetas em torno do Sol sabemos © papel importante Gq o winalteve em seu pensament. Kepler forju sua hiptese sobre as sxbitas Sianclrias a0 extabeleceranelogias entre clase a princpais gurasgrométrias — Jhuadrado,retangle, pentigono, hexagon e circunferénca ~ que coinciam con ae tinco planets conhecidos até entto, Para ele, no entanto, esas figuras na era Simpes estraturas matemiticas, mas consi wm conglomeraco de sgnifcados ‘erases, fsicone mates vinsalizados atravts das. ‘Os poledros de Kepler eram imagens ds ideiasarquetipica de Deus, que ele auiigava para perecber © mundo da melhor forma possvel Fi prediamente essa renga que olevowa intr que devia mudar um primeiro modelo frmado por figuras planss, que nlo fancionava, por otto, 0 definitive, compost por carps slides, Comiderados ras periitos © forgosarente, portanto, mais proximas de Devs ‘Anterior a ewes conceltos, anto onolgica como temporalments, eta imagem dd Deus como esfera. Recordemos a ete rexpito a no menos clebre definigto de ‘Deus promulgada por Nicolan de Cus: Devs € uma cicanferencia cao centro ett co toda parte a erunferéncia em agar algun, Fess idein de Deus como creo que confre A efera um carder divino e 0 que fez Keples, que tinhastuado 0 ‘feo como ealminagao de seu modelo ( ciclo correspondia a Sarno, oikimo planeta coneido), rocar esa crcunferéncia nial por wma eferae, parti li {cbstuindo os outros cores planos por seus hombloges tridimensional, Tado so tot inden até que pono, nos alvores da ciénia, as idelas cence cas religions fstavam préximas mas das otras. “Ar imagen, portant, esto igualmentepresentes no pensamento cinco de Kepler eno pensamento meiafsico de Fudd, e em ambos os casos ha nelas wma caiga metafsica important, mas 0 atténomo jf nfo esta dsposo aconcederthes tim papel esencal em sua busea de conheciment, enquanto Fudd ainda defende Femement a vsulzagto dos concetos ud argomenta contra Kepler que a sma nfo chega 20 seu conhecimento pelos nimeres mediante a divi das cosas em pares, mas buscando unidades na Thulpicidade da experitcia obscura e oculta, que o faz mediante a criacio de Emagensunitras.Esas imagens poderiam muito bem ser as figuras geométrias Chanda por Kepler e, na realidae, Fudd fz wo de figuras geométricas em mas ComposigdcsE muito insrutiv, portato, ver como urna mesma figura emt 308 dlstinos que asinlam afrontera entre dois imaginéros contrapostos ‘No cao de Kepler, também extamos dante de um pensamento fandamentado em imagens, mas o astbnomo extabelece wma dtingto entre “o jogo da imagem” imagem objetiva" Por meio deta dt, os objeton do mundo sto represeniados ‘lzetamente na alma: asim, a vio, dz ele, €produzida por meio de uma imagem fermada na soperie ncaa da retina. Ov sea a realdade desl uma imagem foemada e ean imagem € cbeervada pela alma, A parr daqui, vese daramente de que forma nace a ideia da reresentaggo como substtata da imagem retiniana «, por conseguite, como copia da realidade. Kepler sb concebe as imagens dessa M1 JosePa caTaLA oMexecu smaneira: inclusive seu model platnico do sistema solar no deixa de ser uma forma de consegue ver a vrdadeirarealidade, ou sj, aquela crada por uma escria divine regia pelas matematins¢ figuras geoméricas correspondentes, por io que ele acasa Fld de fazer imagens potions no sentido da poss de Arsteles, ou sj, ds transposio da signiicaghoprépria de um substantivo para outro significado distino. Nese sentido, quando Flidd fala, por exemplo, de irides eprtuisou de sites pts es tansformando,seguid Kepler motives lgisorespirtunisem predicados de nomes matemitcor © musica, ransferindose “emblematcamente” do verbal para o visual, 0 que comega a sera cegtoerrdnea nese momento, aquela «que nose deve tomar. Além dis, como se fone pov, a imagens de Fludé nto sto simples dsposiivosretricos de cardter imagindro, mas ele as materaiza eas mostra em seu lo como representantes do que considera formagbes reais Obviamente eves dos ips de represeatasio, que ceincidiam em uma mesma ¢ép0catnham dese chocar entre si pena de erm ants cores em comum. Torna -s muito instrtivo colar um tipo de imagem nto de outro porque iso nos permite observar que em uma das representagics se exondeo que na outa € mostado, ot stja, os elementos ideoigicos e metaices. A nova erase propor a expulsar das representagbes todos os elementos sbjetios, emocionais ou mtafsicos que as da é70ea anterior tram nutrido. Encontramo-nos agora, quase quatro séculos depois, em uma suas invesa Aaquela ea qual oenfrentamento ente Fladd e Kepler aconteca. A tendéacia que condizia imagem transparent queers ocorrelata de um conhecimento igualrinte desaraigado, termina seu ciclo; eomesa uma era na qual a imagem se torna opaca © imp, portant, sua presengacomosum espago che desntomas tenses Acorente aque Kepler inaugurava nos lvou a um tipo deconhecimento que campriu sua fungto com grande éxito, mas também eliminow do panorema epstemoléyico uma serie de quests abslutamentenecessras para compreenso da complexidade das sociedades suas, Nao se trata de regresar& concepgto magico-eligiosa que Fad sinha do mundo, © que ficou defntvamente para tri, mas de recuperaraquela densidad que a tradigt do lonofo inglés concein is representagbes visuals Em 1996, revista norte-americana de teoria ¢ critica de arte October® publicou uma pesquisa eta com renomados especial brea chamaca ale vial como novo campo de extudos. Os resltados da pesquisa inauguraram um debate, eujos ‘tcos ainda nao silenciaram,* sobre a possibilidade de uma cultura especificamente visual ov da existncia de um fendmeno visual pur. (Os meandros pelos quais esa dicusio se deslocou ao longo dos anos ~come- sando pelos esorgs da nova diplina por we separar da hstra da ate tradicional a resnncia desia a dears transbordar podem not recordar a dispua entre 2, Ox, 2°77, vert de 1996 5. Vera evita ids Vinal, 0° 2, denemibro de 2004, AFORUADO REAL 13 Kepler ¢ Fludd, 26 que com as tendéncins altradas, como afimei, Mitchell (hd Brea, 2005, p. 24), do centro da atualpolémica, indica que “a cultura visual € 0 ‘campo de estudo que se nega a dar por certa a visto que insite em teorieas, erica ¢ historiar o process visual em simesmo”.Seja.oque fora cultura visual, esta configura) | como indica as palavras de Mitchell, o fim da ideia de uma representagio e uma | visto dexproblematizads, o que nos eva a considerar a condigto politica do conhe- | cimento exstente~ tanto nos aton de visko como na materialdade do objeto coo ] templado~ umm de seus mais draméticos campos de batalha “Micke Bal (2004), também no ambito da mencionada polémics, afirma que ¢ necessario dar mais importincia aos atos de visto do que aos objetos (images) conterplados, mas eu acredito que seja um erro pender abalanca para um dos laos, ainda que seja 56 para corrgic a tendéncia de privlegiar os objeto sobre o olhas, tipica dos extudosetéticos. Ambos os polos devem interesarigualmente aos estudos visuais, embora 2 descoberta dos atos perceptuais, como construgbes complexas compostas dos partmetros do clhare do objeto eja especialmente importante para cles. Valea pena ter presente “os intincadas nbs aftivos e cogniivos que todo ato perceptual coostiui, i que] 0nd ‘poder-conhecimenta’ nunca en aueente da ~Vbaldade, nto sb cognitivamente; alm disso, o poder ¢ exercido precisamente por ‘meio da amarrasao” (Bal, 2004, p. 20) E 6bvio que a géometia desis fds est mai perto da manejada por Fludd do que daquela de que Kepler se ongulhava Alfabetizacao visual "Na imagem, acondigto polissémiea que aparece em segundo lugar na linguagem apresenta-se a0 espectador de imediato, 0 que faz com que eeja confuandida com a ~ propria ambiguidade do mundo. Mas, a realidade, isso € um engano, pois a imagern, inclusive a mais simples, a mais puramente iconogréfica, € uma construglo que se superpOe a realidade e sintetiza a ambivaléncia desta em uma diregto determinada. Por intermédio da lingua, vamos do exato ao polissémico, enquanto com a imagem do polissémico nos dirigimos ao concreto por umm processo de compreensio de sua estrutura visual, Acscrita, em nossa civlizaglo, se apoia basicamente sobre a transparéneia de sua materalidade, enquanto a imagem se beseia na necesidade de fazer que essa materialidade seja opaca, ou seja, que detenha o olhar em ver de deixé-lo pastar rumo a outro lugar. Enquanto aprender a ler significa aprender a apagar 0 suporte erial do escrito para internalizar ¢ autommatizar seus mecanismes simbélicos, ‘aprender a ver implica tornar visivel a materialidade do figurado para construir bre ele uma nova simbologia. Trata-se de dois mecanismos cognitivos antagénicos, ~tmbora arnbosconfluam para um proceso de conhecimento parecido. Da equiparario dessas fungdes constrdi-e 0 conceito de alfabetizagéo visual (cisual litany), que nko deixa de ser contraditério, pois atribui a imagem formas de 16 JosePAt carmLA DOMENECH atuago semelhantes ds de um texto. Assim se chega a consderar a possibilidade de “er as imagens” ou até se espera que as estas “fale, nos digam algo. Como James Elkins (2003, p. 128) aponta, se a nogto de osu! lieraysigificasse algo, implicaria 6 fato de “sermos capazes de ler imagens, de denmembré-las como um escrito, de é- slas em voz alta, de decoilic-las ede traduzilas". Todas esas agBes s8o metaforas do que realmente se pode fazer com as imagens ou do que as imagens sto capazes de fazer. Metiforas que pretendem nos ajudar a compreender, pela perspecva dos ‘textos, algo que nto podemos descrever pela perspeciva das préprias imagens. ‘Alguns estudantes,impuisionades pela ideiacontrria, pretender que as ima- ‘gens falem por si s6s € apresentam a nés, docentes, trabalhos compostos apenas de imagens, sem comentrio algum'. As imagens, obviamente, nto falam, j& que nfo ‘emitem som algum, nem proptiem significados da maneira como ofazem palavras ou textos. Iso nfo quer dizer que no expressem nada isso s6 pode acontecer se equi- pararmos expresio a expresso linguistca. Em todo caso, acreditar que as imagens falam € utiliza, como eu dise, uma metAfora para tentar explcar 0 que fazem, sem chegar a compreender adequadamente o que € € como funciona essa atividade. Seja ela qual for, € necessrio traduzie esa atividade das imagens para a lin fguagem que utizamos para nos comunicar, ¢ quisermos explicéla. No se deve considera, entretanto, que ese proceso de tradugio aeja a prova de uma suposta debilidade expressiva da imagem, mas sim entendélo como um complemento necessério do visual, quando este deixa de pertencer exclusivamente a0 campo da experiénciaestica e se transforma em um fenémeno ligado 20 conhecimento. Utilzar a linguagem ¢ fazer as imagens falarem, o que no ¢ © mesmo que impor 1 elas uma linguagem dstinta da sua, como acontece quando as tratamos como objetoslinguisticos. Enplicar a5 imagens com palavras € uma atividade tio produtiva quanto cexplicar as palavras com imagens. Pr isso o dito popular segundo o qual ume imagen ale mais do que mil alam tao enganoso. Essa conhecidaafirmagao no @ correta, centre outras coisas, porque sfo necessrias mil palavras para compreender a imagem « comunicar essa compreensio. Mas isso nfo quer dizer que a imagem funcione ‘como um texto nem que necesite de tas palavas para cumprir sua fungao. Devernos entender que nossas atvidades mentais so hibridas,conjuntos funcionaiscompostos ‘elo vnial eo verbal em constanteinteragto; portanto, mesmo que ests experiéncias ppossam se separas, seu resultado consciente nfo pode. Podemos nos deixar levar pela experiéncia etética diane de uma imagem bela, sem tentar explicar 0 que sentimos com palavras, asim como podemos ler um texto sem prestaratengio as atvidades 4. Join Bergen tem cera cp ee etd gue se fos vo Mods de (979) ug cpltulon non quis as imagens pretendem falar or tn axe gosto enconrs eco na chamada feeola de Warburg: eencialmente em seu ciador Aby Warburg, que conferconos, m0 inicio do stculo pasado, alguns atlas visas famowos que elaconavam imagens da histra da ae ert ‘eros sigplesmente vais relacionadas com o visual que se produz em nossa imaginagBo em contato com a carga Jmaginativa que 0 texto acarreta, Porém, se quisermos participar conscientemente esses procestos no teremos outro remédio além de combinar ambos os dinamismos. Em todo caso, devemos levar em conta que a expressio visual é funclamentalmente clstinta da expresso linguistica, (O conceto de alfahetizagao visual pode ser recuperado superando 0 paratoxo antes tiencionado, se 0 entendermos no como uma expressio literal (0 visual organizado verbalmente), tampouco metaforica (0 alfabeto como uma maneira de escrever a estrutura da imagem), mai como a enunciagio da condigao hibrida do conhecimento e das condigtes cognitivas que comporta,Alfabetizacio visual significa, portanto, aprender a conhecer os fenémenos vsuais, ou seja, aprender a expressar verbalmente 6 que se produr visualmente. Mas para isso ¢ necessério saber 0 que se produz visualmente no Ambito intrinseco da imagem: + asim poderemos dizer algo de fato novo e wt sobre ela. ‘Trata-se, por conseguinte, no de aprender uma “linguagem” da imagem que ‘noi permita desenvolver uma “escrta” visual ou até mesmo “falar” ou “pensar” ‘mediante 0 uso de imagens, mas de desenvolver a sensibilidade necessériae adquirir ‘0 conhecimentos correspondentes para saber como pensam as imagens, como con- ‘tém eindicam ideias e emogbes. E assim que as imagens podem conduriros processos reflexivos:esclarecendo ideias ox propondo-2s Visio e corpo Para compreender a complexidade da visto nfo ¢ necessrio recorrer a seus fundamentos fsiologics. & um erro descer a estes nives orginicos para apreciar mecanismos que s¢ desenvolvem fundamentalmente em outro plano, apesar de terem, sem divide, um substato instalado na condigto sia do corpo human. Fora os casos em que, por alguma patologia, esas fungdes do corpo nao se desenvovem normalmente e por isto provocam uma ditorgio bisica da que € perceido, a condigto fisioldgica da visto pertence a um universo completamente distinto daquele em que nos intresainstalar 0s estudos visuals, Na realidade,aproximarmo-nos da fenomenologia visual por meio do fsioligico sera tho tolo quanto se, para aprender a escrever ou para saber o que & a escrita, nos empenhéssemas em conhecer como funciona os misculos da mao. Para buscar uma analogia mais precisa, sera co- ‘mo se para compreender a misica devésiemos primeizo examinar a fsiologia do aparelho auditv, Tasas comparagées no sfo totalmente intel, pois deserevem exatamente 0 «que fazer aqueles que querem iniciar os estudos visuaspartindo da isiologia do olho ~ comparilham da mesma ideia de que elaboragées esrencialmente to complexat ‘como podem sera escrta, a misica ou a imagem dependem exsencialmente daqueles ‘ngs € sentidos que Ihes servem de plataforma corporal. As atuais neurociacias We joserat Gavata DonEsECH jncorteo,do-meu ponto de vista, em wm eizo parecida quand pretendem buscar no ctzebroalocali2agto dos fenémenos davis ¢exgott-Los com iso, Nao resta divida de que a base fsiologica desses fendmenos est localzada nas conexes newronsis aque se deservolvem no cértex, come também nfo cabe duvidar que a visio feard dlstoreida se uma dessas areas, por alguma razio, far ineapacitada ‘O neurologista Olver Sacks escreveu diverts livros instrutivs a esse respeito. CCasos como 0 do homem que confindlia sua mulher com um ehapéu (2002) 00 cot que narra em su estudo Uin anopolago em Mare (1997) duster bem a relago castente entre 0 eérebro e a realidade. O cineasta Joaquin Jord também realizow dois docurentrios, "Manos como Becky” [Macacos como Becky] (1999) “Més alt deLespejo” [Alem do espelno (2006), nos quais narra sua experiéncia depois de sofer tum acidente vascular cerebral que afetos temporariamente seu cérebroe ditorcew sua capacidade de compreender o mundo real “Tudo isto nfo faz senfo confirmar a ts, sustentada em capitelo préximo no qual tataremos da percepgto, de que construlmos a realidade com base em certs pparimetros bioldgicos bison, Mas exe conhecimento nos leva a considerar a neces: Sidade de estabelecer uma plataforma comum fora da qualarealidade, asim como a ‘oncebemos, do exist. De manera que, como fazem Sacks ¢ Jord, quando tratamos as dstorgespatolgicas da percep, as incluimos em sia condi;ao normal, como excegbes que nfo a anulam masa explicam. 'Esas reas de conhecimento, que sto muito genuinastratadas adequadamente peas newrociéncias ou pela psicabilogia, nto devem nos afetar de forma dire, jé aque nbs empreendemes o eatudos visuais de um nivel mais complexo. Com base nesta plataforma, etivéssemos de examinar o resultados das agnosia das alexasdesritas por Jord e Sacks, deveriamosfazé-lo de uma perspectiva semitica e perguntarncs pelo significado das distorgbes no cendrio que nossa reaidade configura, tanto em sua ‘vertenteecolégica como socialmente constida Digamos por enquanto que as fungdesfisolgicas so comuns a todos ot seres dnumanos,formam 0 que podertamor denominar de horizonte de realidade fora do qual nada sigificatvo ¢ posivel (quando existe uma patologia que interfere neste hrizonte, os sujeits eecompSem sua visto para the dar sentido, ou sea, paraindu -la nas expectativas desse horizonte, 0 que nfo quer dizer que os resultados sjara sempre logos ou racionas, mas tampouco 0 sto todos os dos indivduas que no padecem de nenhuma ditorgto visual). Portanto, podemos deixar de lado essa FungBes fiioldgicas,considerando-as um fator nfo determinante dentro da esfera hhumana 2 que todos perencemos, da mesma maneira que nao ¢ estenial para compreender a pscologa de um individu ofato de que tenha bragos pernas. a0 ‘ontririo, muito relevante saber como so urados (ou como sto supridos, no caro da inflicidade de haver a falta dessas partes do corpo), mas iss pertence a um ambito distinto do simplesmente morflogico: o Ambit cultural, social, antropologico ¢ até teenolgco no caso dessas caréncase suplementn. | | i ATORUADOREAL 19, io nos precipitemos a negar, contudo, a fungte do corpo sos pracessox ‘cognitivos, ja que sua presenga nestes indubitivel. Trata-se de encontear o lugar a partir do qual o corpo, em toda sua extensdo, tanto morfolégica quanto fsiologica, atua. As propriedades do corpo humano configuram indubitavelmente determinada evologia da visto que inluiem seuspardmetrosepistemol6gicos, masisto 6 érelevante ‘quando os comparamos com os de outros animais. Como logo veremos, nlo éexagero fazermos essa comparacio para compreender melhor as caractersticas de nosso ‘mundo visual, mas instalar-nos nesse substrato seria, como digo, contraproducente, {8 que nos submergria de novo na condigZo natural da qual interesta nos afastar, se € ‘que queremos compreender verdadeiramente a fenomenologia da imagem, ‘A vislo, em sentido geral, nd esta so relacionada com os olhos. Na verdade, podemos dizer que vemos também por meio do carpo, jé que 0 campo de visto as experincias que dele derivam estfo conectados & porigao do corpo em relagio A realidade que o rodeia, asim como toda a experincia visual tem que ver com os estimulos que s20 recebids do entorno por meio do corpo em sua totalidade, Além disso, nfo resta divida de que, de maneira resumida, nossa visio nao é outra coisa {que nfo a propriedade de um corpo. Mas tudo isso s6 pode ter sentido para nbs se 0 considerarmos a partir do momento em que jétemos uma ideia clara do que significa Visio e das relagbes que ela mantém com o que chamamos de imagem. Considerar {sso um apriorismo seria nublar nossa perspectiva. Imagem e viséo Como eu disse antes, o vial ~ no sia imagem propriamente dita ~ ¢ sempre uum fendmeno complexo que circula por entre diferentes plataformas ¢ niveis de significado, todos eles inscritos na visvalidade. Por um lado, temos tudo 0 que se refere aos processos de cogniglo, nos soni undamentam ¢ 5¢ Combinam os mecanismos de identidade socal, ligados a: —imagindrio, ¢ 0s de identidade individual, elacionados & percepeto entendida como enperiéncia exstencial. Fora’ dar imagem, o espectador (ou ator, nos processos de interatividade conter: ppordneos) situa-sediante dela de uma maneira que determina a percepgto que se tem ‘dela, 20 mesmo tempo que a prépria imagem, ou fendmeno visual, coloca em wna pposigto social que articula sua identidade dentro desse marco. Perceber, ser receptor ‘ou usuario de uma imagem, significa em primeiro lugar iniciar um jogo entre a la identidade individual ‘40 mesmo tempo como individuo ¢ como fatar da sociedade que 0 © acolhe ¢0 produz, Essa imaginagto embaralha valorese ideas em uma reconfiguracao 20 JOSEFM CATALA DOMENECH constante que vai do figurative ao discursive sem nunca se deter definitivamente em tam dos polos, exceto quando finalmente se materaliza em uma imagem. Por outro lado, também devemos levar em conta, porém, que a imagem, em seu provesso de configuracio, constitu a cristalzagio da série de pardmetrosculturais€ ‘esillsticos que formam © contexto do qual a imaginagao se nutre. [Nao ae trata de considerar que as imagens sto a soma de todos esses fatores, nem de supor que constituem a visualizagSo concreta de algum deles. As imagens procedem, a0 contririo, do processo de circulagio de um significado que transita “por todos eles expondo a cada momento uma parte desse flixo. Tavez seja por isso {que as imagens em movimento que irrompem na cultura do século XIX podem ser ‘consideradas a extensiologica dos fendmenos visuas de cardter estitico que até aquele ‘momento predominavam. Nesse sentido, o movimento seria, entre tantas outras coisas, a expresstio desse thx significative que caracteriga toda imagem, mas que s6 nas que estio em movimento se torna explicto ese transforma em plataforma para nnovas expressdes-do significado, Se aceitarmos essa premissa, veremos que adquire sentido certa:teleologia das tecnologias audiovisuais que culminam no computador — considerado, coitia ¥e sabe, un dspositivo equiparével ao cérebro humano. Contra os que insstem em uma historia da imagem que avangaria sempre em reso a um realismo cada vez maior, ou sea, umo a uma equivaléncia crescente em +elagdo Arealidade, poderia ser feta outra proposta que, da perspectva tecnol6gica, nos indicaria que primeiroa fotografia, eno o cinema, mais tarde a televisto efinalmente 1 imagem digital aproximariam de maneira crescente as representagbes visuais das ‘mentais, Iso signifi dizer que as teenologias nao seriam cada vez mais realistas ou ‘bjetiva, mas mals subjetivas. Esso o que parece depreender-se da verdadtirahiséria a imagem técnica que se inicia fundamentalmente com a fotografia Mas no convém se deter jamais em visbes lineares da historia, uma vez que esta muito mais complexa do que parece: em nosso caso, por exemplo, & possvel que ambas as versBes do desenvolvimento das imagens tenham razo ou que nenbuma das dduas o tena, visto que o que aconteceu durante os timos dois séculos foi, com toda seguranga, resultado da combinaglo dessas duas tendéncias, a0 lado da intervenca0 de outras menos evidentes. ‘Tado isso pode parecer muito complicado, mas na realidade nfo ¢, Trate-se simplesmente de colocar sobre a mesa 0s mais variados fatores que constituem a fenomenologia visual e sia materilizagao no que denominamos imagens para poder levé-los em conta na hora de interpretar 0 que vemos, tanto dietamente da realidade ‘como por intermédio de sua representagdo ou expresso visual. Damos énfase assim ro tanto certos cbdigos determinados da imagem ou da sociedade que os produz, como os que Barthes propunha para a literatura em $/Z 1980) ou os que postulava fem suas aproximagoes da semiética do visual, mas sim aos miltiplos mecanismos ~ sociais, subjetivos,esttics, antropologicos, tecnolégicos etc. ~ que intervém na formacao das imagens, que assim nos slo apresentadas como formagbes compostas por diversas camadas que interagem entre si S6 dessa maneira seremos eapazes de compreender a imagem ¢ 0 visual. Percepgio e sociedade Umberto Eco se perguntava sea semidtica ett na base da percepgo ou se a0 contrério, és percepgdo que esta na base da semiotica. Iso significa que se trataria de determinar se pereebernos as coisa com base em certos parametros semisticos dados ~e portanto construidosculturalmente ~ ou se, ao contro, percebemo-nas tais como soe entho iniciamos sobre eta visio transparentee absoluta um proceso de anise semitca. Nao aredito que Umberto Eco se qustione sobre a dicotomin entre apossibildade de que vejamos sem pensar ou de que necessariamente pensemos ‘o que vemos, mas que hi em suas investiga6es algo mais fundamental "Aperguntade Bo € pertinente porque ragaa ronteira entre duasepistemologias contraposas: uma, naturals, que deixa tanto a visto como a realidade fora do proceso perceptivo ¢ insala % produto de significado em uma subjetividade do dbservador de eardtr plenamente forte; a outa, cultural, que considera que © proprio proceso consrutvo ja vem determinado socialmente ¢, portanto, n20 _pademos verse nto fr através. de um determinado filtro eulturalmente constuldo ‘Aqueles que pretendem comecar a extudar a fenomenologia da vsBo por sua fisilogia sto os mesmos que optariam por consderar que a ago semibtia ¢ sempre posterior & visto propriamente dita: para eles o proceso de vr nada tem de complexo 6 portant imita-ae a colocaro real em contato com tum olho equipado com os ‘mecanismos corespondentes (ou, para a neurocéncia, em contato com a adequada = y u sp ‘nase ‘oun — sae Founa2 [Nao parece que essa equivaléncia fosse de todo correta nem na pré-histria, se € que queremos remonar a ela para pensar nas origens da imagem. A reproducio visual sempre teve outrasfungbes além das meramente miméticas, ainda que tenham sido estas as que durante um longo periodo tenham parecido mais atraentes. As imagens que sempre estveram relacionadas com a técnica, como a magia ea religifo, « estabeleceram uma ponte muito interessante com a expressio oral excita ~ sem nos esquecermos certamente de seu vinculo transcendental com a imaginaglo, Nao se trata, porém, de dar a entender que Mitchel jgnora estas vertentes, mas de constatar, ‘com sua proposicfo inca 0 fato de que imagem e eépia foram sindnimos durante ‘muito tempo e que, para muitos, ainda continuam sendo, que difcultowe difculta 1 perfelta compreensto dos fendmenos visuais Mitchell divide as imagens com base nas diferentes disciplinas que se ocuparam, elas ahistria da art, sca, afilosofin-a psicologia. Continuamosinstalados na época clasica,j que ao longo do séeulo XX sas disciplinas variaram consideravelmente, fembora também tenham se ocupacio mais ou menos do mesmo tipo de imagens bi- sices, como as que sfo enumeradas pelo autor: grfens, dpticas, perceptuais, mentas © verbais. Os ferentestipos de imagem que se agrupam no interior ce cada uma dessas sipologias pertencem a uma série de categorias que vale a pena esensecer, porqie em alguns cass e superpoem quando penetramosem suas caracteristcas mais particulares ‘Assim, por exemplo, as imagens que aparecem durante a Segunda Revolucag Industrial ¢ cuja fenomenologia alimenta a visualidade contempordnea ~ imagens técnicas ~ podem ser consideradas tanto dpticas como perceptuais. Alem cls, se porum lado sto imagens isicas, ou sea, imagens estveis que podemos ver, por outro ‘nto tém a consisténcia nem a estabilidade das imagens graficas propriamente dias Finalmente, esto situadas a meio caminho entre a imagem fisica e a mental, jé que so exsencialmente fenoménicas. Agora jé sabemos do que se falava até bem pouco tempo quando a cultura se referia ds imagens. Nao foram s6 o8 estudos visuais que mudaram esse panorama ~ cembora tenham contribuido para aumentar 0 grau de sensibilidade sobre os fend- ‘menos vsuais (na realidad, sua apariglo vem a ser muito mais um sintoma da mu danga de sensibilidade do que um motor deste fendmencs) ~; a complexidade dos ‘meio contemporineos o ineremento da cultura visual propriamente dita consegui- am superar a barrera impesta pelas antiga ideiase, em consequéncia, ampliaram consideravelmente o campo da imagem. Interrogar a imagem Jean-Pierre Dautan (1995, p. 15), em obra em que propa dez exemplos de analise visual, um pouco & maneira dos antigos manuais, firma que “ver uma ima- gem é realizar um ato muito complexo que se aplica ao mesmo tempo sobre 0 sujeito {que mostra (0 conteido da imagem) e os meios empregados para mostré-la a née (e-suporte da imager)". Efetivamente, quanclo analisamos uma imagem nao podemos separar o conteddo do que Dautun denomina suporte, mas é necessirio precisar 0 {que queremos dizer com suporte pars compreender a proposta, ‘Quando Daurun fala de suporte, na verdade est se referind a duascoisasdistntas «que apresenta como se fosse uma s6: a imagem e o meio. Cada imagem pertence a um meio determinado ¢ & produto de uma técnica concreta (na atuaidade, as técnicas se transformaram em tecnologias que reinem um conglomerado de técnicas mais simples). Uma escultura, uma pintura ou ura fotografia pertencem, respectivamente, ao meio escultérico, 20 meio pictbrico € ao meio fotogrilico, e a fenomendlogia de 51 JOSEP N. cEALA DowENEE todos esses meiosulirapassa os limites da obra, ou imagem, concretamnente. Esa obra tem, contudo, sua fenomenologia particular que nao pode ser resumida simplesmente as propriedades do meio, asim como as caracteristicas gerais deste, seu modo de ‘exposiglo, nto podem ser deduzias s6 do alcance da tecnologia correspondents. S20 trésnfveis de uma mesma realidade, que é necessrio compreender de forma geparada, ‘ainda que atuem em conjunto. Por isso, pode ser uum erro opor suporte a contetio, sem matizar as diferentes manifestagbes possives do prime, as quais no obrigam necessariamente a contemplaro segundo também com base em uma perspectiva mais rica, j que, como bem diz Dautun, ambos deve ser analisados conjuntamente ‘Mas no & ficil realizar a operaglo wnitéria que Dautun (1995, p. 15) propoe f pela qual examinamos o conteide através do suporte e © suporte através do conteido, jé que “o contetdo da imagem sata 4 vista, mas © conjunto de operagbes pelas quais este contetdo pode nos saltar& vista nao se manifesta; bern ao contracio std mascarado por aquilo que salta a vista. O que nos & mostrado com facilidade dlissimula 0 trajeto que foi efetuado para se manifesta: 0 trajeto de nosso olhas”. A Jimagem mimética tem a peculiaridade de estabelecer uma série de mecanismos que so ao mesmo tempo forma de exposigio forma de ocultamento ~0 cinema clissico um exemple desve tipo de inguagem geradorade um alto grau de realismo que serve simultaneamente para ocultar o funcionamento desta inguagem, que est longe de ser realista. Por isso quando vemos uma imagem realista tendemos a confundi-la com 1 realidade; por iso tamnbém quando nos ¢ pedido que descrevamos uma imagem, costumamos descrever seu contetido, ignorando os recursos visuais que o compdem. Para Dautun (1995, p. 16), ‘necesro busaro camino pelo qual a imagem nos ¢imposta, 0 melos pelos quails atua em nés. J que somot nds qu a fazemos falar ~ 0 que nos dis nto rovéi del, mas de n6s mesmos~,o que vem dela €aqulo que nos Iva a dizer. Portanto,oqueé preciso buscar ¢o conjunta de meioa que noslevaram a perceber lg, « enti tra conchsdes dessa percepyto. E necessrio descobrr como a Jmagem cond, determina (nganza e at, de ato, manipula) nossa pereepgto, lige nowo olbar e com ele as ideias que surgram deste olharovientado dessa rmaneica,Trata-ae de aprender a olhar como fucona noso olka Eis aqui um projeto realmente complexo que culmina nessa operagio necessitia de desentranhar visualmenteo visual, essa parte do visual ligada ao nosso olhar e que responce a0 que existe na imagem para completar ese olhar Existem varias formas de interrogar a imagem. Algumas delas, basicas ‘radicionais, contemplam-na como documento ¢ eratam de categoriza-la segundo uuma série de dados bisicos. A operacio é executada mediante a descriglo da imagem, a interpretagao e estabelecimento do contexto. Desta forma, ela fica imobilizada e ~pronta para Ber arquivada; considerando erroneamente que, mediante esse processo de catalogacdo, jé a compreendemos (riemactcaitomane APORMADO REAL 99 ‘Maso podemos ns deter ese exerci prétieo porque asiinagenssobretido as atuais, ndo costumam ser digas unm arquivo, como aconteciaanteriormente, ‘mas muita vezes a operacio se inverte¢ as imagens surge do arquivo para voltar a ser utilizadas:o fendmeno do arquivo, desse arquivo que € mais uma foate de Visualzagbes do que um recepticulo desta, ¢ crucial para compreender a visualidade contemporanea. Assim (estemunham as diferentes formas cinematogréficas que se baseiam nesses fendmenos de apropriasao de imagens diversas ou de uiizasao de imagens de arquivo para fungbes diferentes das que nham em se contexto original Segundo Laurent Gerverau (2000, p. 14), histria da arte conheceu, na hora de se aproximar da imagem, duas grandes tendencias que dio expago a trs fungtes interelacionadas: “De um lado, 0 catélogo, a descrgao, que leva ocasionalmente 4 ~interpretagao. De outro, vontade de conceitvar, de clasfica, de agreger também un {uito de valor. Agem, portanto, ts fangbesgerais que fequentemente esuperptem ~ catilogo descrigto, clasifcagto e interpretago, apreciagioe juizo de gosto” ‘Agora todas a imagens nos concernem, das mais antigas&s mais modernas das sais humildes as maisenfticas, das rai senplesas mais complicada. Todas merecem una aproximagto complexa que amplie os limites da descrigho ¢ da interpretacko

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