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Capa
A partir da obra ‘‘Caminhante sobre o mar
de névoa’’ de Caspar David Friedrich
Revisão
Tamiris Vianna
www.facebook.com/bareditora
para a minha familia,
e Matheus Alves, meu amigo.
aos possíveis leitores: Álvares de Azevedo,
em prefácio da 'Lira dos vinte anos' escreve:
''São os primeiros cantos de um pobre poeta.
Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá
não têm a doçura dos seus cânticos de amor. ''
da minha parte, confesso: não foi ainda nesse
livro que arquivei o mistério e a fascinação
que escorre dos automóveis abertos; das
nuvens de vertiginosa brancura; dos lugares
onde o ar é saudável; das mulheres e das
crianças; da comunhão sincera e gratuita de
duas ou mais pessoas.
contudo, esse livro é testemunha de meus
momentos de sensibilidade, por meio da qual
em meus olhos deslizaram o que foi antes de
mim, chamado de ''a tinta do coração'';
testemunha dos momentos em que senti um
santo alívio: seja ao ler nos ônibus; ouvir
músicas; não dormir por estar eufórico ou
fazer do sábado um monumento de alegria...
também dos momentos quando achei que me
diluiria para sempre no centro da escura
noite, dos combates com o Dom Quixote
taciturno e perdido que há em mim, das
intermináveis crises que atravessei sozinho
num pântano maligno.
invocação à palavra amor.
para a professora, Tamiris Vianna.
09
invenção do tempo.]
só o amor apresenta a resoluta existência.
amar nunca se satura no ato de da amação.
é amando que almas se expandem e se
envolvem, até serem uma só:]
no chão, sacada, hotel, rua escura.
o resultado é o relaxamento do cosmos.
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caminho sem obstáculo,
e, por fim, um outro mundo
um outro mundo sonhado,
como um dia sonharam os anjos,
quando compuseram a natureza humana.
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mestiçagem.
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o mito de Sísifo.
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contudo, a descobri falho e desprezível
e amanheci sem parede ou porta.
sem saída ou esconderijo.
sem terra, pão ou abraço.
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os escritórios são mártires de inveja e de
adultério.]
e as casas, embotadas de ruídos e de
náuseas.]
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espera.
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lavoura.
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ode a Jorge Ben,
emissário da onibenevolência.
a frase agra-
matical. O morro
se enchendo de graça,
a voz rouca de roda de samba
e cachaça.
alquimista cósmico
que trabalha o ritmo metálico.
desfila maquinarias dissolutas
e retifica uma cultura de nevoa.
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com bola e tudo porque teve humildade.
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confessionário.
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eu não amei nem mesmo esse que sou.
vivia buscando reconstruir o mito do
passado.]
e essa brancura na minha voz
não deixava cumprimentar o futuro.
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ardência.
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anúncio.
larvas de amor
comendo minha palavra.
sede azul e quente
azulando meu desejo.
tardes de agosto
enchendo minha nostalgia.
fumaças e signos
desenhando teu nome.
substâncias cíclicas
aflorando em fogo
meu corpo à procura do seu.
e na procura um delírio
encarnado em forma de espasmo.
sentimento paterno
trazendo vontade
de te ter como filha.
coragem e ternura
fazendo te ver como irmã.
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choque.
24
odisseia, 1998.
25
recurso linguístico.
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aurora.
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morto na tarde.
simultaneamente
as enxadas vão escavando
a terra. sou enterrado vivo.
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surreal.
girassóis fulminantes
assassinam estátuas
sedentárias e inócuas.
preciso subverter.
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companheiro.
minerais compõem
nosso rosto, onde escorrem
águas juvenis.
companheiro significa:
aquele que divide o pão.
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dividimos a fuligem
da incomunicação e a amargura
quase hereditária.
desperta de nós,
um córrego triste.
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poesia, liberdade.
reinvento-me de vozes
e ludibrio a linguagem.
sou a solidão da assa
no espaço inócuo.
estou pronto
a morrer como divindades.
pronto a escurecer
mesmo no centro da luz.
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insigths.
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trabalho ver o cru da vida. e por dentro so-
mos crus. falta alguma palavra para justificar a
vida. essa justificação não é filosófica, é de um
campo menos racional. não tenho mulher.
desperdiço todas. sofro por amar. toda hora
parece querer arrebentar de mim desenfrea-
dos instintos e gestos. mal me seguro. com
um gesto eu tento dispensar um conflito que
se faz onipresente na minha consciência.
apago e acendo a luz. tenho medo que a
lâmpada queime. o escuro esconde os móveis
e cria um olho no teto que me julga e diz o que
tento negar. diz o que esconde de mim, desde
o início dessa temporada. nessa última
semana, estou em crise. jogo o jogo do
contente e tento pensar nas crianças que
sofrem de subnutrição e têm os pés
mordazmente sujos. eu tenho os pés sujos, e
eles mancham o lençol azul. penso em nunca
mais sair de casa. impus quarentena.
tudo é não-amor. tudo é caos jorrando do
ventilador.
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ternura.
aprenda a me querer.
meu carmim,
minha seda de brancura.
da ocupação ao feitiço
do meu coração.
conto os minutos
para no fruto da noite
te mutilar de ternura.
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um novo poema da necessidade.
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eu estou procurando.
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por enquanto, estou viajando na carne desse
dia.]
e, nesse ritmo distante, saio na rua, sem
pátria, sem dinheiro,]
apenas por andar de forma errante.
e, na minha cidade, principalmente a essas
horas, não existe nem sinal de jardins...]
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linguística.
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comtemplação.
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mar de java.
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trégua.
felizmente
hoje de manhã sangrei um pouco.
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tempo.
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depois.
44
esperança.
um cavalo galopando
rumo a uma cidade de ouro.
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entranhas.
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erótico.
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crucificação.
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inconsciência.
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cotidiano.
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demiurgo.
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estado bruto, que poderia nos fazer abaixar
a cabeça e nunca mais voltar à tona.
contudo, a quase auriverde esperança não
impede um desmanche na superfície da
realidade e voltas compulsivas no calor abso-
luto do interior. não impede de não conseguir
entrar em assuntos corriqueiros por conta de
um estado de sítio interno. não faz nada para
impedir desmaios e aves noturnas que bicam
nossos corpos, trazendo a peste da insônia.
ou o encerramento em solidão, por medo ou
precaução de não mais amar, pois o estado é
líquido e volúvel e amanhã poderemos ser
outro.
sempre somos outros. sempre somos os
mesmos outros
mas foge ao meu léxico o que nos falta. é uma
falta que dói como um membro apodrecido.
certa vez, eu senti essa falta. deitado em uma
cama estranha. era outra cidade. minha
companhia havia me deixado por alguns
minutos. corria um blues pelo ar. ali, dei conta
da minha humanidade e um vazio devorava
meus órgãos. eu sentia que faltava. lateava
uma ausência monstruosa. depois disso,
nunca mais fui o mesmo. em uma festa
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naquela semana, chorei no banheiro,
salgando a pia, ao ponto de peixes negros
brotarem nos ralos.
mas me conformo aos poucos, a lentidão dos
ciclos. não protesto. não grito. calo. espero.
deixo a fluidez escorrer no meu corpo. vivo
minha vida sul-americana, sem mistérios. sem
encantamentos. convencido de que minha
procura foi alucinada. nessas mansardas onde
vivo, me acostumo aos ratos e à fartura da
miséria.
53
o que restou.
de ipês amarelos
meu caminho sonhei,
apenas raízes amargas achei.
54
uma tarde em fevereiro de 2019.
55
verdade.]
e faltou no momento mais necessário do
campeonato uma mulher dessas que dizem
coisas mansas e paradas.]
mma mulher que dissolvesse a ausência,
a falta, o vazio, a obscuridade da noite.
uma mulher. uma mulher.
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e eu, espectador e receoso, espero a
qualquer momento um tiro na garganta.]
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composição.
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salgando o chão.
abrindo um mar aos pés.
tantos requisitos,
tantos protestos contra a existência.
tanto amor deixado às traças.
tanto parcelamento e esquecimento.
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controle.
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sobre um desejo.
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santidade.
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alucinação.
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vejo uma descoberta, um analgésico.
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sem recurso.
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dialética africana.
a minha melancolia
tem sua raiz no fundo
do meu primeiro grito preso ao navio
negreiro.]
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pedra.
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sempre mais.
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uma hora.
69
uma hora, guardas um segredo
e ficas empobrecido...
porque perdestes o chão.
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pedido.
quero
atender
todos
os teus caprichos
e ser servo de incomensurável fidelidade
e ser o rei do circo do teu coração.
quero
admirar
tua teimosia
e refletir minha paixão
no teu rosto
e beber do teu copo
e abrir caminho ao teu céu
e borrar o sangue do teu batom
e dividir a mesma nota
e a mesma concha
e o mesmo sonho
sonhando na luz dos teus sinais
e bebendo das carícias da tua manha
e como ave, voar no teu corpo
e como maré banhar
teu porte de sereia
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e ir naufragando no teu canto
e deslizar no solo dourado do teu sexo.
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equilíbrio.
73
falemos baixo.
74
diagnóstico.
devastação de agosto,
de sempre, de ontem,
devastação que aconteceu
amanhã.
75
biografia.
76
saudade.
77
após uma recusa.
78
deserto.
79
verbete.
80
mar de areia.
81
troca.
82
você poderia.
83
a minha musa e eu.
84
25 de dezembro, 2017.
85
promessa.
86
solidão vazia.
87
anjo da guarda.
88
estação.
primavera
te penso
a vera
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reverso.
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sozinho.
caminhas assaltado.
já não tens seu cão.
tua casa de vento e areia
se dilui nas horas gastas.
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andaluz
um cão andaluz
cruza a linha da imaginação.
alcançará o sonho
onde levemente deitará
na cama do meu poema...
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consolo.
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o amor.
só se ama a si mesmo.
pois o amor é o encontro
de fragmentos perdidos
da própria alma em outro.
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Sobre o autor