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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise.

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Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos
genéticos – Artigo que tenta explicar a crise.
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25 de setembro de 2014 Buscar

Roberto Pereira D’Araujo

O presente artigo pretende reunir em um só EVENTOS


texto todos os argumentos, gráficos, tabelas que
Nenhum evento
temos usado para fazer uma análise crítica do todos os eventos

que vem ocorrendo no setor elétrico.


O que consta nesse artigo?

1 – Introdução – Defende a tese de que há um problema na modelagem do setor


FACEBOOK
além de erros de política energética.

2 - A situação atual – Propõe analisar a situação atual para identificar se há Ilumina


Curtir
realmente uma circunstância especial que explique a crise.

3 – A questão da reserva estratégica – Examina as alterações físicas que vêm 177 pessoas curtiram Ilumina.

ocorrendo no sistema e que parecem ter sido esquecidas.

4 – O consumo de energia – Analisa o que vem ocorrendo com a carga de energia


elétrica.

5 – A questão hidrológica – Analisa as séries hidrológicas das regiões brasileiras.


Plug-in social do Facebook

6 – A complementariedade das eólicas – Mostra a promissora complementação das


usinas eólicas no sistema brasileiro.

7 – A inacreditável desvalorização das usinas a fio d’água. – Analisa a atual situação


dos reservatórios e porque, agora, as usinas sem reservatórios seriam muito úteis.
TWITTER
8 – Tudo está em tudo e reciprocamente – Mostra que há indicações de que a atual
crise pode ter motivações tarifárias.

9 – O modelo mercantil mimetizado – Mostra algumas características do modelo Tweets Seguir


comparadas ao mundo real.
ILUMINA 18h
10 – Não é física quântica – Mostra a complexidade, a virtualidade e, @Ilumina_org
Eletrobrás culpa consórcio
consequentemente, os riscos do modelo vigente.
de usina por atraso na
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de usina por atraso na
obra – Estado de São
11 – Sua majestade, o CMO – Discute a impressionante importância que uma variável Paulo -
aleatória tem na modelagem mercantil brasileiro. ilumina.org.br/eletrobras-cul

12 – As consequências do modelo – Mostra algumas situações onde ficam evidentes


ILUMINA 26 set
os problemas da modelagem. @Ilumina_org
A Crise e a Carta – Coluna
13 – Mercado livre, um mistério – Discute, com dados, algumas características que de Miriam Leitão - O
GLOBO -
permanecem misteriosas, dado o caráter secreto dos contratos do mercado livre. Tweetar para
@Ilumina_org
14 – Um mercado de diferenças e de transferências – Analisa a história do nosso
mercado livre e demonstra que déficits atuais estão correlacionados a superávits
anteriores.

15 – Energias renováveis, mas tarifas incontroláveis. Analisa o histórico tarifário CATEGORIA


brasileiro desde a reforma de 1995 apontando algumas causas do aumento. S
16 – A obsessão por redução tarifária a qualquer custo. Analisa o histórico e a origem
da medida provisória que interviu nas tarifas de energia elétrica. Selecio
nar cat
egoria
17 – Uma conta ao inverso. Analisa os indícios de que a intervenção , na realidade,
pode ter sido feita numa conta reversa.

18 – Valor Novo de Reposição, um conceito semelhante ao da FIESP. – Analisa as


semelhanças entre as propostas da FIESP e a metodologia adotada pelo governo. USUÁRIOS
NA PÁGINA:
19 – A redução tarifária via custos de operação e manutenção. – Analisa os valores
definidos para as usinas antigas brasileiras em comparação a dados internacionais.
Online agora:: 6
20 – Como conseguir tarifas mais baixas sem intervenções. Demonstra como diversos Total de Visitantes::
estados americanos conseguem capturar a vantagem das amortizações sem 116988
intervenções tarifárias.

21 – Conclusão.

1 – Introdução.
O texto a seguir tem a pretensão de demonstrar que os problemas do
nosso setor elétrico estão relacionados a uma espécie de ideologia dita
“modernizante” que foi moda na década de noventa. Apesar de todos os
indícios físicos contrários à modelagem vigente, uma verdadeira lavagem
cerebral tomou conta dos formuladores de política desde 1990. Por incrível
que pareça, se for interpretado como um projeto político, o atual
sistema é um produto de sigla PSDB & PT. Isso não quer dizer que

haja um viés político ideológico na análise. Significa apenas que o


projeto imaginado pelo governo do PSDB foi continuado pelos
governos do PT. O leitor irá notar que todas as afirmações estão apoiadas
em dados. Não somos os donos da verdade, mas, ao contestar a análise é
preciso apresentar novos números que sustentem o oposto.

O texto será dinâmico. Outras informações serão acrescentadas com o


decorrer dos acontecimentos. É um texto longo, mas tem a vantagem de
condensar muitas das informações veiculadas no site e que estão
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condensar muitas das informações veiculadas no site e que estão
espalhadas em diversos lugares.

2 – A situação atual
Será que é possível que um leigo consiga entender o que realmente ocorre
na confusão do setor elétrico? Será que temos apenas a adoção de
políticas equivocadas ou há um defeito “genético” no nosso modelo?

Certamente, os consumidores estão se perguntando: Porque esvaziamos


os reservatórios? Estamos consumindo muito? É verdade que a hidrologia
é uma desgraça energética? Porque as térmicas contratadas em leilão não
ajudaram a preservar a reserva de água? Porque a tarifa brasileira é tão
cara, já que temos a predominância de energia renovável? Porque a
redução tarifária de 2012 de nada adiantou para conter as tarifas?

Várias matérias jornalísticas enfatizam que o verão de 2014 foi o mais


quente e seco da história. Seguramente, essa anomalia atingiu duplamente
o setor elétrico. Gastamos mais energia com refrigeração e estamos
recebendo menos água nos rios. O ILUMINA não quer negar esse fato.

Contudo, dependendo de como a informação é passada, é bem possível


que muitos consumidores e até mesmo alguns analistas achem
perfeitamente desculpável que estejamos passando por uma repentina
crise e que seja absolutamente normal ter que pagar uma dívida bilionária
por geração térmica. Porém, se a questão do setor elétrico brasileiro for
analisada apenas sob esse ângulo, corremos o risco de não percebermos
que, mesmo ocorrendo hidrologias mais favoráveis, nós já estaríamos no
caminho de gastos bilionários.

Como podemos afirmar isso? Apesar desses argumentos já terem sido


mostrados em outros artigos nesse site, vamos concentrar essas
informações aqui para deixar mais claro essa visão do problema.

3 – A questão da reserva estratégica.


O sistema interligado brasileiro é composto de diversas usinas que contam
com reservatórios. A grande parte foi construída nas décadas de 70 e 80 e
é base de um sistema cuja capacidade é uma das maiores do planeta.
Quando se comparam setores elétricos entre diferentes países, a tendência
é de se fixar na predominância hídrica na matriz, mas o aspecto que mais
nos diferencia do resto do mundo é o volume dos nossos reservatórios.

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Gráfico 1 -Sistemas de armazenamento em alguns setores elétricos.

O gráfico acima mostra que não basta ser hidroelétrico. Nós temos a
segunda capacidade de armazenagem de água do planeta, perdendo
apenas para o Canadá. Mas, esse segundo lugar é, na realidade, a
liderança, porque o Canadá não tem todo o seu sistema interligado e,
portanto, esses “armazéns” de energia não servem a todas as províncias.
Os Estados Unidos também têm grandes reservatórios, mas a
hidroeletricidade significa apenas 8% da matriz elétrica americana.

Portanto, a nossa reserva é o grande diferencial e a “joia da coroa” do


nosso sistema. Evidentemente, seu valor depende do seu uso. Como existe
essa reserva, podemos gerar mais ou menos do que recebemos dos rios.
Se, em função das hidráulicas terem custos mais baixos, a
responsabilidade por gerar energia ficar desproporcional em relação a
outras fontes, e muitas vezes acima da energia afluente, corremos o risco
de esvaziar rapidamente nossos reservatórios. O problema é que, sob o
atual modelo, foi exatamente isso o que ocorreu.

Gráfico 2 – Reserva máxima em relação à carga.

O gráfico acima mostra o que chamamos de reserva estratégica. É a


capacidade máxima de todos os reservatórios dividida pela carga total de
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cada mês desde 2004. Ela vem decrescendo paulatinamente (curva preta
que oscila em função da variação da carga). Nesses oito anos, perdemos o
equivalente a um mês da carga, caindo de 6 para 5 meses de
armazenamento. Em sentido figurado, para melhor compreender o que isso
significa, se os rios brasileiros secassem, os nossos reservatórios cheios
garantiriam nosso consumo por 5 meses.

A curva vermelha é a que se obtém diminuindo-se a geração térmica da


carga. Seria a carga “vista” pelas hidráulicas. Como se vê, a atuação das
térmicas é insensível a essa redução, pois as duas linhas de tendência são
paralelas.

Por que isso é importante? Porque mostra que a complementação de


outras fontes, principalmente térmicas, não aliviou um metro cúbico da
reserva estratégica. Ou seja, assistimos passivamente a diminuição da
nossa capacidade de regularização, desprezando o que deveria ser
entendido como uma questão crucial na antevisão de problemas. Fazendo
uma analogia simplória, tudo se passa como se a caixa d’água de uma
família diminuísse a cada ano. Basta estender essa tendência para
descobrir sérios problemas à frente.

Alguns diriam que a solução é construir novos reservatórios. Bem, se


quiséssemos recuperar os 6 meses de carga que tínhamos em 2004,
teríamos que aumentar em 6/5 (120%) a nossa capacidade de reserva.
Isso significa construir novos reservatórios com capacidade equivalente a
todo o Rio S. Francisco. Se fosse possível, quando estivessem prontos, já

teríamos que repetir a dose. Portanto, sem descartar essa alternativa, a


estratégia não vai solucionar o problema.

Gráfico 3 : Evolução recente da capacidade e energia hidráulica

O gráfico acima demonstra claramente o resultado da política adotada.


Apesar do percentual de MW (potência) hidráulico cair no total, o
percentual de MWh (energia) hidráulico permaneceu praticamente
constante. Cada MW hidráulico foi obrigado a gerar mais energia a cada
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constante. Cada MW hidráulico foi obrigado a gerar mais energia a cada
ano. Ora, se as hidráulicas são mais exigidas, elas esvaziam mais rápido.
Mais tarde vamos tentar entender porque isso ocorreu. Portanto, apesar da
surpresa do quente verão ou do mau humor de São Pedro, a antevisão da
crise já estava delineada há anos.

4 – O consumo de energia.
O consumo surpreendentemente alto também não é confirmado quando se
analisam os dados.

Gráfico 4 : Evolução da carga do sistema interligado.

Pela simples aparência, não se pode classificar o gráfico acima (carga total
do sistema interligado) como imprevisível. Percebem-se, além das
repetitivas subidas dos meses de março, ajustes negativos da carga em
2001 (racionamento) e 2009 (crise financeira mundial). É como se os
consumidores estivessem dando uma “freada de arrumação” que só fez
ajudar o equilíbrio entre oferta e demanda. Igualmente, fica difícil justificar
surpresas com o comportamento da ponta do sistema no gráfico abaixo.

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Gráfico 5: Pontas máximas mensais do sistema interligado.

5 – A questão hidrológica.
Nossos reservatórios são capazes guardar o equivalente a
aproximadamente 220 TWh de afluências transformadas em energia. Em
termos de média mensal, as afluências dos rios brasileiros representam
aproximadamente 38 TWh. Assim, é possível guardar o equivalente a cinco
meses de energia dos rios nos reservatórios. Isso significa que nada
ocorre de repente no setor. Uma hidrologia ruim não causa surpresas se
o sistema é bem gerido. Faz parte da técnica de gestão do nosso sistema a
antecipação de problemas.

Como se pode ver no gráfico abaixo (em MW médios), já não é segredo


que a hidrologia do Nordeste (18% da reserva) tem seguidamente
apresentado comportamento abaixo da média de longo termo (MLT). De
2000 a 2013 apenas o ano de 2004 (barra verde) apresentou
comportamento acima da média.

Apenas um parêntese: Imagine o problema do nosso modelo mercantil que


determina um valor fixo de energia (garantia física) por usina baseado num
histórico que parece não se repetir. Para não cair num otimismo
irresponsável, as autoridades do setor teriam que adotar duas medidas
urgentes: Estabelecer um plano de ação imediato para saber por que o Rio
São Francisco está diminuindo seu fluxo e rever as garantias físicas de
usinas afetadas por essa hidrologia mais baixa. Como se verá depois, dada
a interdependência do nosso sistema, não são apenas as hidráulicas que
seriam afetadas. Esse é apenas um dos problemas oclusos do nosso
confuso modelo que será tratado mais tarde.

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Gráfico 6 : Hidrologia Região Nordeste.

A região Norte (5% da reserva) já apresenta um histórico recente melhor,


onde 6 dos 14 anos registraram afluências acima da média.

Gráfico 7 : Hidrologia Região Norte.

A região Sul (7% da reserva), com sua típica alta variância mostra
ocorrências amplamente favoráveis.

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Gráfico 8: Hidrologia Região Sul.

A região Sudeste e Centro-Oeste (70% da reserva), como se pode ver no


gráfico abaixo, apresentou 10 anos favoráveis, com apenas 4 abaixo da
média, sendo um deles o ano de 2012.

Gráfico 9 : Hidrologia Região Sudeste e Centro-Oeste.

Tudo isso resulta no seguinte quadro geral para o sistema interligado (as
quatro regiões).

Gráfico 10 : Hidrologia Sistema Interligado.

Como se pode perceber, o baixo desempenho da região Nordeste


conseguiu mudar ligeiramente o ano de 2013 do integrado que ficou 5%
abaixo da média. Mas, para sistemas que contam com acumulação de
água, o gráfico não mostra nenhuma desgraça hidrológica. Essa
antecipação de problemas se faz com economia de água e o uso de
geração complementar às hidráulicas na hora certa. Como pode ser
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geração complementar às hidráulicas na hora certa. Como pode ser
visto no gráfico abaixo, tal cuidado não ocorreu, pois, de 2003 até setembro
de 2012, a complementação, que inclui as térmicas, só cuidou de
aproximadamente 9% da carga. A geração das eólicas está incluída no
gráfico, mas representa cerca de 1% da geração total.

Gráfico 11 : Evolução da relação geração térmica em relação à carga.

Como o sistema é capaz de armazenar até 220 TWh, ou cinco meses de


energia natural média, é no mínimo estranho que, repentinamente, após
setembro de 2012, a política de complementação térmica passe para
mais do dobro do que era poucos meses atrás. Tal mudança de
comportamento não é nem financeiramente justificável, pois cada MWh
térmico não utilizado antes de setembro de 2012 teve que ser compensado
por um MWh térmico muito mais caro após essa data. Poderia ser uma
mudança brusca da hidrologia apenas em setembro? Será que a reação foi
“na hora certa”?

Gráfico 12 : Energia Natural e política de despacho térmico em 2011 e 2012

O gráfico acima mostra que também essa desculpa não pode ser
confirmada por dados. A curva azul, eixo esquerdo, mostra que o padrão
do chuvoso ano de 2011 não iria se repetir em 2012. Em fevereiro de 2012
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do chuvoso ano de 2011 não iria se repetir em 2012. Em fevereiro de 2012

os dados já evidenciavam que seria necessária complementação térmica


para preservar a reserva. Entretanto, surpreendendo a lógica, as barras
laranja mostram uma geração térmica (eixo direito) que diminui!

Por que após setembro de 2012, mês do anúncio da medida provisória 579,
que prometeu redução tarifária baseada em suposições e parâmetros muito
discutíveis, disparam-se as térmicas? É preciso compreender que o nosso
sistema, por ter reservatórios, tem memória. De certo modo, térmicas mais
baratas que não foram acionadas nos anos de 2011 e 2012 deixaram
um déficit bem mais caro no futuro.

Apenas para mostrar a nossa singularidade, imagine que o uso de térmicas


tivesse sido um pouco acima no período 2008 – 2012 como mostra a curva
pontilhada do quadro abaixo. O custo não seria muito maior porque não
atingiria as térmicas mais caras. Toda essa energia incremental significaria
cerca de 46 TWh e estaria armazenada nos reservatórios provocando uma
folga de 20% nos níveis de 2012. Com os reservatórios mais cheios, a
subida repentina de energia térmica não seria adotada e, com grande
probabilidade, agora não estaríamos sob a ameaça de racionamento.

Gráfico 13 : Um suposto despacho alternativo de térmicas entre 2008 e 2012.

Esse pequeno exercício serve para mostrar que o sistema de preços


adotado pode estar profundamente equivocado. Um dos parâmetros
que formam o preço que decide o despacho de geração térmica é o
desconhecido “custo do déficit”. É difícil encontrar um custo tão subjetivo.
Para a indústria eletro-intensiva é muito alto, para a agricultura o valor pode
ser bem menor. Uma curva semelhante à pontilhada poderia ser obtida se
o custo do déficit fosse um pouco maior do que o atual (R$3.100/MWh).
Para provocar alguma reflexão, esse parâmetro valia cerca de R$
1440/MWh em 2000. Aos preços de hoje, chegaria a quase R$ 2.900/MWh.

A pergunta que deveríamos fazer é: Será que apenas R$ 200 a mais


representam toda a importância adicional que a energia elétrica tem na
economia brasileira nesse período?
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Isso dá uma ideia do grau de subjetividade do nosso modelo que será


examinado com mais detalhe adiante.

6 – A óbvia complementariedade das eólicas.


Parece evidente que:

A capacidade de regularização hidráulica está se reduzindo em


função do aumento da carga e da impossibilidade de agregar novos
reservatórios no mesmo ritmo do consumo.
Essa regularização, essencial para a segurança e estabilização dos
preços de liquidação de diferenças, só pode ser recomposta com
complementação de outra fonte energética.

As eólicas, se pudessem alcançar cifras pelo menos 10 vezes maiores,


poderiam fazer uma grande diferença. O gráfico abaixo mostra dados reais
de energia gerada (GWh) por elas (linha amarela, eixo esquerdo)
comparadas com a energia natural dos rios (linha azul, eixo direito). Os
dados de anos anteriores a 2013 foram “inflados” para que a média fosse
igual ao ano de 2013. É como se tivéssemos o mesmo parque de 2013
funcionando desde 2007. O que interessa mostrar aqui é o padrão
complementar hidro-eólico. Como se pode verificar visualmente, se
tivéssemos dez vezes mais eólicas, elas poderiam exercer um padrão
semelhante à complementação térmica. O único problema é ainda o baixo
percentual na matriz. Apesar dessa característica média, as eólicas não
são valorizadas por essa complementação.

Gráfico 14 : Padrão complementar entre hidrologia e geração eólica

Infelizmente, por fundamentalismo ideológico, o governo manteve a ideia


de realizar leilões genéricos decididos por um discutível índice de custo
benefício e as eólicas não foram valorizadas nem pelo efeito ilustrado no
gráfico. Certamente não teríamos decuplicado nosso parque, mas alguma
ajuda já seria sentida se não tivéssemos perdido tanto tempo. É
importante também lembrar que o país precisa dominar essas
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tecnologias para não se transformar num mero montador de usinas


importadas. Vejam como é importante a política industrial e de pesquisa
para que tenhamos uma agenda coerente.

7 – A inacreditável desvalorização das usinas a fio


d’água.
No debate sobre a atual situação parece que todos se preocupam com o
fundo dos reservatórios. Como explicado anteriormente, alguns defendem a
construção de novos reservatórios como se uma ou duas novas usinas
fossem resolver o defeito estrutural do sistema. Estranhamente ninguém
parece se preocupar com o outro limite dos reservatórios, o seu topo. Ora,
o atingimento da reserva máxima nos parece ser também um indicador de
como o sistema está sendo gerido. O gráfico abaixo mostra que, além de
estarmos esvaziando os reservatórios, não estamos conseguindo enchê-
los.

Gráfico 15 : Energia Natural e percentual de vertimento.

O dado de vertimento (barra azul, eixo direito) mostra exatamente esse


efeito. Como há descargas obrigatórias à jusante, os percentuais
mostrados tornam evidente a sistemática impossibilidade de reencher os

reservatórios. O ano de 2011 registrou uma energia natural 20% acima da


média e, nem assim, registramos vertimentos compatíveis com
recuperação completa dos reservatórios.

O que isso tem a ver com usinas a fio d’água (sem reservatórios)? Tudo.
Essas usinas, por exemplo, as Pequenas Centrais Hidráulicas, só são
inúteis quando o sistema atinge na maioria das vezes a reserva máxima.
Isso não está ocorrendo há anos. Nessa situação, uma usina a fio d’água
funciona como uma nova captação de afluências que poderiam minorar as
baixas hidrologias. No caso das PCH’s, há um potencial significativo (
cerca de 9 GW) que, além de melhorar esse indicador, ainda alivia a
demanda na hora da ponta, pois essas usinas não estão localizadas
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demanda na hora da ponta, pois essas usinas não estão localizadas
tão longe dos centros de carga. Que metodologia é essa que não
percebe coisas tão óbvias?

8 – Tudo está em tudo e reciprocamente.


Se não expandimos o sistema com outras fontes (eólicas, PCH), sobram as
térmicas, que, de 2001 até 2010 se expandiram de 14% até 25% da
capacidade instalada. Com tantas usinas, porque tanta relutância em usá-
las evitando colocar os reservatórios numa perigosa trajetória? A resposta
está na formação de preços do Operador Nacional do Sistema, um assunto
complexo, que depende de parâmetros altamente subjetivos. Mas, antes de
entrarmos no emaranhado do modelo, é preciso considerar onde está o
custo do kWh na tarifa brasileira.

Gráfico 16 : Estrutura tarifária de uma conta média em 2011 – ANEEL

A ilustração acima mostra a estrutura tarifária média brasileira em 2011,


antes da intervenção da medida provisória, que reduziu drasticamente os
preços da energia gerada pelas usinas ditas amortizadas. Reparem que, o
“peso” do kWh na conta total é 31%. Como essa proporção se compara a
de outros países?

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Gráfico 17 : Peso do kWh nas contas médias de diversos países

Como se pode constatar, a estrutura brasileira não indica um grande


problema quanto ao preço do kWh. Muitos países mostrados no gráfico
poderiam ter um maior sucesso com políticas intervencionistas no preço de
geração do que o Brasil. Considerando que apenas 20% das usinas
estavam em final de concessão e que o peso do kWh na conta não passa
de 31%, o efeito final supondo que a energia fosse entregue gratuitamente
não passaria de 6,2%.

Agora talvez possamos entender a relutância em usar as usinas térmicas


para amenizar o efeito da redução da reserva estratégica. Qualquer
aumento na parcela de preço da energia, para não causar um aumento
tarifário, teria que ser compensada nas outras duas mais importantes. Na
distribuição está o setor privado. Nos impostos, a eterna deficitária
situação fiscal do estado brasileiro. Será que o governo tem a
coragem para enfrentar esses dois mitos? Mais grave ainda: será que
poderemos ter uma matriz hidrotérmica com maior peso das térmicas
sem fazer pelo menos uma reforma tributária?

Isso desmonta o mito de que não há relação entre a MP 579 e a presente


crise. Assim chegamos ao núcleo do problema. Como se valorizam as
opções energéticas no sistema? O que comanda o acionamento das usinas
térmicas? Que modelo é este que adotamos no Brasil?

9 – O modelo mercantil mimetizado.


Esse é o assunto que, pela sua complexidade, já deveria causar um
espanto capaz de rever todas as certezas implantadas desde 1995.
Infelizmente, parece que esse enredamento não é suficiente para que a
sociedade brasileira perceba que há algo errado.

Podemos começar pela principal hipótese adotada na reforma institucional


de 1995; a de que é possível se implantar um modelo competitivo por
energia num sistema cujas características exigem a geração cooperativa.

As gerações reais das usinas brasileiras são muito variáveis e nada têm a
ver com os contratos comerciais. Isso é um problema para os
fundamentalistas do mercado por energia. Num sistema térmico, as usinas
têm uma capacidade de fornecimento dada por suas características
técnicas e pelo combustível que usam. Nesse sistema a geração das
usinas está ligada umbilicalmente à sua comercialização. Se uma usina
não tem o preço do mercado, não é acionada.

A inconstância da geração hidráulica de uma usina no Brasil é um estorvo


para quem quer mimetizar um sistema térmico, pois a produção física é
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uma decisão do operador do sistema que age monopolisticamente e não


tem conhecimento dos contratos comerciais. Mas, apesar do Brasil poder
implantar um mercado de potência (que será explicado mais tarde), a
ideologia foi mais forte e inventou um valor fixo de energia, um certificado
que pudesse “emular” o padrão térmico, a “garantia física”, um conceito que
só existe aqui.

Os gráficos abaixo mostram a geração real de algumas usinas


hidroelétricas nos anos 2004 a 2012 (curvas coloridas, uma para cada
ano).

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Gráfico 18, 19 e 20 : Geração real e Garantia Física de algumas usinas.

Como se vê, a geração física é extremamente variável e essa dispersão

não se dá apenas a nível mensal. Há anos onde se nota que uma usina
gera bem mais do que em outros anos.

O que são as linhas pontilhadas? Elas são as Garantias Físicas (GF) das
usinas. É um número que não consta nem dos manuais das turbinas nem
do gerador. Elas são valores de escritório calculados por um complexo
método que atribui a essas usinas um valor fixo que é a sua
“importância” no sistema como um todo e, consequentemente, a sua
capacidade de venda de energia. Esse é o número que faz a “ponte”
entre o mundo real e o mundo comercial. Já que a geração real é tão
variável e comandada pelo Operador Nacional do Sistema, essa GF foi o
nosso “jeitinho” para imitar um sistema de base térmica. Como vamos
perceber, essa ponte “balança” bastante, pois há diferenças da ordem
de 70% entre a geração real e a GF.

Atenção! A GF não é a energia média, como pode parecer. Por exemplo,


Vejam abaixo o caso de Jupiá.

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Gráfico 21 : Geração real e garantia física de Jupiá

Assim começa a jabuticaba brasileira. Para tentar implantar um mercado de


energia (kWh) a partir do nosso sistema, tão diferente dos outros, a GF é
uma avaliação da parcela da energia total que o sistema produz atribuído a
cada usina. A variabilidade da geração, a grande vantagem do sistema
brasileiro sob o comando de um operador que age monopolisticamente e
retira o máximo de energia do sistema, se transforma num mundo
comercial virtual complexo e instável. Toda essa complicada manobra foi
imaginada apenas para pode imitar sistemas totalmente diversos do nosso.

A metodologia é extremamente complexa e de credibilidade relativa. Ela


envolve a simulação da operação por um período futuro. Essa

dependência do porvir é justamente um dos problemas desse


certificado, pois, uma vez definido o valor, se algumas usinas não se
concretizarem, todos os certificados seriam afetados, pois a operação
simulada deveria ser alterada. Isso não sendo feito, os erros se
acumulam.

10 – Atenção! Não é física quântica!


Ao contrário dos outros sistemas que, para calcular a capacidade de
atendimento de uma demanda somam-se as capacidades individuais
das usinas, no Brasil, faz-se ao contrário. Primeiro determina-se a
capacidade do sistema e depois se divide o resultado pelas usinas.

Para todo esse processo usa-se um software feito para a operação do


sistema, o NEWAVE. Ele é que determina todos os parâmetros que vão
definir as grandezas comerciais. Como o histórico de energias afluentes
está limitado a 80 anos, é usada uma série sintética estendida de 2.000
anos para os cálculos mostrados a seguir [1].

Como é que se garante que o sistema atende uma determinada demanda?


Quando, nas simulações utilizadas, o custo médio de operar o sistema
(cmo médio) é igual ao custo médio de construir uma nova usina. Vejam o
que diz o documento oficial do governo (CNPE Comitê Nacional de Política
Energética).

“Seguindo os critérios de garantia de suprimento estabelecido pelo CNPE,


o processo é considerado convergido quando, no mínimo, um subsistema
de cada sistema regional atende ao critério de igualdade entre o custo
marginal de operação médio anual – CMO e o custo marginal de expansão
– CME, admitida uma tolerância.” Assim fica definida a capacidade total do
sistema em atender uma Carga Crítica (ccrítica na fórmula).

Essas equações abaixo fazem parte da metodologia de determinação da


garantia física.
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s = subsistema
nss = número de subsistemas
FH = fator hidrelétrico
i = mês
j = ano
k = série
t = usina térmica
gh = geração hidráulica total (controlável + fio d’água + vazão mínima)
gt = geração térmica total (inflexibilidade + geração flexível)

cmo = custo marginal de operação


nt(s) = número de térmicas do subsistema s
FT(t,s) = fator térmico de cada usina termelétrica t

A ideia por trás desse complicado formulário é atribuir ao bloco hidráulico e


ao bloco térmico a sua importância para o sistema. EH e ET são as
variáveis que determinam essa relevância.

Reparem que, uma vez determinada a carga crítica, usam-se as fórmulas


onde aparecem os termos gh, gt e cmo . O que essas equações fazem é
uma média ponderada das gerações gh e gt pelo cmo.

Por exemplo, quando há muita água, a geração hidráulica gh aumenta, mas


o cmo se reduz. De uma maneira geral, as gerações mais altas das
hidráulicas valem menos. No sentido contrário, a geração térmica gt,
quando aumenta, é multiplicada por um cmo mais alto. Ou seja, na
maioria do tempo a geração térmica é mais rara, mas, quando
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acionada vale mais. Se usinas térmicas são obrigadas a gerar mesmo


quando o cmo está baixo, por exemplo, usinas com inflexibilidade, a sua
geração também vale pouco. Vejam a importância da formação dessa
variável cmo.

Esse procedimento está correto, mas é preciso entender que essa

“divisão” da garantia entre térmicas e hidráulicas depende desse


número mágico, o cmo, que muda em função de critérios de operação,
e, se eles se alteram, a garantia física de todas as usinas deveria se
alterar. Esse é o detalhe que o governo não comenta porque isso
afetaria as rendas de todos os agentes. A redução da reserva
estratégica, já mostrada, é um dos fatores que acarretará mudanças
no critério de operação.

A equação (5) é a que divide a Garantia Física do Bloco Hidráulico entre as


usinas. Uma única observação é importante. Para fazer essa distribuição é
usado o conceito de Energia Firme, que é baseado num método totalmente
desconectado do vigente na simulação da operação. Ou seja, até a
definição da “divisão” entre térmicas e hidráulicas, vale o método de
otimização da operação buscando o mínimo custo total, mas, para definir a
participação de cada usina hidráulica, o método é baseado em outras
premissas. Subjetividades que sempre existiram no setor, mas, dada a
influência em questões comerciais, as escolhas podem ser inconvenientes.

Não é necessário compreender tudo. O importante é perceber que os


valores que regem a comercialização no Brasil são calculados de cima para
baixo e por um programa de computador feito para a operação do sistema
e que nunca foi imaginado para exercer esse papel. Ou seja, enquanto
nos sistemas de base térmica o todo é construído das partes, aqui,
primeiro é definido o todo, depois as partes.

11- Sua majestade, o CMO.


Essa variável cmo, não deixa de ser uma variável aleatória, pois ela é uma
resposta de um software a uma genuína variável aleatória, a energia
afluente aos rios brasileiros. Uma variável aleatória pode ser descrita por
sua distribuição de probabilidades. Reparem que a distribuição é a que
define a importância dos blocos hidráulicos e térmicos. Quando o sistema
está em equilíbrio, ou seja, quando o cmo médio estiver no nível do cme,
como já explicado. A figura abaixo mostra essa distribuição [2] (o gráfico
está interrompido em R$ 1,040/MWh, mas valores maiores são atingidos)

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Gráfico 22 : Distribuição do CMO para um sistema em equilíbrio (Plano


2016)
Como se sabe, o nosso histórico de vazões não ultrapassa 90 anos. A
primeira observação provocativa de reflexão seria: O que seria do nível de
significância desse parâmetro não fosse a amostra estendida de 2.000
anos da energia natural?

Distribuição de probabilidades da série de CMO’s médios anuais


constantes no PDE 2016: Moda: ~ R$40/MWh (valor mais provável) Média:
~ R$130/MWh (supostamente equivalente ao CME) Kurtosis: – 59 ( alta
prob em torno da moda) Skewness: + 4,8 (cauda para a direita) Alta
assimetria: ~ 75% das ocorrências abaixo da média Algumas curiosidades
sobre essa variável tão importante no modelo.

Não é exatamente um “custo marginal”, dado que assume valores


superiores à custos unitários de produção.
É dependente de parâmetros “subjetivos”: Custo do déficit e Taxa de
desconto do futuro. Quanto mais baixa a reserva, maior a influência
do custo do déficit.Quanto maior o custo do déficit, obedecidas as
regras vigentes, menor o risco de déficit e mais caro o sistema.
É dependente do futuro, uma vez que é uma simulação da operação
para uma configuração planejada, que pode não se confirmar.
É a variável que determina a “carga crítica”, a capacidade de
suprimento seguro do sistema. (CMOmed = CME)
É o fator de ponderação para determinar a capacidade de contratação
das usinas.
É fator mais importante na formação de um “índice custo benefício”
usado nos leilões.
É o fator determinante da frequencia da geração térmica no plano.

É o indicador mais importante da operação do sistema.


É preço referência no mercado livre.

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Que outros sistemas no mundo têm uma variável aleatória com tanta
importância? Esta dependência já não seria um motivo para se repensar o
modelo?

Mas, indo adiante no exame das entranhas do modelo, a distribuição


acima mostra que, sem dúvida, quando o sistema está equilibrado, a
ocorrência de valores baixos no cmo é bem mais provável do que cmo’s
altos. Como esse parâmetro é o fator que decide a geração de uma usina
e, como já mencionado, o proprietário da usina não comercializa a sua
geração, as diferenças entre o MWh real e o virtual são “liquidadas” no
mercado pelo Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) que, nada mais é
do que o cmo.

Por que o cmo acaba sendo o preço do mercado livre? Imagine que todos
os agentes, tanto consumidores quanto geradores vão a esse sistema
checar sua grandeza virtual com os números reais. Muitos geradores que
geraram abaixo de sua garantias físicas (principalmente térmicas),
têm o direito de “liquidar” o complemento de sua geração até o seu
certificado pelo PLD. Como o PLD é o próprio cmo e a probabilidade
dele estar abaixo da média é alta, cria-se uma enorme oportunidade de
transferência desse direito a outros. Por exemplo, se uma térmica tem
parte da sua garantia física não contratada no longo prazo, ela pode
transferir o seu direito de liquidação por PLD + X%, o que será, na maioria
do tempo, uma pechincha.

12 – As consequencias do modelo.
Abaixo, o histórico do PLD, onde se percebe diferenças de preços da
ordem de dezenas de vezes. Nesse gráfico, o atual valor de R$ 822 foi
estendido durante o ano de 2014 para provocar uma simples pergunta:
Como um mercado que liquida energia por quase nada e, alguns meses
depois, cobra preços recordes no mundo pode ser considerado um
ambiente saudável ou justo?

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Gráfico 23 : Evolução histórica do PLD da região sudeste.

Abaixo, uma comparação do mercado brasileiro (Região Sudeste) com o


NORDPOOL, mercado existente entre Noruega, Suécia, Finlândia e
Dinamarca com ambos os valores em Euros.

Gráfico 24 : PLD e Spot do NORDPOOL em euros.

O gráfico resultante dos valores de PLD comparados aos do NORDPOOL é


ainda mais impressionante. Como a Noruega e Suécia têm matrizes com
grande participação hidroelétrica, o processo de produção da energia é
fisicamente o mesmo. Portanto, que estranhos mecanismos fariam o MWh
no nosso mercado oscilar desde 7% do preço do NORDPOOL para 1200
%?

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Gráfico 25 : Relação entre PLD e ELSPOT

O problema é que, apesar de ser um mercado hidrotérmico, o NORDPOOL


não é um sistema de reservatórios. Lá a geração hidráulica compete no
mercado sem o dilema de que a geração de hoje é a perda de reserva de
amanhã, como ocorre aqui. Lá o preço é determinado por curvas de oferta
e demanda. Aqui o preço é determinado por uma avaliação subjetiva do
valor da água reservada dada as expectativas de afluências e demandas
futuras. Pior! Aqui o preço é determinado por um ente que não participa
do mercado, e assiste passivamente esse valor se transformar no
paradigma de trocas de certificados virtuais de energia determinados
antecipadamente e com critérios que podem ser distintos dos seus.

13 – Mercado Livre, um mistério


É importante entender o que se passa no mundo físico quando um
consumidor se torna livre.

Num sistema térmico, uma indústria pode fazer um contrato com uma
usina que, por alguma razão, tem um preço atrativo. A vantagem
pode ser, por exemplo, ter uma eficiência acima de seus
concorrentes. Nesse momento o gerador injeta sua energia na rede
que é paga pela indústria sua cliente. A relação comercial e física é
quase biunívoca.
No sistema brasileiro, como o contrato é feito com base num
certificado de energia que é “parte” do todo e apenas estando
atribuído a uma usina, quando uma indústria se torna livre não há
alterações físicas na rede. Tudo se passa como o momento anterior à
entrada no mercado livre. O que altera é o custo, que, para ser
atrativo, deve ser obrigatoriamente mais baixo.

O ILUMINA tem insistido junto à CCEE (Câmara de Comercialização de


Energia Elétrica) que sejam divulgados pelo menos os perfis dos contratos
no mercado livre. Entendemos que esses preços possam ser considerados
estratégicos, mas, dada a singularidade brasileira, é importante que a
sociedade saiba que prazos têm esses contratos e que volumes de energia
são negociados. Apenas recentemente a CCEE divulga esses perfis. Nos
gráficos a seguir os perfis quanto ao número de contratos e prazos e
volumes de energia e prazos.

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Gráfico 26: Perfil de mercado em março de 2013

Nesse exemplo de março de 2013 a maioria dos contratos (77%) tinham


duração de 6 meses a 1 ano. Mas, em volume, 42% são contratos acima
de 4 anos. Observe-se o pequeno percentual de contratos mensais, tanto
em termos de número (1,4%) quanto em termos de volume (2,5%). Em
março de 2013 o PLD apontava para um valor 3 vezes maior do que o
custo marginal de expansão. R$ 339/MWh. Isso provoca uma curiosidade:
Como variam esses perfis quando outros valores de PLD ocorrem? Com
muita dificuldade, conseguimos os valores de 2011 da CCEE. Os anos
anteriores estão indisponíveis. O gráfico abaixo mostra a situação dos 36
meses de janeiro de 2011 até dezembro de 2013. O eixo horizontal mostra
o valor do PLD e o vertical a proporção de contratos de prazo mensal, que,
no exemplo acima era muito baixo.

Gráfico 27 : Relação entre PLD e número de contratos mensais

Como se pode observar, quando o PLD se reduz, o perfil de contratos se


altera. Cerca de 25 a 30% dos contratos “giraram” no mensal. Quando o
PLD se eleva, com raras exceções a proporção se reduz a menos de 3%.
As ocorrências de PLD baixo foram verificadas em 2011, quando a energia
natural esteve a 120% da média histórica.
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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
natural esteve a 120% da média histórica.

Para um mercado cujo preço é de “Liquidação de Diferenças”, poderia ser


muito natural que pequenas diferenças entre o real e o virtual estivessem
sendo liquidadas. Mas, quando se plota o mesmo gráfico em termos de
volume de energia, o comportamento surpreende.

Gráfico 28 : Relação entre PLD e volume de contratos mensais..

Como se pode notar, cerca de 25% do volume de energia negociado no


mercado livre “girou” no mensal sob PLD baixo. Como ali se negocia
aproximadamente ¼ da carga total do sistema, chega-se a conclusão de
que 6,2 % da carga total foi negociada mês a mês em 2011. Talvez isso
explique a grande resistência na adoção das determinações da Portaria do
MME 455/12 que exige o registro ex-ante dos contratos de curto prazo. Tal
determinação deveria ser implantada em junho, mas medidas judiciais de
agentes comercializadores estão mantendo a vantagem extra de registrar
contratos depois do consumo de energia.

Que outra razão, além do PLD muito baixo, levaria a essa mudança de
comportamento? Se lembrarmos que o PLD nada mais é do que o CMO e
que, estando o sistema em equilíbrio (CMOmed = CME), a distribuição de
probabilidades é a mostrada no gráfico 22. Tendo a maioria dos valores
abaixo da média, nada mais justificável do que o comportamento
observado nos dados da CCEE. Entretanto, o que significa isso em termos
do sistema como um todo?

14 – Um mercado de diferenças e de
transferências
O mercado livre de energia elétrica é um ambiente de estratégias
empresariais. Muitos setores precisam administrar o uso de energia para
poder competir até em mercados internacionais. Portanto, sob essa ótica, é
natural que não se conheçam quem são os compradores, de quem
compram, por que preço e prazo. O ILUMINA não contesta essa
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necessidade.

Mas, é preciso também reconhecer que o mercado livre brasileiro


apresenta características muito incomuns, como foi mostrado nos itens 12
e 13. Sendo um ambiente que vive do mesmo e único sistema interligado, o
que ocorre nesse mercado tem consequências externas a ele. A primeira
situação que merece destaque é a que está surgindo agora com a
“exposição” das hidráulicas. Há estimativas de que o déficit de geração
para a garantia física das hidráulicas possa atingir R$ 20 bilhões. Basta
observar o gráfico 29 abaixo para entender que há uma enorme assimetria
“gravada” no modelo vigente.

Gráfico 29 – Assimetria de situações entre 2011 e 2014.

Em 2011, segundo dados da CCEE, sob uma hidrologia 120% da média


histórica, as hidráulicas liquidaram sua geração acima da garantia física por
um PLD no entorno de R$ 40/MWh. Passados 3 anos, a situação se inverte
e elas serão obrigadas a pagar 20 vezes mais pelos MWh que faltam para
sua garantia física. Porque esse quadro não tem nenhum sentido lógico?

1. Não há exemplos no mundo onde seja justificável assimetria dessa


ordem de grandeza.
2. O sistema brasileiro tem reservatórios capazes de estocar MWh.
Portanto, alguns MWh gerados pelas hidráulicas poderiam estar
estocados caso a operação fosse distinta.
3. A operação não é uma escolha das usinas. Portanto, a exposição
também pode ser interpretada como “involuntária”.
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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
também pode ser interpretada como “involuntária”.
4. Essa situação estranha tem rebatimento direto e indireto sobre os
consumidores e contribuintes.

Como será examinado adiante, a geração das usinas atingidas pela MP


579 de 2012 estão “cotizadas” entre as distribuidoras. Portanto,
aproximadamente 15% do total de MW instalado de usinas hidroelétricas,
não estão sujeitas a esse dilema, pois não precisam cobrir sua garantia
física. Entretanto, o problema físico permanece, pois esse “risco
hidrológico” é transferido para as distribuidoras (leia-se consumidores).

Assim, hoje, parte da exposição das distribuidoras não se deve a ausência


de contratos, mas sim ao próprio modelo. A configuração adotada, num
sistema onde a garantia física é uma estimativa sujeita a mudanças,
terminou por implantar dois regimes de usinas totalmente distintos dividindo
o mesmo sistema físico. Num regime, se a hidrologia é exuberante, como

na maioria das vezes é num clima tropical, a vantagem é capturada no


mercado livre por preços irrisórios. Se ao contrário a hidrologia é
desfavorável, o “risco hidrológico” pode criar dívidas bilionárias sem
memória das benesses de outras situações. No outro regime, o risco é
transferido ao consumidor sem proveito de diversidades que atenuem o
problema e também sem compensações dos períodos de exuberância.

15 – Energias renováveis, mas tarifas


incontroláveis.
Apesar de termos uma agência reguladora que, além de tratar da
regulamentação do setor, deveria prestar contas dos resultados das suas
atuações, hoje conhecemos menos sobre política tarifária do que há 20
anos passados. Os dados mostrados aqui irão até 2012, pois, tanto a
política de despacho térmico atrasada até setembro do mesmo ano, como
a ocorrência de meses secos em 2014, transformaram o ambiente tarifário
num verdadeiro tsunami confuso e que só mostrará seus efeitos ao longo
dos próximos anos.

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Gráfico 30 – Evolução da tarifa residencial 1995 – 2012

Gráfico 31 – Evolução da tarifa industrial (mercado cativo)1995 – 2012.

Como mostram os gráficos, de 1995 até 2012 a tarifa cresceu em termos


reais, sendo que é possível notar uma alteração de política por volta de
2005, quando houve alguma contenção de reajustes para o setor
residencial, mas com uma “transferência” de peso para a indústria do
mercado cativo.

A descontratação das usinas hidroelétricas das estatais sob um mercado


que havia se reduzido em aproximadamente 15% (Gráfico 4), criou um
verdadeiro festival de PLD’s muito reduzidos. Evidentemente, de modo um
tanto “ocluso”, implantou-se um incentivo à migração para o mercado
livre. Basta mencionar que em 2002 menos de uma dezena de
consumidores estava no mercado livre. Em 2008, esse número já
ultrapassava 700.

Hoje, aproximadamente 50% da indústria brasileira e parte do comércio


estão no mercado livre. Como a CCEE não divulga preços médios,
podemos afirmar que, hoje, o Brasil não sabe qual é a política tarifária
para a indústria como um todo. O ILUMINA compreende o caráter
estratégico da atuação dos consumidores livres, mas chama a atenção de
que um mínimo de transparência seria a divulgação de preços médios por
setor.

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O que nos parece importante salientar é que não há dúvidas de que o


modelo adotado desde 1995 não entregou o prometido, a redução de
tarifas. Muito ao contrário, há um contínuo movimento de alta de preços.
Como vamos tentar mostrar os indícios, na realidade, a promessa de
redução tarifária era inexequível.

Mesmo depois de quase 20 anos de uma profunda reforma dos princípios

do setor, não se conhece um estudo oficial que aponte diagnósticos que


expliquem essa alta de preços. É impossível negar que, dependendo do
cenário ecológico e tecnológico futuro, a energia poderá encarecer.
Entretanto, o que ocorre no Brasil não depende desses temas. Abaixo
algumas das causas da disparada de preços das tarifas brasileiras,
raramente citadas:

Descontratação de 2003 – self dealing – troca de energia das estatais


por energia de usinas das distribuidoras com preços até 150% mais
caros. A carga havia se reduzido em 15% e, a perda de contrato das
estatais equivaleu a assumir o prejuízo da redução do consumo nas
empresas públicas. Abaixo alguns exemplos de impactos tarifários
decorrentes dessa troca.

Tabela 1: Diferenças de preço entre contratos iniciais cancelados e novos contratos (self
dealing) – Fonte : Malogro no Setor Elétrico – C. A. Kirchner – Edições SEESP

Aumentos de mais de 30% para as distribuidoras compensando a


queda de demanda decorrente do racionamento no período 2002 –
2004. Alguns exemplos: Em 2003, CEMIG – 31,53%. COELCE –
31,29% – COELBA – 31,49% , CPFL – 19,25%, Bandeirante –
18,08%, ENERSUL – 32,59%, ENERGIPE – 31,18%. Em 2004,
ESCELSA – 19,89%, COPEL – 14,43%. Em 2005, CELPE – 24,43%,
Manaus Energia – 19,07% (Fonte: DIEESE – Nota Técnica 58 – 2007)
Parcelas da conta de luz indexadas ao IGP-M, indicador dependente
do dólar. Tal indexação foi adotada para proteger capitais
estrangeiros em função de possíveis desvalorizações do real.
Criação de uma energia “de reserva”, apesar de termos uma energia
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que se diz “assegurada”. Esse encargo foi criado para reforçar os


certificados de garantia superavaliados emitidos com uma

metodologia diferente da usada pelo operador nacional do sistema.


Custos fixos nas contas das distribuidoras majorados como se
fossem proporcionais ao mercado. O erro foi corrigido em 2010 após
investigação do TCU, mas o passivo de R$ 7 bilhões ficou descoberto.
Leilões genéricos que resultaram na contratação de 6GW de
térmicas, a maioria a óleo e diesel. Por força da singularidade do
sistema brasileiro, os leilões eram vencidos através de um subjetivo
índice custo benefício.
Aumento do custo de transmissão. (R$/km – +100%). Apesar das
declarações entusiasmadas de deságios, os custos de transmissão só
aumentaram no período.

Gráfico 32: Aumento da receita por km da rede básica.

Uso de geração térmica não prevista em função de óticas diferentes


entre operação e planejamento. A fragmentação de
responsabilidades gerou diferenças de óticas entre o planejamento
(EPE) e a operação (ONS), muito embora essa coerência fosse
essencial, pois o planejamento e o modelo mercantil dependem de
uma simulação da operação.
Proliferação de encargos, a maioria ironicamente criada após a
reforma mercantil do setor. Alguns são subsídios, mas outros são
típicos da modelagem adotada.

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Gráfico 33: Cronologia dos encargos e impostos.

Os leilões de novas usinas hidroelétricas mostram patamares de preço bem


superiores às usinas ditas estruturantes feitas sempre com parceria
minoritária da Eletrobras. Portanto, é preciso esclarecer qual o custo real de
uma usina nova. Abaixo o resultado de alguns leilões realizados onde o H
indica produto hidroelétrico.

Tabela 2: Resultado de alguns leilões no período 2008 – 2013

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Tabela 3: Alguns resultados de preços de usinas novas.

16 – A obsessão por redução tarifária a qualquer


custo.
O ano de 2012 é um marco para entender a atual crise. Os dados mostravam que a
antiga promessa de redução tarifária associada com a ideia de privatização e adoção
do atual modelo mercantil falhou completamente. O máximo que teria acontecido
seria uma ênfase de aumentos maiores para a indústria compensando um viés
anterior onde o setor residencial era o principal atingido. Não restam dúvidas de que
a energia elétrica encareceu fortemente no Brasil nos últimos 20 anos. Alguns dos
motivos do encarecimento estão listados no item anterior. Teria o governo condições
de enfrentar as questões envolvidas? Na maioria dos itens a resposta é negativa, pois
alguns são resultados de leilões. Outros envolveriam um embate com a regulação
vigente que permitiu situações absurdas tais como inflar custos fixos.

A solução veio da FIESP que lançou uma campanha midiática identificando um fator
que poderia aliviar a incômoda situação tarifária brasileira: a amortização de ativos
de usinas antigas. Falso? Não! É verdade que parte significativa de ativos de usinas
hidroelétricas já estava amortizado e os preços praticados não refletiam isso.
Entretanto, e isso é muito importante para o entendimento da crise, o sistema tinha
se transmutado de serviço pelo custo para preço da energia em 1995. Ele não foi
alterado em 2004. Nesse sistema nem é correto se referir ao preço do MWh como
“tarifa”. Na realidade, quem escolheu a desvinculação do nível de preço de geração
do estágio de amortização das usinas foi o próprio governo. Portanto, a FIESP
reclama do próprio modelo.

As duas figuras abaixo são slides de uma apresentação da própria FIESP que mostra
qual foi a estratégia usada para lançar a ideia de que algo poderia ser feito para
reduzir a tarifa sem ter que enfrentar as questões levantadas no item anterior.

http://ilumina.org.br/da-superficie-para-as-entranhas-um-modelo-com-defeitos-geneticos/ 33/52
1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

Gráficos 34 e 35: Slides da FIESP sobre a comparação energia “nova” e “velha”.

A tese do uso de excedente de preço de usinas antigas é correta. O erro


está na forma e nas comparações feitas para convencer a sociedade de
uma inexistente “vilania” das estatais. As empresas não definiram os
preços. Eles foram resultantes de leilão. Se os níveis atuais estavam
inflados a razão é a indexação (IGP-M) ainda existente em todo o setor.
Além disso, porque o argumento da FIESP, comparando preços de leilões
das usinas acima com o preço das usinas antigas está repleto de erros?

As usinas S. Antônio e Jirau estão no Rio Madeira que tem hidrologia


mais estável do que a maioria dos rios brasileiros e têm maior
produtividade (FC ~ 60%). Elas deveriam ser mais baratas mesmo.

Todas as quatro, sem exceção, são financiadas pesadamente pelo


BNDES a taxas subsidiadas e, portanto, não podem ser consideradas
como “paradigmas” de preço de energia nova. Para encontrar contra
exemplos, basta ver os resultados das tabelas 2 e 3.
Todas têm parcerias com estatais, sempre minoritárias. A inclusão
das empresas da Eletrobras visava “viabilizar” o empreendimento, o
que coloca uma dúvida de qual seria o preço sem a participação da
estatal.
Todas têm suposições de contratação no mercado livre que ainda não
se concretizaram.
Nenhuma delas está em pleno funcionamento.

Portanto, os argumentos têm um viés de “exagero” e não reconhecimento


de que alguma amortização já tinha sido feita no passado, pois, voltando no
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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

tempo, as tarifas de 1995 são quase a metade da atual em termos reais.


Como ter níveis tão mais baixos se não tivesse havido depreciação
reconhecida na tarifa? Seriam os custos das antigas usinas brasileiras
muito caros justamente porque o sistema anterior garantia uma
remuneração para os investimentos? Seria verdade que o Brasil era o
exemplo mais concreto do efeito Averch-Johnson[3]? O estudo mostrado
no gráfico abaixo[4] parece desmentir esse mito, pois o Brasil não está “mal
na foto” quando se compara custos de hidroelétricas no mundo.

Gráfico 36: Custos de hidroelétricas. Comparação internacional.

Evidentemente, das mais de 100 usinas brasileiras, a grande maioria foi construída
por empresas estatais. Portanto, o conhecido efeito Averch-Johnson, talvez não tenha
ocorrido no Brasil. Mas, quando uma instituição importante como a FIESP utiliza um

argumento válido em tese, é preciso examinar um pouco mais a questão. Na tabela 4,


os custos estimados dos projetos exemplos da FIESP, onde se vê que o custo médio
dos 4 projetos é de R$ 3.655,23/kW.

Tabela 4: Custos estimados dos projetos citados pela FIESP.

As usinas da Eletrobras atingidas pela medida provisória 579, transformada na lei


2183/2013 são as seguintes: Marimbondo, Porto Colômbia , Estreito, Funil, Furnas,
Corumbá, Paulo Afonso I, II, II e IV, Moxotó, Itaparica , Xingó, Piloto, Araras, Funil,
Pedra e Boa Esperança. Elas somam 13.800 MW. Se fossem construídas com o custo
médio dos projetos exemplos da FIESP custariam R$ 50.442.138,87.

De acordo com o documento da Eletrobras reproduzido abaixo, o valor contábil da


indenização que quitaria os investimentos dessas usinas seria R$ 13.226.000,00. Isso
quer dizer que, sem alterar o manual de contabilidade do setor, 74% do investimento
total já teria sido pago pelos consumidores.
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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
total já teria sido pago pelos consumidores.

Teórica e aproximadamente e mantendo os registros contábeis, a tarifa média das


usinas antigas poderia ser diminuida em 70% e o valor final seria cerca de 30% dos
R$ 90,98/MWh = R $27,30/MWh Porque uma realidade contábil advinda de diversos
balanços auditados e aprovados pela ANEEL não foi suficiente? Porque ao invés de
adotar o dados registrados em balanços apenas 44% foi reconhecido? É o que vamos
examinar a seguir.

17 – Uma conta ao inverso.


Principalmente dois motivos fizeram com que o governo, pressionado pela
campanha da FIESP, adotasse um caminho não ortodoxo: Em primeiro lugar, em
2011 já estava evidente que o Brasil já ocupava a terceira posição dentre os países
com energia cara, muito longe do padrão hidroelétrico de Noruega e Canadá,

conjuntura ocupada em 1995. A FIESP, omitindo o detalhe de que nem toda a


indústria tem custos elevados com energia elétrica, argumentava ser a alta tarifa a
razão da perda de produtividade. Isso é verdade para alguns setores eletrointensivos,
mas não pode ser generalizado para a indústria como um todo. Até porque, fosse
real, as indústrias italiana e japonesa estariam falidas, como mostra o gráfico
abaixo[5].

Gráfico 35: Comparação internacional de tarifas elétricas para a indústria.

Portanto, o que estava em jogo seria uma redução que colocasse o Brasil no meio da
curva, o que exigiria uma tarifa 20% menor.
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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
curva, o que exigiria uma tarifa 20% menor.

Entretanto, apenas 20% das usinas hidroelétricas estavam em final de concessão.


Como mostrado no Gráfico 16, o peso do kWh numa conta média não passa de 30%,
sendo, evidentemente, maior para a indústria. Nem toda energia vem de
hidroelétricas, podendo-se estimar em cerca de 80%. Portanto, se a energia das
usinas velhas fosse gratuita, a redução máxima não ultrapassaria 6,4% na média e
10% para a indústria. Estava evidente que uma redução de 70% nas tarifas não seria
suficiente para bancar a meta de 20%.

O outro motivo seria o limite de recursos da RGR (Reserva Global de Reversão), um


dos poucos encargos criados antes da reforma de 1995 e que serviria justamente
para indenizar investimentos não amortizados. Essa conta acumulava cerca de R$ 20
bilhões e, se apenas a Eletrobras contabilizava uma indenização de R$ 13 bilhões,
estava claro que seria necessário fazer uma conta reversa.

18 – Valor Novo de Reposição, um conceito muito


semelhante ao da FIESP.
Segundo o documento do Ministério de Minas e Energia “Cálculo do Valor Novo de
Reposição de Empreendimentos de Geração de Energia Elétrica – Metodologia,
Critérios e Premissas Básicas:

De acordo com o art. 10 do Decreto nº 7.805/2012: “Art. 10. Os estudos para

definição do VNR dos empreendimentos de geração de energia elétrica serão


realizados pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, a partir das informações do
Projeto Básico do Empreendimento a ser fornecido à ANEEL pela concessionária de
geração.

§ 1º Os custos unitários utilizados nos estudos de que trata o caput serão obtidos a
partir de banco de preços da EPE.

§ 2º Os projetos básicos dos empreendimentos de geração deverão ser


protocolizados junto à ANEEL até 15 de outubro de 2012, observado o disposto no
§5º do art. 15 da Medida Provisória nº 579, de 2012.

§ 3º No projeto básico do empreendimento devem constar os quantitativos de


materiais, equipamentos hidromecânicos e eletromecânicos, e serviços.”

Essa metodologia refere-se ao cálculo do valor de um ativo (no caso, o bem reversível
vinculado à uma concessão vincenda) se fosse construído a preços atuais, tendo por
base os quantitativos de materiais, equipamentos eletromecânicos, e serviços, que
fazem parte dos Projetos Básicos protocolados na ANEEL em atendimento ao § 2º do
o art. 10 do Decreto nº 7.805/2012. Dessa forma, os empreendimentos de geração
analisados pela EPE, conforme relatórios específicos, tiveram seus orçamentos
refeitos, considerando como data-base de referência o mês de junho de 2012.

Portanto, apesar de todas as diferenças que existem entre o projeto básico de uma
usina e sua efetiva construção, a metodologia se arrisca a avaliar mal o valor do
empreendimento. O próprio setor elétrico está repleto de exemplos de obras cujos
custos extrapolaram as estimativas iniciais.

A lista de usinas da tabela 4 é uma amostra. A metodologia proposta usou para seu
“banco de dados” as 12 usinas da tabela abaixo:

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Tabela 6: Usinas componentes do banco de dados para estimativa do VNR.

Como se vê são usinas novas, muitas ainda não concluídas e algumas onde
o custo já extrapolou em muito o projeto básico. A metodologia não se
sustenta como representativa das diversas situações das usinas brasileiras
com base na seguinte análise:

A tabela abaixo mostra as potências das usinas do banco de dados


(não informada no documento do MME)
Como se vê, é uma amostra cuja média é de 1072 MW, mas a
amplitude das potências torna evidente a baixa representatividade
de outras situações.
Muitas usinas que serão avaliadas pela metodologia estão numa
faixa de potência onde o banco de dados não tem exemplos (1000 –
1500 MW).

Tabela 7: Potência das usinas do banco de dados

Com base nessa pequena amostra, a metodologia define o custo da turbina


e gerador a partir das curvas abaixo.

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Gráficos 36 e 37: Correlação linear que determinou os valores de Turbina e Gerador para
compor o VNR.

Nesses gráficos, é evidente que se o ponto isolado, mais alto,


tivesse outro valor, as retas teriam outra inclinação.
Mesmo na concentração de valores baixos, é possível notar
diferenças maiores do que quatro vezes.

O caso das usinas com turbinas Kaplan é ainda mais evidente de que cada
usina é um caso a parte. São visíveis os erros em relação às próprias
usinas do banco de dados. O exemplo marcado com o circulo vermelho
apresenta um desvio negativo de R$ 30.000/MW/rpm 0,5. Isso significa um
viés de -60% em uma usina do próprio banco de dados.

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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

Gráficos 38 e 39: Correlação linear que determinou os valores de Turbina e Gerador para
compor o VNR.

O ILUMINA não vai se profundar ainda mais no exame de uma metodologia


que não tem base em dados reais e pode subestimar custos. O exemplo
acima é apenas uma amostra de falhas de análises estatísticas que
querem aparentar um rigor técnico inexistente. Mais importante do que
possíveis erros, o fato é que não existem duas usinas hidroelétricas
iguais. O conceito de VNR pode até ser aceitável para usinas térmicas,
linhas ou subestações, mas, cada usina hidroelétrica é única e qualquer
analogia, ainda mais com projeto básico, é um equívoco. É possível
encontrar estudos com essa metodologia destinado a obter estimativas de
custos futuros para planejamento. Entretanto, o que se apresenta aqui é
um método que irá impor um custo mesmo que seja conflitante com o
registrado. Chega a ser irônico que alguns exemplos do próprio banco de
dados já não passariam no teste do VNR, pois seus custos já extrapolaram
os valores iniciais. Portanto, o método utilizado para definir as
indenizações tem claros indícios de erros grosseiros.

19 – A redução tarifária obsessiva via custos de


operação e manutenção.
Na verdade, o item anterior não tem um impacto direto no preço da energia.
A metodologia afeta os balanços das empresas e lança uma enorme
insegurança para os investidores, pois cada empresa que atua no setor
“pode ser a Eletrobras amanhã”.
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A filosofia do VNR, que proclama ser capaz de definir autocraticamente os


valores de investimentos, de certa maneira foi estendida para os custos de
operação e manutenção das unidades atingidas pela Lei 12783/2013.

Mais uma vez é importante salientar que a intervenção passa ao largo do


fato incontestável de que usinas hidroelétricas são equipamentos únicos.
Não há duas usinas iguais. Desprezada essa característica, as estimativas
se limitaram a custos de operação e manutenção das partes
eletromecânicas das usinas. Toda a relação do empreendimento com o
reservatório e o próprio rio foi desprezada. Portanto, programas
desenvolvidos ao longo da convivência da usina com a sociedade afetada
deixam de ser considerados custos de operação e manutenção.

Na verdade, os gastos de Operação e Manutenção de uma Usina


Hidroelétrica dependem de:

Capacidade Instalada
Geração
Número de máquinas
Tipo de Turbina
Automação
Regime de operação
Variáveis ambientais
Restrições de Operação

Além do reducionismo do problema, a ANEEL retira do concessionário a


responsabilidade pela qualidade, uma vez que afirma na Nota Técnica no
385/2012-SER/SRG/ANEEL.

“17. A utilização de uma função custo para a definição de custos


operacionais possui uma vantagem central, que é desassociar os custos
praticados por cada empresa dos custos regulatórios.”

Isso mostra que a agência desvaloriza seu papel de fiscalização preferindo


utilizar metodologias contestáveis e descoladas da realidade. O próprio
conceito de concessionário é atingido, pois a empresa concessionária é
vista como produtora de custos inconfiáveis a priori.

Das variáveis citadas acima, a ANEEL usou apenas as duas primeiras,


capacidade instalada e geração. Textualmente a nota acrescenta:

“23. A definição dos custos operacionais a ser considerado na tarifa de


geração …..pode ser feita de ta forma que reflita um padrão de eficiência
definido pelo Poder Concedente. Para tanto, é preciso…., estimar uma
função custo operacional. Essa função deve se basear no “produto” da
atividade geração e nas características de cada usina… a principal
variável é sua Capacidade Instalada. Um maior Fator de Capacidade
pode estar associado a uma maior utilização das maquinas da usina.”

A função “simplificadora” do problema é definida como:


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A função “simplificadora” do problema é definida como:

Gráfico 40: Trecho da Nota técnica 385/2012-SER/SRG/ANEEL

Mesmo aceitando o desprezo das variáveis citadas acima, a nota técnica


comete dois graves erros.

1. Coloca na fórmula a variável Fator de Potência ao invés de Fator


de Capacidade, em desacordo ao texto da própria nota, o que
demonstra a pressa e a falta de cuidado de um documento oficial
de uma agência reguladora. O fator de potência nada tem a ver com
a geração da usina, sendo um parâmetro elétrico que mede a
defasagem entre tensão e corrente. Esse detalhe é um grave indício
de que a agência atuou como braço do poder executivo.
2. Mesmo admitindo o lapso, estimar a geração de uma usina
hidráulica no sistema brasileiro pelo Fator de Capacidade é uma
escolha que subestima a geração real. Como se sabe, as
hidráulicas, na maioria do tempo, geram no lugar das térmicas e,
portanto, a geração real é superior à estimada através do Fator de
Capacidade.

Em resumo, se é válida a tese de que o custo de operação e manutenção


pode ser estimado simplesmente através do Fator de Capacidade e da
Capacidade Instalada, então uma usina de 800 MW tendo 2 máquinas de
400 ou oito máquinas de 100 devem ter obrigatoriamente exatamente o
mesmo custo de O&M, o que não tem base na maioria dos casos reais.

20 – Como conseguir tarifas mais baixas sem


intervenções.
Dado o nível de incertezas sobre essas metodologias tão não ortodoxas, só
nos resta perguntar como outros sistemas de base hidroelétrica praticam
uma política que permita capturar a amortização de investimentos em favor
do consumidor.

O irônico é que a constituição de 1988, considerada “estatizante” por


muitos, foi a semente do atual modelo do nosso setor elétrico. Tratando a
exploração de potenciais hidráulicos com um serviço público como
qualquer outro, eliminou o princípio da “justa remuneração” constante na
carta de 1946 e tornou obrigatória a licitação findo o termo da concessão.
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carta de 1946 e tornou obrigatória a licitação findo o termo da concessão.

Tal estrutura jurídica não é comum em sistemas hidroelétricos, pois uma


usina não é apenas uma fábrica de kWh, e, em conseqüência, outros
atributos são estranhos numa concorrência por preço. Canadá e Estados
Unidos mantêm os concessionários, mesmo privados, justamente para
poder se aproveitar da amortização do capital investido em prazos
compatíveis com a extensa vida útil das hidráulicas sob os princípios da
“return rate regulation”. Dos 50 estados americanos, apenas 15 estão sob a
égide mercantil. A lei anterior, PUHCA, Public Utility Holding Company Act
de 1935 continua válida na maioria. Uma empresa só perde a concessão
de uma hidroelétrica se cláusulas contratuais forem descumpridas e essa
decisão é exclusiva do FERC (Federal Energy Regulatory Commission).

Mas, seria interessante comparar dados de outros sistemas. A tabela


abaixo é parte de um estudo que analisa várias opções para novas fontes
nos Estados Unidos. Não se trata de custos de O&M que serão impostos a
ninguém.

Pode-se verificar que os custos de operação e manutenção de hidráulicas


está estimado em US$ 10/MWh. Comparado com os resultantes da
metodologia brasileira, ultrapassam o triplo. Deve-se também considerar
que essa estimativa diz respeito à novas unidades. Usinas antigas podem
perfeitamente ultrapassar esses valores.

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Tabela 8: Custos de Novas Fontes de Energia – EIA – 2012.

Como, portanto, garantir que a amortização de investimentos antigos não


seja apropriada pelo dono da usina? Através da taxa de retorno negociada
com o regulador. A tabela abaixo mostra o ROE (Returno n Equity)
negociados para diversas empresas de vários estados americanos.

Isso é possível porque a maioria dos estados americanos permanece sob o


“return rate regulation”, que nada mais é do que o nosso antigo regime de
serviço pelo custo, desmontado a partir de 1995.

Tabela 9: Taxas de retorno negociadas para empresas americanas. Fonte:R. Mihai


Cosman – CPUC Energy Division. (***) Ferc response, (**) 2007, (*) 2006 Public Utilities
Fortnightly

Por acaso tais taxas significaram grandes perdas para essas empresas? O
gráfico abaixo mostra que não, pois elas ainda são bastante atrativas em
comparação à taxa de juros do tesouro americano.

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Gráfico 41: Taxas de retorno de concessionários americanos comparadas à taxas de juros.

Essa comparação internacional mostra que há cada vez mais indícios de


que os custos de O&M brasileiros foram intencionalmente deprimidos para
que se conseguisse uma redução final predeterminada.

21 – Conclusão: Pior a emenda que o soneto.


Como qualquer artigo, por mais extenso e abrangente que seja, é preciso
uma conclusão. Para quem teve a paciência e interesse em ler, pedimos
que, se discordarem de algum ponto, manifestem sua opinião. Se algum
dado estiver errado, agradeceríamos que fosse apontado. Não somos os
donos da verdade. Também estamos na busca dela.

Examinando o que ocorreu nesses últimos anos, é óbvio que muitos erros
foram cometidos. O que é preocupante é que apesar de todos os indícios
de que há algo profundamente errado com as políticas e com o
modelo adotado, percebe-se pouca vontade para examinar a fundo o
sistema.

O ILUMINA, mesmo sem muitas esperanças de quebrar a nossa fantástica


complacência, resume aqui alguns dos problemas com alguma ordem
cronológica, mas termina esse artigo com as inevitáveis perguntas
sobre o papel da Eletrobras. Afinal, o que se quer dessa empresa?
Vale a pena tê-la apenas como complemento do setor privado? Vale a
pena tê-la sob os mesmos princípios mercantis das empresas
privadas? Qual é o papel dela no enorme desafio da dicotomia energia
x meio ambiente? Depois do enorme prejuízo causado pela medida de
contenção tarifária e pelas política de dispensa de pessoal adotada a
empresa é ainda capaz de exercer um papel inovador e desafiante?

O racionamento de 2001, por ter sido um recorde mundial, foi uma grande
oportunidade de se alterar o que era marca registrada do modelo de 1995.
Muitos imaginam que a grande crítica de alguns técnicos era a
privatização, mas o debate que ocorreu em 2002, muito próximo à data
da eleição, concentrou-se no tema da mercantilização tal como
imaginada. A privatização tal como imaginada, além de inibir novos
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investimentos, foi acompanhada de algum desmonte da capacitação


técnica das estatais, mas ela não era o principal problema. Ela foi
interrompida, mas a mercantilização, tal como imaginada, foi
implantada a partir de 2003 apesar das críticas técnicas.

Havia outra proposta de reforma em 2003. Resumidamente, a grande


diferença seria a adoção de um comprador majoritário por capacidade
(MW), apesar de pode haver comercialização de energia em menor
volume. Essa configuração evitaria que tanto a exuberância hidrológica
fosse capturada através de preços irrisórios, como impediria prejuízos
bilionários nos momentos de carência. Um simples princípio de que
períodos de “vacas gordas” ajudem a pagar as “vacas magras”. Essa
mudança, além de não ter sido sequer colocada em discussão, foi
abortada pelo próprio governo. Essa proposta ainda é válida desde
que se abandonem preconceitos e se reconheça que o sistema
brasileiro tem singularidades que exigem outra organização.

A excessiva fragmentação entre operação, planejamento, e


comercialização seria eliminada através da unificação em um mesmo
órgão. Infelizmente, em 2003, tal proposta foi interpretada como
“estatização”, sendo inclusive confundida como uma tentativa de retorno do
“poder” para a Eletrobras. Na realidade, a organização poderia ter a mesma
configuração do ONS ou da CCEE, com representantes de todas as áreas.

Vale a pena registrar que havia a proposta da blindagem política das


estatais através da profissionalização da sua direção e assinatura de

contratos de gestão, outra sugestão engavetada.

Em 2002 já era evidente que o consumo total do sistema interligado tinha


se reduzido significativamente. A descontratação das estatais fez com que
elas ficassem liquidando sua energia pelo PLD da época, que girava no
entorno de R$ 8/MWh. Apesar dessa bizarra situação, manteve-se o
programa de descontratação imaginado pelo governo anterior. Esse é um
dos exemplos de uso das estatais para funções explícitas ou implícitas que
nada têm a ver com sua razão de ser.

Isso significou um enorme prejuízo para as estatais, mas também uma


mudança no mix de preços das distribuidoras que, sutilmente, trocaram
contratos no entorno de R$ 60/MWh por auto suprimentos acima de R$
100/MWh. Essa foi a primeira causa de aumento tarifário no governo que
se iniciava.

Como mostramos nesse artigo, durante esses últimos 12 anos, uma


significativa alteração física ocorria no sistema. A capacidade de
regularização do sistema de reservatórios se reduzia a cada ano. Não é
compreensível que tal tema não tenha sido colocado em amplo debate
durante tanto tempo. Não que esse assunto fosse usado para emparedar
as exigências ambientais e conseguir a aprovação de novos reservatórios.
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O ponto central é que a redução da reserva relativa à carga exige


mudanças nos critérios de operação e, como já salientamos, tal mudança
deve ser acompanhada de uma revisão das garantias dadas às usinas.

Nada foi feito. A política de expansão contemplou uma contratação de


usinas térmicas que, por seu nível de preço, formou um parque insensível a
essa mudança. O efeito final foi o uso excessivo dos reservatórios tornando
cada vez mais arriscado o evento de uma hidrologia desfavorável.

Em 2013 terminavam os contratos de energia existente firmados em 2004,


num leilão onde as estatais foram obrigadas a vender energia por 8 anos,
apesar da circunstância ruim de um mercado deprimido, pois foram
firmados contratos de oito anos.

A medida provisória de redução tarifária não examinou as causa reais do


aumento. Em muito pouco tempo, sem diálogo, com indícios de influência
sobre a ANEEL, o governo implantou uma metodologia de imposição de
custos de operação e manutenção que considera apenas as partes
eletromecânicas das usinas. O governo, iludido com a possibilidade de
aceitação total da proposta de renovação das concessões e também
enganado a respeito do equilíbrio entre oferta e demanda, fez um leilão de
energia existente que deu vazio. Era evidente que o sistema já mostrava

sinais de desequilíbrio e que o cenário do mercado livre seria de PLDs


elevados. Os ganhos, mesmo que momentâneos, superavam as
expectativas de ganhos através de tarifas de O&M deprimidas.

A filosofia equivocada de serviço pelo custo, quando extrapolada, irá levar


o setor a uma enorme fragmentação de ativos. Basta imaginar que cada
equipamento que necessite troca ou modernização terá que formar uma
nova conta. Por exemplo, as usinas atingidas deixam de ser ativos das
empresas e passam a ser da união. Se um transformador necessita ser
trocado, ela será um ativo da empresa alocado dentro de um ativo da
união. As interferências entre equipamentos com certeza gerarão dúvidas
sobre a responsabilidade final em caso de falhas.

Hoje o quadro é de uma crise sem similar na história de setores elétricos.


Considerando a perda de valor das empresas do setor, o prejuízo
acumulado já se aproxima de R$ 60 bilhões. Não apenas a tarifa retoma
sua trajetória ascendente como o desequilíbrio já atinge dimensões
macroeconomicas.

A ocorrência ou não de um racionamento não altera as causas da


crise, portanto o ILUMINA não irá entrar nesse dilema, até porque já
houve um racionamento, o da razão.

FIM (por enquanto)


http://ilumina.org.br/da-superficie-para-as-entranhas-um-modelo-com-defeitos-geneticos/ 47/52
1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

[1] Dado a influência do modelo no mundo comercial, a obtenção dessas


séries sintéticas deveria ser alvo de um profundo exame.

[2] Baseada no plano de expansão de 2016.

[3] AVERCH, H.; JOHNSON, L. (1962) Behaviour of the firm under


regulatory constraints. American Economic Review 52, 1052-69. [4]
http://www.irena.org/DocumentDownloads/Publications/RE_Technologies_
Cost_Analysis-HYDROPOWER.pdf [5] Fonte Key World 2011 –
International Energy Agency

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 10 comentários para “Da superfície para as


profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo
que tenta explicar a crise.”

José Antonio Feijó de Melo


13 de maio de 2014 at 0:02

Roberto, parabéns, excelente artigo. Didaticamente, mostra a


insanidade que é este modelo mercantil implantado no Brasil a
partir de 1995 e “aprimorado” em 2003/2004. A “simplicidade” das
equações mostradas na parte final oferece (principalmente aos
leigos) uma boa visão do quanto de mistificação está contido nesse
modelo mimetizado. Aguardarei com atenção a continuação do
trabalho.

Responder

Bob
15 de maio de 2014 at 21:06

O pior é que a grande maioria da sociedade não tem nem idéia do


que está ocorrendo em um dos setores essenciais para o país,
como é o Setor Elétrico.
Para registro: FURNAS vendeu mais energia no último leilão do
que é possível gerar fisicamente, logicamente a mando do
Governo Federal, venderam a um preço X e provavelmente terão
que comprar futuramente a um preço de 4X para honrar os
contratos.

Mais uma vez as empresas públicas são utilizadas sem o menor


pudor pelo Governo.

Responder

http://ilumina.org.br/da-superficie-para-as-entranhas-um-modelo-com-defeitos-geneticos/ 48/52
1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

Fernando Félix
21 de maio de 2014 at 18:01

Transparência, Ética e conhecimento são pilares para uma boa


decisão. O trabalho contribui para os três. Parabéns.

Responder

Olavo Cabral Ramos F.


27 de maio de 2014 at 16:36

O cenario ideológico do modelo mercantil tem no PSDB o seu


principal protagonista. Um grupo terrivel de políticos

conservadores, possuidos da velha servidão voluntaria aos


interesses externos, abrigados e disfarçados numa pseudo “Social
Democracia Brasileira”. Junto marchou uma tropa, enxame,
manada , vara de economistas nefastos.
O que aconteceu em 2003/2004 , quando o modelo enfim gerado
foi denominado hibrido, introduziu uma contradição inesperada
para a maioria daqueles que militaram no Instituto da Cidadania e
elaboraram o plano lançado em 30 de abril de 2002 no auditorio
do Clube de Engenharia.
Pois bem: passa a ser irretorquivel e merecida a inclusão do PT
junto com os gran nefastos do PSDB como reponsável pela
tragédia do setor elétrico brasileiro.

Responder

luis chiganer
27 de maio de 2014 at 18:02

Desde que conheço o setor elétrico brasileiro, sempre houve


problemas. Desde o seu inicio quando ainda não era interligado
houve problemas. Depois de alguns anos, veio a sua evolução ate
níveis de tensões conflitantes como de 440 e 500 KV. Na boa
Ditadura Itaipu , não foi diferente, houveram contestações de
transmissão de CA e CC. Depois vieram as maquinas adicionais
que não agregavam energia firme ao sistema. As nucleares
também um fiasco. A usina de Serra da Mesa com aquele
reservatório estupido, que FURNAS implantou. Apareceram novas
Belo Monte e outras a fio d´água, que não resolveram os
problemas do setor. A nova interligação em CC Norte-sudeste
alguém sabe explicar porque. E os custos das eólicos são
realmente os que estão ai. Agora vamos ter solar. Sob esses
pontos de vistas, todos participamos e tivemos nossas culpas e
contradições. Exemplo típico foi o slogan de que as hidráulicas tem
que serem estatais. Mas não são as térmicas que regulam o
mercado. Confusão de água e energia elétrica. O setor sempre foi
e é totalmente fechado. E não é necessário grandes
conhecimentos de energia e eletricidade para trabalhar nele. Mas ,
infelizmente, uns poucos se apossaram do setor, como na politica,
o PT se apossou da Petrobras. Assim vemos a Eletrobras e a
http://ilumina.org.br/da-superficie-para-as-entranhas-um-modelo-com-defeitos-geneticos/ 49/52
1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
o PT se apossou da Petrobras. Assim vemos a Eletrobras e a
Petrobras que continuaram na mão do estado, cheio de problemas
. A Vale tem problemas, se tem não os vejos, pelo menos em
noticias de jornais. O PSDB errou e muito como foi colocado em
algumas publicações acima, deveria ter privatizado tudo, e não
estaríamos discutindo esse problemas e sim produzindo mais.
Roberto, seu artigo é muito bom e deveria ser publicado em forma
de livreto, aqui na UERJ estamos a sua disposição, mas a questão
não é técnica e sim politica. Discutir o setor de forma tecnicista, foi
e é um erro estratégico de país.

Responder

Roberto D'Araujo
27 de maio de 2014 at 18:26

Chiganer

Grato pelo apoio. Com certeza temos mais concordâncias


do que discordâncias. Eu me coloco à disposição para
qualquer colaboração com a UERJ.
Grande abraço

Roberto

Responder

rubens ghilardi
29 de junho de 2014 at 19:28

Roberto
Trabalho no setor elétrico desde 1965, portanto participei da
maioria das mudanças deste período e parabenizo pelo seu artigo.
Fui Diretor Financeiro e Presidente da Copel, Diretor Financeiro da
Escelsa, após privatização, e Diretor Financeiro Executivo da Itaipu
onde preparei uma correspondência ao Presidente da Republica,
assinada pelo Diretor Geral Brasileiro, alertando das prováveis
consequências com a mudança do modelo, inclusive do provável
racionamento, previsto para 2000 postergado para 2001. Era de
conhecimento geral do setor se não continuassem as obras de
geração, na época determinantes, corríamos um risco muito
grande do racionamento. Quem divulgava esta previsão eram os
Diretores da Eletrobras, inclusive o atual Secretário de
Planejamento do MME que era coordenador do GPS. Além da
desastrosa privatização das Distribuidoras sem compromisso de
atendimento do crescimento do seu mercado, iniciaram o
processo de privatizar as geradoras iniciando pela Eletrosul,
geradora Federal e posteriormente as estaduais. O discurso da
privatização era para a iniciativa privada investir no crescimento
da geração com novas usinas, ao contrario, venderam empresas
prontas e operando aí veio o racionamento. Outra grande besteira
foi a criação das comercializadoras, como você comenta com
propriedade no seu artigo. O que não da para aceitar e as
concessões para serviço publico serem usadas para atender o
http://ilumina.org.br/da-superficie-para-as-entranhas-um-modelo-com-defeitos-geneticos/ 50/52
1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina
concessões para serviço publico serem usadas para atender o
Mercado Livre deixando o mercado Cativo comprar energia no
mercado spot, isto para mim é inconstitucional. O mercado Livre
deveria ser atendido por produtor independente e não usar a
energia concedida para serviço publico.

Espero que seu artigo seja lido pelas pessoas que devem decidir o
futuro do Setor e do Brasil
Um abraço
Rubens

Responder

Roberto D'Araujo
30 de junho de 2014 at 11:48

Rubens:

Ainda bem que temos pessoas experientes como você


para fazer coro com o que vimos afirmando há vinte anos.
Além das incompetências, das influências políticas, da
manipulação contábil, há um defeito no DNA desse
modelo. É impressionante que muitos técnicos de bom
nível sabem disso, mas inseridos no “sistema” e com um
tipo de coordenação que beira o autoritarismo, só
comentam o que sentem nos corredores.
Agradeço seu apoio e peço que ajude o ILUMINA a vencer
essa barreira quase intransponível da informação no
Brasil.

Responder

William Kay
7 de julho de 2014 at 16:44

Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pela publicação do


artigo! Precisamos de grupos com essa iniciativa que ajudem a
sociedade a entender a atual conjuntura do Setor Elétrico
Brasileiro, setor que desponta como um dos alicerces majoritários
da sociedade brasileira.

Gostaria de acrescentar, no que trata da Garantia Física de usinas


(capítulo 10), que os “certificados” das usinas são calculados a
partir dos modelos computacionais NEWAVE (CEPEL) e MSUI
(ELETROBRAS), ambos comercializados e utilizados pelos agentes
do setor. Tais softwares são como “caixas pretas” uma vez que não
é possível ter acesso aos seus códigos para avaliação mais precisa
ou para auditorias por parte dos seus usuários.

Estarei sempre acompanhando às publicações. Mais uma vez,


parabéns!

Responder

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1/10/2014 Da superfície para as profundezas: Um modelo com defeitos genéticos – Artigo que tenta explicar a crise. | Ilumina

Roberto D'Araujo
7 de julho de 2014 at 17:50

Grato pelo interesse e apoio. Como antigos (para não dizer


velhos) engenheiros do setor, seu comentário é excelente
para lembrar que o NEWAVE foi imaginado apenas como
um software da operação do sistema numa época onde as
condições de contorno eram muito diferentes. Jamais se
imaginou que ele seria galgado à posição central do
modelo de mercado definindo valores de interesse
comercial. Precisamos nos debruçar sobre uma nova
solução para o setor.

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