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Materiais e Aplicações – Mestrado em Engenharia Química

Ano letivo:2019/2020
Mestrado de Qualidade

Aço Inoxidável

Docente:
Paulo Silva (PPS)

Trabalho elaborado por:


Catarina Martinho NºMec.: 1150546
Vanessa Coelho NºMec.: 1150568
Materiais e Aplicações – Mestrado em Engenharia Química

Aço Inoxidável

1. A História do Aço Inoxidável

O aço inoxidável foi descoberto por Harry Brearley (1871-1948). Sabe-se que
Harry trabalhou numa fábrica de produção de aços desde seus doze anos e que foi
nesta época que adquiriu grande parte do seu conhecimento sobre esta liga metálica.
Em 1912, foi lhe sugerido, por uma empresa fabricante de armas, que
investigasse a possibilidade de produzir uma liga metálica com uma maior resistência
ao desgaste que ocorria no interior dos canos das armas como consequência do calor
libertado. Desta forma, efetuou vários ensaios, sendo que recorreu ao ataque químico
para revelar a microestrutura das ligas metálicas. Verificou que ao realizar ataque
químico com ácido nítrico às ligas metálicas que apresentassem altos teores de crómio,
estas não sofriam qualquer efeito [1].

2. Estrutura Química e Física do Material

Os aços inoxidáveis são ligas constituídas por ferro (Fe), carbono (C) e um teor
[2]
em crómio (Cr) de pelo menos 10,5% . O crómio é considerado o elemento mais
importante porque é o que mais contribui aos aços inoxidáveis uma elevada resistência
à corrosão.
De uma forma sucinta, os aços inoxidáveis são especialmente conhecidos por
serem altamente resistentes à corrosão numa grande variedade de ambientes, pois
ocorre a oxidação superficial, isto é, o crómio presente na liga oxida-se quando em
contacto com o oxigénio do ar, formando uma película, muito fina e estável, de óxido de
crómio, Cr2O3, que se forma na superfície exposta ao meio. Esta é denominada por
camada passiva e tem como função proteger a superfície do aço contra processos
corrosivos. Esta camada passiva forma-se espontaneamente; é muito estável e
aderente; não é porosa (boqueia a ação do meio agressivo); é extremamente fina (30-
50 Ångströns) e é auto-regenerável [3].
A adição de outros elementos permite formar um extenso conjunto de materiais.
Nos aços inoxidáveis, dois elementos se destacam: o crómio, sempre presente, por
apresentar um importante papel na resistência à corrosão, e o níquel, pela sua
contribuição na melhoria das propriedades mecânicas.
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A classificação dos aços inoxidáveis é feita de acordo com o elemento


predominante na sua microestrutura. Esta classificação encontra-se resumida na
Figura1.

Figura 1-Diferentes tipos de aços inoxidáveis e respetivas composições químicas

Aços inoxidáveis - Martensíticos

Os aços martensíticos contêm teores de carbono superiores a 0,1%. A sua


resistência mecânica pode ser aumentada consideravelmente através de tratamento
térmico por arrefecimento, visto que a sua estrutura metalúrgica martensítica é
magnética e frágil. O teor de crómio pode variar entre 11,5 e 17%.

Figura 2-Estrutura metalúrgica do aço inoxidável Martensítico


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Aços inoxidáveis - Ferríticos

A fase ferrítica é a predominante em aços ferríticos. Esta é uma solução sólida


de carbono no ferro α, cristalizando-se numa estrutura cúbica de corpo centrado (CCC).
Neste tipo de aços, o crómio é o principal elemento de liga. Estes apresentam um teor
limite de carbono abaixo de 0,1% não exibindo desta forma um endurecimento
significativo após o seu arrefecimento conferindo assim uma resistência mecânica
relativamente limitada.
A resistência à corrosão dos aços inoxidáveis ferríticos é inferior à dos aços
inoxidáveis austeníticos, sendo, porém, consideravelmente mais económicos por não
conterem teores de níquel. Em comparação com os martensíticos, os ferríticos
apresentam melhor facilidade em trabalhos de conformação e maior resistência à
corrosão.
De uma forma geral, estes aços possuem propriedades magnéticas e são
resistentes à corrosão atmosférica e a certos meios agressivos, principalmente
oxidantes.

Figura 3- Estrutura metalúrgica do aço inoxidável ferrítico

Aços inoxidáveis - Austeníticos

Estes tipos de aços são não magnéticos e apresentam estrutura cúbica de faces
centradas (CFC). Nos aços austeníticos, o crómio e o níquel são os principais elementos
de liga. A estabilidade da austenite pode ser aumentada pela adição de elementos como
carbono, o níquel, o manganês, o cobre e o azoto. Os aços austeníticos possuem boa
resistência à corrosão e a sua resistência mecânica pode ser otimizada através da
adição de azoto. Estes aços com estrutura metalúrgica austenítica conjugam uma
elevada resistência à corrosão com uma alta resistência mecânica associada a uma
elevada ductilidade, sendo desta forma muito utilizados na indústria da construção.
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Figura 4-Estrutura metalúrgica do aço inoxidável Austenítico

3. Descrição das Propriedades

Propriedades químicas:

A principal diferença existente entre o aço comum e o aço inoxidável, é o fato de


que este último não sofrer corrosão, ou seja, como já mencionado acima, este material
não sofre oxidação, logo não enferrujará. A composição química junto com o
processamento termomecânico, confere aos aços inoxidáveis propriedades diferentes.
Abaixo, temos algumas propriedades químicas dos aços inoxidáveis:
• Alta resistência à corrosão;
• Conformidade ambiental, pois é um material 100% reciclável e não agride o meio
ambiente;
• Aparência higiénica/assepsia, o aço inoxidável apresenta uma retenção de bactérias
10 vezes inferior ao plástico e ao aço comum;
• Material inerte, o aço inoxidável é neutro em relação aos alimentos mesmo em
contacto por tempo prolongado, não altera o sabor, nem a cor e aroma dos alimentos
e bebidas;
• Facilidade de limpeza, geralmente água e detergentes neutros são suficientes.

Propriedades mecânicas:

O comportamento mecânico dos aços inoxidáveis e dos aços carbono são


relativamente diferentes. A diferença mais evidente entre estes dois tipos de aço
encontra-se no seu diagrama de Tensão-Extensão. Enquanto o aço carbono apresenta
comportamento elástico-linear bem definido até à tensão de cedência e um posterior
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patamar de cedência até ao início do endurecimento, o aço inoxidável apresenta uma


curva mais “arredondada” em que não é percetível a posição do ponto correspondente
à tensão de cedência. As diferenças entre os diagramas de Tensão-Extensão dos aços
carbono e dos aços inoxidáveis são visíveis na Figura 2.

Figura 5-Curvas Tensão-Extensão típicas dos aços inoxidáveis e dos aços carbono em condições de
teste análogas

Outras propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis:


• Elevada resistência mecânica, as propriedades mecânicas do aço inoxidável são,
em média, 20% superiores, em relação as propriedades do aço carbono comum [3].
• Grande capacidade de configuração e facilidade de trabalhos nos processos de
dobramento, corte, soldagem e estampagem possibilitando a obtenção das mais
variadas formas e dos mais belos efeitos, com grande impacto visual nas suas
aplicações;
• Tem inúmeras aplicações estruturais;
• Versatilidade, exemplo desta propriedade: o aço inoxidável é um material que
possibilita a obtenção de superfícies planas, não planas, curvas.

Outras propriedades:

• Baixo custo de manutenção, não sendo necessárias pinturas periódicas;


• Longo ciclo de vida, pois apresenta grande durabilidade;
• Relação custo/beneficio favorável, considerando todo o processo produtivo e o
baixo custo de manutenção;
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4. Aplicações

Uma ampla variedade de propriedades mecânicas combinadas a uma


excelência resistência à corrosão tornam os aços inoxidáveis muito versáteis nas suas
aplicabilidades.
Os diferentes tipos de aço inoxidável permitem que o aço inoxidável seja cada
vez mais utilizado em diferentes tipos de aplicações. Este material é encontrado em
diversos equipamentos e apresenta variadas aplicações:

Austenítico (resistente à corrosão) 301, 304, 304L, 306, 306L e 316:


• equipamentos para indústria química e petroquímica;
• equipamentos para indústria alimentar e farmacêutica;
• construção civil;
• utensílios domésticos.
Ferrítico (resistente à corrosão, mais barato por não conter níquel) 430, 409 e
410S:
• eletrodomésticos (fogões, frigoríficos, etc);
• moedas;
• indústria automóvel;
• talheres;
• sinalização visual, como placas de sinalização e fachadas.
Martensítico (dureza elevada, menor resistência à corrosão) 420:
• instrumentos cirúrgicos como bisturi e pinças;
• facas de corte;
Outro tipo de aplicações:
• Caixas de água;
• Aquecedores de água;
• Tubos evaporadores;
• Componentes do sistema de escapamento de automóveis;
• Máquinas de lavar roupa;
• Exaustores e bancas de lavar louça;
• Estruturas para autocarros;
• Panelas;
• Instalações hospitalares;
• Equipamentos sanitários, pias e móveis;
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• Revestimentos de elevadores;
• Corrimões de escada;
• Equipamentos náuticos;

5. Resposta à questão formulada

Em contraste com o sugerido pelo seu nome o aço inoxidável pode sofrer
corrosão. Aponte os aspetos particulares da corrosão do aço inoxidável
quando comparado com a corrosão do aço não ligado.

A corrosão pode ser definida como a deterioração de um material por ação do


meio envolvente, aliada ou não a esforços mecânicos.
Uma reação de oxidação caracteriza-se pelo aumento do número de oxidação de uma
dada espécie. Por outro lado, existem processos corrosivos que são benéficos e de
grande importância na indústria metalúrgica, como é o caso do processo de oxidação
dos aços inoxidáveis. A película de óxido de crómio formada sobre a superfície do aço
é a controladora do processo, isolando o aço do meio, e impedindo a reação dos outros
elementos do aço com o meio exterior. Quebrada essa película protetora, devido à perda
local da passivação, os elementos do aço, nomeadamente o ferro, o crómio e o níquel,
entram em reação com o meio, e o aço inoxidável pode sofrer corrosão.
Em oposição ao seu nome, os aços inoxidáveis podem sofrer corrosão quando
submetido a abusivas condições, a exemplo disto, sabe-se que os aços inoxidáveis não
são afetados por ar húmido limpo, mas sim por ar poluído, como o encontrado em áreas
industriais onde os índices de enxofre são relativamente altos ou em ambientes
marinhos onde sobressaem os altos teores de cloreto.
Deste modo, os aços inoxidáveis podem sofrer alguns tipos de corrosão, na
Tabela 1 podemos encontrar os vários tipos de corrosão [4].
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Tabela 1-Diferentes tipos de corrosões, principais fatores e formas de evitar

Tipos de
Fenómeno Condições Formas de evitar
corrosão
É um tipo de corrosão
localizada em que o metal
é removido Ambientes com altos
Adição de 2% de
Corrosão por preferencialmente de teores de cloretos.
molibdénio ao aço
picadas determinada área da
inoxidável.
superfície, levando à Ambientes ácidos.
formação de cavidades.

Uma pequena área do O ataque é


Evitar a ocorrência de
metal torna-se carente em agravado pela
interstícios nas juntas dos
oxigénio, passando a relação desfavorável
Corrosão materiais.
corroer-se, enquanto que entre uma pequena
intersticial Aplicar soldaduras
a restante superfície área anódica e uma
contínuas em vez de
continua a ser facilmente grande área
parafusos ou rebites.
oxigenada. catódica.

Adição de pequenas
Este tipo de
Formação de uma zona quantidades de
corrosão é muito
Corrosão empobrecida em crómio elementos estabilizadores
frequente nas zonas
intergranular ao longo dos contornos do (titânio, nióbio e tântalo).
soldadas dos aços
grão. Tratamento a quente da
inoxidáveis.
peça após a soldadura.

Substituição da liga por


outra menos suscetível à
corrosão sob tensão.
Presença simultânea de
Corrosão sob
tensões e fatores Ambientes diversos
tensão Utilização de
ambientais específicos.
revestimentos de forma a
evitar o contacto do metal
com o meio.

Separação dos dois


Chuva metais com uma pintura
Ocorre quando metais
betuminosa.
Corrosão diferentes estão em
Ambientes aquáticos
Galvânica contacto num eletrólito
Colocação de anilhas
comum.
Condensação impermeáveis.
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Os aços carbono sofrem um tipo de corrosão generalizada, onde, ao contrário


do que acontece com o aço inoxidável, grandes áreas da sua superfície são afetadas.
Atualmente, os aços inoxidáveis são bastante utilizados devido à sua grande resistência
à corrosão e ao seu desempenho satisfatório na maioria dos ambientes.

6. Questões sobre o trabalho apresentado


Porque as facas de aço comum são mais fáceis de afiar que as facas de aço inoxidável?

Se efetuar-se uma tensão superior à tensão de rutura a um material constituído por aço
inoxidável, ocorre um corte na liga. É expectável que na superfície do corte do aço
inoxidável ocorra nova oxidação?

Quais os cuidados que se deve ter na limpeza de artigos constituídos de aço inoxidável
para evitar o aparecimento de manchas?

7. Bibliografia
[1]-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aço_inoxidável#História, Consultado em
29/09/2019.
[2]-
William D. Callister, JR., Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução,
5ªEdição, LTC
[3]-
Carbó.,Héctor Mario , “Aços Inoxidáveis: aplicações e especificações”, Arcelor
Mittal
[4]-
Mittal., Arcelor, “Noções Básicas e Aplicações do Aço Inoxidável”, Power-point.
Consultado em 29/09/2019.

8. Fotografias do(s) aluno(s)

Catarina Martinho Vanessa Coelho


1150546 1150568

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