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NASCER E CRESCER

revista do hospital de crianças maria pia


ano 2009, vol XVIII, n.º 3

As Tribos Urbanas
as de Ontem até às de Hoje
Helena Sofia Martins de Sousa1, Paula Fonseca2

RESUMO primeira vez em 1985 com o sociólogo urbanas”, umas mais recentes que ou-
As tribos urbanas surgiram como Michel Maffesoli, referindo-se à criação tras, mas todas com significado nos dias
um reflexo da globalização das socieda- de pequenos grupos cujos elementos se de hoje. Com algum humor à mistura
des modernas. Jovens, numa vontade unem por partilharem os mesmos princí- conseguem identificar muitos dos vossos
de se diferenciarem mas também de se pios, ideais, gostos musicais ou estéticos adolescentes (e não só ) conhecidos!
identificarem, reúnem-se em grupos par- que assumem a sua máxima expressão e
tilhando os mesmos ideais e gostos. Al- visibilidade na adolescência. Estas tribos DESCRIÇÃO DAS TRIBOS
gumas particularidades comportamentais surgiram num esforço de diferenciação Hippies
e estéticas permitem a sua identificação. dos jovens e evocam particularidades Os hippies surgiram no final da dé-
Uma boa comunicação e a não es- que as distinguem do resto da sociedade cada de 1960 a partir do movimento flo-
tigmatização do jovem pode ser a chave e que as identificam. wer power em São Francisco, nos EUA,
para uma boa relação médico-doente A pertença a um destes grupos pode enquanto decorria a guerra do Vietname.
com uma melhor compliance comporta- ser positiva na estruturação da identida- Este foi um movimento de “contra-
mental ou terapêutica. Aborda-se algu- de pessoal ao reforçar sentimentos de cultura” que defendia um modo de vida
mas das características mais típicas das exclusividade, de protecção, de tolerân- comunitário e abraçava aspectos de re-
“tribos” dos dias de hoje alertando-se cia e de partilha com os pares. Infeliz- ligiões como o budismo e o hinduísmo.
para alguns dos riscos mais provavel- mente, algumas tribos são temidas pelos Opunha-se ao capitalismo, ao naciona-
mente associados. comportamentos violentos, habitualmen- lismo e à guerra, nomeadamente à do
te associados a uma baixa tolerância do Vietname. O lema peace and love en-
Nascer e Crescer 2009; 18(3): 209-214 “diferente” - homossociabilidade. globava uma nova ética que defendia a
Apesar da definição algo rigorosa paz e a abolição das desigualdades de
de tribo verifica-se que, actualmente, a todo o tipo (sexuais, raciais, étnicas ou
INTRODUÇÃO maioria dos jovens apenas se apropria, religiosas).
Desde tempos remotos que a popu- momentaneamente e sem compromisso,
lação se organiza em tribos, ie, grupos de elementos estéticos de algumas delas,
coesos com indumentárias e hábitos se- não sendo frequentes os que seguem a
melhantes. preceito os seus códigos. A transição”
Nos povos indígenas o termo tribo entre tribos habitualmente é pacífica, no
traduzia alianças entre clãs, aldeias ou entanto entre tribos rivais” pode estar
povoações; era um tipo de sociedade or- associada a violência.
ganizada com partilha e distribuição dos Pensamos ser importante para o
papéis, que permitia de uma forma mais Pediatra que lida com adolescentes ter
eficaz a satisfação das necessidades bá- noção deste tema ao permitir uma melhor
sicas como as da alimentação e de defe- compreensão dos valores que regem as
sa pessoal. suas atitudes e, simultaneamente, alertar
As sociedades de hoje tendem para possíveis comportamentos de risco Facilmente identificáveis pelo seu
para a globalização com uniformização associados. Nesta faixa etária, uma boa sentido estético, que privilegia a cor, os
e individualismo dos seus elementos. O relação médico-paciente é essencial para hippies usavam cabelos muito compridos,
conceito de “tribo urbana” surge pela a adesão e sucesso da consulta, facilita- roupa informal e colorida, calças ao boca-
da possivelmente se o profissional co- de-sino e sapatos com solas muito altas
nhecer alguns dos aspectos do “mundo” (figura 1). Enfeitavam-se com flores, a
__________ do adolescente. fazer lembrar a designação do seu movi-
1
Serviço de Pediatria do HS António - CHP Apresentam-se aspectos caracteri- mento. Em termos musicais, Janis Joplin,
2
Serviço de Pediatria do CH Alto Minho zadores de algumas das nossas “tribos Pink Floyd, Jimi Hendrix, eram algumas

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das suas referências. Os hippies eram Assim como nos outros países, o skinheads em vários sub-movimentos ri-
também associados ao uso de drogas movimento hip-hop em Portugal ultrapas- vais com ideologias divergentes, que se
como marijuana, haxixe e alucinogéneos sou barreiras raciais, sociais e culturais. confrontam ideológica e fisicamente!
como o LSD, já o tabaco era considerado Ainda que o movimento tenha maior ex- Os skinheads apresentam um visu-
prejudicial... pressão nos bairros e zonas menos favo- al comum que reflecte, em parte, a indu-
Apesar do movimento hippie ser recidas, a sua música e dança é aprecia- mentária operária da Inglaterra de 1960:
muito característico dos anos 60 e 70, a da pela generalidade dos jovens. cabeça rapada, blusões com remendos
verdade é que o espírito do flower power São facilmente reconhecidos (Figu- e crachás, calças de ganga com dobra,
e a sua estética conseguiu atravessar ge- ra 2), usam calças largas - para permitir suspensórios e botas de biqueira de aço
rações e chegar aos dias de hoje (com maior amplitude aos movimentos e um (figura 3).
roupas “roubadas” dos baús dos proge- melhor efeito visual à dança - bonés de
nitores!). pala ao lado e ténis com atacadores de Punks
cores fluorescentes... O movimento punk surgiu como uma
Hip-Hop manifestação cultural juvenil com origem
Movimento cultural que emergiu nos Skinheads em Londres em meados dos anos 70.
subúrbios pobres, negros e latinos, dos Apesar de actualmente serem asso-
EUA (NY), no final da década de 60, sur- ciados a políticas de extrema-direita e a
giu como forma de reacção aos conflitos sentimentos nacionalistas, xenófobos e
sociais e à violência sofrida pelas classes racistas, estes aspectos em nada coinci-
urbanas mais desfavorecidas da época. dirão com os skinheads iniciais. A origem
Uma espécie de “cultura das ruas”, um do movimento skinhead remonta aos fi-
movimento de reivindicação traduzido nais da década de 1960 quando grupos
numa música com letras questionadoras de jovens, brancos e negros, oriundos
e agressivas com ritmo forte e intenso e do proletariado suburbano londrino co-
nas imagens grafitadas. Como movimen- meçaram a organizar-se em grupos que,
to cultural é composto por quatro expres- para além do visual (roupas particulares
sões artísticas: a música rap (rythm and e cabelo muito curto), partilhavam os
poetry) (hip-hop pode ser usado como mesmos gostos musicais (ska e reggae),
sinónimo de rap), a instrumentação dos de sentido de território e de paixão pelo
DJs (disco-jockey), a dança break dance futebol.
e a pintura do grafitti. O grafitti representa
desenhos, apelidos ou mensagens sobre
qualquer assunto pintados em muros e
paredes, sendo usado como forma de
expressão e denúncia.

Com início num estilo de música –


Punk Rock com bandas como Os Ramo-
nes e os Sex Pistols - o movimento esten-
deu-se a comportamentos e uma estética
Os skinheads ganharam notorieda- própria. Os elementos dessas bandas,
de por promoverem confrontos nos está- imaginativos e provocadores, usavam su-
dios de futebol (hooliganismo) e, alguns ásticas e outros símbolos nazi-fascistas,
deles, por usarem a violência contra algu- assim como símbolos comunistas num
mas minorias étnicas e homossexuais. desafio agressivo aos valores políticos,
Os jovens encontraram nessas no- A conotação política de extrema- morais e culturais. A música punk tradi-
vas formas de arte uma forma de cana- direita surge com o aproveitamento que cional apresentava um conteúdo agressi-
lizar a violência em que se encontravam a Frente Nacional fez do movimento, ali- vo de crítica social; o seu formato de 3
submersos, começando a competir com ciando para a sua causa alguns skins e acordes era muito simples podendo ser
passos de break dance e rimas em substi- punks. Assim surgem os skinheads na- facilmente tocada, o que estimulou na
tuição das armas. Apesar de ter emergido zis, também conhecidos como bonehe- época vários jovens a criarem bandas.
dum meio hostil o hip-hop veio-se a reve- ads, nos quais as juventudes fascistas Os comportamentos dos seus ele-
lar uma ferramenta de integração social e se revêem. Declínio do movimento após mentos, pautados pelo sarcasmo, gosto
de combate ao racismo e à violência. a década de 80, com fragmentação dos pelo ofensivo, crítica social, desprezo

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pelas ideologias (políticas ou morais) e temas que glamourizam a decadência


pelas lideranças assumiam uma atitude e o lado sombrio. Pensamentos sobre a
de ruptura face à sociedade. Valorizavam morte e auto-mutilação, como forma de
a liberdade individual, a autonomia e o expulsar a dor interior, são referidos. De
“faça-você-mesmo” com reutilização de entre as inúmeras bandas/intérpretes
roupas e objectos. que fazem parte das preferências desta
Tanto a música punk, como o visu- tribo referem-se: Bauhaus, Gene Loves
al dos seus adeptos - deliberadamente Jezabel, HIM, Nick Cave and the Bad Se-
contrastante com a moda vigente e por eds, Paradise Lost, The Cult, The Sisters
vezes ofensivo - são os aspectos mais of Mercy.
característicos e evidentes do punk, e Os elementos desta tribo surgem
reflectem bem o espírito anti-sistema. pela noite dentro frequentando locais “ex-
O termo moda não é bem aceite neste cêntricos” (exº cemitérios), tendo alguns
grupo já que depreende “comércio, apa- adeptos da wicca (bruxaria) e satanismo.
rência, aceitação social”. Há que usar
o termo estilo ou visual para se referir
à roupa como “afirmação pessoal”. O
estilo punk pode ser reconhecido pela
combinação de jeans rasgadas ou cal-
ças pretas justas, t-shirts de bandas A aproximação com a natureza afri-
musicais, cabelo colorido à moicano ou cana é representada pelo visual (figura
espetado em crista e acessórios como 6) - dreadlocks (canudos) no cabelo, rou-
brincos, pulseiras ou colares de picos, pas leves e descontraídas, pés descal-
cadeados, alfinetes-de-ama e correntes ços ou com sandálias de tiras – e pelos
metálicas (figura 4). comportamentos – contra as alterações
da imagem corporal, vegetarianos, am-
Existem vários sub-grupos punk as- bientalistas e anti-consumistas. Por estes
sociados à emergência de novos sub-gé- princípios muitos escolhem viver longe
neros musicais e influências ideológicas da civilização.
que podem apresentar algumas varia-
ções no visual. Inclusivamente, é referido Betos e betas
que o vestuário (roupa e acessórios e sua Esta tribo caracteriza-se por viver
combinação) é o factor desencadeante em função da marca e da moda. Normal-
da maioria das agressões entre gangues, mente está associada a boas condições
membros de grupos divergentes do mo- financeiras, já que as roupas e os aces-
vimento punk! A referir no entanto que, para a sórios de marca podem ser caros.
maioria dos integrantes, o movimento
Góticos gótico será fundamentalmente um gosto
O movimento cultural gótico teve musical e uma maneira específica de se
início no Reino Unido no final da década vestir, sem grandes envolvimentos inte-
de 1970. A subcultura gótica está asso- lectuais ou filosóficos.
ciada a um estilo de vida caracterizado
pelos gostos musicais e estéticos e por Rasta ou Rastaffari
um pensamento filosófico. O movimento Rastafari teve origem
Os góticos distinguem-se das outras no povo da Jamaica no início dos anos
tribos urbanas pela sua estética obscura 30. É um movimento religioso que procla-
que representa sentimentos de “apego ao ma Hailê Selassiê, imperador da Etiópia
nada”, uma falta de esperança, um luto como a representação terrena de Jah
pela situação da humanidade. Rapazes e (Deus). O objectivo era recuperar o modo
raparigas vestem de preto, usam maqui- de vida africano (afrocentrismo), através
lhagem escura e cabelos lisos, escuros, da proximidade com a natureza e da sub-
compridos e desalinhados (figura 5). sistência com os recursos naturais. Este
Identificam-se com a música que movimento espalhou-se pelo mundo atra-
ouvem – o gótico – pautada por sons vés do reggae, graças à popularidade de
que reflectem situações de angústia e Bob Marley.

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Os rapazes (“betos”) calçam sapa- os move e os une é a paixão pela música Nerd
tos de vela ou mocassins, usam calças de dança e pelo ambiente da noite. Para Nerd é um termo derivado de Nor-
de ganga ou de corte clássico, camisa esta tribo o DJ é a estrela da noite, um thern Electric Research and Development
às riscas ou aos quadradinhos por den- ídolo que veneram! (pessoas que trabalhavam árdua e “inin-
tro das calças e cinto a combinar com Algumas características diferen- terruptamente” num laboratório de tecno-
os sapatos. Nos dias frescos usam uma ciam-nos dos outros “noctívagos”, quer logia ), descreve alguém com dificuldades
camisola de lã sobre as costas, com as pelo aspecto extravagante (figura 9) de integração social e que, no entanto,
mangas a passarem pelos ombros e a - com roupas irreverentes, de cores vi- nutre grande fascínio por conhecimento
dar nó à frente (figura 7). vas e brilhantes, acessórios ousados e ou tecnologia. Existe uma forte correlação
penteados excêntricos com cabelos co- inversa entre ser nerd e ser popular. O
loridos - quer pela atitude, já que não termo nerd e seus “subgrupos” são tam-
vão para “engatar miúdas” ou “beber bém utilizados por determinados grupos
copos” mas sim para cumprir o ritual de relacionados a interesses específicos (exº
ir “ouvir o seu som”. Os clubbers têm tecnologia e informática; jogos de compu-
como ponto de encontro as raves onde, tador; fãs do Star Treck/Star Wars ). Ape-
por vezes, o consumo de drogas como sar de ser estereotipada na comunicação
o Extasie lhes permite dançar 24 horas social, é uma tribo que pode ser difícil de
seguidas ... “reconhecer” já que não tem um padrão
próprio de vestuário (figura 11).
Dreads
Os dreads foram uma das tribos ur-
banas mais em voga nos últimos anos.
As roupas identificam-nos, calças
muito largas (vários tamanhos acima)
com grandes bolsos e descaídas na
cintura a mostrar os boxers. As t-shirts
também são largas e por fora das cal-
ças. Usam gorro ou boné (virado ao
contrário), cabelo (quase sempre) curto
As raparigas (“betas”) normalmente que deixa ver o brinco ou piercings (fi-
são loiras e usam muitos acessórios (ar- gura 10).
golas grandes, pulseiras tipo escravas),
blusas ou pólos às riscas e botas bicudas
de tacão/salto alto. As calças, podem ser Os seus elementos, quando inseri-
de ganga, justas ou “à boca-de-sino” (fi- dos no “seu ambiente”, são muito sociá-
gura 8). veis.

Clubbers Surfistas
Os clubbers são uma das novas Os surfistas são loiros (pela parafi-
tribos do século XXI. Surgiram em Lon- na e pelo sol) e bronzeados durante todo
dres do clubbing, ie, frequência assídua o ano. Apesar do estereótipo do surfista
de discotecas (clubs) onde se ouve mú- o associar a alguém que, ainda que boni-
sica house, techno, trance, underground, to, poucas mais preocupações tem para
drum n’bass Esta tribo não está associa- As meninas dreads usam calças de além das ondas e das raparigas; actual-
dos a ideologias nem a políticas. O que cinta descidas e largas, camisolas justas mente o surfista tem sido mais reconheci-
ou “tops” e acessórios (argolas, pulsei- do como um jovem com gosto pela natu-
ras) seguindo o estilo da musa JLo. reza e pela vida saudável. Alguns, apesar
Os dreads estão associados à práti- de não praticarem surf, partilham o espí-
ca de desportos radicais, são frequentes rito da tribo e a ela pertencem. Vestem
os skaters, snowboarders, bikers (ie, pra- roupas de marca Billabong® e O’Neill®
ticantes de skateboarding, snowboarding (calças ou calções largos e t-shirts com
ou BMX, respectivamente) ou até surfis- padrão havaiano) e usam óculos escu-
tas com este tipo de indumentária. Habi- ros (figura 12). No verão não largam as
tualmente circulam em grandes grupos e havaianas, que substituem por calçado
não são violentos. desportivo durante o Inverno.

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Vegan deriva de vegetarian, e é fazer acompanhar a dor psicológica com


definida por uma dieta vegetariana estri- a física. São também muito sensíveis,
ta, onde é excluída a carne, o peixe, os carinhosos e extremamente emotivos
ovos, os produtos lácteos bem como o expressando facilmente as emoções. Li-
mel, a gelatina, a caseína, as peles, a lã vres de preconceitos, pregam a liberdade
e a seda (figura 13). sexual sendo frequentemente referidos
O seu estilo de vida compreende, como bissexuais. São contra a violência
para além do padrão alimentar vegetaria- e as drogas.
no, a protecção dos direitos dos animais O seu estilo é inconfundível e rela-
e o pacifismo, opondo-se a todos os tipos tivamente indiferente para ambos os se-
de actividade agressiva. xos (o que pode tornar difícil a identifica-
Estima-se que seja uma tribo com ção do género): cabelo escuro esticado
nº crescente de adeptos e que a faixa com risca ao lado, com franjas assimétri-
etária mais representada esteja entre os cas, por vezes coloridas que escondem
16 e os 29 anos. um olho. Maquilhagem muito marcada
nos olhos, roupa preta com calças justas,
Emos ténis All Star® e vários acessórios pier-
Emo (abreviação de emotional) é cings, pulseiras, mochilas a tira-colo com
um estilo de música descendente do imensos pins (figura 14). Unhas pintadas
hardcore. de preto e uma lágrima sempre pronta
Os seus primórdios remontam a me- são elementos indispensáveis!
ados dos anos 80, nos EUA, com bandas Uma categoria, os “Emo Fruits” são
As raparigas também são loiras e “emocore”, um hardcore com andamento muito coloridos e habitualmente mais ale-
bronzeadas. Raramente praticam surf, mais lento e com letras mais introspec- gres.
mas têm namorados surfistas, o que as tivas. O género estabeleceu-se “definiti-
faz dominar toda a linguagem e código da vamente” (tanto quanto uma tribo urbana Plocs
tribo. O vestuário também é Billabong® e o permite ) no início do século XXI com Uma das tribos mais recentes do
O’Neill®, com saias curtas, calções ou imensos adolescentes a aderirem. As século XXI, com origem no Japão, mas já
calças com padrão havaiano, tops ou ca- músicas das bandas emo – My Chemical com grande representatividade.
misolas justas e havaianas nos pés. Romance, Alesana … - têm letras tristes
e abordam problemas, com os quais os
Vegans fãs se identificam.
Veganismo refere-se a uma filosofia
e estilo de vida que procura excluir o uso
de animais para comidas, roupas ou ou-
tros propósitos. As razões habituais pren-
dem-se com princípios morais e éticos
de protecção dos direitos dos “animais
não-humanos”, preocupação com a saú-
de e ambiente, ou por motivos religiosos
e espirituais.

A cultura emo engloba não só um


estilo de música, mas também um com-
portamento e aspectos estéticos muito
interessantes que “tocam” em várias das
tribos previamente descritas (punks, góti-
cos e hippies).
Com idades compreendidas entre os
11 e os 18 anos, o seu estado de espírito O ponto de união dos elementos re-
é habitualmente triste e melancólico, sen- laciona-se com os aspectos estéticos que
do alguns dos seus elementos apontados traduzem um desejo de voltar à infância.
como tendo alguma atracção pela auto- Com mais adeptas femininas, esta tribo
mutilação e pelo suicídio, uma forma de caracteriza-se pelo uso de roupas colori-

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das e dos mais variados acessórios com do a ter mais receptividade, simpatia e BIBLIOGRAFIA
motivos infantis, sendo actualmente as admiração pela “população”. Ainda que a
mais famosas a Hello Kitty®, as Power sua prática seja de risco, a grande disci-  Maffesoli, Michel. O Tempo das Tri-
Puff Girls® e o Tweety® (figura 15). Os ca- plina, conhecimento e (quem diria ) res- bos: o declínio do individualismo nas
belos podem ser pintados de arco-íris, as peito que têm pelo corpo faz com que na sociedades de massa. Rio de Janeiro:
unhas com cores vivas, e roupas que po- maioria das vezes não se magoem com Forense-Universitária 1987.
dem combinar roxo, verde e vermelho… gravidade.  O jeito de cada tribo. Revista Veja, edi-
Coleccionam brinquedos “fofinhos” e pe- São uma tribo pacífica, com preocu- ção especial 2003.
luches, gostam de desenhos-animados e pação pelo corpo e hábitos de vida sau-  Etnografias revelam dinâmicas das
lêem banda-desenhada. Ouvem música dáveis. tribos urbanas. DiverCIDADE, revista
Pop e músicas infantis. electrónica 2005; 14.
COMENTÁRIOS FINAIS  As tribos urbanas. Revista Mundo jo-
Traceur e Traceuse As tribos são um fenómeno socio- vem 1995; 263: 6-7.
Os traceurs (traceuse para o sexo lógico interessante cujas repercussões a  Tribos urbanas. Revista Caleidoscópio
feminino) são os praticantes do Parkour nível da estruturação da personalidade 2006.
– uma arte do movimento, um método do adolescente podem ser importantes.  As tribos urbanas. Revista Visão 2006;
natural de treinar o corpo para que este Comportamentos de risco associa- 703.
seja capaz de se mover “adiante” com dos são claros podendo incluir consumo  www.educação.te.pt
agilidade, com recurso aos obstáculos de substância ilícitas (hippies, clubbers),  pt.wikipedia.org
que “nos” rodeiam (muros, escadas, pos- violência (skins, punks), auto-mutilação
tes, árvores...) (figura 16). Com início em (góticos e emos) promiscuidade sexual
(emos), desportos perigosos (traceurs) e
…despesas (betos e plocs)! NOTA DA AUTORA
Os autores reforçam no entan- O artigo foi parcialmente publicado
to a noção que a integração do jovem em:
num destes grupos, só por si, pode não H Sousa, I Maciel. Tribos Urbanas.
acarretar alarmismo. Mostrar interesse Juvenil 2008; 15: 79-83.
e conversar com o adolescente para
conhecer as práticas do seu grupo per-
mitirá avaliar a perigosidade dos seus
comportamentos. NOTA FINAL
Este tema, de todo, não encerra por Atendendo às poucas publicações
aqui. As tribos são um fenómeno dinâmi- disponíveis, alguns dos dados foram reti-
co, ao sabor dos novos estilos musicais, rados de sites da Internet escritos por jo-
interesses e angústias dos jovens…en- vens pertencentes a estas tribos. Será de
França no final dos anos 90, foi divulgado quanto umas florescem, outras esbatem- valorizar uma abordagem mais científica
ao resto do mundo – incluindo Portugal se no seio das sociedades. Diferenças acerca do tema.
- no início do século XXI. Recusando a respeitantes à ideologia são apontadas
denominação de desporto, os seus adep- como responsáveis pela rápida renova-
tos consideram-no antes uma filosofia de ção das novas tribos que têm surgido; re-
vida baseada nas premissas “aprender a feridas como superficiais e relacionadas CORRESPONDÊNCIA
superar os obstáculos” e “ser forte para apenas à questão estética não apresen- Helena Sofia Martins de Sousa
ser útil”. O seu objectivo, explorar todo o tam o mesmo cariz ideológico forte que Telefone: 222077500
potencial natural do corpo e controlar os criou e manteve tribos como os hippies E-mail: helena.sofia@gmail.com
seus movimentos, exige um treino físico ou os punks, actualmente com mais de
intenso mas muito disciplinado. Apesar 40 anos de existência.
de alguns problemas (compreensíveis…)
com as autoridades e os seguranças,
com a divulgação do movimento têm vin- Nascer e Crescer 2009; 18(3): 209-214

adolescência – desafios actuais – mesa redonda


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