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Nota:
Estimado colega, redigi de boa vontade mais um Bloco de Estudos, desta vez da unidade
curricular de Direito da Atividade Administrativa, e venho apenas notar algo que já vem sido (e
tem que ser) hábito. Este trabalho é fruto da minha leitura, análise e interpretação das várias
aulas assim como da vária bibliografia que é indicada a seguir. Neste sentido, confesso (e foi
nesse âmbito que se fez tal trabalho) que apesar de poder ser uma preciosa ajuda ao estudo,
não obsta a que possam constar imprecisões e erros no texto, sejam elas técnicas, jurídicas,
ortográficas e/ou científicas. Neste sentido, quero salvaguardar que se poder ser feito um
estudo aprofundado o próprio leitor/estudante isso será o ideal, salvaguardando-se destas
questões. Nenhuma responsabilidade será do autor ou do NEDSULP de qualquer caso que possa
surgir no âmbito do aqui notado e salvaguardado.
Bibliografia:
-Curso de Direito Administrativo Volume I de Diogo Freitas do Amaral com a colaboração de Luís
Fábrica, de Carla Amado Gomes e de J. Pereira da Silva; 3ª Edição
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Diogo Chiquelho (21545917)
neste sentido pode partilhar destas funções. Ponha-se o exemplo do Governo, que sendo o órgão máximo da
Administração Pública e tendo, portanto, funções administrativas tem, também, funções políticas e legislativas.
Quer-se, então, aqui distanciar-se a atividade administrativa (que interessa agora) da legislativa e política.
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1.AP Estadual
Diz.se estadual quando estão em causa a prossecução de interesses públicos do Estado, de
caráter nacional. A admin. estadual divide-se em dois momentos: a direita e a indireta.
No caso da AP Estadual Direta, podemos defini-la como sendo toda a atividade administrativa
que é prosseguida pelos órgãos constituintes da PC do Estado, sob direção do Governo (órgão
superior da AP conforme o art.82º da CRP). Pode ter âmbito central ou âmbito local ou
periférico. No primeiro caso a competência estende-se sobre todo o território, como um
ministério ou uma direção-geral. No segundo caso, os órgãos da PC do Estado que dependem
hierarquicamente do Governo exercem uma competência circunscrita a uma determinada
parcela territorial, como é o caso dos diretores-regionais ou uma repartição das Finanças, etc.
Para definição da área destes locais procede-se à divisão do território em circunscrições
administrativas sendo que podem ser gerais (distritos e concelhos) ou especiais, que assumem
grande variedade e que dependem de vários fatores para a sua definição tomando-se já, no
nosso país, um sistema confuso, complexo e excessivo.
No caso da AP Estadual Indireta, tratamos o conjunto das entidades públicas com personalidade
jurídica própria e com autonomia administrativa e financeira mas que são pelo Estado criadas e
destinadas à realização dos seus fins e interesses, com a convicção que havendo um certo
à à àface à PC do Estado então esses fins serão mais eficaz e eficientemente
atingidos. São seguidos os fins do Estado pelo que será mesmo este a definir a orientação pelo
que poderá criar, modificar, extinguir assim como orientar as várias tarefas a prosseguir. Não
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Diogo Chiquelho (21545917)
obsta isto do facto dos órgãos das PC de Administração Estadual Indireta atuarem em nome
próprio dado terem personalidade jurídica própria, património próprio e pessoal próprio. São
exemplos os institutos públicos, as fundações públicas assim como algumas associações
públicas.
2.AP Autónoma
Prossegue-se, aqui, os interesses públicos através de órgãos das PCs que compõe este nível de
AP, ou seja através de autarquias locais, ou as regiões autónomas, etc. Estes interesses que se
referem são apenas interesses da sociedade que domicilia e com ligações à área de competência
deste tipo de AP. Cuidam-se os interesses específicos da respetiva comunidade, prosseguindo
assim, de certa maneira, interesses próprios, através de uma autoadministração composta por
órgãos representativos e não estão sujeitos a nenhum poder de direção ou de superintendência
do Estado.
2.
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2. Desengane-se se considera que foi por esquecimento que não se insere aqui a explicitação dos pontos 3 e 4 do
sumário deste capítulo, ou seja da AP Independente e da AP levada a cabo por particulares respetivamente. Não se
deu relevância ao estudo dessas matérias, pois estas não são de total forma relevantes ao, digamos, algoritmo da
Atividade Administrativa que estudaremos, tendo regimes muito especiais, pelo que se absolve o estudo. Mais: o
próprio professor não prosseguiu ao estudo destes dois tópicos, por tais motivos. Contudo, se se quiser aprofundar,
aconselha-se a bibliografia recomendada.
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Regulamento Administrativo
Artigo 135º CPA
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administrativos. Visam, assim, organizar o funcionamento dos serviços, distribuir tarefas pelos
agentes destes serviços e fixar normas de expediente/serviço. Já aqueles segundos, projetam-
se para o exterior da AP, tendo, portanto, uma eficácia jurídica bilateral, visto aplicarem-se à AP,
assim como aos particulares, pelo que são reguladas relações intersubjetivas.
Aqueles regulamentos internos têm um regime que importa notar: em primeiro lugar, são
insuscetíveis de serem impugnados contenciosamente, dado não afetarem a esfera jurídica dos
particulares e, em segundo lugar, devido não valer a regra da inderrogabilidade singular dos
regulamentos então os órgãos admin. podem não cumprir os regulamentos internos em
concreto, admitindo-se divergentes regulações, desde que devidamente justificados. Este
regime poderá dar a entender que, então, não existe um relevo jurídico. Pelo contrário, dado
que, em primeiro lugar, são suscetíveis de impugnação pelos meios administrativos no âmbito
da autotutela admin. o que permite o controlo de vícios de mérito e, em segundo lugar, estes
textos podem indiciar ilegalidade nos atos admin. que apliquem regulamentos, dado que estes
atos serão ilegais caso os regulamentos que lhes dão origem assim também o sejam.
Os regulamentos externos dividem-se em regulamentos gerais ou especiais. Aqueles primeiros
aplicam-se a todas as pessoas, podendo revestir a forma de regulamentos executivos ou de
execução, regulamentos independentes ou regulamentos complementares, que se explicará
mais adiante. Já os segundos, são aqueles que se destinam a regular as relações especiais de
poder, ou seja, uma relação especial de subordinação dos particulares com uma determinada
entidade admin.
Expliquemos, agora, então, os regulamentos executivos ou de execução: estes destinam-se a
pormenorizar a lei, de modos a que a torne prática, ou seja a lei é interpretada, esclarecida e
precisada de modo a assegurar uma aplicação uniforme. Realizam, apenas e só, uma execução
estrita da lei, não criando nada de novo em relação a ela nem a ela lhe acrescentando nada.
Exemplos deste tipo de regulamentos são as portarias. Quanto aos regulamentos independentes
estes são inovadores e tratam mesmo certas matérias pela primeira vez e, como tal, não
carecem de referência a qualquer lei que visem regulamentar. Contudo, a lei habilitante geral
fixa as condições de legalidade para que este género de regulamento possa ser validamente
emanado sendo fixada a competência subjetiva, a competência objetiva e a forma destes
regulamentos. São também designados por regulamentos autorizados ou delegados. Por último,
os regulamentos complementares, permitem à AP completar as leis, nomeadamente aquelas
que se limitam a estabelecer um quadro geral amplo, Estes regulamentos podem ser de dois
tipos: os de desenvolvimento (onde são completadas as leis que limitam estabelecer bases
gerais, inovando a AP ao estabelecer regras que disciplinam o objeto em causa, obviamente de
uma forma controlada) e os integrativos (utilizam o quadro legal para regular situações especiais
que não estejam expressamente previstas).
Importa, agora, distinguir entre regulamentos independentes propriamente ditos ou
regulamentos independentes do Governo do regulamentos autónomas ou da AP. No primeiro
caso, a competência objetiva passa por se saber que matérias podem ser objeto de destes
regulamentos, estando tal resposta no art.199º/g) CRP, e a competência subjetiva passa por
perceber quem pode emanar, sendo aqui o Governo e a for a será a de decreto-regulamentar
conforme prevê o art.112º/6 CRP. Tais decretos-regulamentares carecem de publicação no
jornal oficial. Já no segundo caso, a competência subjetiva é dos integrantes da Admin.
Autónoma, ou seja das autarquias locais e associações públicas, etc. A competência objetiva é
fixada casuisticamente em relação a cada uma das entidades acima mencionadas e a forma será
variada, sendo a mais comum a ser assistida a de postura.
Os regulamentos são emanados mediante procedimento próprio previsto nos arts. 136º ss CPA.
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3. As ilegalidades dos atos admin. (ou vícios) podem dar lugar a três consequências
jurídicas distintas: 1. Inexistência jurídica; 2. Invalidade; 3. Mera irregularidade (vícios
não invalidantes). Importa invalidade, que pode revestir duas formas: a forma de
nulidade e a de anulabilidade. Em regra, no DA, é que os vícios levam à invalidade sob a
forma de anulabilidade conforme prevê o art.163º CPA. Importará distinguir a nulidade
da anulabilidade. Desde logo, no que respeita à nulidade esta prende-se essencialmente
com motivos de ordem pública. Já a anulabilidade esta culmina, essencialmente,
violações a princípios de Direito Privado. Contudo, em DA, a aplicação de uma ou de
outra é ditada pela gravidade do vício que afeta o ato admin. (cfr. art. 163º e 161º CPA).
Quanto à tempestividade, e pelo Código Civil, a arguição da nulidade não depende de
prazo (art.286º). Já a anulabilidade depende de prazos estabelecidos no art.287º, onde
será no prazo de um ano a contar do fim do vício que serve de fundamento. Semelhante,
em DA, é com a nulidade, mas no caso da anulabilidade esta depende de uma prazo
máximo de três meses, conforme o art.58º do Código de Processo nos Tribunais
Administrativos. A legitimidade para arguir, na nulidade, é de qualquer interessado (art.
286º CC), sendo que a anulabilidade só pode ser invocada por pessoas cujo interesse a
lei estabeleça (art. 287º CC). Em DA, a legitimidade é idêntica em ambos os casos. A
nulidade será, também, de conhecimento oficioso (ex officio) pelo que a anulabilidade
será sempre invocável pelas partes. Já no que concerne à produção de efeitos, o ato
nulo não produz qualquer tipo de efeitos jurídicos típicos, contudo produz efeitos
à à à à à
4. Estará neste tipo de funcionário todo o particular que tenha sido nomeado pela AP, em
virtude de uma ato admin. nulo. Contudo, encontra-se, efetivamente, no exercício das
suas funções para a AP. Assim, este é um funcionário aparente4.. O efeito do tempo leva
a sanar a nulidade, visto que se passarem cinco ou mais anos5. sobre a data de
nomeação de um funcionário nestas circunstâncias, e desde que esteja de boa-fé,
entende-se que este adquire o lugar. Não passando aquele prazo ou haja má-fé então o
funcionário é imediatamente exonerado e, até, tem de devolver à AP todas as quantias
que haja recebido a título de vencimento, justificável pela não criação de um vínculo
jurídico suficiente para ter direito à retribuição, devido ao ato nulo. Contudo, a título
indemnizatório, através de actio in rem versu tal particular poderá reaver estas quantias.
O valor jurídico dos atos admin. praticados por este funcionário, caso não padeçam de
um vício, então não se gera fundamento para a invalidade do mesmo, isto porque sendo
a vontade da AP uma vontade normativa e não subjetiva, então tal ato originou de tais
normas e não do respetivo funcionário, pelo que seria igual caso fosse outro funcionário
a exercê-lo e, para além disto, há uma razão de ordem prática, pelo que seria muito
difícil destruir todos os efeitos materiais de todos os atos admin. praticados ao longo do
tempo pelo tal funcionário. Também por uma questão e segurança e certeza jurídica,
onde os administrados confiam no bom e célere funcionamento da atividade da AP,
neste caso no que toca à contratação de funcionários e não pode a esfera jurídica de
particulares estranhos àquele ato ser atacada por eventuais vícios no procedimento que
levou a tal contratação.
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4.Note-se que em caso de ato anulável já se fala mesmo em funcionário público, e não aparente, visto que os atos
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O Espaço
O espaço assume especial relevância no Direito Administrativo no âmbito da distribuição das
competências dos órgãos administrativos, designadamente na distribuição da competência
territorial. Assumem ainda relevância quando a lei remete para usos, costumes e praxes
administrativas locais.
Ato Administrativo
Importa fazer uma introdução histórica, baseada na evolução do conceito de ato administrativo.
Inicialmente, ato administrativo era qualquer atuação concreta de órgãos administrativos
excetuando aqueles feitos no âmbito de Direito Privado. Afastando-se, assim, o Direito
Administrativo do Direito Privado, dado que era à à à àá à à à
da vida privada, passou a ser o Parlamento a ter esta competência dado que, à época, era apenas
este órgão de soberania que poderia regular através de lei, sendo que uma atividade
eminentemente administrativa passou a ser uma atividade eminentemente executiva e, assim,
desenvolveu-se o conceito de ato administrativo para um ato de um órgão da Administração
Pública ao abrigo do Direito Público. O forte intervencionismo da Administração na sociedade e
na economia à à àXX à à à à à à à à à à à à à
para que fossem assegurados e tutelados os direitos e interesses dos cidadãos. Esta base levou
a que o ato administrativo passasse a ser tido, também, como fim da sua prática, para a
prossecução de interesses públicos. Esta definição veio salientar a dotação de ius imperium que
a definição de ato administrativo já trazia consigo, desde o séc XIX.
Nos termos do artigo 148º do CPA o Ato Administrativo pode ser definido como sendo
uma estatuição autoritária emanada pela ad pública no uso de poderes de direito
administrativo relativa a uma situação individual e ou concreta e que visa produzir
efeitos jurídicos positivos ou negativos.
Importa, agora, esclarecer este conceito:
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Procedimento administrativo
O procedimento administrativo é um conjunto encadeado de atos materiais e jurídicos com vista
à obtenção de um fim único que pode consistir num regulamento administrativo, num ato
administrativo ou num contrato administrativo ou seja são formalidades relativas à formação,
manifestação e execução da vontade da Administração Pública. Logo ao artigo 1º, n.1 do Código
de Procedimento Administrativo é definido Procedimento Administrativo.
1ª fase preparatória
2ª fase constitutiva ou decisória
3ª fase integrativa de eficácia
4ª fase executiva
A Fase Preparatória
É na fase preparatória que se incluem todos os trâmites destinados a preparar o ato principal
do procedimento. Visa, assim, garantir que o ato a que se ambiciona chegar ao final esteja
conforme à ordem jurídica, sendo que só assim tal ato poderá ser válido. Daqui surge a
importância dos momentos preparatórios que não produzindo efeitos externos visam criar
condições essenciais de validade do ato principal. Importa notar que estes atos podem sofrer de
impugnação, pois, em certos casos, atos anteriores ao principal podem ser impugnados
contenciosamente por afetarem imediatamente o indivíduo e a sua situação jurídica enquanto
particular, como por exemplo um candidato que é excluído de concurso por não cumprir os
requisitos pelo que este particular não precisa de aguardar pelo ato final para impugnar aquele
que o excluiu, poderá mesmo fazê-lo no momento. Assim, o CPTA integra já estes atos como
impugnáveis.
A fase preparatória divide-se, em si, também em três momentos e são eles:
1ª iniciativa
2ª instrução
3ª audiência prévia ou dos interessados
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1. Iniciativa
A iniciativa procedimental pode revestir duas espécies:
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A apresentação de um requerimento que preencha todas as condições do artg 102º dará lugar,
em princípio, ao surgimento de um dever de decisão por parte da Administração Pública (nº1,
artg 13º), só assim não acontecerá nas seguintes situações:
Aquela obrigação de decidir implica que a Administração Pública notifique o particular de uma
decisão dentro do prazo legal estabelecido por lei. Esse prazo é, em regra, de 90 dias nos termos
do artg 128º nº 1 do CPA e começa a contar-se nos termos da b) do artg 87º do CPA, pendendo-
se aos sábados, domingos e feriados nos termos do e) artg 87º.
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Se a Administração não notificar a decisão ao requerente dentro desse prazo então, haverá lugar
à aplicação dos regimes previstos nos artgs 130º e 129º do CPA.
No artg 130º, considera-se sempre que estiverem reunidos os respetivos pressupostos que se
verifica um deferimento tácito. Significa isto, que o silencio da Administração Pública nestas
circunstâncias dá lugar ao surgimento na esfera jurídica do requerente do Direito
correspondente à sua pretensão. Não se verificando, o deferimento tácito, então o
particular/requerente pode fazer-se valer dos meios de tutela administrativa e jurisdicional
adequados. No que respeita à tutela jurisdicional há inclusivamente um meio processual
destinado a obrigar a Administração Pública a decidir. Esse meio processual consta dos artgs 66º
e seguintes do CPTA. E trata-se da ação de condenação à pratica de ato legalmente devido.
2.Instrução
É o momento procedimental no qual se procede à recolha dos meios de prova considerados
necessários e convenientes à boa tomada de decisão. Estes meios de prova servirão para fazer
uma ponderação entre o interesse público e os interesses privados em causa no sentido de
possibilitar a tomada de decisão e podem ser de várias espécies: ex: exames, vistorias,
inspeções, atestados, declarações, etc.
Toda a instrução é norteada pelo princípio do inquisitório previsto no artg 58º. Aqui verifica-se
uma distribuição do ónus da prova entre a Administração e o requerente. Nos termos do artg
58º a Administração Pública pode e deve, em determinados procedimentos, procurar todos os
meios de prova para instruir o procedimento, por seu lado o particular não fica ariado de carrear
para o procedimento meios de prova que entenda necessários para sustentar a sua pretensão.
Desde logo, pode fazê-lo voluntariamente. Depois pode estar obrigado a isso por lei ou ao abrigo
do princípio da colaboração previsto no artigo 60º do CPA. Há até situações em que se fala de
um monopólio de produção de prova por parte do particular. São situações em que a
Administração se escusa completamente da produção de prova.
Assumem especial importância no âmbito das diligências probatórias os pareceres. Assim sendo,
parece-nos importante proceder a um estudo mais aprofundado destes documentos. Um
parecer é uma modalidade de atos instrumentais e pertence à categoria das avaliações pelo que
é definido como sendo uma apreciação de caráter jurídico ou relativo à conveniência
administrativa ou técnica, emitido por um órgão consultivo, a propósito de um ato em
preparação e de realização eventual. Os pareceres têm duas grandes distinções: de um lado os
pareceres facultativos e, do outro, os pareceres obrigatórios, pelo que se distinguem pela
obrigatoriedade, ou não, de um órgão competente para proceder para a decisão ter que
requerer aquele parecer. Aquele facultativos, tendo este caráter opcional, também não têm de
ser vinculativos, contudo aqueles obrigatórios poderão ser vinculativos ou não vinculativos pelo
que no primeiro caso, tendo de ser pedidos também têm de ser seguidos pelo que as conclusões
daquele parecer têm de ser aceites e, no segundo caso, tendo de ser pedidos não têm,
necessariamente, de serem tidos como aceites e, portanto, de serem seguidos podendo mesmo
haver uma decisão contrária àquele parecer. Em casos em que uma lei prevê um parecer mas
nada estabelece em relação à sua obrigatoriedade e à sua vinculatividade então presume-se, tal
parecer, que seja um parecer obrigatório não vinculativo. Num campo já mais restrito temos
ainda os pareceres conformes pelo que uma decisão tem de estar apoiada num sentido
semelhante à da conclusão do parecer, ou seja os pareceres conformes podem ser favoráveis,
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caso uma decisão positiva só seja possível aquando o parecer que a fundamenta seja, também,
favorável da mesma forma que um parecer conforme é desfavorável caso esse parecer que
fundamenta a decisão seja, assim, desfavorável.
1. Para quem entende que o direito de audiência prévia é um direito fundamental (por
analogia) então a preterição da realização da audiência, conduzirá sempre à invalidade
do ato administrativo na vertente da nulidade, por aplicação da d) do nº 2 do artg 161º
do CPA, porque se tratará da violação do conteúdo essencial de um direito fundamental.
2. Para quem assim não entenda, ou seja entenda que o direito de audiência prévia não é
um direito fundamental, mas sim uma decorrência do princípio da participação do
particular na tomada da decisão administrativa na qual seja interessado então, a sua
preterição ilegal dará lugar à invalidade do ato administrativo final mas agora à
anulabilidade do mesmo nos termos gerais do artg 163º do CPA. No entanto, ainda aqui
existem situações nas quais a violação do exercício do direito de audiência deve
excecionalmente conduzir à nulidade e, trata-se aqui, dos procedimentos mais gravosos
para o particular: procedimentos disciplinares e procedimentos sancionatórios. Na
verdade, nestes casos não está apenas a violar-se o direito de audiência como
decorrência do princípio da participação, mas sim também um direito fundamental: o
direito ao contraditório previsto no nº 10 do artg 32º da CRP. Nestas situações poderá
assim fazer-se a aplicação daquela d) no nº 2 do artg 161º uma vez que a administração
pública aparece a violar o conteúdo essencial de um direito fundamental procedimental.
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procedimento. É nesta fase que o ato administrativo se conforma, preenchendo todos os seus
elementos essenciais, tornando-se assim um ato perfeito independentemente de quaisquer
ilegalidades que possam afetá-lo. Com perfeição do ato pretende-se tão só significar que o
mesmo se forma enquanto decisão. Esta decisão é, em regra, comunicada ao particular
normalmente por escrito e contendo todos os elementos necessários a uma eventual reação ao
seu conteúdo. Isto traduz-se num momento declarativo que encerra, à partida, o procedimento
administrativo. Importará, para já, fazer a conotação entre aquela fase preparatória e esta fase
constitutiva, dado que estando em estudo o procedimento onde, como já se sabe, referimos
uma sucessão ordenada de atos e formalidades que têm em vista a produção de um resultado
jurídico unitário, então não se esperam cortes radicais entre as fases, o que, aliás, tiraria
qualquer sentido à designação de procedimento. Assim sendo, nesta fase irá avaliar-se o quadro
fornecido pela instrução e pela audiência dos interessados, o que levará à formação da
à àáP àIsto levará a que nesta decisão final o órgão competente à sua emissão deva
resolver todas as questões pertinentes e que se foram suscitando durante o procedimento e
que não hajam tido momento de decisão anteriormente. Deve notar-se, para a tomada de
decisões por órgãos colegiais, os arts.21º e ss CPA à à à à àorgânicas destes
órgãos.
1. Impugnações administrativas:
O particular vai recorrer da decisão através de um procedimento ainda administrativo, ou seja,
recorre ainda para a administração. Estas atuações podem revestir duas espécies:
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7.Para melhor estudo deste tópico da comunicação então poderá consultar-se a parte referente, nas páginas 18 e 19,
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1.1. Reclamação
O particular recorre da decisão junto do próprio órgão que praticou o ato.
1.2. Recurso hierárquico
Aqui, o particular recorre da decisão para o mais alto órgão da cadeia hierárquica à qual
pertence o órgão que praticou o ato.
2. Impugnações contenciosas:
O particular recorre do ato para um tribunal administrativo lançando mão de um meio
processual próprio e que será em regra a ação de impugnação de ato administrativo prevista
nos arts. 50º e ss do CPTA.
Todas estas impugnações têm por objetivo fazer cessar os efeitos do ato impugnado e por via
disso evitar, então, a sua execução, uma vez que esta lhe traria uma situação jurídica e
materialmente ilidível. Temos assim em regra dois momentos:
Entre esses dois momentos o particular poderá então tentar evitar a ocorrência do segundo,
através dos meios acima descritos.
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procede imediatamente a uma execução material sem que previamente haja praticado qualquer
ato administrativo. Desta forma temos - ao contrário do que vimos antes - apenas um momento:
o momento executivo onde tudo o que aparece ao particular é a execução material. Nestas
situações, no entanto, considera-se que implícita na execução está a decisão correspondente,
ou seja, o próprio ato administrativo está implícito nas operações materiais de execução. Estas
situações apenas são legalmente admissíveis quando se tratem de circunstâncias de urgência
devidamente justificadas pela administração com base em razões de interesse publico. A
limitação legal destas situações justifica-se pelo facto de se verem aqui diminuídas as garantias
dos particulares onde, desde logo, desaparecem as garantias impugnatórias prévias à execução
o que é lesivo da sua esfera jurídica. Nestas situações, o particular apenas poderá recorrer a
posteriori das ações materiais de execução. O ato tácito retira-se a partir da prática de um outro
que é declarado expressamente pela AP, daqui resulta que o ato tácito é uma mera presunção.
Sendo ainda uma presunção iuris tantum (são aquelas que são ilidíveis).8. Ora, o ato tácito assim
configurado resulta ainda de uma atuação positiva da Administração Pública que consiste na
prática do ato a partir do qual se retira a ilação. Temos também o caso do ato silente onde, neste
caso, o ato administrativo resulta de uma verdadeira omissão juridicamente relevante por parte
da Administração Pública e desde que se verifiquem os seguintes pressupostos: 1.Apresentação
de um requerimento por parte do particular; 2.Competência do órgão requerido; 3.Existência
do dever de decisão; 4 Decurso de um prazo; 5.Ausência de notificação de qualquer decisão ao
particular no termo do mesmo prazo. Ou seja, estamos perante uma situação em que a AP deixa
expirar o prazo legal para o seu dever de decisão sendo que daqui surge que este silêncio seria
tomado como uma forma anómala da AP decidir o pedido que lhe foi dirigido. Mas esta figura
revelava maioritariamente no antigo Código de Procedimento Administrativo, pelo que
atualmente o silêncio valerá como um incumprimento ao dever de decisão da AP pelo que dará
lugar ao interessado ao uso dos meios de tutela administrativa e jurisdicional adequados
(art.129º CPA) e por inércia no prazo de 90 dias (129º), pelo que apenas haverá o dito
deferimento tácito quando a lei assim o preveja expressamente. (130º/1 CPA) ou quando esteja
em causa a prática de atos autorizativos na relação entre órgãos administrativos.
A Fase Complementar ou Integrativa de Eficácia
Estamos perante uma fase eventual do procedimento, uma vez que dispõe o art. 155º/1/1ªParte
CPA que o ato administrativo começa a produzir efeitos logo que é praticado,
independentemente de quaisquer formalidades. Assim, e nestes termos, importará mencionar
que mal seja concluída a fase constitutiva então, e por regra, teremos ali o início da eficácia do
ato administrativo. Esta situação chega mesmo a opor-se às questões da necessidade ou não de
comunicação. Como já vimos9. a comunicação passará por duas formas: a publicação e a
notificação. Contudo, só nos atos administrativos impositivos (constitutivos) de deveres ou
encargos é que tal exceção dos atos recetícios será de se aplicar, ou seja quando a execução
supõe a colaboração do destinatário ou até aqueles que implicam sanções é que carecem do
conhecimento para que o ato se torne eficaz. Ora, tal pode perceber-se com a leitura do art.160º
CPA. Contudo, isto não obsta a que como regra geral haja, também, o caráter de para
oponibilidade aos particulares então estes devem ter conhecimento de tal ato quando se tratem
de efeitos desfavoráveis a estes. Ou seja, a comunicação é condição de oponibilidade pelo que
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8. Exemplo: o Senhor A e o Senhor B, que são proprietários de duas lojas contíguas, apresentam perante as entidades
competentes pedidos de licenciamento e emissão do respetivo alvará para instalação de uma farmácia. Determina a
lei que num raio de 300m apenas pode existir uma farmácia. Assim, se o pedido de A for deferido B poderá
imediatamente presumir que o seu pedido será indeferido.
9.na página 17, na parte final do texto que refere o trâmite legal da fase decisória
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só a partir do momento em que que o particular conheça do ato é que poderá a AP exigir
determinado comportamento. Mais: só a partir deste momento é que começa a contar o prazo
para o particular exercer os seus meios de defesa. No caso da publicação, o que se poderá dizer
é que caso falhe este requisito legal então só aqui é que se impede a eficácia do ato
administrativo.
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4. Atos inválidos e ineficazes: é o caso, aqui, dos atos nulos. Como bem sabemos os atos
nulos não produzem efeitos jurídicos (pelo menos essenciais) desde a data em que
foram praticados os atos (tal é a gravidade do vício) pelo que não sendo, portanto,
válidos pela grave desconformidade legal (vício esse que pode ser formal, material, etc)
e não sendo eficazes, pois não produzem efeitos, havendo mesmo a situação de
destruição retroativa dos efeitos produzidos. Por isto se diz que são inválidos e
ineficazes.
Por se tornar tão clara a distinção é que se deve atentar ao uso incorreto de sinonímia destes
dois conceitos. Querem versar sobre coisas distintas. Que se atente!
Iremos agora versar apenas sobre a eficácia, distinguindo várias figuras deste instituto.
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Se nas duas primeiras situações (1 e 2), não se levantam quaisquer problemas quanto à
produção ex tunc dos efeitos, já na verdadeira retroatividade há que ter em atenção o seguinte:
se os atos administrativos forem favoráveis aos particulares então não se colocará ainda
qualquer problema, uma vez que os atos desfavoráveis ao particular são livremente revogáveis
e a todo o tempo; mas caso se trate de atos que visem retirar direitos aos particulares então
aqui sim, a retroatividade dos efeitos será em regra proibida, uma vez que irá acabar com
situações jurídicas favoráveis aos particulares e que eram pré-existentes ao ato administrativo
retroativo. Como princípio geral do Direito Administrativo vigora o princípio da não-
retroatividade, conforme indica o art.156º CPA sendo que o n.2 prevê as situações excecionais
as esta não-retroatividade. Note-se que o princípio refere a não-retroatividade, pelo que se
serão de admitir (obviamente só nos casos válidos para tal) a retrodatação e a retrotração,
devido a questões de justiça e de proteção dos administrados.
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Diogo Chiquelho (21545917)
1. Uma condição resolutiva é uma cláusula acessória pela qual a eficácia de um ato fica
dependente da verificação de um acontecimento futuro e incerto. Sendo resolutiva a verificação
do evento factual sob o qual incide a condição (e note-se que hipotética daí ser um facto incerto,
o que o distinguirá do termo) então os efeitos do ato administrativo cessam.
2. Um termo final será já a cláusula acessória que determina que os efeitos do ato, ao qual foi
aposto o termo final, cessem a partir de certo momento, que normalmente é um acontecimento
e, lá está, de verificação certa.
3. A anulação dos atos administrativos prende-se com critérios de ilegalidade, ou seja, de
desconformidade dos elementos constitutivos do ato face á lei. Quem pode anular atos
administrativos é o próprio órgão que praticou o ato, o superior hierárquico do órgão que
praticou o ato e os tribunais administrativos.
4. A revogação prende-se com critérios de mérito, ou seja, com critérios de inconveniência ou
inoportunidade, sendo assim, quem pode revogar é o próprio órgão que praticou o ato, o seu
superior hierárquico e os tribunais nunca poderão revogar atos administrativos, uma vez que,
tal possibilidade constituiria uma violação ao princípio da separação dos poderes. Seria admitido
que o poder judicial tomasse conta do poder administrativo.
5. Obviamente que a este tópico nem seria necessário fazer-se referência. Claro está que quando
a lei afirma que tal ato, naqueles termos previstos, é passível a ser cessada a sua vigência então
deve ser cumprido esse preceito legal.
A Fase Executiva
É, à semelhança da fase integrativa de eficácia, também uma fase eventual no procedimento
administrativo e que só ocorrerá se for necessária a prática de ações materiais de execução para
que o ato administrativo produza todos os seus efeitos úteis.
Nos termos do art.155º/1/1ªparte CPA, o ato administrativo começa a produzir efeitos logo que
é praticado, como anteriormente visto aquando do estudo da fase integrativa de eficácia. A nova
questão que se coloca na fase executiva é a de saber se os efeitos úteis do ato se produzem sem
necessidade de uma execução ou, ao contrário, carecem de serem executados pela
Administração Pública. Assim, e desde logo, temos uma característica dos atos administrativos
que traduz precisamente esta ideia: a exequibilidade. Esta significa, antes de mais, a
suscetibilidade de o ato administrativo sofrer uma execução e, depois, a necessidade de uma
execução para que ele, o ato, produza todos os seus efeitos úteis.
Há, assim, atos não exequíveis e atos exequíveis:
-Atos não exequíveis são aqueles que não precisam de uma execução para produzirem todos os
seus efeitos, este tipo de atos nem sequer admite uma execução.
-Atos exequíveis são aqueles em que é necessária uma execução material para que estes
consigam produzir os efeitos.
A questão que se coloca agora é a de saber de que forma a execução destes atos vai ser feita.
Isto remete-nos para outras duas características possíveis dos atos administrativos:
Executividade
Neste âmbito, o ato administrativo aparece como tendo o valor de sentença condenatória
constituindo um título executivo que possibilita à Administração Pública fundar imediatamente
uma ação executiva através dos tribunais. Significa isto que será ao contrário do que acontece
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Diogo Chiquelho (21545917)
no âmbito das relações jurídicas creditícias estabelecidas entre particulares dado serem casos
em que, normalmente, é necessário um momento judicial declarativo. No caso das relações
jurídicas administrativas fundadas em ato administrativo, esse momento não é necessário
passando imediatamente à fase executiva.10. O ato administrativo permite à Administração
à à à à e partir imediatamente para a execução.11. No entanto, há
requisitos para que um ato administrativo se encontre nestas condições, ou seja, para que um
ato administrativo possa ser considerado executivo e que são as seguintes:
1. Tem de se tratar, naturalmente, de um ato exequível, ou seja, que precise de ser executado
para produzir todos os seus efeitos uteis;
2. É preciso que se verifique o incumprimento voluntário por parte do particular;
3. É preciso que o ato em causa seja eficaz, isto é, que esteja a produzir os seus efeitos jurídicos.
Assim, podemos dizer que todos os atos não exequíveis são não executivos, mas nem todos os
atos exequíveis são executivos pois para o serem têm que se verificar no caso concreto os
requisitos acabados de referir.
Aliás a doutrina tentou fundamentar a força jurídica do ato administrativo precisamente nesta
característica da executividade. No entanto, parece ter falhado neste objetivo uma vez que a
executividade, como visto, não é característica genérica dos atos administrativos. Quando se
fala em força jurídica do ato procura-se estabelecer a característica que é comum aos atos
administrativos pelo que assim sendo nunca poderá ser a executividade.
Executoriedade
Traduz-se na faculdade que a Administração Pública tem em executar os seus próprios atos e
pelos seus próprios meios, inclusivamente recorrendo à coercibilidade e sem uma pronúncia
prévia do tribunal. Para que um ato administrativo seja executivo é necessário que:
1. Imponha obrigações ou deveres aos particulares
2. É necessário que se trate de um ato exequível
3. É necessário que se verifique a resistência do particular quanto ao cumprimento daquelas
obrigações ou deveres
4. É necessário que seja eficaz
5. É necessário que a lei preveja expressamente a executividade do ato em causa.
Assim, também podemos dizer que nem todos os atos exequíveis são atos executórios. Também
aqui a doutrina tentou fundamentar a força jurídica do ato administrativo nesta característica
da Executoriedade. Mais uma vez, parece ter falhado dado que esta característica não é comum
aos atos administrativos e, mais do que isso, parece até ser excecional, uma vez que se exige
que a lei a consagre expressamente em cada caso concreto. Resta saber então qual será a
característica comum aos atos administrativos e que como tal traduz a sua força jurídica.
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10.Exemplo: A empresta 100 a B e este não restitui a quantia emprestada. A terá, em primeiro lugar, que intentar
uma ação judicial condenatória para obter, através da respetiva sentença, um título executivo. Se ainda assim B
continuar sem restituir A terá que intentar a correspondente ação executiva.
11.Exemplo: Se A, particular, é notificado de uma nota de liquidação e cobrança de imposto e não paga
voluntariamente, então a AP pode imediatamente, com base no ato administrativo, intentar a ação executiva.
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Diogo Chiquelho (21545917)
Imperatividade
Esta característica comum ainda agora referida é a da imperatividade uma vez que se trata de
uma decisão de autoridade e que cria direito novo. Mais: impõe-se aos particulares,
independentemente da vontade destes.12.
Sujeito(s)
Quando pensamos no sujeito como momento estrutural do ato administrativo referimo-nos às
pessoas coletivas de Direito Público, entes ou entidades, que são dotadas de atribuições para
levar a cabo a prossecução dos interesses públicos a que a lei colocou a seu cargo. Aqui também
podemos inserir as pessoas coletivas privadas.
À relação entre o interesse público e entre o sujeito que o serve, ou seja, o sujeito que exerce
atividades em função deste interesse público, designasse por função. Neste sentido, o Direito
atribui a cada sujeito público uma função ou um conjunto de funções. Para tal, estas pessoas
coletivas públicas são, também, dotadas de um conjunto de atribuições que devem seguir em
função de satisfazer o, lá está, interesse público. Caso a pessoa coletiva pratique um ato
administrativo fora das suas atribuições teremos um vicio no sujeito que consiste precisamente
na falta de atribuições e que é sancionado com a nulidade do ato respetivo, do art.161º/2/b)
CPA. Aliás, neste sentido parte da nossa doutrina e da jurisprudência vem designar esta atuação
errada das PCs como uma atuação no âmbito de uma incompetência absoluta, pelo que será
normal sancionar tal atuação com a invalidade mais grave. Ainda poderá suceder-se o caso da
usurpação de poder sendo que tal acontece quando um órgão de uma PC pratica um ato
administrativo não tendo tal pessoa coletiva atribuições para tal, mas nem outra PC terá, ou seja
nem aquela PC nem qualquer outra pessoa coletiva administrativa tem atribuições para aquele
efeito. Assim aquela atribuição não é de caráter administrativo mas é, sim, de caráter político
ou de outro caráter sendo que violando o princípio da separação de poderes então entende-se
a designação de usurpação de poderes. Também a lei prevê a nulidade, por questões óbvias e
já mencionadas, segundo o art.161º/2/a) CPA. Mas a atuação provém de órgãos, pois estes é
que têm as competências e os poderes para se verem verificadas as atribuições das PCs. São os
órgãos que exprimem a vontade imputável à PC e são estes quem aparece como autores do ato
administrativo. São, verdadeiramente, os órgãos os sujeitos do ato administrativo. Assim, será
logo um requisito de validade do ato administrativo que deva ser um órgão da Pessoa Coletiva,
com atribuições para tanto, a emanar o ato administrativo. Mais: o órgão tem que ser o
competente, no seio da PC, para emanar aquele ato. Ainda mais: para além de ter que estar
dotado de competência para tal, o órgão deve ter ainda legitimidade em concreto para o
exercício desta competência, ou seja, quer-se dizer que o órgão deve ver, para decidir ou
deliberar, uma panóplia de critérios orgânicos e formais que lhe permitirão, então, emanar o
ato administrativo. Serão tais requisitos de legitimação em concreto os seguintes: a investidura
do titular do órgão ou o quórum nos órgãos colegiais, a autorização para a prática de tal ato, a
ausência de impedimentos do agente ou do titular do órgão e, ainda, o decurso de um período
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12.Exemplo: se a Administração Pública emana uma ordem de demolição e o particular não cumpre voluntariamente
essa ordem, a AP tem a possibilidade de proceder ela própria à demolição sem recorrer previamente ao tribunal. Esta
possibilidade é-lhe conferida expressamente pelo regime jurídico das edificações.
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Diogo Chiquelho (21545917)
de tempo dentro do qual o ato deva ser praticado ou decorrido o qual poderá, então, ser
praticado o ato. A não verificação da legitimação por falta de quórum ou pela deliberação sem
obtenção de maioria legalmente exigida levam à nulidade, segundo o art.161º/2/h) CPA. Nos
demais casos de legitimação, e assim como regra geral, s sua não verificação e, mesmo assim, a
verificação do ato leva à anulabilidade nos termos do art.163º CPA.
Em suma, serão requisitos de validade do ato administrativo em relação ao sujeito as
atribuições, as competências e a legitimação em concreto.
Se no caso concreto um órgão pratica um ato administrativo para o qual não tem competências,
então será de se avaliar sobre o que incide o vício e a gravidade de tal vício pelo que se o vício
incidir em razão da matéria ou da hierarquia, então a consequência será a da anulabilidade, nos
termos gerais do art.163º mas se se tratar de uma incompetência em razão do território, então
a consequência será a da nulidade. Note-se que em nenhuma das alíneas do art.161º/2 se
consegue inserir a incompetência em função do território, contudo aquele artigo tem um caráter
exemplificativo e não taxativo pelo que nos permite que façamos interpretações extensivas
inserindo aqui vícios que, pela sua natural gravidade, devem sofrer de nulidade.
Paradigmaticamente, em casos avulsos legais ao CPA e que possam prever mesmo esta
consequência para certo ato e, em segundo nível, estes casos que embora não expressamente
previstos ainda assim por se tratarem de vícios graves devem ter a mesma consequência.
Também importará mencionar que os vícios da vontade (como o erro, o dolo ou a coação)
relevam no sentido de averiguar a vontade dos sujeitos quando se lhes importe vícios.
Objeto
Quando se estuda o objeto enquanto momento estrutural do ato administrativo está em causa
o objeto mediato ou propriamente dito. Quererá isto dizer que fazemos referência ao ente que
sofre as transformações jurídicas que qualquer ato administrativo visa produzir. Esse ente, tal
como já foi referido, tanto pode ser uma pessoa (como um ato de nomeação de um funcionário,
ou uma coisa (como uma declaração de utilidade pública de expropriação de um terreno), ou
um ato administrativo anterior (como uma revogação), ou outros seres dotados de
sensibilidade.
Serão requisitos de validade os seguintes:
-Existência/Possibilidade:
Quer-se aqui referir a existência e, para além disto, a possibilidade do objeto de a nível físico, de
facto e jurídico de ser suscetível de, em abstrato,13. sofrer os efeitos de um ato administrativo.
Tem de ser passível de realização jurídica de uma determinada disposição em função do objeto.
-Determinação ou Determinabilidade:
O objeto deve estar determinado, em função de ser possível a sua identificação e delimitação.
In extremis deve o objeto ser determinável.
-Idoneidade:
Referimos a relação entre o conteúdo do ato administrativo e entre o objeto, pois deve ser
adequada tal relação. Pode, de facto, o objeto ser passível de sofrer os efeitos daquele ato mas,
por exemplo, a lei não aceita que aquele mesmo objeto seja daquela forma transformado
juridicamente. Assim, referimos que o objeto, em concreto,13. deve ser passível de sofrer as
transformações jurídicas que o ato ambiciona fazer valer sobre ele.
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13.Apenas em função de distinguir o que se diz no requisito da existência e possibilidade do que se diz no requisito
da idoneidade quanto à passibilidade de sofrer os efeitos jurídicos do ato. Naquele primeiro deve passar a verificação
em termos abstratos, contudo, na idoneidade essa avaliação será mais profunda e cuidada e, assim, no próprio caso
concreto.
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-Licitude:
O objeto deve ser lícito, mas tal requisito não é aplicável a todos os possíveis objetos de atos
administrativos, mas quando aplicável é, igualmente, condição de legalidade.
Posto isto, faltará fazer referência aos vícios relativos ao objeto. Tendo por base o critério da
gravidade da ofensa à ordem jurídica, há também alguns vícios do ato administrativo em relação
ao objeto que determinam a nulidade. Por exemplo, se o objeto for inexistente ou fisicamente
impossível, como a nomeação de um falecido, ou então juridicamente impossível, como a
revogação de um ato já extinto, então tais vícios são de tal forma, diria até mesmo, absurdos e
caricatos que conseguem ter o mesmo tratamento dos vícios graves, ou seja a nulidade do ato.
Assim também se sucederá se o objeto foi indeterminado ou indeterminável como, e a título de
exemplo, emanar um ato de expropr à à à à à à àX à à àato é muito
subjetivo e indeterminável, pois podendo ser o senhor X proprietário de uma vasta panóplia de
terrenos então indicar-se que se exproprie à à à à à à
seria a balbúrdia no mundo jurídico. O art.161/2/c) CPA refere mesmo a nulidade nestes casos.
Àquele que não foi referido, ou seja a falta de idoneidade terá, então, como consequência a
anulabilidade, nos termos do art. 163º CPA.
Estatuição
Será a declaração que se afirma no ato administrativo, ou seja a decisão propriamente dita, o
dito ato em sentido estrito. É arrumado este elemento em outros quatro subelementos, a saber:
o fim, o procedimento, o conteúdo e a forma.
Fim
O fim do ato administrativo será sempre o fim público que se visa pacificar, e que será tipificado
na lei. O ato administrativo só fará sentido se praticado em função do interesse público que
necessita de ser satisfeito. Para tal a lei indica, de forma abstrata, os pressupostos que quando
verificados em concreto, indicarão ao agente administrativo a existência de interesse público e
que, consequentemente, justifica e impõe a atuação da AP. Assim serão requisitos de validade
a relação de coincidência entre os pressupostos em abstrato e os pressupostos em concreto.
Serão, então, pressupostos abstratos ou hipotéticos aqueles que o legislador definiu na hipótese
da norma e que - sendo já estes a seguir os pressupostos concretos ou reais quando verificados
em concreto dão ao agente a ocorrência de um interesse público, que ele deve,
consequentemente, servir. Se e enquanto os pressupostos não forem coincidentes, ou seja,
enquanto não se verificar em concreto então a AP está legalmente impedida de atuar. O agente
administrativo tem o dever de fazer ingressar no ato uma declaração na qual se demonstre a
verificação em concreto dos ditos pressupostos abstratamente definidos por lei, designando-se
tal declaração de justificação, elemento este constitutivo da fundamentação e desse dever.
No que concerne ao vícios, podemos já adiantar que a regra é a da anulabilidade, salvo exceções,
mas que a elas faremos referência em tempo oportuno, dado serem, lá está, exceções. Os vícios
poderão traduzir-se na falta de um pressuposto abstrato, quer-se dizer na falta de base legal,
dado que a AP atua sem qualquer lei que a habilite a tal, ou então na falta de um pressuposto
concreto, ou seja estaremos perante um erro de facto, pois sucede-se que a situação concreta
não exista ou, se existir, não seja subsumível na hipótese legal, sendo que haverá já um erro de
qualificação dos factos ou um erro de direito quanto aos factos. Estes vícios no fim devem ser
tomados com atenção, dado que o vício no fim que não seja logo identificável e invalidado e que
passe para o conteúdo irá afetar aquele, pois a AP vai dar ao ato um conteúdo que
provavelmente não daria se não tivesse errado o fim. Ocorrerá, aqui, um vício em relação ao
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Diogo Chiquelho (21545917)
fim-conteúdo. Quando falamos naqueles casos excecionais que em situações mais graves
poderemos aplicar a nulidade, em vez da regra geral a mera anulabilidade. Queremos dizer casos
em que a falta de base legal seja equivalente à falta de atribuições ou então quando o fim que
é prosseguido seja simultaneamente um fim particular e/ou ilícito. Haverá, assim, uma carência
absoluta de base legal.
Procedimento
O procedimento é um subelemento adjetivo, não substancial, contudo a sua relevância importa
para a validade da estatuição. É necessário para a validade um procedimento sem vícios. Neste
sentido, requer-se à AP que cumpra todos os trâmites necessários e exigidos para a prática de
determinado ato administrativo. A AP não se pode dar ao luxo de omitir esses trâmites, pois
mesmo em fases preparatórias (como vimos já a seu tempo) apesar de não se produzirem
efeitos externos os efeitos que se produzem projetam-se no ato principal podendo levar à sua
invalidade. Nem sempre há um trâmite legal para o procedimento e que a AP deve respeitar
cuidadosamente, pelo que, por vezes, faculta-se à AP a liberdade de ela própria fixar livremente
o procedimento, dando assim lugar a um procedimento voluntário que não obstam a que
possam ser invalidados por vícios dado o CPA prever que esse procedimento criado pela AP deva
ser racional, no art.56º.
No que toca aos vícios e à sua invalidade tais serão identificados pelo facto de a lei prever tais
requisitos procedimentais e não serem respeitados pela AP no procedimento de certo ato. Mas
mesmo quando seja o procedimento facultativo também, e como já vimos acima, podemos
encontrar vícios de procedimento, quando, por exemplo, a lógica tomada para a tramitação
procedimental seja irracional ou sem qualquer tipo de lógica para o efeito que se ambiciona
obter. Posto isto, por regra estaremos perante a mera anulabilidade, mas quando se puserem
em causa direitos fundamentais procedimentais então a consequência será a nulidade, segundo
o art.161º/2/d) CPA. Como vimos, isto sucede-se quando não ocorre a audiência prévia dos
interessados em procedimentos disciplinares ou em procedimentos sancionatórios, dado que
se até os atos serão inconstitucionais, pois prevê a nossa lei fundamental tal sucedido nos
arts.269º/3 e 32º/10, respetivamente.
Conteúdo
Estamos perante o momento que visa a transformação jurídica que o ato visa produzir. Tem que
ser possível, inteligível e lícito. Assim, a impossibilidade, a ininteligibilidade e a ilicitude do
conteúdo traduzem-se em vícios que devem conduzir à nulidade do ato administrativo por
aplicação analógica do art.161º/2/c) CPA. São tratados também como vícios no conteúdo os
vícios nos atos procedimentais.
Forma
Quando se fala em forma, não se quer apenas referir as formas do atos, como a forma escrita,
etc. Claro, isso será também incluído, mas queremos também inserir aqui as formalidades do
procedimento, como a fundamentação do ato administrativo (152º ss CPA). Neste dever de
fundamentação a doutrina costuma distinguir a diferença entre justificação e de motivação,
sendo que a justificação enuncia uma indicação sobre o fim do ato administrativo, ou seja faz-
se uma referência aos pressupostos , pelo que a motivação tem lugar apenas em atos
discricionários onde se enunciam os interesses que o agente considerou como significativos para
atribuir um determinado conteúdo ao ato na parte em que esta envolva discricionariedade.
Os vícios contarão, aqui, com a anulabilidade do ato. Contudo, podemos estar perante casos de
meras irregularidades pelo que o que se atentar é o facto de o vício formal não se tratar de algo
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Índice
O Conceito de Administração Pública ....................................................................................... 2
As várias acessões ................................................................................................................. 2
Os vários níveis da Administração Pública Portuguesa ......................................................... 3
Regulamento Administrativo .................................................................................................... 5
Regulamento vs. Lei .............................................................................................................. 5
Tipos de Regulamentos Administrativos ............................................................................... 5
Factos Jurídicos no Direito Administrativo ............................................................................... 7
Classificação dos Factos Jurídicos ......................................................................................... 7
Influência dos Factos Naturais no Direito Administrativo .................................................... 7
Ato Administrativo .................................................................................................................... 9
Os tipos/espécies dos Atos Administrativos ....................................................................... 11
Procedimento administrativo ................................................................................................. 12
A Fase Preparatória ............................................................................................................. 12
A Fase Constitutiva ou Decisória ......................................................................................... 16
A Fase Complementar ou Integrativa de Eficácia ............................................................... 19
A Fase Executiva .................................................................................................................. 23
Elementos da Estrutura do Ato Administrativo e Vícios dos mesmos .................................... 25
Sujeito(s).............................................................................................................................. 25
Objeto.................................................................................................................................. 26
Estatuição ............................................................................................................................ 27
___________________________________
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