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A SÍNDROME FATALISTA

Fatalismo

 Conceito: Destino inevitável, inexorável, fatal e desgraçado.


 Rejeição do futuro → Futuro tenebroso / Dele nada se espera a
não ser desgraças;
 Fixação no presente → Presentismo;
 Negação do passado → novas possibilidades de percepção da
realidade e de si.

 Presença de atitudes fatalistas em alguns setores da população latino-


americana;
 Disseminação do estereótipo do latino-americano fatalista → penetração
desse estereótipo na imagem que os latino-americanos fazem de si;
 Estereótipo disseminado por toda sociedade;
Atitude fatalista característica dos setores economicamente desfavorecidos
da população.

A PSICOLOGIZAÇÃO DO FATALISMO

 É imprescindível estudar a origem do fatalismo para pôr em xeque as


concepções psicologizantes.
 De que forma o fatalismo se produz?
 De onde se origina a atitude fatalista das camadas populares?

Superação da naturalização dos estereótipos.

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 Como explicar que as maiorias populares adotem uma concepção de vida
que lhes condena ao imobilismo e à desesperança?

Caráter latino-americano
 Fatalista como traço de caráter do povo latino-americano;
 A personalidade fatalista das camadas populares contribui para a
manutenção da pobreza, a desintegração cultural e a segregação social;
 Os indivíduos marginalizados são responsáveis por sua própria
marginalização;
 A integração das pessoas ao sistema estabelecido depende de seus
traços de caráter e não da natureza do sistema social;
O psíquico seria o fundamento da estruturação social

 Martín-Baró: A eliminação da exclusão social não depende da vontade, do


desejo, da ambição, do esforço ou da coragem das maiorias latino-
americanas.
 Não há relação alguma entre esforço e conquista, motivação e sucesso;
 Não é por falta de esforço e motivação que as camadas populares da
América Latina encontram-se segregadas do sistema social, mas por
falta de possibilidades reais e oportunidades sociais mínimas para
alcançar aquilo de que necessitam;
 A sociedade está estruturalmente organizada de tal forma que
inviabiliza a satisfação das necessidades básicas da maioria
desfavorecida.

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Cultura da pobreza
 Um mundo à parte, diferente e isolado, com suas próprias normas e
valores, comportamentos e hábitos.
 Um estilo de vida que gera o fatalismo;
 Fatalismo como forma de sobrevivência e adaptação da cultura da
pobreza às exigências da ordem dominante.
O fatalismo teria suas raízes no psiquismo das pessoas e não no
funcionamento das estruturas econômicas, políticas e sociais.

 Martín-Baró: contesta a ideia de que existe uma cultura da pobreza que


perpetua o fatalismo, independentemente do que ocorre no sistema social.
 O fatalismo é continuamente causado e reforçado pelo
funcionamento opressivo das estruturas macrossociais.

 Os indivíduos internalizam concepções fatalistas nas suas próprias


experiências com o mundo social.
 Não é a cultura da pobreza que lhes transmite o fatalismo, mas suas
vivências cotidianas lhes mostram a improbabilidade de seus esforços
produzirem transformações efetivas em sua própria realidade;
 Há uma verificação cotidiana da inviabilidade ou inutilidade de
qualquer esforço para modificar as estruturas sociais.

 As classes dominadas não têm possibilidade real de controlar seu próprio


futuro, de definir o horizonte de sua existência e conduzir sua vida de
acordo com essa definição
 As maiorias populares latino-americanas são despojadas dos recursos
básicos, o que as impede de gerir e conduzir sua existência.

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O lugar de nascimento se converte em lugar de destino.

 As concepções fatalistas são transmitidas por organizações institucionais e


processos de socialização, como a educação doméstica, a escola, a igreja, o
trabalho.
O indivíduo vai aprendendo qual é o seu lugar na sociedade.

A FUNCIONALIDADE POLÍTICA DO FATALISMO

1) Mentira do fatalismo: crença de que não é possível modificar a própria vida


porque existe um destino inevitável e imutável determinado pela natureza e
controlado por Deus;
2) Verdade do fatalismo: percepção de que é impossível para as maiorias
populares latino-americanas transformar o sistema social por seus próprios
esforços.

 O funcionamento do sistema social contribui para minar os sonhos e


aspirações dos grupos excluídos, cria obstáculos à sua ação e os mantêm na
mesma situação.
 Os esforços existem, mas os resultados são incipientes.
 A situação de empobrecimento das maiorias populares é mantida
por estruturas sociais e políticas que consolidam o poder dos grupos
dominantes e condenam ao fracasso os esforços de superação dos
grupos dominados.

 Fatalismo: correlato psíquico de determinadas estruturas sociais.

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É antes uma realidade social, externa e objetiva que uma atitude
pessoal, interna e subjetiva.

Fatalismo como interiorização da dominação social


 Os processos de dominação, para adquirir estabilidade, precisam ser parte
do psiquismo humano. Eles se consolidam e se cristalizam quando se
convertem em um sistema ideológico integrado à mentalidade das pessoas.
 Ao ser internalizada, a dominação social conduz as classes dominadas
ao fatalismo, à submissão e à obediência.

 O fatalismo é um processo de dominação social e colonização ideológica.


 Há uma dominação real, de caráter social, a que as maiorias populares
estão submetidas, em virtude da ausência de recursos para
redimensionar suas vidas;
 Essa dominação é interiorizada pelas classes dominadas e se torna
instrumento ideológico que justifica o controle externo e legitima o
poder dominante.

Caráter ideológico do fatalismo


 O fatalismo, além de fornecer sentido à vida das classes marginalizadas,
representa um importante instrumento ideológico das classes dominantes,
visto que induz à aceitação da ordem estabelecida.
 O fatalismo contribui para a manutenção da estrutura social de exclusão e
opressão de duas formas:
1) Estimula a resignação diante das condições sociais, poupando as classes
dominantes de recorrer a mecanismos de coerção. A conduta fatalista
facilita a opressão;

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2) Mantém comportamentos dóceis diante dos imperativos dos poderosos,
favorecendo a reprodução da ordem social.

 O fatalismo é um valioso instrumento para as classes dominantes


consolidarem as estruturas de poder e defenderem seus interesses de classe.

A RUPTURA DO FATALISMO

 A eliminação do fatalismo envolve três processos:


1) Recuperação da memória histórica/ superação do presentismo.
 Resgatar a memória histórica significa reconhecer as origens populares,
adquirir consciência da opressão secular, desenvolver uma identidade
coletiva, perceber a natureza dos problemas cotidianos e identificar-se
com os demais membros da comunidade.

2) Organização das maiorias populares.


 Superação do individualismo, de que cada um deve enfrentar
isoladamente suas condições de vida, de que o êxito ou o fracasso é
algo que concerne ao indivíduo em particular.
 Reconhecimento de que existem interesses comuns entre os membros
das classes dominadas.

3) Prática de classe.
 A consciência histórica, a identidade coletiva e a organização popular
precisam estar articuladas a uma prática coletiva.

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