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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 00ª VARA DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DE XXXXXXXXX – XX

Distribuição por dependência ao Proc. nº .x.x.x. (Ação de Imissão de


Posse)

Intermediados por seu mandatário ao final subscrito -


instrumento procuratório acostado - causídico inscrito na Ordem dos Advogados do
Brasil, seção do ____ sob o nº. ____, com seu escritório profissional consignado
no timbre desta, onde, em atendimento à diretriz do art. 39, inciso I do Estatuto
Buzaid, indica-o para as intimações necessárias, vêm, com o devido respeito à
presença de Vossa Excelência., XXXXXXXXXXX,
XXXXXXXXXXX brasileiro, casado, maior,
funcionário público federal, possuidor do CPF(MF) nº. XXXXXXXXXXXXXXX, e
sua esposa XXXXXXXXXXXXXXXXXX , brasileira, casada, bancária,
possuidora do CPF(MF) sob o nº. XXXXXXXXXXXXXXXX, ambos residentes e
domiciliados na Rua Xista, nº. 000, em XXXXXXXXXXX(XX), para ajuizar a
presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL


c/c

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PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA,

contra CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, instituição financeira sob a forma de


empresa pública, inscrita no CNPJ/MF sob n° XXXXXXXXXXXXXXXXX, com sede
em Brasília – DF e Escritório de Negócios Institucional neste Estado na Rua
.x.x.x. .x.x.x.x, nº. .x.x.x – Centro, XXXXXXXXXX, em decorrência das justificativas
de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

ALÍGERAS CONSIDERAÇÕES FÁTICAS

Os Autores celebraram com a Requerida o contrato de


financiamento nº. XXXXXXXXXXXX, relativamente à aquisição do imóvel sito na
Rua Xista, nº. 000, em XXXXXXXXXXXX(XX), objeto da matrícula imobiliária nº.
XXXXXXX, do Cartório de Registro de Imóveis da 00ª Zona de Fortaleza. (doc.
01)

Os Promoventes, registre-se, residem no imóvel em


questão desde a celebração inicial do pacto, ou seja, trata-se de seus
domicílio e residência.

Os Requerentes estão inadimplentes para coma Ré


das parcelas nº. X.X até a parcela de nº. .X.X, totalizando, hoje, conforme planilha
de evolução de débito fornecida pela Ré, na quantia de R$ .x.x.x.x.x ( .x.x.x.x.x )
(doc. 02).

Em face da inadimplência, a Ré promoveu ação de


imissão de posse contra os Autores(Proc. nº. .x.x.x.x.x) – com o imóvel já
adjudicado à ora Ré --, quando então vieram estes tomar conhecimento da

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existência de leilão extrajudicial do imóvel ora alvo de debate em favor
daquela, com a conseqüente adjudicação do mesmo.

Do processo expropriatória extrajudicial, colacionado


nos autos da referida ação, os ora Promoventes puderam constatar gritante vício
na condução do leilão, visto que não foram notificados para purgar a mora,
muito menos das datas da realização dos leilões. Houve, pois, ofensa à
diretriz fixada no Dec.-Lei nº. 70/66.

Como se percebe pelos documentos ora colacionados,


originários do Cartório de Notas e Títulos, as notificações foram entregues ao
senhor Francisco .x.x.x. .x.x.x. Mendes, o que se constata pela certidão narrativa
inserta na mesma(docs. 03/07). É de se observar que referida pessoa é tão-
somente o porteiro do edifício onde encontra-se o imóvel alvo de expropriação,
conforme declaração aqui acostada pelo Síndico.(doc. 08).

Diante disto, é inarredável que os Autores não foram


regularmente cientificados como define a Lei, resultando em vício insanável do
leilão extrajudicial e dos atos conseqüentes, motivo este do âmago da
presente promoção judicial.

HOC IPSUM EST.

REQUEREM OS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA.

Os Promoventes, inicialmente, vem requerer a Vossa


Excelência os benefícios da gratuidade de justiça , porquanto não têm
condições de pagar as custas processuais, honorários advocatícios e periciais, o
que faz por declaração neste arrazoado inicial( LAJ, art. 4 º), através de seu

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bastante procurador, sob as penas da lei, donde ressalva que não podem arcar
com referida despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio e de sua
família. Afirmam sob as penas da lei. A este propósito, Excelência, juntam
declaração firmada pelos mesmos (doc. 09 )

Dessarte, Excelência, tal prerrogativa legal deve ser


concedida, quando apenas ajoujada à afirmação de ausência de condições
financeiras e seu devido requerimento, à luz da disciplina contida no art. 1º, da
Lei nº 7.115, de 29/09/1993. A singela declaração da parte de que é pobre na
forma da lei e não pode arcar com as despesas judiciais, é suficiente para
atender ao âmago do contexto da lei em espécie.

PROCESSO CIVIL. AGRAVO LEGAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.


BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.
CONCESSÃO.
1. É posição do Superior Tribunal de Justiça que afirmada a necessidade
da justiça gratuita, não pode o órgão julgador declarar deserto o recurso
sem se pronunciar sobre o pedido de gratuidade, de forma que, caso
venha a ser este indeferido, então deverá ser oportunizado à parte o
recolhimento do preparo (RESP 440007).
2. A Lei n. º1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência
judiciária aos necessitados, dispondo que a parte gozará dos benefícios
da assistência judiciária mediante simples afirmação, na própria petição
inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. Artigo
4º. Determina, ainda, que há presunção de pobreza, presunção esta
relativa, que poderá ser afastada mediante prova em contrário. A
agravante encontra-se em situação que justifica a concessão das benesses
da Lei nº 1.060/50, o que, por si só, prima facie, autoriza a concessão do

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benefício. Isto porque, de acordo com a redação do parágrafo 1º do
artigo 4º, presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa
condição nos termos da Lei, sob pena de pagamento até o décuplo das
custas judiciais.
3. Cabe à parte contrária impugnar o direito à assistência judiciária em
qualquer momento do processo, nos termos do artigo 4º, §2º e 7º da Lei
n. º 1.060/50, sendo que a parte que formulou declaração falsa para
obter o benefício indevidamente pode ser condenada ao pagamento até
o décuplo das custas judiciais (artigo 4º, §1º, da Lei n. º 1.060/50).
4. Agravo legal a que se nega provimento. (TRF 3ª R. - AL-AI 0011618-
97.2012.4.03.0000; SP; Quinta Turma; Rel. Des. Fed. Luiz de Lima
Stefanini; Julg. 23/07/2012; DEJF 03/08/2012; Pág. 1000)

Ante o exposto, requerem os Promoventes os


benefícios da gratuidade da justiça, o que faz em razão de não terem
condições financeiras de arcarem com as custas do processo e honorários
advocatícios como periciais.

NECESSIDA DA SUSPENSÃO DA AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE.

Como ficou destacado em linhas anteriores, a Ré


promoveu Ação de Imissão de Posse contra os Autores, em razão do imóvel ora
alvo de debate, processo este tombado sob o nº. .x.x.x.x.x.x, que tramite perante
este respeitoso juízo. Com o ajuizamento da presente Ação Anulatória de Leilão
Extrajudicial, tendo como ponto nodal a anulação da expropriação do bem, torna-
se necessário, à luz da legislação adjetiva civil(CPC, art. 265, IV, ‘a’), que

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aquela querela seja suspensa, mormente quando a questão de fundo de ambas
confundem-se. O resultado de uma ação importa no da outra. Há questão
prejudicial, portanto.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 265 – Suspende-se o processo:

IV – quando a sentença de mérito:

a) depender do julgamento de outra causa, ou da


declaração da existência ou inexistência da relação jurídica,
que constitua objeto principal de outro processo;

A propósito, anota José Frederico Marques:

"Estando pendente, ainda, o processo relativo à questão


prejudicial, deve o juiz ordenar a suspensão do processo da
questão prejudicada, uma vez que não seja possível a reunião
dos dois processos". (José Frederico Marques - Manual de Direito
Processual Civil - 2ª edição, 1998, Editora: Millennium, p. 137)

Ainda sobre as questões prejudiciais que autorizam


a suspensão do processo, ensina Humberto Theodoro:

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"Prejudiciais são as questões de mérito que antecedem,
logicamente, à solução do litígio e nela forçosamente
haverão de influir. A prejudicial é interna quando submetida
à apreciação de mesmo juiz que vai julgar a causa principal. É
externa quando objeto de outro processo pendente. Se a
prejudicial é interna, isto é, proposta no bojo dos mesmos
autos em que a lide deve ser julgada, não há suspensão do
processo, pois seu julgamento será apenas um capítulo da
sentença da causa. Só há razão para a suspensão do
processo, de que cogita o art. 265, nº IV, letra a,
quando a questão prejudicial for objeto principal de
outro processo pendente (questão prejudicial externa,
portanto)." (In, Curso de Direito Processual, vol. I, 43.ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2005, p. 337)

Pede, dessarte, em razão dos fundamentos acima


evidenciados, a suspensão da ação de imissão de posse promovida pela
ora Ré(Proc. nº. .x.x.x.x.x.), o qual tramita perante este respeitoso juízo,
pleito este que o faz em razão da questão prejudicial existente(CPC, art.
265, inc. IV, ‘a’).

ILEGALIDADE NA CONDUÇÃO DA EXPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL

Conforme anunciado no tópico das linhas fáticas, os


Autores não foram sequer notificados para purgar mora , tendo o ato de
ciência sido entregue a um terceiro.

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Tal condução, impende que se destaque, infringiu o
quanto preceituado pelo Dec. Lei nº. 70/66, o qual trata de procedimento de
execução extrajudicial.

“Art. 31. Vencida e não paga a dívida hipotecária, no todo ou em


parte, o credor que houver preferido executá-la de acordo com
este decreto-lei formalizará ao agente fiduciário a solicitação de
execução da dívida, instruindo-a com os seguintes documentos:

(...)

§ 1º Recebida a solicitação da execução da dívida, o agente


fiduciário, nos dez dias subseqüentes, promoverá a notificação
do devedor, por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos,
concedendo-lhe o prazo de vinte dias para a purgação da mora.

§ 2º Quando o devedor se encontrar em lugar incerto ou não


sabido, o oficial certificará o fato, cabendo, então, ao agente
fiduciário promover a notificação por edital, publicado por três dias,
pelo menos, em um dos jornais de maior circulação local, ou
noutro de comarca de fácil acesso, se no local não houver
imprensa diária.

Art 32. Não acudindo o devedor à purgação do débito, o agente


fiduciário estará de pleno direito autorizado a publicar editais e a
efetuar no decurso dos 15 (quinze) dias imediatos, o primeiro
público leilão do imóvel hipotecado.

§ 1º Se, no primeiro público leilão, o maior lance obtido fôr inferior


ao saldo devedor no momento, acrescido das despesas constantes

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do artigo 33, mais as do anúncio e contratação da praça, será
realizado o segundo público leilão, nos 15 (quinze) dias seguintes,
no qual será aceito o maior lance apurado, ainda que inferior à
soma das aludidas quantias.”

Assim, os documentos que aqui colacionados(docs.


03/07) não comprovam que os mutuários, ora Autores, tenham de fato
recebido a notificação para purgar a mora e nem mesmo para realização
do leilão extrajudicial.

Neste contexto, Excelência, não tendo sido cumpridas


as formalidades legais necessárias à informação dos mutuários acerca da
instauração da execução extrajudicial, importa que seja reconhecida a sua
ilegalidade com a conseqüente anulação do ato adjudicatório, da carta de
adjudicação e do registro imobiliário, mormente pelo motivo que fora
preterida do direito de defesa dos mutuários, ora Autores, na fase
extrajudicial, ou seja, relativa à purgação da mora.

PROCESSO CIVIL. CIVIL. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL (DL 70/66). DEVIDO


PROCESSO LEGAL. DEVEDOR NÃO ENCONTRADO. NOTIFICAÇÃO POR
EDITAL. NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
IMPROVIMENTO.
1. A despeito de sua constitucionalidade assentada pelo stf, a execução
extrajudicial do dl 70/66 não há que, na sua materialização, olvidar o
devido processo legal.
2. Antes da utilização da via editalícia, impõe-se o esgotamento de todos
os meios possíveis para a localização do réu, sob pena de nulidade do ato.
Hipótese em que restou demonstrado que a cef, ao promover a execução
extrajudicial, requereu que fossem pessoalmente notificados os

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devedores, tendo estes sido intimados por edital tão somente em razão
do insucesso do tabelião em encontrá-los.
3. Nada obstante, observa-se nos autos que os devedores foram
notificados pessoalmente quando da ocasião dos leilões 4. Apelação
improvida. (TRF 5ª R. - AC 0000150-57.2011.4.05.8200; PB; Quarta
Turma; Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior; Julg. 12/06/2012; DEJF
15/06/2012; Pág. 697)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SFH. DEC. LEI Nº 70/66.


CONSTITUCIONALIDADE, CONFORME ORIENTAÇÃO DO STF. AÇÃO
ANULATÓRIA DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. IRREREGULARIDADE.
SENTENÇA ANULADA.
1. Conforme orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, é
constitucional a execução extrajudicial prevista no Decreto Lei nº 70/66.
2. Embora haja opção de processo pelo credor (Decreto-Lei n. 70/66 ou
ação executiva na forma da Lei n. 5.741/71), a escolha não afasta a
incidência de normas como a do artigo 7º da Lei n. 5.741/71, de que se
extrai a possibilidade de adjudicação do imóvel hipotecado ao exeqüente,
pelo valor do saldo devedor e que se aplica à generalidade dos contratos
celebrados sob a égide do sistema financeiro da habitação.
3. A regularidade do processo de execução extrajudicial exige observância
das formalidades que lhe são inerentes, como o prévio encaminhamento
de, pelo menos, dois avisos de cobrança (art. 31, IV, Decreto-Lei n.
70/66), a válida notificação dos mutuários para purgarem a mora (art. 31,
§§1º e 2º, DL 70/66) e a intimação acerca das datas designadas para os
leilões.
4. O Superior Tribunal de Justiça pacificou orientação de que, nos termos
estabelecidos pelo parágrafo primeiro do art. 31 do DL 70/66, a

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notificação pessoal do devedor, por intermédio do cartório de títulos e
documentos, é a forma normal de cientificação do devedor na execução
extrajudicial do imóvel hipotecado. Todavia, frustrada essa forma de
notificação, é cabível a notificação por edital, nos termos do parágrafo
segundo do mesmo artigo, inclusive para a realização do leilão (STJ, eag
1140124/SP, ministro teori albino zavascki, corte especial, dje de
21/06/10).
5. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento assente no sentido da
necessidade de notificação pessoal do devedor do dia, hora e local da
realização do leilão de imóvel objeto de contrato de financiamento,
vinculado ao sistema financeiro da habitação, em processo de execução
extrajudicial sob o regime do Decreto-Lei n. 70/66 (RESP. 697093/RN, Rel.
Ministro Fernando Gonçalves, quarta turma, DJ de 06/06/05).
6. Na hipótese dos autos, ficou comprovado que não foram
satisfatoriamente cumpridas as formalidades legais tendentes a informar
os mutuários acerca das datas dos leilões, pois para este fim foram
apenas publicados editais.
7. Deve ser anulada a execução extrajudicial, uma vez que os mutuários
não foram intimados da realização dos leilões públicos. Legítimo,
portanto, o interesse dos mutuários na revisão contratual.
8. Inaplicável o art. 515, § 3º, do código de processo civil, para o imediato
julgamento da causa por esta corte, uma vez que é indispensável
produção de prova pericial para esclarecer questão concernente ao
cumprimento do plano de equivalência salarial em contrato de mútuo do
SFH.
9. Apelação parcialmente provida para anular a sentença, com retorno
dos autos à vara de origem, a fim de que seja realizada prova pericial.
(TRF 1ª R. - Proc. 19547-16.2004.4.01.3300; BA; Quinta Turma; Rel. Juiz

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Fed. Conv. Evaldo de Oliveira Fernandes Filho; Julg. 01/02/2012; DEJF
10/02/2012; 1230)

SFH. NULIDADE DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. LEI Nº 9.514/97.


AUSÊNCIA DE NOTIF ICAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NULIDADE
RECONHECIDA.
1. É indispensável, para validade da consolidação da propriedade em
nome do fiduciante, a prova sobre a efetiva notificação do devedor, para
que possa exercer o seu direito de purgar a mora (art. 26, § 1º, da Lei nº
9.514/97).
2. Os documentos adunados aos autos demonstram que a intimação se
deu uma única vez, e pelo correio, o que destoa dos princípios da ampla
defesa e do devido processo legal, bem como da legislação que rege a
matéria, pois já vigia a Lei nº 8.004/90, que impôs a necessidade de
intimação pessoal por oficial de Cartório de Títulos e Documentos.
3. Recurso parcialmente provido. Sentença reformada para julgar
procedente o pedido de anulação da consolidação da propriedade em
nome da CEF, determinando o retorno dos autos à Vara de origem para a
apreciação dos demais pedidos, antes julgados prejudicados. (TRF 2ª R. -
AC 0000516-04.2007.4.02.5102; Sexta Turma Especializada; Rel. Des. Fed.
Frederico Gueiros; Julg. 23/01/2012; DEJF 30/01/2012; Pág. 152)

DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

Devemos sopesar, inicialmente, que a avaliação do


pacto ora alvo de debate tem que levar em conta o aspecto social, mormente

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quando celebrado no âmbito do SFH – o qual tem como escopo básico
possibilitar aquisição da casa própria -- , ou seja, ligado ao direito à moradia.

LEI ORDINÁRIA nº 4.380, de 21 de agosto de 1964

INSTITUI A CORREÇÃO MONETÁRIA NOS CONTRATOS IMOBILIÁRIOS DE


INTERESSE SOCIAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

CAPÍTULO III - Do Sistema Financeiro Da Habitação De Interesse Social


- Artigos 08 a 15.
SEÇÃO I - Órgãos Competentes do Sistema - Artigo 08.

...
Art. 8º. O Sistema Financeiro da Habitação, destinado a facilitar
e promover a construção e aquisição da casa própria ou
moradia, especialmente pelas classes de menor renda da
população, será integrado:

...

Desta maneira, Excelência, o contrato de


financiamento ora em exame, não pode ter por fim saliente o lucro , a
remuneração do capital. Destina antes, repise-se, facilitar a aquisição de moradia
ao trabalhador que não dispõe, a um só lanço, dos recursos financeiros bastantes
para adquiri-la. Se o fosse, ou seja, um empréstimo comum, não haveria
necessidade da intervenção estatal no escopo de criar um plano cujo confessado
intento é viabilizar aos menos favorecidos a aquisição de sua moradia; não, ao
revés, eternização de verdadeiros alugueres que, mesmo que pagos com
exação, traz à tona, em regra, uma dívida que jamais possa ser adimplida.

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A propósito, encontra-se expressamente prevista
no texto constitucional como de ordem social, é merecedora de especial
atenção do Poder Público. Observe-se que houvera manifestação do Poder
Constituinte Derivado Reformador, o qual elevou a moradia ao status de direito
constitucional. A chamada competência reformadora exercida pelo Congresso
Nacional ampliou o rol dos conhecidos direitos sociais, com a Emenda
Constitucional n° 26, de 14 de Fevereiro de 2000, que alterou a redação do art. 6°
da Constituição Federal:

Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o


trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição. (NR)
(Redação dada pela EC 26, de 14.02.2000)

Por óbvio, que isso implica em um dever do Estado em


adotar políticas públicas socialmente ativas. Mas isso não acontece. Por conta
disto, cabe ao Poder Judiciário remover estas incompatibilidades sociais,
maiormente com a adoção de medidas a afastar condutas nefastas.

De outro bordo, o novo Código Civil trouxera diversas


disposições que modificaram profundamente o direito contratual em nosso
ordenamento jurídico, dentre as quais revela-se de maior grandeza, que o
contrato deve atender sua função social. Vale dizer, que a função social do
contrato -- que teve sua origem na Constituição da República de 1988 -- ,
implica reconhecer que tanto a conclusão, quanto o próprio exercício
contratual, não interessa somente às partes diretamente envolvidas, mas a
toda a coletividade.

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A função social, ademais, caracteriza-se como um
substrato do princípio constitucional da solidariedade , disposto no art. 3º, inc.
I, da Carta Magna.

Não se diga que a inserção dos contratos num plano


transindividual, indubitavelmente não conflita com o princípio do pacta sunt
servanda , de origem romanista, que permanece com observância obrigatória.

Em verdade, a aplicação do princípio do pacta sunt


servanda encontra-se, atualmente, mitigado tendo em vista a aplicação da teoria
da função social do contrato que é decorrência lógica do princípio
constitucional dos valores da solidariedade e da construção de uma
sociedade mais justa (CF 3º, I), nos termos do que dispõe o Código Civil

CÓDIGO CIVIL
Art. 421 - A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato.

Art. 2.035 - A validade dos negócios e demais atos jurídicos,


constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus
efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos
dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes
determinada forma de execução.

Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar


preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este

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Código para assegurar a função social da propriedade e dos
contratos.

Dado que adequado ao assunto em liça, é de se


registrar as lições de Adriana Mandim Theodoro de Mello, encontradas em seu
artigo publicado na RT 801/11: A função social do contrato e do princípio da boa-
fé no novo Código Civil Brasileiro:

"O contrato, há muito, deixou de ser entendido como exercício


absoluto da autonomia do indivíduo. Instrumento de operações
econômicas e indispensável ao regramento do convívio social, o
contrato, atualmente, é inspirado por princípios éticos e
disciplinado conforme os interesses da sociedade na
manutenção da justiça social, na distribuição mais justa das
riquezas e na promoção do progresso econômico. Tal qual a
propriedade, não pode ser manejado com abuso, devendo
cumprir sua função social (arts. 421 e 422 do novo Código
Civil).
Os contratantes, agora entendidos como parceiros leais e probos,
hão de auferir suas vantagens, segundo expectativas legítimas,
dentro de uma equação econômica razoável, que não represente
excessos irracionais e desproporcionais segundo as praxes de
mercado e as leis da livre economia tutelada pela Carta Magna
(CF, art. 170, IV).
...
A moderna teoria dos contratos não enfraqueceu a autonomia da
vontade, apenas deu-lhe outro enfoque para fortalecer a
verdadeira liberdade de contratar entre personagens
socioeconômicos tão desiguais, pois sem vontade autônoma e livre
não há contrato.

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Nesse contexto, o princípio da boa-fé é entendido como dever de
cada contratante conduzir-se de forma a permitir que a relação
contratual atinja os seus fins socioeconômicos, respeitada a
equação econômica instituída pelas partes em convenção livre."
( destacamos )

Na mesma orientação são as linhas de Sílvio de


Salvo Venosa, quando assevera que :

"O controle judicial não se manifestará apenas no exame das


cláusulas contratuais, mas desde a raiz do negócio jurídico. Como
procura enfatizar o atual diploma, o contrato não mais é visto pelo
prisma individualista de utilidade para os contratantes, mas no
sentido social de utilidade para a comunidade. Nesse diapasão,
pode ser coibido o contrato que não busca essa finalidade." ( In,
Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, v. 2. p. 390)

Desta maneira, e por fim, espera o Autor, como


dito alhures, que a análise da pretensão em liça seja apreciada, também,
e maiormente, à luz do aspecto social que alcançará a solução deste
litígio.

TUTELA ANTECIPADA – SUSPENSÃO DE ATOS DE IMISSÃO DE POSSE

Nos termos do art. 273 da Legislação Adjetiva


Civil :

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“O juiz poderá a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente,
os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo
prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e”:

I- haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil


reparação;...”

Pleiteiam os Autores a antecipação parcial da tutela


pretendida, qual seja a suspensão de todo e qualquer ato de posse da Ré
no imóvel ora alvo de litígio , e, mais, a suspensão do trâmite do processo
nº. .x.x.x.x.x.(Ação de I m issão de Posse) , em face da questão prejudicial
que encontra-se agregada aos processos.

Como antecipação dos efeitos da medida definitiva,


dada a urgência da prevenção , nesta se avalia a provável existência do direito
pleiteado, na forma de um juízo de probabilidade de sua real efetividade. “ In
casu”, destacamos a verossimilhança das alegações .

Para esclarecer a peculiaridade do tema, oportuno é


trazer as lições de Cândido Rangel Dinamarco :

"Aproximadas as duas locuções formalmente contraditórias


contidas no art. 273 do Código de Processo Civil (prova inequívoca
e convencer-se da verossimilhança), chega-se ao conceito de
probabilidade, portador de maior segurança do que a mera
verossimilhança. Probabilidade é a situação decorrente da
preponderância dos motivos convergentes à aceitação de
determinada proposição, sobre os motivos divergentes. (...) A
probabilidade, assim conceituada, é menos que a certeza, porque

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lá os motivos divergentes não ficam afastados mas somente
suplantados; e é mais que a credibilidade, ou
verossimilhança , pela qual na mente do observador os motivos
convergentes e os divergentes comparecem em situação de
equivalência e, se o espírito não se anima a afirmar, também não
ousa negar." (A Reforma do Código de Processo Civil. São
Paulo: Malheiros Editores, 2.ed., 1995, p. 143 ).

Nesse diapasão, também leciona José Roberto dos


Santos Bedaque :

"Afirmação verossímil versa sobre fato com aparência de


verdadeiro. Resulta do exame da matéria fática, cuja veracidade
mostra-se provável ao julgador. O juízo de verossimilhança
sobre a existência do direito do autor tem como parâmetro
legal a prova inequívoca dos fatos que o fundamentam .
Embora tal requisito esteja relacionado com o necessário à
concessão de qualquer cautelar - fumus boni iuris -, tem-se
entendido que tais expressões não são sinônimas, pois prova
inequívoca significa um grau mais intenso de probabilidade da
existência do direito. Seria necessário, aqui, não apenas versão
verossímil dos fatos, mas também a existência de prova apta a
revelar o elevado grau de probabilidade da versão apresentada
pelo autor. Prova inequívoca da verossimilhança implicaria,
portanto, juízo cognitivo mais profundo do que o exigido no art. 798
para a cautelar , mas inferior à cognição plena e exauriente que
antecede a tutela definitiva. (...) A exigência de prova inequívoca,
aparentemente paradoxal, visa chamar a atenção para a
necessidade de forte probabilidade de que os fatos sejam
verdadeiros e o requerente tenha razão. (...) Existirá prova
inequívoca toda vez que houver prova consistente, capaz de

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formar a convicção do juiz a respeito da verossimilhança do direito.
Se se tratasse de prova inequívoca da existência do direito, a
tutela não seria antecipatória, mas a própria tutela satisfativa final"
(Código de Processo Civil Interpretado. Antônio Carlos
Marcato, coordenador. São Paulo: Atlas, 2004. p. 796 ).

Os fundamentos expostos ao longo desta peça são


verossímeis, sobretudo quando ficou comprovado através de documentos
insertos com esta exordial que os Autores não foram regularmente
notificados para purgar a mora e do leilão extrajudicial, nos moldes do
quanto assevera o Dec. Lei nº. 70/66 .

O “ periculum in mora ” ou fundado receio de lesão


de difícil reparação, é de importância se levar em conta que seria incoerente e
prematuro privarem os Promoventes da posse de um imóvel residencial ,
além do que ofenderia ao chamado direito à moradia , consagrado como
garantia constitucional(CF, art. 6º, caput ).

Por tais razões requerem os Autores a concessão da


TUTELA ANTECIPADA no sentido de:

S uspensão de todos atos de posse do imóvel alvo de debate judicial

No que diz respeito à suspensão dos atos de imissão de


posse, pede-se que:

1) Pleiteiam sejam manutenidos na posse do imóvel descrito nesta peça processual,


expedindo-se para tanto o competente mandado para tal finalidade, com a

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conseqüente suspensão dos efeitos da adjudicação extrajudicial do imóvel objeto
do contrato de financiamento habitacional celebrado com a Ré;

2) Pede , outrossim, em face da discussão judicial do débito , que seja determinada a


suspensão do processo nº. .x.x.x.x.(Ação de Imissão de Posse), , até ulterior
deliberação deste juízo, deferindo-se a necessária medida emergencial impedindo
sejam adotadas medidas, extrajudiciais ou judiciais, de imissão de posse pela
Promovida, bem assim não haja transferência do imóvel alvo de reclamo a
terceiros ;

PEDIDOS
Em arremate, requerem os Promoventes que Vossa
Excelência se digne de julgar a pendenga nos seguintes moldes:

1) Julgar procedentes os pedidos


formulados na presente ação, para
declarar inválida a execução
extrajudicial, com o conseqüente
cancelamento do registro de averbação
da Carta de Adjudicação a favor da Ré,
instando o Tabelionato a adotar as
providências necessárias para retornar
a matrícula do imóvel ao status quo
ante, condenando a Promovida ao
pagamento do ônus de sucumbência;

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2) seja ratificada, na ocasião da
sentença, por definitivo, todos os
pleitos de tutela antecipatória;

3) determinar a CITAÇÃO e INTIMAÇÃO da


Requerida, para, querendo, vir
contestar a presente Ação Anulatória de
Leilão Extrajudicial, no prazo de 15
(quinze)dias;

4) protesta provar o alegado por toda


espécie de prova admitida (CF, art. 5º,
inciso LV), nomeadamente pelo
depoimento do representante legal da
Promovida (CPC, art. 12, inciso VI),
oitiva de testemunhas a serem arroladas
opportuno tempore, juntada posterior de
documentos como contraprova, perícia
contábil(com ônus invertido), exibição
de documentos pela Promovida, tudo de
logo requerido.

Concede-se à causa o valor de R$ .x.x.x.x ( .x.x.x.x.x).

Respeitosamente, pede deferimento.

XXXXXXXXXX(XX), .x.x. de x.x.x.x.x do ano de .x.x.x.


P.p. Fulano(a) de Tal

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Advogado(a)

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