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TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
Caro colega, nosso primeiro contato tem por objetivo obtermos uma visão
ampla do que tratará este módulo e dos temas que serão objeto de nosso estudo
sobre tutelas diferenciadas de urgência.
Como é de conhecimento geral, em 16 de março 2015 foi promulgada a Lei
n. 13.105, contendo o texto do Novo Código de Processo Civil, que entrou em
vigor em março de 2016.
No novo texto legal, foram introduzidas diversas alterações em relação à
legislação revogada, não só de ordem processual ou prática, mas também em
matéria doutrinária, filosófica e funcional.
Nesses nossos encontros, trataremos de estudar as novas disposições
legais referentes às tutelas de urgência e, sempre que possível e pertinente for,
faremos as devidas comparações com o Código de Processo Civil de 1973.
Como ponto de partida, nesta primeira aula, abordaremos, ainda de forma
perfunctória, o aspecto histórico e evolutivo não apenas do processo civil, mas
também das diversas espécies de tutelas, jurisdicionais ou não.
Os temas acima elencados têm por objetivo servir de base para que seja
possível avançar com segurança em nossa disciplina. São noções preliminares
necessárias para permitir uma maior compreensão sobre o tema central de nossa
matéria.
Bons estudos!
CONTEXTUALIZANDO
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julgador, para proferir qualquer decisão contra uma das partes, deverá observar
os princípios constitucionais vigentes.
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inspirou o princípio do contraditório, que impõe ao juiz a prévia audiência de
ambas as partes antes de se proferir a decisão1.
Já a evolução do direito processual romano deu-se através de três fases
distintas. Em uma primeira fase (período primitivo ou legis actiones), os
procedimentos eram exclusivamente orais, com excessivo rigor em relação às
formalidades (rituais). Não existia representação por defensor público ou
particular, e só os cidadãos romanos podiam se valer das chamadas “ações de
lei” (três de conhecimento ou apenas declaratórias e duas de execução). O
processo se desenvolvia da seguinte forma: (i) inicialmente, perante o magistrado,
que era o responsável por conhecer da ação e delimitar o objeto da quizila; e (ii)
na sequência, a demanda era apresentada perante árbitros (cidadãos romanos)
que coletavam as provas e prolatavam a sentença2.
Na segunda fase, chamada de Período Formulário, as decisões passaram
a ser proferidas por magistrados com respaldo estatal. Uma vez conhecida a ação,
entregava-se ao postulante um formulário escrito para que expusesse suas
razões. Nessa época, já era permitida a representação por advogados3.
A terceira e última fase do direito processual romano (Período da Cognitio
Extraordinaria) se deu entre o ano 200 e 565 de nossa era. Suas características
principais: a função jurisdicional pelo Estado, desaparecendo os árbitros privados;
o procedimento assume forma escrita, contendo o pedido do autor, a defesa do
réu, a instrução, a sentença e sua execução, admitindo também o recurso.
Adentrando-se a Idade Média, com a queda do Império Romano do
Ocidente e a mescla dos elementos jurídicos germânicos com os da Roma
Clássica, passa-se a atribuir alto significados as Ordálias ou “juízos de Deus”, a
quem se considerava como partícipe dos julgamentos. Passou-se à fase de
processo meramente acusatório e o ônus da prova cabia ao acusado. É nessa
fase que o Direito Canônico (preservador das fórmulas do direito romano) faz um
trabalho de salvamento das instituições pré-processuais.
Pode-se afirmar que o Processo Comum era escrito, complexo e lento.
Nele, a prova e a sentença voltaram a se inspirar no direito romano. Muito embora
1 A respeito consulte: GRECO, L. Revista Dialética de Direito Processual, n. 24, março 2005, p.
71; ARISTÓTELES. Retórica. Tradução de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e
Abel do Nascimento Pena. 3. ed. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006.
2 Sobre isso, ver: Hespanha, 1997, p. 77.
3 Sobre isso, ver: Theodoro Júnior, 1989, p.10.
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o direito canônico eliminasse algumas formalidades, preservam-se as torturas
como meio de obtenção da verdade no processo.
Ainda importa destacar que, nessa fase metodológica do praxismo
(procedure), o processo civil era considerado mero apêndice do direito material,
não havendo grandes preocupações em criar uma sistemática própria para o
processo civil, como o estabelecimento de conceitos, regras e princípios.
2.1 O processualismo
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Aqui, teleologicamente, o processo civil passa a encartar três grandes
escopos sistemáticos: (i) o escopo social, com finalidade de pacificação social; (ii)
o escopo político, com a afirmação da autoridade estatal; e (iii) o escopo jurídico,
com a tarefa de concretizar a vontade da lei e do direito.
Isso significa que toda e qualquer tutela referente aos direitos materiais
precisa, necessariamente, figurar dentro desses escopos processuais para
justificar-se.
Sobre o período instrumentalista, fase metodológica que vivemos até o
advento do CPC/2015, mister se faz analisar as obras de Mauro Cappelletti, José
Carlos Barbosa Moreira, Cândido Rangel Dinamarco e Ada Pellegrini Grinover,
dentre outros.
Esta é a fase em que nos encontramos hoje. Nela, o processo civil deve
ser visto sob a ótica da principiologia constitucional. Isso significa que o processo
civil não é um fim em si mesmo. Agora, deve-se buscar novos parâmetros, mais
amplos que não somente o processual. Daniel Mitidiero (2015, p. 43) bem
assevera:
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TEMA 3 – O DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO
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projetos e fazer opção por um deles, após análise minuciosa. Não poderia haver
uma terceira via. Qualidades e defeitos de qualquer dos dois projetos teriam que
ser acatadas em bloco.
Finalmente, em 17 de dezembro de 2014, foi apresentado pelo Senador
Vital do Rêgo o Parecer n. 956/2014, que veio a ser aprovado pelo Plenário,
sendo, depois, complementado e corrigido pelo Parecer n. 1.099/2014 – tudo
depois seria levado à sansão presidencial.
Somente dois meses depois, entretanto, o texto decidido e aprovado,
através do Parecer n. 956/2014, e alterado, sem que o plenário fosse ouvido, pelo
Parecer n. 1.099/2014, chegou para a sanção presidencial, novamente
modificado, o que deixou alerta e chocada toda a comunidade jurídica.
Tinha vindo à luz o Parecer n. 1.111/2014, que, afinal, trouxe o texto
definitivo do Novo CPC (com os vetos presidenciais), tal como foi publicado em
17/03/2015 como a Lei n. 13.105/2015.
O novo Código de Processo Civil trouxe inúmeras alterações em relação
ao CPC revogado. Dentre as mais sentidas podemos destacar: (i) a
constitucionalização do processo civil; (ii) uma maior ênfase aos meios
alternativos de resolução de conflitos (equivalentes jurisdicionais), como a
conciliação, a mediação e a arbitragem; (iii) a eliminação do processo cautelar,
com a introdução de uma nova sistemática para as tutelas provisórias (urgência e
evidência); (iv) a tentativa de uniformização da jurisprudência, para torná-la
coerente, íntegra e estável (art. 926, CPC/15); (v) a introdução do chamado
Negócio Processual, que busca privilegiar a autonomia da vontade das partes em
disputa judicial; e (vi) prescrição de alterações substanciais em matéria recursal6.
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FINALIZANDO
LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
GRINOVER, A. P. et al. Teoria geral do processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros,
2003.
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AULA 2
TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
CONTEXTUALIZANDO
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É claro que o Estado não tem o monopólio na solução de conflitos. Vimos
que existem outras formas de resolução de conflitos, como a própria autotutela, a
composição, a conciliação e a mediação privadas e a arbitragem (equivalentes
jurisdicionais). É bem verdade que o Estado detém uma melhor eficiência na
solução de conflitos, haja vista que o direito, que vai respaldar a atuação do
Estado, se caracteriza pela coercibilidade que escolta seus preceitos.
Vimos também que tutelar significa amparar, assistir, proteger. Em relação
à tutela jurisdicional de direitos, o Estado desempenhará essa tarefa via Poder
Judiciário, através de uma função específica chamada tutela jurisdicional.
A função jurisdicional visa, justamente, a atuação da norma, compondo
conflitos de interesses, de modo a resguardar a ordem jurídica. Teleologicamente,
sua finalidade é de pacificar as relações interpessoais e/ou intergrupais, o que se
dá com a afirmação da vontade da lei, atribuindo a cada um aquilo que é seu,
como já idealizava Ulpiano, jurisconsulto romano.
A jurisdição representa, portanto, não só um poder, mas também um dever
de proporcionar proteção. Se fosse somente um poder, o Estado poderia optar em
não prestar a tutela; como sabemos, ele é obrigado. Por isso mesmo que a
jurisdição é representada pelo binômio poder-dever. Assim, podemos extrair o
conceito de jurisdição como sendo o poder-dever do Estado em substituir os
interesses daqueles indivíduos envolvidos no conflito pela vontade da lei, com
vistas à pacificação social.
Sobre o tema, importante revisitar as obras de Francesco Carnelutti,
Giuseppe Chiovenda, Ada Pelegrini Grinover e Moacyr Amaral Santos.
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2.1 Tutela preventiva e tutela repressiva
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obtida a tutela específica, que obriga o profissional a realizar o trabalho
previamente ajustado. Se for impossível a realização material ou temporal do
serviço, a obrigação será convertida em perdas e danos com todos os reflexos
legais referentes ao inadimplemento.
Para um melhor aprofundamento do tema, é mister visitar os pensamentos
da escola italiana de processo civil, como as obras de Adolfo di Majo (La tutela
civile dei diritti) e Lodovico Barassi (La teoria generale dele obblizazioni).
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ulterior apenas vai revelar em que momento os efeitos da tutela serão sentidos no
mundo exterior.
Saiba mais
Voltaremos a tratar desses assuntos com mais profundidade nas aulas
subsequentes. Por ora, gostaríamos de sugerir a vocês a leitura da seguinte obra:
6
Portanto, nenhuma das espécies de tutelas de urgência, satisfativas ou
não, será temporária, mas sim provisória. Retomaremos esse assunto no decorrer
de nossas aulas.
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Segundo a melhor doutrina, a cognição deverá ser analisada sob duas
perspectivas: uma exauriente, para formar um juízo de certeza, e a outra sumária,
visando à formação de um juízo de probabilidade. Será exauriente a cognição
quando da análise do caso concreto não restarem quaisquer dúvidas em relação
ao direito discutido. Assim, haverá o esgotamento da análise judicial, podendo-se
entregar aos jurisdicionados um juízo de certeza.
No entanto, será superficial a cognição se no momento em que se proferir
a decisão judicial não for possível uma análise acurada, detalhada e completa de
tudo que envolve a demanda para emanar um juízo de certeza, mas suficiente
provável para entregar, naquele momento, mesmo que de forma provisória, a
tutela pretendida.
Já os juristas Alexandre Freitas Câmara e Luiz Guilherme Marinoni
sugerem outra classificação para a cognição no processo civil. Ambos dividem a
cognição quanto à sua profundidade (cognição vertical) e com relação à amplitude
(cognição horizontal).
Saiba mais
Abaixo, obras de mestres para o aprofundamento do conhecimento de
vocês.
FINALIZANDO
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LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
MIRANDA, P. de. Tratado das ações. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves.
Campinas: Bookseller, 1998.
SANTOS, M. A. Primeiras linhas de direito processual civil. 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. v. 3.
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AULA 3
TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
CONTEXTUALIZANDO
É por isso mesmo que a segurança jurídica não nasce para alimentar o ser
humano somente dos ideais de justiça e equidade, mas também serve para
“preencher uma inquietude de segurança e de certeza na vida social” (Siches,
3
2008, p. 220). Isso significa que só haverá segurança jurídica no momento em que
o jurisdicionado confiar nas instituições republicanas, gerando um sentimento de
tranquilidade e paz social.
É nesse sentido que Joaquim José Gomes Canotilho (1995, p. 373) ao
lecionar sobre a segurança jurídica assim exemplifica:
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TEMA 3 – A PROVISORIEDADE E A REVOGABILIDADE DAS TUTELAS DE
URGÊNCIA
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Por óbvio que qualquer decisão judicial no sentido de revogar a tutela já
concedida deverá observar o princípio do contraditório, exigindo-se que o julgador
oportunize a manifestação das partes envolvidas na relação jurídica processual
antes de proferir tal decisão (CPC, art.10).
a. Atos instrutórios antecipados para que não haja perda da fonte da prova.
b. Atos destinados a assegurar a efetividade da execução, justamente para
impedir o desvio de bens sobre os quais recairão os atos expropriatórios.
c. Decisões judiciais determinando a prestação de caução, para garantir
eventual prejuízo contra a parte que foi proferida a tutela cautelar; entre
outras.
6
todos os casos, meramente assecuratória, não se aproximando em absoluto do
bem da vida, almejando apenas a efetividade do processo.
Novamente Marinoni (2008) aclara a diferença:
Saiba mais
Para melhor entendimento das diferenças apontadas acima, é capital visitar
a seguinte obra:
CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria Geral do
Processo. 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.
Saiba mais
A respeito, consulte:
MARINONI, L. G. Prova, convicção e justificativa diante da tutela antecipatória.
Jus Navegandi, Teresina, a. 10, n. 1182, 26 set. 2016. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/8847/prova-conviccao-e-justificativa-diante-da-tutela-
antecipatoria/3>. Acesso em: 5 ago. 2018.
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Teresa Arruda Alvim Wambier (2015, p. 501) é cirúrgica ao aduzir:
FINALIZANDO
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LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
SICHES, R. Filosofia del derecho. 19. ed. México: Editorial Porrúa, 2008.
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AULA 4
TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
CONTEXTUALIZANDO
Após a leitura deste material, espera-se que você consiga encontrar uma
saída jurídica para o seguinte caso concreto.
José Francisco (autor) ajuíza demanda contra uma empresa de publicidade
que está veiculando um comercial que viola a honra do requerente. Para tanto,
Francisco requer indenização por danos morais na ordem de R$ 35.000,00.
Considerando que você é o juiz da causa e ao fazer o juízo de
admissibilidade entende, ao ver o comercial televisivo em questão, que existe
probabilidade de que o direito da personalidade de Francisco esteja sendo violado
e, decide, para evitar agravamento da situação do requerente, conceder uma
tutela de urgência em favor do requerente no sentido de impedir imediatamente a
veiculação do comercial.
Dessa forma, questiona-se:
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distintas, uma assecuratória (cautelar) e outra satisfativa (antecipada), elas
possuem a mesma inclinação jurídica, que é a de paralisar os malefícios do tempo
no processo. Foi exatamente por essa razão que o novo CPC, em certa medida,
tratou de unificar o regramento destinado a essas duas espécies de tutela
(Wambier, 2015, p. 295).
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será materialmente impossível se pleitear sua concessão de forma
antecedente.
5
O art. 300 do CPC revela que a tutela provisória de urgência pode ser
concedida “quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
Já o parágrafo 1º do referido artigo prevê que as tutelas de urgência
poderão, conforme o caso, ser concedidas mediante caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que a outra parte vier a sofrer.
O parágrafo 2º do art. 300 do CPC, por sua vez, estabelece que a tutela de
urgência poderá ser concedida liminarmente ou após justificação prévia, isto é,
cerimônia judicial responsável por esclarecer e fornecer elementos de convicção
ao magistrado, uma vez que os argumentos e provas trazidas no bojo da petição
inicial não conseguiram atingir seu desiderato inicial, para autorizar o juízo em
relação a concessão da medida de urgência.
Além dessas hipóteses temporais para a concessão da tutela de urgência,
ainda será possível o deferimento da medida quando da prolação da sentença,
afastando a incidência do efeito suspensivo da decisão. Também será possível a
concessão da tutela de urgência em grau recursal.
O art. 297 do Novo CPC prevê que o juiz o juiz poderá determinar as
medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória. É claro
que o juiz não terá liberdade irrestrita para conceder medidas que ele entender
adequadas. A decisão terá que levar em conta as regras da proporcionalidade,
utilizando-se com parcimônia e sabedoria os atos executivos aplicáveis ao caso
concreto.
Luiz Guilherme Marinoni (2005, p. 54-74) sobre isso já lecionava:
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pena de multa, está se tutelando a sobrevivência digna da criança ou do
adolescente desamparado, em detrimento da redução do patrimônio do
demandado, com o risco de, na impossibilidade de se exigir caução,
gerar prejuízos ao executado.
Ainda existem alguns pontos a respeito das tutelas de urgência que aqui
merecem destaque.
O primeiro deles refere-se ao questionamento quanto à possibilidade de o
juiz conceder ou não a tutela de urgência de ofício, ou seja, sem a provocação
das partes envolvidas no caso concreto.
O CPC/1973 não deixava dúvidas acerca dessa indagação. Para a
concessão da tutela antecipatória era imprescindível que houvesse requerimento
expresso da parte para que o juiz pudesse decidir a questão (art. 273, caput). Já
em relação às tutelas cautelares, o CPC revogado permitia através do “poder geral
de cautela” que, em casos excepcionais, o juiz estava autorizado a conceder
medidas cautelares ex officio (arts. 797 e 798). No entanto, o STJ passou a
entender que se deveria dar à tutela antecipada a mesma excepcionalidade
exigida para a concessão das cautelares, permitindo, desse modo, a tomada de
decisão de ofício pelo ente estatal.
Ver as seguintes decisões: STJ, Resp 1.319.769/GO e STJ, Resp
1.516.068/MG.
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O novo CPC não condiciona expressamente a concessão de tutela
provisória de urgência (cautelar ou antecipada) a requerimento da parte
interessada. No entanto, como assevera Daniel Assumpção Amorim Neves (2016,
p. 437), “mesmo diante do eloquente silêncio da lei, é provável que o tradicional
poder geral de cautela se transforme num poder geral de tutela de urgência, sendo
admitido, ainda que em caráter excepcional, a concessão de uma tutela cautelar
ou antecipada de ofício”.
O segundo ponto a ser trazido neste tópico refere-se à obrigatoriedade de
o magistrado motivar de forma clara e precisa sua decisão em caso de concessão,
indeferimento, modificação ou revogação da tutela provisória (CPC, art. 298). Isso
significa que, diferencialmente do que ocorria na época de vigência do CPC/1973,
não é mais possível que o magistrado prefira decisão que não contenha
fundamentação vazia ou mesmo locuções genéricas, como por exemplo:
“presentes os requisitos, defiro a medida cautelar” ou, ao contrário, “ausentes os
pressupostos autorizadores, indefiro o pedido de antecipação de tutela”.
Com o advento do novo código e sua constitucionalização, o magistrado
deverá revelar aos jurisdicionados quais foram especificamente os fundamentos
jurídicos que basearam sua decisão e porque esses fundamentos são relevantes
e se aplicam ao caso concreto.
Outro ponto que merece nossa atenção diz respeito sobre a competência
do órgão julgador da tutela provisória.
O art. 299 prevê a tutela provisória será requerida ao juízo da causa e,
quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal. Tal
previsão vale para qualquer espécie de tutela provisória (cautelar, antecipada e
de evidência). Já o parágrafo único versa sobre a competência recursal e
originária de tribunal. Prevê o dispositivo que, ressalvada disposição especial, na
ação de competência originária de tribunal e nos recursos, a tutela provisória será
requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito. Em ambos os
casos, caberá ao relator a decisão sobre a tutela provisória, sendo sempre
possível recurso ao colegiado em hipótese de não concessão da medida.
Por fim, ainda há outra questão a ser enfrentada: a legitimidade para
requerer a tutela provisória de urgência.
Tomando-se por base o princípio da inafastabilidade da jurisdição (CF, art.
5º, inciso XXXV), todo aquele que alega ter direito sobre o bem da vida ou busca
sua proteção é legitimado para pleitear a tutela provisória de urgência.
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Isso significa que, além do autor e do réu, também são legitimados para
requer a tutela provisória os terceiros intervenientes, em qualquer uma de suas
espécies, até mesmo na assistência simples, desde que não se oponha aos
interesses do assistido. O Ministério Público também tem legitimidade para
requerer a tutela provisória de urgência, seja na qualidade de parte ou de fiscal
da lei (CPC, arts. 177 e 178).
FINALIZANDO
Nesta aula, pudemos debater sobre a nova roupagem que o Novo Código
de Processo Civil estruturou as tutelas provisórias de urgência.
Verificamos a diferença existe entre as formas de requerimento das tutelas
de urgência e o momento em que elas podem ser concedidas pelo órgão julgador.
Analisamos cada um dos dispositivos da lei adjetiva civil que versam sobre
a matéria objeto da presente aula, destacando pontos importantes como a
efetivação da tutela provisória, a (im)possibilidade da atuação de ofício do julgador
em relação à concessão das tutelas de urgência.
Falamos ainda sobre quem está legitimado para requerer a tutela de
urgência, sobre a competência jurisdicional e, também, sobre a obrigatoriedade
de fundamentação das decisões pelo órgão judicial prolator.
Nos próximos encontros analisaremos especificamente sobre os
procedimentos destinados à tutela antecipada e a tutela cautelar.
Até lá!
LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
CAMBI, e. et al. Curso de processo civil completo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2017.
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AULA 5
TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
CONTEXTUALIZANDO
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c. Nessa última situação, será possível que o julgador, após análise dos
argumentos do réu, reconsidere seu posicionamento e decida pela
concessão da tutela antecipada de forma incidental?
Importante deixar claro que não se trata aqui de uma petição inicial
propriamente dita, com a obrigação de atender a todas as condições previstas na
lei processual (CPC, art. 319 e ss.). Esse dispositivo legal revela que se trata
apenas de um requerimento específico da tutela de urgência almejada e que
contenha o pedido de tutela final, isto é, a menção referente ao bem da vida que
se pretende obter ao final do processo.
Diante do requerimento de tutela antecipada em caráter antecedente, o
julgador poderá decidir: (i) concedendo a tutela pretendida ou (ii) indeferindo o
pedido.
Na primeira situação, caso a tutela de urgência antecipada seja concedida,
o autor, nos termos do inciso I, do parágrafo 1º do art. 303 do CPC, deverá “aditar
a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de
novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias
ou em outro prazo maior que o juiz fixar”, sobe pena de extinção do feito sem
julgamento do mérito (CPC, art. 303, parágrafo 2º).
Cabe lembrar que o julgador pode dilatar o prazo de emenda em virtude do
contido no artigo 139, VI do CPC, para adequar às necessidades do conflito de
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito.
O prazo de 15 dias, ou outro prazo maior que o juiz conceder, possui termo
inicial com a intimação do autor da tutela antecipada concedida.
Já os “novos documentos” a que se refere o inciso I, do parágrafo 1º do art.
303 do CPC, são todos aqueles necessários e capazes para demonstrar a
veracidade dos argumentos e possibilitar o convencimento do magistrado em
relação ao bem da vida discutido na demanda.
3
Após o devido aditamento, o réu será citado e intimado para comparecer à
cerimônia conciliatória ou de mediação, a depender da natureza da relação
jurídica envolvida no conflito. Caso não haja autocomposição entre as partes, se
iniciará o prazo para a resposta do réu (CPC, art. 303, parágrafo 1º, II e III).
Daniel Amorim Assumpção Neves (2016, p. 447) nos apresenta uma
situação interessante:
O prazo previsto no art. 303, § 1º, i, do novo CPC, de certa forma conflita
com a estabilização da tutela antecipada prevista no art. 304 do novo
CPC. Dentro da normalidade, o autor será intimado da concessão da
tutela antecipada antes de o réu ser citado, de forma que se for
computado o prazo previsto no art. 303, § 1º, i, do novo CPC, fatalmente
o pedido de tutela antecipada já terá se convertido em processo principal
quando o réu tiver a oportunidade de deixar de se irresignar contra a
decisão concessiva. e nesse caso a extinção não será meramente do
pedido de tutela provisória de urgência, mas sim do próprio processo
principal.
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TEMA 2 – ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA
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Nos casos como o do exemplo citado, caso o réu deseje que a decisão
estabilizada seja revista, reformada ou invalidada, terá que requerer o
desarquivamento dos autos e propor demanda através de petição inicial, agora
como autor, como rezam os parágrafos 3º e 4º, do art. 304, do CPC.
Cabe ainda lembrar, que a decisão estabilizada não fará coisa julgada
material, de modo que a parte (autor ou réu) terá o direito de requerer a revisão,
a reforma ou a invalidade da tutela antecipada. Entretanto, terá que fazê-lo no
prazo máximo de 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o
processo (parágrafos 5º e 6º, do art. 304, do CPC).
Questão interessante a ser respondida com o tempo, dado o curto período
de vigência do atual código processual, é saber se, para evitar a estabilização da
demanda, quando a lei diz que a parte deverá interpor o “respectivo recurso”, os
operadores do direito deverão interpretar de forma literal, socorrendo-se
exclusivamente do recurso de agravo de instrumento, ou poderão se permitir fazer
uma interpretação ampliativa, entendendo que a expressão “respectivo recurso”
refere-se a qualquer meio de impugnação a disposição da parte. Dessa forma, a
título de exemplo, a estabilização poderia ser combatida por meio do protocolo de
uma simples petição lançada aos autos do processo.
A resposta terá que ser dada no futuro pelo Judiciário, haja vista que, por
uma questão de autopreservação, ante aos milhares de recursos que fatalmente
abarrotarão nossos tribunais, o Judiciário se obrigue fazer uma interpretação
ampliativa. Até que isso ocorra, a interpretação deverá ser feita literalmente,
obrigando-se aquele que pretende evitar a estabilização da demanda o faça
através do recurso de agravo de instrumento (CPC, art. 1015, inciso I).
Por fim, esclarece-se que a estabilização da tutela não será efetivada se o
autor, mesmo diante da inércia do réu quanto à interposição recursal, demonstrar
expressamente, antes da extinção do processo, que, além da tutela antecipada,
também pretende discutir o bem da vida até a formação da coisa julgada material.
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Isso não significa que, nesse caso, haverá violação do direito ao contraditório. O
réu terá sempre o direito de se manifestar em relação ao pedido do autor e/ou a
concessão judicial que lhe foi desfavorável, apenas o fará em momento posterior
(contraditório diferido), como prescreve o inciso I, do art. 9º do CPC.
Entretanto, haverá situações em que o julgador decidirá por bem formar a
relação jurídica processual trazendo o réu à lide, para após a manifestação deste
conceder ou rejeitar a tutela antecipada.
Aliás, sempre que for possível o julgador completará a relação jurídica
processual antes de decidir sobre a tutela antecipada, o que permitirá uma melhor
análise da matéria discutida em juízo. No entanto, o julgador sempre deverá levar
em consideração que o eventual aguardo da manifestação do réu não represente
perecimento do direito do autor.
Outro momento que merece destaque é a concessão da tutela antecipada
na fase sentencial.
É sempre bom lembrar que a tutela antecipada e a sentença não são
noções jurídicas excludentes. A sentença em regra é dotada de efeito suspensivo,
isto é, ela não é capaz de gerar efeitos imediatos no mundo jurídico. Como bem
observa Cassio Scarpinella Bueno (2011, p. 79):
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fornecimento do medicamento, julgando a demanda absolutamente
improcedente. No entanto, uma vez que sentença, neste caso, não produz efeitos
imediatos e que o recurso cabível, uma vez interposto, será recebido no duplo
efeito, o julgador possui o entendimento que interromper o fornecimento do
medicamento poderá causar prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação ao
autor, permitindo, dessa forma, que os efeitos práticos da decisão perdurem até o
trânsito em julgado caso não haja recurso interposto pelo interessado ou até o
pronunciamento final do juízo ad quem.
Muito embora a decisão que manteve a concessão da tutela antecipada
tenha natureza de decisão interlocutória, o recurso cabível será o de apelação
(CPC, art. 1.009, parágrafo 3º), devendo a matéria referente à antecipação de
tutela ser atacada em preliminar de apelação ou nas contrarrazões (CPC, art.
1.009, parágrafo 1º). É o que Barbosa Moreira (2006) convencionou como
“sentenças objetivamente complexas”, tendo concomitantemente em seu
dispositivo um capítulo de natureza de decisão interlocutória e outro de natureza
sentencial.
Por fim, a tutela antecipada também pode ser concedida em grau recursal.
Face à rejeição do pedido pelo juízo a quo, pode o relator do processo no
respectivo tribunal deferir a tutela antecipada, total ou parcialmente, por força da
dicção do inciso I, do art. 1.019 do CPC, quando da análise do recurso de agravo
de instrumento.
Também será possível a concessão antecipada da tutela no recurso de
apelação ou nas contrarrazões. Entretanto, existe discussão doutrinária a respeito
da concessão da tutela antecipada quando requerida no recurso extraordinário
e/ou especial. Parte da doutrina entende não ser possível conceder a tutela
antecipada nessas espécies recursais, uma vez que seria necessário fazer uma
análise fática e probatória, situação que encontra vedação expressa nas súmulas
n. 279 do STF e n. 07 do STJ. Por outro lado, existem doutrinadores que entendem
ser plenamente possível a análise fática e probatória daqueles órgãos de
superposição nos casos de perecimento de direito. Os tribunais superiores
mantêm acessa essa discussão, ora concedendo ou rejeitando a tutela
antecipada, ora nem conhecendo da matéria.
Saiba mais
Para aprofundamento dessa discussão, é mister a leitura da seguinte obra:
ZAVASCKI, T. A. Antecipação da tutela. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
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TEMA 4 – A TUTELA ANTECIPADA FACE AOS PROVIMENTOS
JURISDICIONAIS
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TEMA 5 – CURTAS
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a. Por fim, muito embora se verifique na legislação pátria uma enorme
resistência com relação à concessão da tutela antecipada contra a Fazenda
Pública ou atos do Poder Público, Eduardo Cambi aponta algumas
situações em que tanto o STF quanto o STJ têm admitido a concessão de
tutela antecipada contra o Poder Público (CAMBI et al., 2017, p. 309-310).
A saber: a) concessão de aumento ou vantagem em causas
previdenciárias; b) casos em que o pagamento de vantagens não é o objeto
do processo mas consequência da própria antecipação de tutela (como na
reintegração ou a nomeação em cargo público; c) pagamentos de parcelas
que não constituam subsídio, vencimentos, salário nem, tampouco,
vantagem pecuniária (v.g., vernas indenizatórias); d) situações em que o
pedido da parte beneficiada pela tutela provisória se apoie em
entendimento consolidado pelo STF.
FINALIZANDO
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LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
CAMBI, E. et al. Curso de processo civil completo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2017.
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AULA 6
TUTELAS DIFERENCIADAS DE
URGÊNCIA
CONTEXTUALIZANDO
Após a leitura deste texto, espera-se que você consiga encontrar uma saída
jurídica para o seguinte caso concreto.
Paula Fernandes é credora de Pedro Alcântara na importância de
R$ 100.000,00. No entanto, Pedro se recusa a honrar a dívida que possui com
Paula. Paula, por sua vez, ao visitar um conhecido site de compras e vendas on-
line, descobre que Pedro está vendendo o único bem de sua propriedade, uma
casa de veraneio em Matinhos (PR).
Você, na qualidade de advogado, foi contratado por Paula para defender
os interesses dela. Dessa forma, questiona-se:
2
Na aula passada, vimos os aspectos gerais referentes à tutela antecipada.
Cumpre agora analisar o que a nova lei adjetiva civil reservou para as tutelas
cautelares.
Nunca é demais recordar que a tutela cautelar “caracteriza-se como uma
forma autônoma de proteção jurisdicional que atua de maneira preventiva,
acobertando e protegendo determinado direito subjetivo, ou estado de direito
legítimo e que se encontra sob ameaça de perecimento em virtude de um dano
sabido, iminente e de difícil reparação” (Silva, 2006).
De início, é importante ressaltar que as tutelas cautelares apresentam
determinadas características que lhes são comuns. Já analisamos algumas delas
nas aulas anteriores, por exemplo, a provisoriedade das tutelas de urgência.
Entretanto, outras características específicas às cautelares merecem destaque.
Isso porque, uma vez que o operador do direito consiga identificar a tutela
almejada como cautelar, cabe-lhe, então, verificar se estão presentes as
características que lhe atribuem essa condição.
A primeira dessas características é a autonomia. A tradição processual
sempre se entendeu que não poderia existir um processo cautelar sem que
houvesse um processo principal, haja vista não haver sentido algum objetivar à
proteção de um bem jurídico determinado, se esse bem da vida não fosse objeto
de discussão judicial.
No CPC/73, muito embora o processo cautelar não fosse independente,
sempre guardou autonomia em relação ao processo principal, com procedimento
próprio e objetivo específico diverso do processo principal, isto é, o de assegurar
o resultado útil do processo.
Durante a vigência do código revogado já se defendia a ideia de eliminar
da sistemática processual a autonomia do processo cautelar, pelo menos em
relação a sua forma incidental, ou seja, sem a necessidade da propositura de
processo cautelar incidental, uma vez que bastaria a parte vincular ao processo
principal o pedido cautelar (Neves, 2016, p. 468).
O parágrafo 1º, do art. 308 do novo CPC, resolve essa questão ao extinguir
o processo cautelar incidental, permitindo que o pedido principal possa ser
formulado conjuntamente com o pedido de tutela cautelar (Brasil, 2015).
Isso não vale para o processo cautelar requerido em caráter antecedente,
que continua a existir no ordenamento processual vigente (CPC, arts. 305 a 310).
Regramento que veremos no decorrer desta aula.
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Outra característica da tutela cautelar é a sua sumariedade. Já tivemos a
oportunidade em aulas anteriores de versar sobre a sumariedade das tutelas de
urgência no que diz respeito à profundidade da cognição judicial para a tomada
de decisão. Refiro-me, agora, a sumariedade formal, referente ao procedimento
diferenciado do processo cautelar.
Importante não confundir o procedimento cautelar com o procedimento
comum previsto nos arts. 318 e ss. do CPC. O art. 307 do CPC deixa claro que (i)
não contestado o pedido cautelar aplicar-se-á o efeito da revelia, devendo o
magistrado decidir em 5 (cinco) dias; e (ii) contestado o pedido cautelar, observará
o procedimento comum (parágrafo único). No entanto, até nisso o procedimento
comum cautelar possui particularidade, haja vista que o réu não será
citado/intimado para comparecer à cerimônia de conciliação e mediação, mas sim
para, diretamente, contestação do pedido cautelar (CPC, art. 306). Neste caso, é
certo que o processo deverá observar todas as suas fases regulares, como
saneamento, instrução e sentença. “Fases que não têm como serem
samarizadas” (Neves, 2016, p. 469).
Por fim, outra característica fundamental das cautelares é a sua
instrumentalidade.
Deve-se ter sempre em mente que o processo cautelar é um instrumento a
serviço de outro tipo de processo (de conhecimento ou executivo): o processo
principal.
O processo principal se liga essencialmente ao direito material. Tal
condição não ocorre no processo cautelar, já que a cautela apenas tem o condão,
como já vimos, de proteger o bem da vida, possibilitando que o processo principal
seja mais útil e eficaz.
Humberto Theodoro Júnior elucida: “a tutela cautelar existe não para
assegurar antecipadamente um suposto e problemático direito da parte, mas para
tornar realmente útil e eficaz o processo como remédio adequado à justa
composição da lide” (Theodoro Júnior, 2008).
Na mesma seara, Piero Calamandrei (2000) já prelecionava assim:
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TEMA 2 – PODER GERAL DE CAUTELA
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TEMA 3 – TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE
Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar
em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição
sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo.
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prescrição ou decadência, caso em que a parte autora deverá se socorrer do
recurso de apelação.
Cabe gizar que a presunção de veracidade de que trata o art. 307 do CPC
se limita apenas ao pedido cautelar. Isso significa que, se esses mesmos fatos
forem efetivamente contestados no processo principal, ou processo autônomo,
será perfeitamente possível que o juiz considere as alegações de fato falsas
(Neves, 2016, p. 475).
Finalmente, o parágrafo único do art. 307 do CPC prevê que se o pedido
for contestado deverá ser observado o procedimento comum.
O art. 308 do CPC reza que: “efetivada a tutela cautelar, o pedido principal
terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será
apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não
dependendo do adiantamento de novas custas processuais”.
Aqui, necessário tecer algumas observações sobre o contido nesse
dispositivo. (i) quando o caput do artigo diz “efetivada” a tutela cautelar, significa
que a tutela foi executada, cumprida. É com base no efetivo cumprimento da tutela
cautelar é que começa a contar o prazo de 30 dias e não de decisão que a
concedeu; (ii) o artigo de lei prevê que o pedido principal será apresentado nos
“mesmos autos” em que foi deduzido o pedido principal, mas nem sempre isso
será possível. É só imaginar a situação em que a tutela cautelar foi concedida na
sentença e logo depois “efetivada”. Caso não haja recurso contra o decisum,
provavelmente o trânsito em julgado da decisão ocorrerá antes de se esgotar o
prazo de 30 (trinta) dias exigido pela lei para conversão do pedido cautelar em
pedido principal. Ocasião que exigirá outro processo, contendo o pedido principal
da parte.
A conversão do pedido cautelar em pedido principal, apresentado nos
mesmos autos (é a regra) ou em um segundo processo (exceção), em ambos os
casos não haverá a necessidade de fazer qualquer adiantamento de novas custas
processuais.
Nos termos do parágrafo 1º do art. 308 do CPC, a parte pode optar por
apresentar o pedido principal conjuntamente com o pedido de tutela cautelar,
sendo desnecessária, por óbvio, a observância do prazo de 30 dias que se refere
o caput do mencionado artigo.
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Se a parte resolver formular o pedido principal em momento posterior ao
do pedido de tutela cautelar, o parágrafo 2º permite que se faça o aditamento da
causa de pedir, já que ambas as espécies de tutela possuem objetos jurídicos
diversos.
Por sua vez, o parágrafo 3º prevê que uma vez “apresentado o pedido
principal, as partes serão intimadas para a audiência de conciliação ou de
mediação, na forma do art. 334, por seus advogados ou pessoalmente, sem
necessidade de nova citação do réu”. A intimação pessoal do réu está reservada
as hipóteses em que o réu não tenha advogado regularmente constituído nos
autos do processo.
Não havendo autocomposição, começará a correr o prazo de defesa para
o réu (§ 4º).
Ainda resta gizar que a decisão que conceder a tutela cautelar não formará
coisa julgada material.
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Nada mais natural, uma vez que o processo cautelar, em virtude de sua
instrumentalidade, vincula-se ao processo principal. Assim, se o processo
principal for julgado improcedente ou não sendo possível atingir seu mérito, não
faz sentido algum a manutenção da eficácia da tutela cautelar.
Finalmente, o parágrafo único do art. 309 do CPC prescreve que “se por
qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte renovar o
pedido, salvo sob novo fundamento”.
A razão de ser desse dispositivo legal não diz respeito à formação ou não
da coisa julgada material da tutela cautelar, mas sim sobre a impossibilidade do
magistrado decidir novamente as questões já decididas, relativa à lide (CPC, art.
505), ou seja, salvo se a parte renovar o pedido cautelar sob uma nova causa de
pedir, um novo fundamento jurídico, o juiz não poderá decidir novamente, porque
se operará para o magistrado a preclusão pro iudicato.
Por oportuno, prevê o art. 310 do CPC que o “indeferimento da tutela
cautelar não obsta a que a parte formule o pedido principal, nem influi no
julgamento desse, salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de
decadência ou de prescrição”.
Como se pode notar, o referido artigo prestigia a instrumentalidade
existente entre a tutela cautelar e a tutela satisfativa, princípio já abordado nestas
aulas.
FINALIZANDO
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Dessa forma, esperamos que todo esse material tenha sido útil a vocês e
que, de alguma forma, tenha contribuído para o conhecimento dos colegas.
Até um próximo encontro!
LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
SILVA, O. B. da. Teoria geral do processo civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
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