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A noção de nó em Lacan

As noções de nó, enodamento, enlaçamento e trança são expostas e desenvolvidas por


Lacan sobretudo em dois seminários (ainda que haja muitos esboços ao longo de uma ampla
trajetória): R.S.I. (1974-1975) e Le sinthome (1975-1976)

Convém esclarecer que ele é na verdade uma cadeia e que se o chamamos de nó é


por um abuso de linguagem.

O nó borromeano não é uma proposta totalmente nova feita por Jacques Lacan. Usar
esta tríade para propor uma articulação ou um liame data de tempos muito antigos

Por exemplo, sabemos que os nórdicos utilizaram a tríade, bem como Michelangelo
(o artista marcava seus blocos de mármore com o símbolo triádico adjacente à letra M. Nessa
situação, os círculos representavam as três artes: escultura, pintura e arquitetura, que
deveriam permanecer juntas e inseparáveis)

Na matemática da Teoria dos Nós, um entrelaçamento Brunniano é uma trama de


ligação entre três ou mais elementos geométricos que se separam caso um desses elementos
seja removido. O adjetivo deriva do artigo Über Verkettung (Sobre entrelaçamento), escrito
em 1892 pelo matemático alemão Hermann Brunn

Lacan viu pela primeira vez a imagem do nó borromeano durante um jantar, nas armas
de uma dinastia milanesa: a família Borromeu.

Temos três círculos em forma de trevo e que simbolizam uma tríplice aliança: se um
(qualquer um) dos anéis for retirado ou cortado, os outros três ficarão soltos, sem que
consigam formar um par.

Por que recorrer à formalização topológica?

Lacan reconhece a insuficiência do matema em transmitir integralmente a experiência


clínica.

Daí seu encontro com a topologia dos nós surgir como novo recurso para mostrar
como opera a clínica psicanalítica.

Através do nó, podemos pensar amplamente em efeitos subjetivos, oriundos tanto dos
significantes quanto do objeto e, desta forma, propor operações sobre o gozo (cortes, recortes,
suturas)

Trata-se uma clínica que vai do “algo a reparar‟ (Lacan nos anos 50) a “algo a
inventar‟ (Lacan nos anos 70)

1º) Nó a três - trata-se de um nó (ou cadeia) na qual:

1) se for solta uma rodela, as outras se desatam;

2) as rodelas estão superpostas e não entrecruzadas;

3) elas estão enodadas de tal forma que duas estejam livres;

4) e fazem existir um buraco.

O mais importante a destacar é que é do fato de duas rodelas serem livres uma da
outra que se suporta a ex-sistência da terceira, especialmente a do Real em relação à liberdade
do Simbólico e do Imaginário. A partir do momento em que o Real é enodado
borromeanamente aos dois outros registros, eles lhe resistem. Isso quer dizer que o Real só
tem ex-sistência na medida em que encontra no Simbólico e no Imaginário sua parada, seu
limite. Daí Lacan afirmar e reafirmar continuamente que o Real não é apenas uma rodela do
nó borromeu, mas o efeito da maneira como ele se amarra.

O que importa é essa operação real que, como veremos, desloca o gozo, permitido
por uma renomeação do sujeito.

Mesmo que, neste momento de nossa argumentação, não tenhamos condição de


avançar na elaboração lacaniana dos nós, é importante deixar registrado que o psicanalista
não se contentou em estudar o nó a três. Retomando a questão do Nome-do Pai, no final do
Seminário 22, R.S.I., Lacan (1974-1975)35 insere um quarto termo no nó borromeano: o
sympthome.

2º) Nó a quatro:

É na medida que o Real é um efeito da forma como a amarração se dá — esse efeito


de termos rodelas livres e, ao mesmo tempo, atadas —, que Lacan propõe um novo nó no
qual, de fato, as três rodelas estão livres umas em relação às outras. Elas se encontram apenas
sobrepostas. É o quarto elemento, inventado por cada sujeito, que trará a característica
borromeana ao nó, concentrando esse efeito real em si mesmo.

O Complexo de Édipo, antes considerado a única possibilidade estruturante para o


sujeito, é agora um dos Nomes-do-Pai. Lacan deduz cinco termos que enodam as três ordens,
que são alguns dos Nomes-do-Pai:

1) Complexo de Édipo;

2) Realidade psíquica;

3) Sinthoma;

4) Fazer-se um nome;

5) O ego.

Trata-se, portanto, de encontrar outros modos de circunscrever o gozo, ou, em outras


palavras, de pinçar o real.

Bibliografia

 Sujeito e invenção: a topologia borromeana na clínica das psicoses.


Guerra, Andrea, et al.
ttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982008000200008
 O magico do real: Tavares, Carla et al.
http://www.psicanaliselacaniana.com/estudos/magicoreal_flash.html

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