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Irregular
ISSN 0006-6079
CDD 910
EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
ARTIGOS
Al f redo Pereira de Queiroz Fil ho; Marcel l o
Mart inelli.............................................................. 7
O TRABALHO DE CAMPO EM GEOGRAFIA: UMA ABORDAGEM
TEÓRICO-METODOLÓGICA
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 7-44, 2007
EDITORIAL
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ALFREDO PEREIRA QUEIROZ FILHO; MARCELO MARTINELLI
t eorias, das possíveis int erfaces e da sua import ância na Análise Espacial
é realizada pelo aut or, que ut iliza, como exemplo, os mapas bíblicos do
at ual Est ado de Israel e da Palest ina.
O pot encial analógico da Cart ografia é discut ido por Padovesi no
quart o art igo. Um dos aspect os abordados pela aut ora consist e no
quest ionament o se haveria um desenvolviment o da Cart ograf ia em
consonância com a renovação da Geografia.
Almeida, no quint o art igo, discorre sobre o ensino de cart ografia
para populações minorit árias e para usuários com deficiência visual. Foram
discut idos o design, a produção e uso do mapa t át il e os result ados
aplicados a out ras populações minorit árias, como os indígenas do est ado
do Acre.
O sext o art igo aborda a const rução de maquet es. As aut oras –Simielli,
Girardi e Morone – dest acam a disseminação da prát ica de const rução de
maquet es de relevo, em art igos cient íficos e congressos, que enfat izam
as prát icas cart ográficas no ensino da Geografia.
Já o sét imo art igo, que encerra o BPG t emát ico sobre Cart ografia,
t raz uma discussão de Iavelberg e Cast ellar sobre o aprendizado e o ensino
nas escolas at ravés das linguagens art íst icas e cart ográficas.
Mas encerrando mesmo est a publicação est á o art igo de Paulo Robert o
Cimó Queiroz. Seu t ext o não ent ra no t ema dest e BPG, mas dialoga com
out ro t ext o, do BPG 61, de 1984, de aut oria de Gilbert o Luiz Alves. Cimó
resgat a o import ant e art igo e rebat e algumas t eses sobre a hist ória
econômica do Mat o Grosso e Mat o Grosso do Sul.
Boa leit ura!
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ARTIGOS
CARTOGRAFIA DE ANÁLISE E DE SÍNTESE NA
GEOGRAFIA
Resumo: Est e art igo t em como obj et ivo discut ir a cart ografia de
análise e de sínt ese dos pont os de vist a da Cart ografia Temát ica con-
vencional e da Cart ograf ia Temát ica assist ida pelos Sist emas de In-
formações Geográficas (SIG). Procura est abelecer as correspondências
ent re o vocabulário, os conceit os e prát icas consagradas das referidas
áreas, cont ribuindo para o uso int egrado dos seus element os f unda-
ment ais.
Palavras-chave: Cart ograf ia de análise. Cart ograf ia de sínt ese.
Sist emas de Informações Geográficas. Cruzament o de mapas.
Abstract: This art icle has t he purpose t o discuss t he analyt ical and
synt het ic cart ography from t he convent ional Themat ic Cart ography and
t he assi st ed by Geogr aphi c Inf or mat i on Syst ems (GIS) Themat i c
Cart ography view point s. It t ries t o est ablish t he correspondences
bet ween consecrat ed vocabulary, concept s and pract ices of t he aforesaid
areas cont ribut ing t o t he int egrat ed use of it s fundament al element s.
Key words: Analyt ical cart ography. Synt het ic cart ography. Geographic
Informat ion Syst ems. Overlay maps.
* Prof essores do Depart ament o de Geograf ia da Faculdade de Filosof ia, Let ras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paul o (FFLCH-USP). E-mail : aqueiroz@usp. br;
cart ot em@ig.com.br
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1 INTRODUÇÃO
Os avanços t ecnológicos recent es, part icularment e da informát ica e
das t elecomunicações, causaram um grande impact o na Cart ografia. Com
a significat iva diminuição do cust o de comput adores, dos seus programas
e da conexão com a Int ernet , aliada à criação de bases cart ográficas e
dados est at íst icos no meio digit al, os mapas se difundiram com velocidade
e amplit ude ainda maiores do que no período renascent ist a, quando a
imprensa – de Gut enberg – foi ut ilizada para reproduzir mapas.
Ent ret ant o, a decorrent e facilidade de confecção dos mapas criou
circunst âncias indesej áveis. Ainda que o número de pessoas que elabora
mapas t emát icos t enha aument ado subst ancialment e e a velocidade da
sua produção t enha sido muit o acelerada – o que a princípio é desej ável
–, muit os equívocos cart ográficos t êm sido gerados pela ausência de
conheciment o dos fundament os da Cart ografia em geral, e da Cart ografia
Temát ica em part icular.
Essa é uma das razões pela qual o relacionament o ent re os pro-
fissionais de Cart ografia Temát ica e dos Sist emas de Informações Geo-
gráficas (SIG), nos seus primórdios, foi pouco harmonioso. Nos casos
ext remos, houve uma clara divisão ent re as part es, criando uma falsa
polarização ent re o t radicional e o moderno, embasada por argument os
radicais de ambos os lados. Uma part e deles desqualificava o processo
de elaboração de mapas no comput ador, afirmando que nenhuma in-
t erface gráfica permit ia represent ar adequadament e a realidade espacial
ou que seu uso empobrecia a capacidade de reflexão. Os argument os
dos usuários neófit os dos SIGs, em cont rapart ida, mencionavam que os
conheciment os da Cart ografia Temát ica t inham perdido import ância, pois
os sist emas eram capazes de resolver os problemas de represent ação
t emát ica sem a orient ação dos geógrafos ou out ros est udiosos das mais
variadas áreas de pesquisa.
O cont ext o desse art igo emerge do uso conj unt o dos predicados
das referidas áreas, pois se ent ende que a Cart ografia Temát ica e os
Sist emas de Informações Geográficas não só se complement am, como
t ambém se ent relaçam. Sua relação expressa muit o mais a idéia de
i nt egração do que de subst i t ui ção, assi m como as ci rcunst ânci as
profissionais dos aut ores desse art igo. Dist int as gerações e especialidades
est ão unidas, com o propósit o de reduzir event uais resquícios de
incompat ibilidade ent re os campos de conheciment o.
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O obj et ivo é discut ir a cart ografia de análise e de sínt ese nos con-
t ext os da Cart ografia Temát ica convencional e da Cart ografia Temát ica
assist ida pelos Sist emas de Informações Geográficas. As principais ques-
t ões que orient aram sua elaboração foram: o que são e quais as diferen-
ças ent re mapas de análise e de sínt ese? Quais são as operações que os
caract erizam? O produt o dos cruzament os de planos de informações nos
SIGs pode ser considerado mapa de sínt ese?
A principal cont ribuição do t rabalho pode ser definida como a de
uma propost a de t radução t erminológica, que resgat a conceit os e prát i-
cas consagradas da Cart ografia Temát ica convencional e revela suas cor-
respondências com os procediment os dos Sist emas de Informações Geo-
gráficas.
2 CONSIDERAÇÕESSOBREACARTOGRAFIANAGEOGRAFIA
Para sit uar a quest ão dos mapas analít icos e de sínt ese na cart o-
graf ia e o seu emprego na geograf ia é necessário resgat ar moment os
marcant es na hist ória social da ciência dos mapas e da ciência do espa-
ço social.
Um primeiro moment o foi aquele que confirmou o homem como ca-
paz, desde os primórdios de sua exist ência, de ext ernar e regist rar seu
lugar de morada e seu modo de vida. Procedia, mediant e expressões
gráficas ou mont agens de est rut uras concret as, represent ações de seu
espaço de vivência, onde exercia suas prát icas sociais.
Passo a passo, com o acréscimo do saber organizado e das t écnicas,
a cart ografia viveu fort e desenvolviment o at é chegar aos dias at uais,
t endo a seu serviço um leque bast ant e amplo de conheciment os cient í-
ficos e de t ecnologias bast ant e apuradas.
São reconhecidos memoráveis marcos dessa caminhada. Um que
despont ou, j á em t empos não t ão remot os, como mot ivador de um consis-
t ent e avanço no seu afã de at ender à demanda de mapas cada vez mais
específicos, foi a afirmação de uma crescent e solicit ação desses mapas,
por cont a da sist emat ização dos vários ramos cient íficos operada no fim
do século XVIII e início do século XIX.
Essa crescent e busca de especialização na cart ografia foi se crist ali-
zando at ravés de uma gradat iva libert ação do regist ro eminent ement e
analógico da superfície do t erreno e dos obj et os nat urais e art ificiais
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inst alados sobre aquela. Emergiram t emas de est udo, oriundos do leque
de ciências organizadas, cuj as represent ações foram paulat inament e se
acrescent ando à t opografia, que lhes garant ia o suport e de localização,
inst it uindo, assim, a cart ografia t emát ica.
Esses acréscimos foram primeirament e qualit at ivos, sej a de aspect os
concret os, como, por exemplo, o uso da t erra, sej a de manifest ações
sensíveis, porém invisíveis, como por exemplo, o magnet ismo t errest re.
As represent ações quant it at ivas t iveram sua afirmação com cert o at ra-
so. Efet ivaram-se soment e a part ir das cont ribuições t razidas por William
Playfair, com as propost as de const rução dos gráficos, que usara para ilus-
t rar suas obras elaboradas no fim do século XVIII e início do XIX.
Com a revolução indust rial operada desde a segunda met ade do sé-
culo XVIII at é sua complet a mat uração, no final do XIX, assist iu-se a uma
crescent e busca e avaliação da mobilidade dos homens, das mercadori-
as, dos capit ais, das informações, et c.. Com base nos gráficos de colu-
nas t razidos por Playfair, que Minard os adapt ara para represent ar quant i-
dades moviment adas em t rechos de det erminado percurso, a cart ogra-
fia t emát ica, por obra dest e últ imo aut or, t ransferiu em 1845, t ais colu-
nas, dispost as como largura de faixas, para a planimet ria dos eixos viári-
os sobre mapas, configurando, assim, a represent ação dos fluxos.
Pode-se dizer que, at é aqui, a cart ografia t emát ica foi fiel ao raciocí-
nio analít ico promulgado em cada ciência na busca do conheciment o.
Ent ret ant o, várias concepções int egradoras da realidade foram se desa-
brochando a part ir da Geografia Regional de Paul Vidal de La Blache,
est abelecida no final do século XIX, na França.
O est udo geográfico de La Blache se concluía com uma classificação,
com uma t ipologia. O mest re est ipulava o conceit o de “ Região” como uma
unidade de est udo que exprimiria a forma dos homens organizarem o es-
paço t errest re. Região exist iria de fat o. O geógrafo as delimit ava, descre-
via e explicava. Região era a escala de análise, o âmbit o espacial de est u-
do, com uma individualidade própria dist int a das áreas circunvizinhas.
Pelos dados humanos colhidos na evolução da sociedade, a região
era produt o hist órico que expunha as relações ent re o homem e a nat u-
reza, o que const it uiria o obj et o de est udo da Geografia Regional.
Nesse cont ext o, a propost a da Geografia Regional de La Blache, re-
comendava a realização de est udos monográficos bast ant e complet os
de áreas selecionadas. Essas pesquisas, t endo a região como obj et o de
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3 MAPASDEANÁLISE E DE SÍNTESE
3.1 Representações analíticas
As represent ações analít icas são aquelas que envolvem um raciocí-
nio dirigido à análise do espaço geográfico, mobilizando procediment os
de classificação, de combinação e de busca das explicações sobre fat os
ou fenômenos ent revist os nos mapas (Figura 1). Seriam const ruções raci-
onais, cuj a est rut ura est aria expressa na legenda, organizada como um
sist ema lógico. As operações ment ais empreendidas sobre mapas analít i-
cos permit irão ao est udioso formular hipót eses sobre o que explicaria a
geografia dos fenômenos. Ent ret ant o, diant e de uma crít ica mais rigoro-
sa, afirma-se que, eles por si só não seriam capazes de sugerir as causali-
dades ou de dar as explicações (RIMBERT, 1968; CLAVAL ; WIEBER, 1969).
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Esses aut ores ainda dizem que o mapa analít ico coloca à most ra di-
reções dominant es, massas, agrupament os, const elações e feixes que
revelam a informação, da qual se pode t irar proveit o. Ainda, o mesmo
leva à colocação de uma série de quest ões, e são essas que pouco a
pouco permit em chegar a novas descobert as. Recomendam ainda que,
uma vez pront o o mapa, deve-se at ent ar para uma int erpret ação sist e-
mát ica das configurações obt idas.
Pode-se verificar que é nesse nível de raciocínio que a realidade ou
pelo menos alguns de seus component es passam para uma abst ração
mediant e lucubrações ment ais que se expressam at ravés de concep-
ções int elect uais – os mapas. O perigo est á em ocult ar as est rut uras e os
valores sociais por t rás do espaço abst rat o “ revelado” pela represent a-
ção. É necessário at ent ar para que as regras rígidas da cart ografia não
deformem a realidade.
Rimbert (1968), em part icular, afirma que ent re os raciocínios de
análise e de sínt ese se int erporia uma et apa experiment al, onde se t es-
t ariam relações, variando det erminados dados de análise (Figura 2). É
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Como um exemplo consist ent e dest a cart ografia pode ser cit ado
aquele do mapa “ Geossist emas do est ado de São Paulo” elaborado por
Troppmair (2000). Represent a a art iculação espacial dos geossist emas no
t errit ório paulist a. O mapa most ra 15 unidades sint ét icas ident ificadas e
limit adas a part ir da int egração de element os nat urais e sócio-econômi-
cos, como Clima, Geomorfologia, Solos, Água do solo, Classes de uso do
solo, Hidrografia, Cobert ura veget al, Cent ros urbanos e Rede rodoviária.
Dent re os 15 geossist emas, alguns most raram fort e vínculo com os com-
part iment os geomorfológicos, enquant o que out ros exibiram relações,
não menos import ant es, com det erminados aspect os ambient ais.
A caract erização de cada unidade espacial ficou pat ent e por incluir
int er-relações, desde muit o fort es at é impercept íveis, ent re os compo-
nent es que part icipam do geossist ema para formar o t odo. O aut or pôde
const at ar que aqueles que se dest acaram pela at uação são dominant es,
comandando e direcionando o conj unt o. (Figura 4).
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No mundo da nat ureza cont a-se com cert a est abilidade, principal-
ment e geológica em períodos longos, com remodelações e acomodações
empreendidas em períodos mais curt os. Os mais curt os são de ordem
climát ica e os mais curt os ainda são devidos aos rit mos periódicos da
vida veget al e animal, com
e sem a presença do ho-
mem.
Especif icament e, no
âmbit o da Geografia Física,
o t ema Clima despont ou
como um dos primeiros as-
sunt os a buscar uma cart o-
grafia de sínt ese, sendo a
de Köppen a inicial.
Em t empos mais re-
cent es, dest acou- se a
classif icação de St rahler,
de 1951, baseada nas mas-
sas de ar e em seus movi-
ment os. No cont ext o do
Brasil, de est ados e muni-
cípios sel ecionados, são
conheci dos, dent r e ou-
t ros, os t rabalhos de Ed-
mon Nimer, Carlos Augus-
t o de Figueiredo Mont ei-
ro, José Robert o Tarifa e
Gust avo Armani (Figura 5).
Figura 5: Exemplo de mapa de sínt ese do clima do est ado de SP de Mont eiro
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4 PRINCIPAISMÉTODOSDACARTOGRAFIADE SÍNTESE
4.1 Procedimentos convencionais
4.1.1 Mét odos gráf icos e cart ográf icos
Exist e uma boa variedade de mét odos gráficos e cart ográficos que
foram sendo desenvolvidos ao longo da busca de uma cart ografia de
sínt ese, principalment e no domínio da cart ografia t emát ica.
Bert in (1973; 1977), Bonin (1980), Gimeno (1980), Bord (1984), Bonin
e Bonin (1989), Blin e Bord (1993) e discípulos colocam a cart ografia de
sínt ese como uma r epr esent ação capaz de most r ar em mapa os
agrupament os de lugares caract erizados por agrupament os de at ribut os.
Consideram vários procediment os: Superposição t ricromát ica, Mét odo
cart ográfico e Mét odos mat riciais.
Na Superposição t ricromát ica t rabalhar-se-iam mapas de at ribut os
selecionados na mesma escala. Podem ser superpost os de t rês em t rês.
Bast a que sej am realizados em t ransparências, nas cores, azul (cyan),
amarelo (yellow) e vermelho (magent a), as t rês cores primárias da sínt ese
cromát ica subt rat iva. A superposição permit iria delimit ar conj unt os
espaciais caract erizados por dist int as combinações dos t rês at ribut os,
revelados pelas cores secundárias result ant es.
No Mét odo cart ográf ico, a sínt ese seria f eit a a part ir de mapas
analít icos, em t rês passos:
1) Coleção de mapas t emát icos resolvidos em ordem crescent e de
valores cromát icos (um para cada at ribut o selecionado);
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Figura 8: Exemplo do mét odo mat ricial para o caso dos “ Tipos de clima da França” f eit o a
part ir dos dados de insolação, amplit ude t érmica, dias de precipit ação nival, dias de chuva,
t emperat uras de j ulho, o mês mais quent e, sobre uma base de unidades de observação, os
t ipos de relevo, que são unidades sint ét icas.
Font e: Gimeno (1980, p. 174)
Ainda, para aplicação de mét odo gráfico, t em-se um caso part icular
de cart ografia de sínt ese, aquele que busca a represent ação dos “ t ipos”
de est rut uras t ernárias específicas, ist o é, por variáveis formadas por
t rês component es colineares. Mobiliza-se um t rat ament o at ravés do di-
agrama t riangular. Est e gráfico part iciparia, assim, como algorit mo para o
t rat ament o dos dados e para a organização da legenda.
As diferent es combinações dos t rês component es I, II, III da variável
est udada são sint et izadas at ravés de pont os no int erior do t riângulo.
Quando a variável se refere aos lugares, cada pont o do gráfico represen-
t a a est rut ura de cada um (Béguin e Pumain, 1994).
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Figura 9: exemplo de mét odo gráf ico para a elaboração do mapa de sínt ese, “ Tipos de
evolução da população – 1970/ 2000”
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As palet as cont endo dist int os níveis de cinza ou cores são comument e denominadas como
“ t abela de cores” ent re os usuários dos SIGs.
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Tabela 1: Relação das rubricas t emát icas, cores ou níveis de cinza e números
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PAISAGENS NATURAIS
II. Paisagem de florestas em planaltos cristalinos (nível de cinza = 36).
IV. Paisagem de florestas em planaltos sedimentares (nível de cinza = 38).
V. Paisagem de florestas em planícies cristalinas (nível de cinza = 40).
VII. Paisagem de florestas em planícies sedimentares (nível de cinza = 42).
PAISAGENS CULTURAIS
I. Paisagem de culturas em planaltos cristalinos (nível de cinza = 33).
III. Paisagem de culturas em planaltos sedimentares (nível de cinza = 35).
VI. Paisagem de culturas em planícies sedimentares (nível de cinza = 39).
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Figura 11: Represent ação do cruzament o de mapas com dados quant it at ivos (f ase 1)
Font e: Queiroz Filho et al (1999)
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O programa PhilCart o pode ser obt ido grat uit ament e em <ht t p: / / philgeo. club. f r/
Index.ht ml> Acesso em: 5 mai. 2007.
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Figura 13: Mapa dos t ipos de qualidade de vida das Subpref eit uras do município de São
Paulo
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Deve-se observar que: cada agrupament o espacial do mapa possui um gráf ico de barras
(uma barra para cada uma das variáveis). O eixo cent ral do gráf ico represent a a média
da variável em relação ao rest ant e das unidades espaciais do mapa. A part ir desse eixo
cent ral, cada barra part e para a direit a ou para esquerda. Se a barra f or represent ada
à direit a do eixo cent ral, significa que a média das unidades do grupo é superior à média
do t odo. Caso a barra est iver à esquerda do pont o cent ral, most ra que a média das
unidades do grupo é inf erior à média do t odo. O t amanho da barra represent a o desvio
padrão de cada grupo.
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Figura 14: Mapa dos t ipos de est rut uras da população economicament e at iva SP- 1991
É possível not ar, na Figura 14, que o grupo 1 (cinza claro) é caract e-
rizado por um relat ivo equilíbrio ent re a população economicament e
at iva dos set ores primário e t erciário das Regiões Administ rat ivas do
Est ado de São Paulo. O grupo 2 (cinza médio) é caract erizado por um
predomínio do t erciário, mas t ambém um equilíbrio ent re primário e
secundário. O grupo 3 (cinza escuro) é caract erizado pela predominân-
cia do set or t erciário, seguida pelo secundário, e com um set or primário
muit o pouco expressivo.
5 CONSIDERAÇÕESFINAIS
Conforme mencionado na int rodução do t rabalho, as principais ques-
t ões que orient aram seu desenvolviment o foram: o que são e quais as
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Tabela 3: Caract eríst icas operacionais dos procediment os para produção do mapa de
sínt ese
Conforme a Tabela 3, o mapa de sínt ese com dados qualit at ivos pode
ser realizado pela mesa de luz ou pelo procediment o correspondent e
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Esse mapa de vulnerabilidade foi utilizado como um dos componentes do mapa de zoneamento
do Parque Est adual de Guaj ará Mirim – RO.
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veis são agrupadas soment e com base em um obj et ivo geral no mapa de
sínt ese não aplicada.
Em suma, a cart ografia de análise e de sínt ese são muit o import an-
t es na Geografia. Elas não perderam relevância com o desenvolviment o
t ecnológico, pois seu emprego pode auxiliar em muit o na const rução de
uma est rut ura conceit ual das at ividades nos Sist emas de Informações
Geográficas. Essas diferent es inst âncias colaboram para evidenciar a
ut ilização conscient e dos mapas e a sua relação com as dist int as et apas
da pesquisa.
6 AGRADECIMENTOS
Os aut ores agradecem à profa. dra. Ligia Vizeu Barrozo e ao prof. dr.
Ailt on Luchiari pelas discussões e sugest ões no processo de concepção
e redação do t ext o.
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ALFREDO PEREIRA QUEIROZ FILHO; MARCELO MARTINELLI
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GISELE GIRARDI
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Gisel e Girardi*
Abstract: This paper present s some reflect ions and cont ribut ions
about Geographic Cart ography as format ive discipline in Geographic’s su-
perior educat ion. Present s a general view of t he cont ext t hat j ust ifies
t he proposals and shows some ideas about t he t echnical and cult urals
dimensions of maps. Some element s t o discussing about maps was searched
int o each cult ural format ion (Sant aella, 1998;2003), such as t he wind-roses
in port ulans and cont emporary maps, and cart ographic communicat ion’s
* Prof essora dout ora do Depart ament o de Geograf ia do Cent ro de Ciências Humanas e
Nat urais da Universidade Federal do Espírit o Sant o (g.girardi@uol.com.br).
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GISELE GIRARDI
model, cart ographic communicat ion’s model of int eract ive maps and
cart ographic visualizat ion’s model. Finally, are proposed t hree inst ruct ions
t o organize t he cont ent s of t he geocart ographic educat ion, part icularly
in Brazil. They are called spat ial t hinking’s inst ruct ion, map reading’s
inst ruct ion and cart ographic product ion’s inst ruct ion.
Key words: Geographic Cart ography. Maps and cult ural format ions.
Graduat ion in Geography
INTRODUÇÃO
O t ermo Cart ografia Geográfica, ainda que não sej a uma expressão
recent e, ganha força na at ualidade. Est a força t em um carát er t écnico-
cient ífico, na medida em que geógrafos que pesquisam e at uam no âm-
bit o da cart ografia nele ident ificam uma via de legit imação de seu fazer,
de sua produção. Mas ganha força t ambém na inst it ucionalidade. Trans-
forma-se em área de conheciment o formal, abrindo novas linhas de pes-
quisa. Vira rót ulo para cont eúdos disciplinares em cursos de graduação
e pós-graduação em Geografia, passa a nominar laborat órios. Vivemos
no int erior dest e moviment o e na reflexão cot idiana buscamos proposi-
ções que possam dot á-lo de significado e sent ido.
A primeira aproximação que poderíamos est abelecer é que a Cart o-
grafia Geográfica refere-se ao campo das represent ações cart ográficas fei-
t as por geógrafos. Há, no ent ant o, algum cuidado a ser t omado com est a
assert iva, sem o que a expressão “ cart ografia feit a por geógrafo” esvazia-
se, t ransmut a-se em palavra de ordem sem qualquer sust ent ação.
A Geografia, ou a forma que os geógrafos criaram e criam para dar
cont a da explicação do mundo é t ão complexa quant o o próprio mundo.
Mult iescalar, mult it emporal, mult it emát ica, mult idimensional, mult irre-
lacional, mult irret icular, mult it udo. Possivelment e não haj a uma cart o-
grafia que dê cont a dest a mul t imult iplicidade. Daí a dificuldade de pen-
sar e propor cont eúdos format ivos de cart ografia para geógrafos e o
risco da opção por uma ent re t ant as t écnicas possíveis.
Exemplifica o que chamamos de risco a at ual reorganização curricular
da área de cart ografia em cursos superiores de Geografia cent rada em
t écnicas comput acionais, realidade que pode ser conferida em várias
inst it uições desse nível de ensino. Temos procurado observar e reflet ir
sobre o que isso pode represent ar em t ermos de concepções aprioríst icas
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MAPASNASFORMAÇÕESCULTURAIS
O diálogo que buscamos est abelecer paut a-se em duas obras de Lú-
cia Sant aella: o t ext o Cul t ura t ecnol ógica e o corpo biocibernét ico, de
1998, e o livro Cul t uras e art es do pós-humano: da cul t ura das mídias à
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GISELE GIRARDI
1
Para uma discussão aprofundada sobre os modelos de comunicação cart ográfica do período
consult ar a t ese O mapa como meio de comunicação: implicações no ensino de geograf ia
do 1º grau (SIMIELLI, 1986).
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ção cart ográf ica, a comunicação permanece: ela é o t ermo final, o mo-
ment o da exposição a uma audiência, a saída da informação para o domí-
nio público. Part es dest a discussão serão ret omadas adiant e. Elas t iveram,
aqui, o papel de chamar a at enção para a pert inência de se pensar o
mapa no cont ext o das formações cult urais. Volt emos, pois, a elas.
A formação cult ural oral corresponde ao apareciment o da capacida-
de simbólica humana, capacidade est a, segundo Sant aella (1989), que
sempre est eve fadada a crescer fora do corpo humano. A fala é a primei-
ra ext ernalização simbólica da qual o ser humano foi capaz.
Se art iculamos a fala aos gest os, não nos é difícil imaginar verdadei-
ras “ performances cart ográficas” que os ancest rais humanos t eriam sido
capazes de fazer na t ent at iva de reproduzir simbolicament e o frut o de
uma observação t errit orial para o grupo.
Por acaso não agimos de modo semelhant e ao sermos abordados por
alguém que nos pede uma informação sobre uma rua ou um out ro lugar
qualquer? São mobilizados nest e moment o nosso aparelho fonador, nossa
memória, nossa capacidade simbólica (o explicar a informação solicit ada).
Mas nada disso se opera se, ant es, não t ivermos nos apropriado int elect u-
alment e daquele t errit ório, sej a por percepção cot idiana, sej a por obser-
vação direcionada, sej a por meio de out ras font es, incluindo mapas.
A memória cont ada por grupos sociais que preservam t radições orais
conformam, t ambém, mapas ment ais. A propósit o, nas concepções de
Gould e Whit e (1974) mapas ment ais são o conj unt o de conheciment os
e/ ou idéias acumulados sobre lugares. Em out ras palavras, mapas men-
t ais são únicos, individuais na essência e impossíveis de serem conheci-
dos pelo out ro na sua t ot alidade2.
É curioso observar que cada uma das ext roj eções do int elect o e dos
sent idos humanos via de regra correspondeu à ext rassomat ização de uma
cert a habilidade da ment e. Qualquer ext rassomat ização sempre significou
uma perda a nível do indivíduo, perda individual que é imediat ament e
compensada pelo ganho a nível da espécie (SANTAELLA, 1998, P. 37).
2
Os mapas ment ais a que nos ref erimos são aqueles imat eriais, exist ent es soment e na
memória. Não nos ref erimos, port ant o às represent ações gráf icas de mapas ment ais,
t ais como t rabalhados por Nogueira (2001) para int erpret ação da geograf icidade dos
comandant es embarcações no Amazonas.
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Not a: Observe-se a proj eção do nort e da rosa-dos-vent os em relação à lat it udo de 90º, que
é o nort e geográf ico, e t ambém em relação à curvat ura dos meridianos, que são a real
direção nort e-sul ao longo da f aixa em que se localizam (GIRARDI, 2007).
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GISELE GIRARDI
complet ament e vazio de sent ido t écnico. A hist ória de sua exist ência
pode nos aj udar a ent ender seu carát er simbólico.
A observação da nat ureza – sua dinâmica (geomagnet ismo) e os
mat eriais disponíveis (minerais imant ados) – , somado ao gênio humano
para a resolução de problemas prát icos de navegação fez surgir a bússola.
Uma sort e de out ros inst rument os surgiram, aperfeiçoando t écnicas de
navegação. Inclui-se aí a proj eção conf orme de Mercat or.
Na medida em que se ampliava o mundo conhecido pelos europeus e
na mesma proporção cresciam seus anseios de dominação/ conquist a,
ext ensões maiores de oceanos deveriam ser vencidas. A proj eção con-
f orme colaborou com a resolução de um problema prát ico de navegação,
deformando a imagem da t erra de modo que as linhas de rumo eram
sempre ret as e cort avam os meridianos sempre no mesmo ângulo. E pas-
sou a incluir, na int ersecção dest as linhas, desenhos de rosas-dos-ven-
t os, como pode ser observado na Figura 2.
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Poderíamos nos pergunt ar: ora, mas ao considerar as caract eríst icas
do usuário não est ariam os model os de comunicação cart ográf ica
subvert endo o f luxo de energia unidirecional t ípico da comunicação
t elevisiva? Uma análise mais at ent a nos most ra que a consideração das
caract eríst icas do usuário, suas apt idões, seu int eresses, suas condições
ext ernas aproxima-se mais da idéia de narrowcast ing do que de uma
efet iva int eração ou int erferência do suj eit o usuário no processo de
mapear. O desenvolviment o de est udos de psicologia, sej a da vert ent e
behaviorist a, sej a da cognit ivist a, aplicados à cart ografia t inham, em
regra, est a pot encialização como horizont e, a despeit o da prof unda
diferença ent re seus enfoques.
Não se nega, no ent ant o, a grande i mport ânci a que t eve na
disseminação de mapas considerar o “ como mapear? o que mapear? para
quem mapear?” . Ou sej a, moldar o mapa para at ender a uma audiência
colabora com a profusão de imagens do mundo. E, por seu t urno, isso
amplia a força dos códigos ret óricos do mapa (WOOD; FELS, 1986), ist o é,
as int encionalidades das quais a imagem se revest e, os discursos espaciais
que propaga.
Na verdade, por maior que sej a a qualidade da informação e o seu
primor imagét ico, as ações de consumir sem resist ência, resist ir sim-
plesment e ou usar crit icament e um mapa são mais dependent es da
qualidade do leit or que do produt o cart ográf ico propriament e con-
siderado. Daí a import ância da educação cart ográfica.
Em A cart ograf ia e os mit os (GIRARDI, 1997) buscamos organizar um
procediment o de abordagem dos mapas paut ando-nos na proposição das
mit ologias de BARTHES (1993). A idéia cent ral foi analisar represent ações
cart ográficas const ruídas fora dos ambient es de at uação profissional da
comunidade geográfica (escolas, universidades, inst it ut os de pesquisa
et c. , e pref erencialment e consumidos f ora deles), para ent ender a
produção do mit o (segundo sist ema de signif icação), dos discursos
espaciais da sociedade cont idos nos mapas produzidos, compreendendo,
assim, seus valores sociais.
Temos t rabalhado com nossos alunos exercícios com suport e met o-
dol ógico e procediment al semel hant e, mas apl icando-os a mapas
const ruídos e consumidos pela comunidade geográfica, mais precisa-
ment e aqueles publicados em art igos de periódicos cient íficos de Geo-
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Not a do Edit or: a aut ora cit ada t rat a desse assunt o no XX art igo dessa colet ânea.
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Figura 4: Modelo de comunicação cart ográf ica para o mapa int erat ivo.
Font e: DELAZARI; OLIVEIRA, 2002, p. 83.
4
Em pesquisa que desenvolvemos sobre a t emát ica da cart ograf ia na gest ão de recursos
hídricos, concluímos que os at las int erat ivos são os inst rument os mais adequados para
disponibilização de dados para os comit ês de bacia, pela diversidade de at ores, que
requerem aprof undament os dif erenciados da inf ormação e t ambém pelo carát er
pedagógico que um produt o dest e t ipo pode assumir ao se “ linkar” f ot os, esquemas e
inf ormações básicas sobre o t ema t rat ado no mapa (GONÇALVES; GIRARDI, 2005).
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t ornar-se produt or, criador, composit or, mont ador, apresent ador e difusor
de seus próprios produt os. Com isso, uma sociedade de dist ribuição
piramidal começou a sofrer a concorrência de uma sociedade ret icular de
int egração em t empo real. (SANTAELLA, 2003, p.82)
Est a passagem, est e t rânsit o ent re as formações cult urais de massa,
das mídias e cibercult ura aj udam a compreender as t ransformações re-
cent es pelas quais passou o processo de mapeament o. Mapa como meio
de comunicação, pela sua est rut ura conceit ual vincula-se à cult ura de
massas pelo fluxo de informação que comport a: mapeador –> usuário.
Já a proposição da visualização cart ográfica, enquant o modelo t eórico,
responde a est a dimensão do cont emporâneo. Começa a se falar em
visualização cart ográfica a part ir do início dos anos 1990, sendo Taylor
(1991) o primeiro proposit or de um modelo a t ít ulo de base conceit ual
da cart ografia na era da informação.
MacEachren (1994) propôs seu modelo de visualização cart ográfica
(figura 5) no qual simult aneament e apresent a comunicação e visualização
e como são af et adas pelas component es: domínio público/ privado;
int eração homem–mapa alt a/ baixa; apresent ação de conheciment os/
revelação do desconhecido.
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Not a-se que a visualização pressupõe uma alt íssima int eração homem–
mapa: a manipulação de dados e de bases cart ográficas bem como as
met odologias de t rat ament o est ão no domínio privado, ou sej a, o mapa
const ruído pode ser de int eresse exclusivo do indivíduo que o fez, para
responder uma quest ão formulada no âmbit o de sua pesquisa, e obj et iva
a revelação do desconhecido, a produção de novo conheciment o. Por seu
t urno a comunicação est á sit uada no domínio público, pois pressupõe
que se compart ilhe o mapa com out ros indivíduos. Dessa maneira, o usu-
ário t em baixa int eração com o mapa, ou sej a, j á lhe é apresent ado um
conheciment o previament e descobert o por out rem.
Um incrível mundo de possibilidades para a cart ografia se abre, numa
impressionant e complexidade. Aqui falamos de cart ografia no mais am-
plo sent ido, como prát ica humana, não soment e em sua dimensão cien-
t ífica e corporat iva.
Est amos ainda a compreender o quão revolucionário est e movimen-
t o significará nas noções espaciais das gerações fut uras. Para t ent ar cla-
rificar um pouco est a perspect iva chamamos a at enção para as prát icas
de criação de t errit órios virt uais nos quais se desenrolam ações em games.
Segment os das novas gerações apresent am habilidades de abst ração
t errit orial e compreensão est rat égica invej áveis. Est es criadores de am-
bient es virt uais, chamados mappers, at uam em redes com out ros map-
pers, com j ogadores, com corporações, em dinâmicas solidárias e velo-
zes rumo a inovações. Realidade virt ual e ciberespaço5 são element os
das novas formas de socialização.
Não podemos perder de vist a est a pot encialidade; na verdade, mais
do que pot encialidade, é uma realidade lat ent e, apropriada pelo con-
j unt o da sociedade ainda de modo desigual, mas inegável como pers-
pect i va de f ut uro próxi mo. O quant o da educação geográf i ca e
cart ográfica passará t ambém por essa via?
Na geografia brasileira, a disseminação das geot ecnologias é fat o
relat ivament e recent e. Assist imos, ainda, a idéia generalizada de que as
geot ecnologias são aperf eiçoament os t écnicos da f orma de se f azer
5
Element os relevant es para a discussão ent re realidade virt ual e ciberespaço podem ser
buscados no capít ulo “ Formas de socialização na cult ura digit al” (SANTAELLA, 2003, cap.
5, p. 115 a 134).
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AGRADECIMENTOS
Agradeço àqueles que, em moment os e sit uações dist int os, incen-
t ivaram reflexões que culminaram nest e t ext o: professores Maria Elena
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GISELE GIRARDI
REFERÊNCIAS
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65
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
66
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
Resumo: Est e t rabalho t em por obj et ivo aplicar o mét odo da semio-
logia gráfica e demonst rar a relevância da represent ação gráfica no t rat a-
ment o de informações espaciais em ambient e digit al, adot ando-se os
mét odos do mapa exaust ivo e da col eção de mapas como meio de comu-
nicação, e ut ilizando-se, como exemplo, mapas bíblicos do at ual Est ado
de Israel e Palest ina. Pret ende-se rever os princípios que nort eiam as
t eorias da Comunicação Cart ográf ica e da Visualização Cart ográf ica, suas
possíveis int erfaces e a import ância que t êm na Anál ise Espacial . Foi
elaborado o mapa físico/ polít ico-administ rat ivo da região, sobre o qual
os t emas bíblicos foram represent ados. Foram apresent adas alt ernat ivas
de represent ação gráfica de informações espaciais em mapas impressos.
*Prof essor Adj unt o III do Programa de Pós-Graduação em Geograf ia-Trat ament o da
Inf or mação Espaci al da PUC Mi nas e do Cur so de Geogr af i a com ênf ase em
geoprocessament o da PUC Minas - Unidade Cont agem (j oseflavio@pucminas.br)
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JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
in Spat ial Analysis. Physical and polit ical-administ rat ive maps of t he region
were elaborat ed, upon which biblical t hemes were represent ed. Alt er-
nat ive graphical represent at ions of spat ial inf ormat ion were al so
advanced in print ed format .
Key words: Cart ographic Communicat ion. Digit al Cart ography.
Cart ographic Visualizat ion. Mult imedia. St at e of Israel and Palest ine.
INTRODUÇÃO
A Cart ograf ia sof reu e vem sof rendo prof undas t ransf ormações
conceit uais, t eóricas, met odológicas e t écnicas, principalment e a part ir
da década de 1960, que evidenciaram duas fases dist int as e int erligadas,
ou sej a, a concepção do mapa ant es e depois dos comput adores.
O processo f oi marcado pela passagem de um cont ext o t écnico-
cient ífico com um rit mo mais lent o para um ext remament e dinâmico na
colet a, no armazenament o e no t rat ament o da informação espacial,
possibilit ando análises espaciais significat ivament e mais precisas, mais
rápidas e mais eficient es.
A part ir dos anos 1960, a Cart ografia passou a adot ar no ensino e na
pesquisa, ent re out ras t eorias, os recursos da Semiol ogia Gráf ica no
t rat ament o da informação espacial. Concebidos como um dos mét odos
de al f abet ização cart ográf ica e como meio de comunicação, os mapas
produzidos nest a cart ografia at uam como element os alt ament e est ra-
t égicos e como import ant es inst rument os de pesquisa, que permit em
análises de padrões e dinâmicas espaciais, est abelecendo relações cog-
nit ivas ent re o usuário e o mapa.
Com a int rodução dos recursos comput acionais na Cart ografia, o pro-
cesso de análise da informação t ornou-se int erat ivo, principalment e com
o uso da Cart ografia Digit al, dos Sist emas de Informações Geográficas
(SIG’s) e da mult imídia. Ent ret ant o, mét odos e t écnicas desenvolvidos
na cart ografia convencional (ou analógica) não devem ser negligenciados
nas aplicações ligadas a est a t ecnologia.
Est e t rabalho t em por obj et ivo apresent ar os princípios que nort eiam
a Semiologia Gráfica e demonst rar a relevância da represent ação gráfica
no t rat ament o de informações espaciais em ambient e digit al, adot ando-
se os mét odos do Mapa Exaust ivo e da Col eção de Mapas como meio de
comunicação, e ut ilizando-se, como exemplo, mapas bíblicos do at ual
Est ado de Israel e Palest ina.
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA
Dent re as variadas concepções adot adas na cart ografia convencional
dest aca-se o Sist ema de Comunicação Cart ográf ica1 (Figura 1), que con-
sist e na represent ação do mundo real por meio de mapas, com ênfase
nas concepções do cart ógrafo e do usuário.
A Semiol ogia (do grego semeion = sinal, signo, símbolo), umas das
t eorias da comunicação cart ográfica, é a ciência que est uda os sist emas
de sinais que o homem ut iliza no seio da vida social: línguas, códigos,
sinalizações, ent re out ros (BERTIN, 1973). Como part e int egrant e dest es
sist emas de sinais, a Represent ação Gráf ica2 é a part e da Semiologia
1
Vej a mais det alhes sobre est e t ema em: Oliveira (1978); Simielli (1986); Kolacny (1994);
Board (1994); Koeman (1995); Pet chenik (1995); ent re out ros.
2
Vej a mais det alhes sobre est e t ema em: Bert in (1980); Sanchez (1981); Le Sann (1983);
Sant os (1987); Mart inelli (1991, 1998, 2003a e 2003b); Cast ro (1993 e 1996); ent re out ros.
69
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
que t em por obj et ivo t ranscrever uma informação por meio de um sist e-
ma de símbolos, que exercem dupla função: at uam concomit ant ement e
como memória art ificial e como inst rument o de pesquisa.
Embora exist am out ras concepções, segundo Bert in (1973) a repre-
sent ação gráfica é um sist ema lógico que faz part e dos sist emas de sím-
bolos que o homem const ruiu para ret er, compreender e comunicar suas
observações. Como linguagem dest inada aos olhos, beneficia-se das pro-
priedades de ubiqüidade da percepção visual, recobrindo o universo dos
mapas, dos diagramas e das redes (Figura 2).
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA
O conceit o de Visualização Cart ográfica est á int imament e associado
aos conceit os da Cart ografia Digit al e dos SIG’s. A Cart ograf ia Digit al 3
envolve sist emas de ent rada, armazenament o e de edit oração gráfica
de dados. Marble (1990) afirma que est a cart ografia t em afinidades con-
ceit uais com a cart ografia convencional e que represent a uma mudança
subst ancial nas t écnicas ut ilizadas na geração de dados cart ográficos.
3
Vej a mais det alhes sobre est e t ema em: Cromley (1992); Clarke (1995); ent re out ros.
71
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
A Cart ografia por comput ador t eve início em 1959 com as pesquisas
elaboradas por Waldo Tobler. A part ir da publicação do art igo int it ulado
Aut omação e Cart ograf ia (TOBLER, 1959), houve uma verdadeira revo-
lução cient ífica e t ecnológica na Cart ografia.
Segundo Clarke (1995), os cart ógrafos t ransformaram o processo de
criação e de produção de mapas. Nest e processo exist em dois t emas
int erligados: a Cart ograf ia Anal ít ica (TOBLER, 1976) e a Cart ograf ia por
Comput ador. O primeiro envolve o embasament o t eórico e mat emát ico
da cart ografia e as t écnicas ut ilizadas na criação de mapas; o segundo,
as especificidades dos mét odos e das t écnicas que a t ecnologia ut iliza
na produção de mapas.
A prát ica da Cart ografia Analít ica, por comput ador ou digit al, inde-
pendent e da t erminologia adot ada, requer o ent endiment o de conceit os
e est rut uras como escala, proj eções, dist ribuições cont ínua e discret a,
manif est ação pont ual , l inear e zonal , ent re out ros, com vist a ao
desenvolviment o de met odologias que permit am manipular informações
em um SIG, para fins de Anál ise Espacial 4.
A Visualização Cart ográf ica5 surgiu no final da década de 1980, em
decorrência dos avanços das t écnicas comput acionais, t ornando-se uma
alt ernat iva de exploração dinâmica e int erat iva dos bancos de dados digi-
t ais, produzidos pela análise espacial da cart ografia digit al e dos SIG’s.
Visual ização é um t ermo com muit os significados. De maneira geral
“ t o make visible” pode ser considerada, ent re out ras concepções pos-
síveis, como uma cat egoria que pert ence à cart ografia. O t ermo visua-
l ização cient íf ica foi adot ado com o significado est rit o de t ecnologia
comput adorizada avançada para facilit ar o at o de “ t ornar visíveis” dados
cient íficos e conceit os (MACEACHREN, 1995).
MacEachren (1995) desenvol veu um model o t ridimensional de
int eração espacial homem-mapa, que def ine a aplicação ideal para
visualização e comunicação. As dimensões das int erações espaciais são
definidas por uma t ríade cont ínua: o uso do mapa privado (feit o sob
medida, elaborado para um indivíduo), para o público (designado para
4
Vej a mais det alhes sobre est e t ema, ent re out ros, em: BERRY; MARBLE, 1968; MAGUIRE et
al., 1991; CÂMARA et al., 1996.
5
Vej a mais det alhes sobre est e t ema, ent re out ros, em: PETERSON, 1995; MACEACHREN,
1995; CARTWRIGHT et al ., 1999; SLUTER, 2001; RAMOS, 2005; SILVA, 2006.
72
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
Figura 3: Cart ograf ia: represent ada por um espaço cúbico no uso do mapa, no qual a
visualização e a comunicação ocupam pólos opost os.
Font e: MacEachren (1995).
73
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
é int erpret ada como sendo o uso de t écnicas similares para exibição de
mapas (PETERSON, 1995).
Int erat ividade e animação são palavras-chave no processo de visua-
lização cart ográfica. Segundo Pet erson (1995), o mapa int erat ivo é uma
forma de apresent ação do mapa assist ido por comput ador, que procura
imit ar a exibição de mapas ment ais. Além, disso, a exibição de mapas
ment ais permit e apresent ações mais nít idas e precisas. Os mapas incluem
mais feições e não exibem as dist orções e os erros dos mapas ment ais. O
mapa int erat ivo é caract erizado como uma int erface do uso int uit ivo fun-
dament ado em símbolos gráficos, um disposit ivo para exibição de mapas
simult aneament e. O mapa int erat ivo inclui comandos para produzir zoom
sobre o mapa e explorar diferent es áreas, permit indo incluir vídeo-clips
de lugares com imagem e som. Por último, o mapa interativo é uma extensão
da habilidade humana para visualizar lugares e dist ribuições.
Para o referido aut or, a animação é uma art e gráfica que ocorre no
t empo. É a manifest ação da dinâmica visual que envolve diret ament e a
exibição, moviment o ou t roca. O aspect o mais import ant e da animação
é que descreve algumas vezes quadros que não seriam evident es quando
vist os individualment e.
Dent re as t écnicas de visualização cart ográfica, dest aca-se a mul-
t imídia, import ant e recurso didát ico-pedagógico que possibilit a variadas
int erações ent re o usuário e o mapa (CASTRO; MAGALHÃES, 1997).
A mul t imídia é definida como o conj unt o de t ext os, imagens, sons,
animações, int erações e vídeos (VAUGHAN, 1994; WOLFMAN, 1994). Seu
obj et ivo principal est á volt ado para a t ransmissão de uma mensagem a
um det erminado público.
Além de se conhecer a mensagem a ser t ransmit ida e as caract eríst icas
do público-alvo, é necessário conhecer os inst rument os ut ilizados na
elaboração de uma apresent ação em mult imídia, ou sej a, os sof t wares e
os hardwares disponíveis (WOLFMAN, 1994).
A mult imídia ganhou not oriedade a part ir de meados da década de
1980, principalment e com os advent os do CD ROM e da Worl d Wide
Web (WWW). Conf orme o nível de int erat ividade, a mult imídia pode
ser dividida em t rês grupos (PETERSON, 1995): (a) At las Elet rônicos -
combinam recursos de mult imídia com a visualização e mapas; (b) Mapas
para navegação pessoal – permit em ao usuário obt er inf ormações sobre
rot as; e, (c) Mapas para análise de dados – sist emas int erat ivos que
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
METODOLOGIA
A part ir da cont ext ualização da Cart ografia na Análise Espacial (Figura
4), o present e t rabalho aplica mét odos da Comunicação Cart ográfica e
da Cart ografia Digit al, especialment e aqueles ligados à Cart ografia Te-
mát ica e à Semiologia Gráfica, por meio do mapa exaust ivo e da col eção
de mapas, ut ilizando-se, como exemplo, mapas bíblicos do at ual Est ado
de Israel e Palest ina.
75
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
76
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
Figura 5: Est ado de Israel e Palest ina: mapa f ísico e polít ico-administ rat ivo.
Font e: Pia Sociedade Filhas de São Paulo, 2001
6
Os mapas ut ilizados nest a pesquisa, como exemplo, correspondem a part e dos 42 mapas
produzidos para o proj et o coordenado pela irmã Romi Aut h, do Serviço de Animação
Bíblica - SAB/ Paulinas, int it ulado: Bíblia em Comunidade - Visão Global, que represent am
as t erras bíblicas (CASTRO, 2001) e a hist ória do povo de Israel e da Palest ina, desde a sua
origem at é o ano de 135 E.C.
77
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
Sobre est a base, os t emas bíblicos foram represent ados adot ando-
se os fundament os da Semiol ogia Gráf ica e da Represent ação Gráf ica na
t ranscrição da informação em ambient e digit al. Nest e sent ido, os mapas
t emát icos foram elaborados part indo-se do significado da informação,
seguindo-se as regras da percepção visual na leit ura e int erpret ação da
informação espacial.
Dois t emas bíblicos foram selecionados, a Economia da Judéia (Séc.
IV a.E.C. ao Séc. I E.C.) e a expansão progressiva da Judéia no t empo dos
Macabeus e Asmoneus (Séc. II e I a.E.C.), afim de se aplicar t ais fun-
dament os por meio do mapa exaust ivo (leit ura element ar) e da coleção de
mapas (leit ura de conj unt o).
A Figura 6 (próxima página) represent a a Economia da Judéia (Séc. IV
a.E.C. ao Séc. I E.C.), represent ação qualit at iva, const it uído por 24
element os, um símbolo para cada element o, dist ribuídos de forma pont ual
no espaço. Nest e mapa, adot ou-se a solução exaust iva, ist o é, t odos os
elementos em um mesmo mapa e, concomitantemente, a coleção de mapas,
ist o é, um mapa para cada element o.
A primeira solução responde quest ões element ares, “ Em t al l ugar, o
que há?” , levando o usuário do mapa a realizar sucessivas leit uras e
memorizações legenda/ mapa. A segunda solução responde de f orma
imediat a às quest ões de conj unt o: “ Como é a dist ribuição espacial de
t al at ribut o?” - “ Tal at ribut o, onde est á?” . Not a-se que uma solução não
exclui a out ra, mas se complement am.
A Figura 7 (página 80) represent a a expansão progressiva da Judéia
no t empo dos Macabeus e Asmoneus (Séc. II e I a. E. C. ), represent ação
ordenada, const it uído por seis períodos de reinado. Trat a-se de uma
informação ordenada por apresent ar evolução espacial e t emporal. Nest e
caso, pode ser adot ada a solução exaust iva, t odos os períodos em um
mesmo mapa.
Dest a f orma, na represent ação da inf ormação, adot ou-se a variação
da espessura e do t ipo de linha, ou sej a, aument a-se a espessura e o
t ipo à medida que o f at o desenvolve-se no t empo. Paralelament e, f oi
elaborada uma coleção de mapas, um mapa para cada período, obj e-
t ivando comunicar de f orma imediat a a área ocupada em um det er-
minado período.
78
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram discut idos brevement e os fundament os da Comunicação Car-
t ográfica e da Visualização Cart ográfica, enfat izando-se os princípios
que nort eiam a Semiologia Gráfica e apresent ando-se alt ernat ivas de
79
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
80
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
represent ação gráfica de informações espaciais com caract eríst icas qua-
lit at ivas e ordenadas em mapas impressos.
Ficou evidenciada a import ância que a comunicação cart ográfica t em
no processo de visualização cart ográfica, uma vez que os conceit os são
int erdependent es, residindo a diferença nos mét odos e nas t écnicas de
criação e de produção de mapas.
Ficou evidenciado, t ambém, o poder de comunicação da Semiologia
Gráfica, principalment e com os recursos de edição gráfica que a t ecno-
logia oferece, t ornando o processo de análise significat ivament e mais
dinâmico.
As perspect ivas fut uras dest e t rabalho residem na const rução de
uma mult imídia int erat iva e animada dos mapas bíblicos ut ilizados como
exemplo, inclusive com possibilidades de georreferenciament o da infor-
mação e a criação de banco de dados digit ais para fins de Análise Espacial
em SIG, que poderá const it uir-se em um At las Bíblico Digit al, aplicando-
se os conceit os discut idos brevement e nesse t ext o.
REFERÊNCIAS
BERTIN, J. Semiologie Graphique. 2a. ed., Paris: Mout on-Gaut hier-Villars, 1973.
BERTIN, J. O Test e de Base da Represent ação Gráf ica. Revista Brasileira de
Geografia, Rio de Janeiro, v. 42, n. 1, p. 160-182, 1980.
BERTIN, J. Ver ou ler. Seleção de Textos, AGB, São Paulo, n. 18, p. 45- 62, 1988.
BERRY, B. J. L. ; MARBLE, D. F. (eds. ) Spatial Analysis: A Reader in Statistical
Geography. New Jersey: Prent ice-Hall Inc., Englewood Cliffs, 1968.
BOARD, C. A cont ribuição do geógrafo para a avaliação de mapas como meio de
comunicação de informações. Geocartografia: Textos selecionados de cartografia
teórica, Depart ament o de Geografia/ FFLCH/ USP, n. 3, 1994.
CÂMARA, G.; CASANOVA, M. A.; HEMERLEY, A. S.; MAGALHÃES, G. C. e MEDEIROS, C.
M. B. Anatomia de Sistemas de Informações Geográficas. 10a Escola de Comput ação.
Campinas: UNICAMP, 1996.
CARTWRIGHT, W.; PETERSON, M.; GARTNER, G. (Org.). Multimedia Cartography.
Berlin: Springer-Verlag, 1999.
CASTRO, J. F. M. Aplicação de um Sist ema de Informação Geográfica na Temát ica
da Morf odinâmica: o exempl o do est udo da Bacia do Rio Mogi - Cubat ão/ SP.
Dissertação de Mestrado, FFLCH / USP, São Paulo, 1993.
CASTRO, J. F. M. Princípios de Cartografia Sistemática, Cartografia Temática e
Sistema de Informação Geográfica (SIG). Apost ila, Ed. do Aut or, Rio Claro, UNESP/
IGCE/ DECAIG, 1996.
81
JOSÉ FLÁVIO MORAIS CASTRO
82
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 67-83, 2007
83
FERNANDA PADOVESI FONSECA
84
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
* Est e art igo se baseia em t ext o ext raído do capít ulo 6 da t ese A inf l exibil idade do espaço
cart ográf ico, uma quest ão para a Geograf ia: anál ise das discussões sobre o papel da
Cart ograf ia, realizada sob orient ação do prof . dr. Gil Sodero de Toledo.
** Professora do Depart ament o de Geografia do Unifieo–Osasco (ferpado@gmail.com)
85
FERNANDA PADOVESI FONSECA
1
Esse é o caso da Geograf ia de Milt on Sant os (1996).
86
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
2
O núcleo das crít icas a respeit o das prát icas t radicionais da Cart ograf ia f eit as por Brian
Harley (1995a) é esse. Dizia ele que os mapas t endem a most rar um t errit ório “ des-
socializado” , “ socialment e vazio” .
3
Podemos cit ar as obras de Mark Monmonier (1991), How t o Lies wit h Maps; Luc Cambrézy
e Rene Maximy (1995), La cart ographie en débat : represent er ou convaincre; Ant oine
Bailly e Pet er Gould (1995), Le pouvoir des cart es: Brian Harl ey et l a cart ographie.
4
Aut or da Semiologia gráfica, obra de 1967 reedit ada em 1988. Em port uguês, as idéias de
Bert in est ão nos t ext os de 1980, 1986 (único livro t raduzido) e de 1988.
87
FERNANDA PADOVESI FONSECA
produt iva cont raposição (ou sucessão harmoniosa) ent re Cart ografia bási-
ca e ou t opográfica, e ou sist emát ica versus a Cart ográfica t emát ica. A
Cart ografia sist emát ica forneceria as bases para que os diversos t emas
sej am espacializados sobre essa plat aforma neut ra e mat emat icament e
precisa. Quer dizer: admit e-se que a cart a t opográfica represent a o espa-
ço geográfico t ot al e obj et ivo (o que não é, pois na verdade é apenas uma
sobrevivência ext emporânea da concepção de espaço da Geografia clássi-
ca) e que o t emát ico const it ui-se de aspect os enfat izados naquela base
abrangent e. Algo que parece indiscut ível pode ser na verdade uma grande
ilusão. Jacques Lévy diz, por exemplo, que a cart a t opográfica é uma car-
t a t emát ica (LÉVY; DURAND; RETAILLE, 1993, p. 38). Os t emas ali t rat ados
são dist âncias e cont eúdos que reflet em int eresses milit ares, at ualment e
obscurecidos e nat uralizados. Trat ar de out ras dist âncias mais produt ivas
como meio de represent ação de dinâmicas sociais de cont eúdos espaci-
ais, j á seria out ro t ema.
Um out ro ângulo a ser observado no cont ext o dessa “ crise de rela-
ção” é o conj unt o de obras5 que analisam a paralisia t eórica da Cart ogra-
fia e que denunciam os perigos de seu uso irreflet ido. O que elas dizem
a respeit o da renovação da Geografia? A rigor, avançam pouco nessa di-
reção. Regist ramos o caso de Jean-Paul Bord que reconhece que essa é
uma quest ão de fundo no moment o em que pergunt a qual o obj et o de
est udo da Cart ografia em Geografia. Todavia, não haverá solução para
esse relacionament o se se espera que as respost as venham soment e
daqueles que possuem no int erior da Geografia a especialidade em Car-
t ografia. O que nos parece import ant e é que não se deve admit ir a im-
port ância da informação cart ográfica em t ermos ret óricos, t al como é
comum encont rar em t rabalhos, cuj a marca é a afirmação que é impossí-
vel o conheciment o geográfico sem as represent ações cart ográficas (SOU-
ZA; KATUTA, 2001), numa clara demonst ração de que o mapa é encarado
como um veículo neut ro e geográfico por excelência, e que agrega ver-
dade à inf ormação, mas que a rigor não passa de uma “ verdade
euclidiana” , logo bast ant e parcial. Se assim for, a obra de Milt on Sant os
que não faz uso da Cart ografia, não produz “ verdadeiro” conheciment o
5
Além das observações cont undent es de John Brian Harley (1995a; 1995 b), podemos cit ar
como exemplo os t ext os de Jean-Paul Bord (1997a; 1997b) e Sylvie Rimbert (1990).
88
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
geográf ico. É necessário que se procure qualif icar essa import ância,
porque ela não é nat ural, como afirma A. Kolacny, ela se modifica no
t empo: “ No at ual est ágio de desenvolviment o, quando o conheciment o
das relações t empo/ espaço em níveis t opográfico, geográfico e cósmico
t ornou-se uma necessidade, a informação cart ográfica est á aument ado
grandement e sua import ância” . (KOLACNY, 1994, p. 9)
De nossa part e, parece evident e que a crise na relação Cart ografia e
Geografia t em, ant es de t udo, uma fundament ação t eórica que resist e a
vir à luz do dia. Em t ermos gerais, ela se localiza na rigidez da Cart ografia
em vist a de uma Geografia que se t ransforma. A seguir vamos nos referir
às dimensões mais evident es (e import ant es) dessa quest ão a ser en-
frent ada.
6
Cf. verbet e Cart ographie de Emanuela Cast i. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT Michel (Org.).
Dict ionnaire de la Géographie et de l´ espace des sociét és. Paris: Belin, 2003, p. 134-135.
89
FERNANDA PADOVESI FONSECA
7
Cit ado por Jacques Lévy no verbet e Cart e. In: LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel (Org.).
op. cit ., p. 128-132.
8
O fio narrat ivo da exposição que segue se baseia em t ext os de Jacques Lévy, ent re out ros,
o verbet e Cart e. In: LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel (Org.). op. cit ., p. 128-132.
90
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
int elect ual de checar as represent ações int elect uais/ fant asiosas9 dos
europeus com o que eles encont raram.
O papel do mapa ao longo da hist ória da humanidade t em sido múlt i-
plo. Trat a-se de uma proj eção int elect ual que ocupa um espect ro que
vai das at ividades mais funcionais, at é papéis de significado polít ico e
mesmo, simbólico. Cert ament e, os mapas amparam principalment e as
at ividades humanas com fort e component e espacial: a exploração, a guer-
ra, o cont role est at al e, t ambém as decisões econômicas dos empreendi-
ment os, assim como uma série de at ividades dos indivíduos, como, por
exemplo, as prát icas t uríst icas.
Desde o moment o que vários dos problemas t écnicos da colet a de
dados e de seu t rat ament o passaram a ser t rabalhados com novos conhe-
ciment os (a est at íst ica, por exemplo) e novas t ecnologias como o sen-
soriament o remot o e a informát ica, os mapas puderam ser produzidos
numa out ra escala quant it at iva, t ant o como obra original, como quant o
à profusão de cópias. Isso t ambém possibilit ou (com o apoio do SIG) a
difusão de uma Cart ografia independent e do suport e de papel, cuj o de-
sempenho t écnico vem evoluindo.
Essa indiscut ível import ância do mapa, por cont a de suas múlt iplas
aplicações e seus efeit os produt ivos na const rução das visões espaciais
e de mundo, pode ser confront ada com um paradoxo, j á not ado no int e-
rior da Geografia, mas que ext ravasa essa área de est udos: exist e de
cert a maneira, uma crise do mapa. Cont udo, vê-se proj et ar uma cert a
crise do mapa, segundo um quádruplo pont o de vist a. Jacques Lévy, de
modo convergent e com muit os dos “ cart ógrafos crít icos” , det ect a qua-
t ro aspect os da “ crise do mapa” : 10
9
Como se vê não há realment e limit es claros ent re “ represent ação obj et iva” e imaginação
e f ant asia.
10
Cf. o verbet e Cart e. In: LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel (Org.). op. cit ., 2003. p. 128-132.
91
FERNANDA PADOVESI FONSECA
O mapa pode e deve ser ent endido como uma linguagem. As lingua-
gens são veículos e produt oras de um mundo social conflit ant e, pleno
de significados e ideologias. Assim, pot encialment e t oda a linguagem
pode ser t ransmissora e produt ora de ideologias e com o mapa isso não
é diferent e. A crít ica que ele sofre at ualment e por cont a desse papel
t em sido dura. Denunciam-se os mét odos f raudulent os que lhe são
subj acent es, ocult ados por post uras pseudocient íficas. Denunciam-se
t ambém sua eficiência em enganar por cont a do efeit o de verdade que
a imagem possui. Esse papel, que seria nefast o, aparece nas quest ões
geopolít icas, no planej ament o, nas polít icas de Est ado, nas ações dos
grandes empreendiment os et c.
Um out ro fat or de crise do mapa é a desigualdade que exist iria en-
t re t odo o esforço necessário para compreender sua linguagem, suas
t écnicas, e o t ipo de informação que ele pode fornecer. Suas cont ribui-
ções seriam menores do que as dificuldades para usá-lo e cont rolá-lo.
Uma demonst ração desse fat o est aria no cont rast e ent re o acréscimo
ext raordinário das mobilidades do seres humanos (grupos e indivíduos)
e o t ímido cresciment o do uso do mapa na vida social.
O mapa t em perdido a aura de insubst it uível. Na verdade, parece
cada vez mais subst it uível por out ras mídias como os disposit ivos de
localização que int egram um GPS (Sist ema de localização planet ário),
que difundem informações precisas (no sent ido consagrado na Cart ogra-
fia) e on l ine. Isso em cont raposição ao mapa, que é um document o fixo,
parece ser uma vant agem, pois os mapas podem ser organizados em se-
qüência dinâmica com imagens múlt iplas. Por out ro lado, há a rest rição
das duas dimensões, diant e dos procediment os de simulação t ridimen-
sionais numa t ela de comput ador.
Num cont ext o como esse, há quem anuncie a mort e do mapa. Sem
negar o que há de est imulant e nas novas t ecnologias nada disso forçosa-
ment e ameaça o mapa. O const rangiment o das duas dimensões pode
result ar em algo posit ivo. A imagem fixa permit e um melhor cont role do
recept or, o mant ém como l eit or, mais do que como espect ador. Porém,
a mult iplicação de t ecnologias alt ernat ivas e as pressões poderosas pelo
seu uso, obrigam que o mapa t ome a direção de se aperfeiçoar naquilo
que ele pode cont ribuir de diferent e. E essa cont ribuição pode vir das
prát icas cart ográficas em Geografia, que possuem at ualment e um po-
t encial de renovação que precisa ser aproveit ado.
92
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
93
FERNANDA PADOVESI FONSECA
cont igüidade (nada de rupt ura), mas t ambém a uniformidade, que é uma
mét rica const ant e a t odo pont o. É um caso part icular do que em mat e-
mát ica denomina-se como “ espaço mét rico” . Tamanha é a presença e a
força dessa modalidade de apreensão mat emát ica-geomét rica do espa-
ço, que não é exagero afirmar-se que est amos diant e de um verdadeiro
paradigma: um paradigma euclidiano. A pot ência desse paradigma é t al
que comument e não se consegue imaginar out ro espaço que não sej a o
euclidiano. A recusa maior é em relação a uma Geomet ria concorrent e
que se sust ent a nas mét ricas t opológicas. Tal post ura foi dominant e na
Geografia clássica, mas est á relat ivament e abalada no âmbit o das inova-
ções t eóricas, porém cont inua resist indo fort ement e na Cart ografia.
Um mapa é uma represent ação de t ipo analógica, quer dizer: nele se
encont raria part e da lógica do seu referent e. Essa lógica é dada de iní-
cio, grosso modo, pois um mapa e seu referent e são espaços. Mas, se o
espaço cart ográfico é apenas geomét rico/ euclidiano, o pot encial dessa
analogia vai encont rar alguns limit es sérios. Há modalidades de organiza-
ção do espaço geográfico (espacialidades) de dominant e t opográfico,
cont ínuos e cont íguos, port ant o com fort e analogia com o espaço eucli-
diano, mas não uniformes, e nesse caso não há analogia. Se t ivermos,
por exemplo, como referência num espaço dado que a det erminação da
dist ância ent re dois pont os será um índice de acessibilidade (acesso e
velocidade), poderá se not ar em qualquer grande cidade que para as
mesmas “ dist âncias euclidianas” t eremos índices diferent es, o que de-
monst ra a het erogeneidade do espaço geográfico. Do mesmo modo, pro-
j eções cart ográficas que alt eram as dist âncias convencionais em relação
ao referent e, t ambém at enuam a analogia. Se quisermos confront ar o
espaço euclidiano com a lógica das redes geográficas (que são t opo-
lógicas), a analogia possível será muit o enfraquecida.
Na concepção leibniziana de espaço há uma ext ensão abst rat a de
referência em relação ao qual se sit uariam os espaços de fat o, produt o
das relações ent re obj et os. Essa ext ensão pode ser assimilada à concep-
ção de ext ensão de Descart es e igualment e pode ser apreendida pela
geomet ria euclidiana e t ambém pelo sist ema de coordenadas t errest res.
Ela, no planet a Terra, corresponderia à superfície t errest re. Logo, fazer
coincidir superfície t errest re e espaço geográfico, é criar uma correspon-
dência exat a ent re ext ensão e espaço. Dessa forma o espaço não preci-
sa t er uma caract eríst ica propriament e geográfica, pois ele é apenas
94
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
uma posição na superfície. Ele é um valor ant erior à exist ência dos obj e-
t os na ext ensão. Rej eit ando um “ espaço plano” prévio, nat ural, único e
indiscut ível que acompanha implicit ament e a Geografia clássica e a Car-
t ografia convencional, t odo o est udo de um lugar, t ransforma a evidên-
cia (a localização euclidiana) em problema geográfico. Isso não quer di-
zer que a idéia de ext ensão não t enha ut ilidade, mas segurament e, não
possui cent ralidade nas novas elaborações. 11
Se enxergarmos o espaço geográfico como o conj unt o das espacia-
lidades const ruídas socialment e, obviament e concluiremos que ele não é
isót ropo, não possui pont os equivalent es, é int eirament e desigual, e essas
diferenças exigem out ras mét ricas para serem apreendidas. Além do espaço
geomét rico euclidiano haveria alt ernat iva geomét rica para apreender a
complexidade do espaço geográf ico? Exist em, são conhecidas, mas
marginalizadas em Cart ografia pelo paradigma euclidiano:
Quando [...] comparamos a geomet ria clássica ou geomet ria euclidiana
(que opera com o espaço plano) e a geometria contemporânea ou topológica
(que opera com o espaço t ridimensional), vemos que não se t rat a de
duas et apas ou de duas fases sucessivas da mesma ciência geomét rica, e
sim de duas geomet rias diferent es, com princípios, conceit os, obj et os,
demonst rações complet ament e diferent es (CHAUÍ, 1995, p. 257).
Na apreensão t opológica nos colocamos diant e das quest ões sobre os
posicionament os relat ivos ent re os obj et os que const it uem o espaço. É
uma quest ão de ligações para as relações. Pert ence à t opologia averiguar
a forma dos caminhos das relações, para os fluxos (por exemplo, t ráfego
de inf ormações nas redes) que é a f orma como elas est ão dispost as
(“ layout ” ). Ao se considerar redes t écnicas elas se organizam conforme
várias disposições t opológicas que são reconhecíveis: há t opologias lineares
que se caracterizam por uma linha única de fluxos finalizada por dois pontos,
onde se at relam vários nós de modo que mensagens e mat érias em fluxo
11
Se o t ema de est udo f or int erespacialidades ou comparações ent re espaços, pode ser
int eressant e um t erceiro element o referent e ao qual se sit uariam os espaços analisados.
Pode ser út il saber-se a dist ância de duas cidades em relação à Nova York, por exemplo.
Uma out ra aplicação possível est á em considerar-se qualquer espaço como ext ensão de
ref erência para out ros espaços. Como cont ext o espacial de ref erência. Por sua
caract eríst i ca l acunar, as redes geográf i cas são mai s compreensívei s, quando
“ posicionadas” sobre uma ext ensão t errit orial, que permit e sit uar os nós e os arcos,
num espaço sem lacuna e nem rupt ura.
95
FERNANDA PADOVESI FONSECA
passam por t odas as est ações. Nas redes baseadas nest a t opologia não
exist e um element o cent ral, t odos os pont os at uam de maneira igual; há
t opologias em f ormat o de est rela, caract erizadas por um element o cent ral
que “ gerencia” o fluxo da rede, est ando diret ament e conect ado a cada
nó (pont o-a-pont o). Todo o fluxo enviado de um nó para out ro deverá
obrigat oriament e passar pelo pont o cent ral. Isso permit e uma fluidez efi-
cient e. No caso da Int ernet a vant agem da organização t opológica em
est rela é grande, em especial para o t ráfego de informações “ pesadas” ,
como a t roca de regist ros de uma grande base de dados compart ilhada,
som, gráficos de alt a resolução e vídeo. O sist ema aéreo que cent raliza
suas conexões em alguns aeroport os (como At lant a nos EUA, por exemplo)
segue essa t opologia em est rela. Empresas de t ransport es como a FedEx
t ambém. Há t opologias em malha, na qual t odos os nós est ão art iculados
a t odos os out ros nós; est ão ent relaçados. Uma variação possível é a de
densidade. Uma densidade grande aproxima-se da cont igüidade, do
t opográfico; há ainda muit as out ras possibilidades t opológicas, que são
sempre configurações espaciais. 12
Considerando a complexidade e o ent relaçament o das espacialidades
sociais, seus element os obj et ivos, como as múlt iplas redes mat eriais/
t écnicas e t ambém as imat eriais, os element os subj et ivos com sua de-
manda por mobilidade mat erial e ideal, a apreensão t opológica do espa-
ço geográfico enquant o dimensão social t raria uma cont ribuição não
soment e para as t eorias geográficas, mas, igualment e para as represent a-
ções cart ográficas.
Hoj e se reconhece que a espacialidade própria da denominada
“ globalização” não se est rut ura sobre uma “ ext ensão” , um “ t errit ório
cont íguo” . Podemos, grosso modo, dizer que o que se apóia em t errit ó-
rios cont íguos13 são os Est ados nacionais. A “ globalização” se apóia num
component e espacial ret icular (redes geográficas), que t ende à escala
planet ária. Essas redes mundiais se inst alam nos espaços nacionais com
seus nós e linhas e seguem lógicas conhecidas:
12
Cf . os quat ro t ipos t eóricos de redes descrit os em: LÉVY, Jacques ; DURAND, Marie-
Françoise ; RETAILLE, Denis. Le monde, espaces et syst èmes. Paris : Dalloz/ Presses de la
Fondat ion Nat ionale des Sciences Polit iques, 1993, p. 134.
13
O que não impede que se acrescent e a esse t errit ório formas descont ínuas e concorrent es,
que são as redes geográf icas.
96
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
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FERNANDA PADOVESI FONSECA
de cent ro do que uma cidade média num país de “ primeiro mundo” . Sua
posição hierárquica na rede, que lhe dá acessibilidade rápida às relações
de escala nacional e global, é mais import ant e que o pert enciment o
regional e nacional.
A quest ão é que t oda essa lógica t opológica, a respeit o das quais
apresent amos alguns exemplos, não se harmoniza, ou melhor, gera efei-
t os analógicos pobres com o espaço cart ográf ico cl ássico. No espaço
euclidiano, os event os (na sua maioria) se encont ram t olhidos e achat a-
dos pela represent ação plana, numa ext ensão insensível ao sent ido das
lógicas espaciais cont emporâneas. Logo será preciso incorporar nessas
represent ações a capacidade de revelar com const ância as int erações
ent re espaço e ext ensão, a relação ent re uma espacialidade part icular e
um f undo de mapa, que é um element o que fala mais do que normal-
ment e se admit e.
14
Cf . no verbet e Cart ographie. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT Michel (Org.), op. cit ., p.
134-135.
98
BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 85-110, 2007
t ica vem do f at o que ele const it ui um enunciado lingüíst ico f ort emen-
t e sof ist icado. Ele é uma linguagem. Sempre se deve t er claro o que
signif ica ser uma represent ação analógica, que não se conf unde com a
realidade: “ Gershon Welt man afirma que os mapas ‘ não são os ambien-
t es em si, e sim apresent ações dest inadas a most rar um ambient e em
sua ausência, apresent ações dest inadas a represent ar de t al forma que
possibilit e ao leit or do mapa deduzir sist emat icament e os at ribut os do
ambient e mapeado’ ” . (WURMAN, 1991, p. 284, grifo do aut or)
A consciência dessa condição não só evit a confusões, e nos previne
quant o a riscos, pois como j á vimos o mapa pode nos “ enganar” . Ele
compõe um conj unt o de signos que oferece uma aparência de nat urali-
dade e de t ransparência, mas que est á mascarando mecanismos de re-
present ação, plenos de dist orções e criações arbit rárias. Ao longo da
hist ória da Cart ografia moderna ocident al, são numerosos os casos nos
quais as cart as f oram f alsif icadas, censuradas e t ornadas secret as,
cont radit ando sua pret endida cient ificidade (HARLEY, 1995b, p. 74). Mas,
a consciência da condição de represent ação é t ambém vant aj osa, pois
nos permit e um aproveit ament o eficaz do carát er const rut ivo e produ-
t ivo das represent ações, como indica Christ opher Board: “ Nat uralmen-
t e, nenhum mapa pode represent ar perfeit ament e a realidade, mas não
fazendo isso ele é mais út il ainda” . (1975, p. 139, grifo do aut or)
Mais do que uma simples represent ação o mapa é uma represent ação
complexa, ele pode ser lido, int erpret ado e est udado como linguagem.
Apenas recent ement e est udos int egraram essa dimensão e most raram
que o mapa, considerado como uma verdadeira linguagem, result ant e
de um ‘ fazer’ específico, é uma mediação simbólica poderosa, capaz de
se apresent ar de uma maneira aut ônoma na comunicação. Esse en-
t endiment o encont ra em Jacques Bert in um de seus art ífices principais.
Pode-se admit ir, incl usive, que um mapa expressa uma l inguagem
‘ hipert ext ual’ , fundada sobre a ut ilização de códigos diferenciados15:
código lexical (os nomes), código numérico, código figurat ivo, código
cromát ico e código geomét rico. Esse últ imo, por sinal, pouco percebido
em função da nat uralização euclidiana. O dest aque de sua condição de
15
“ As cart as são um t ext o cult ural: elas não fazem uso de um só código, mas de vários, onde
poucos soment e são próprios da Cart ograf ia” (HARLEY, 1995b, p. 73, t radução nossa).
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FERNANDA PADOVESI FONSECA
represent ação colabora para most rar que comunica algo, não é passivo.
Brian Harley vai se referir ao mapa como t ext o, para levant ar a quest ão
do mapa t rat ado como linguagem. Inicialment e, alguns cart ógrafos se
opuseram a isso, mas hoj e essa condição é mais facilment e aceit a:
Cert ament e, lit eralment e, os mapas (uma forma de t ext o gráfico) não
possuem gramát ica e são desprovidas da seqüência t emporal de uma
sint axe, mais o que const it ui um t ext o não é a presença de element os
lingüíst icos, mas o at o de const rução, embora as cart as, enquant o
const ruções ut ilizando um sist ema de signos convencionais, t ornam-se
t ext os. (HARLEY, 1995b, p. 73, t radução nossa)
Ainda Cast i dest aca que uma grande evolução da reflexão sobre Cart o-
grafia ocorre a part ir do moment o em que ela passa a ser t rat ada como
linguagem. Isso significou a abert ura de um novo horizont e epist emo-
lógico, necessário inclusive como element o de renovação da Geografia.
Expondo o que pensava Harley: aceit ando-se o carát er “ t ext ual” das
cart as, nós podemos enxergar diversas possibilidades de int erpret ação,
e podemos t ambém ousar mais, pois não haveria porque permanecer
prisioneiro de uma ciência formal da comunicação, ou de uma psicologia
do conheciment o que nada diz sobre o mundo social, escolhas essas que
ainda são muit o fort es na Cart ografia, mesmo no caso brasileiro, onde a
idéia de “ alfabet ização cart ográfica” ligada a uma psicologia do co-
nheciment o ganhou t erreno. (HARLEY, 1995b, p. 73)
Ao se admit ir a condição de linguagem do mapa deve-se est ar at ent o
às peculiaridades dessa sua condição, o que fica visível se a compararmos,
por exemplo, com a linguagem escrit a. Uma peculiaridade a ser dest acada
refere-se a como se dá a quest ão da aut o-referência. A aut o-referência
é conseqüência da part icipação das represent ações na vida real. Elas
podem se incorporar ao referent e ext erior de t al modo que eles ficam
mascarados. Se pensarmos em relação aos mapas, seria a sit uação pela
qual os nomes e os símbolos reproduzidos sobre o mapa não represent am
mais simplesment e os dados empíricos físico-nat urais ou ant rópicos, mas
formam, por sua aut onomização lógica e semânt ica, out ras significações
capazes de influenciar a concepção que o aut or faz dos lugares sub-
met idos a seu cont role cognit ivo. Mas isso t ambém acont ece com a
“ língua nat ural” e com a linguagem escrit a. A diferença est á no fat o do
mapa ser o veículo de uma linguagem (um sist ema específico de signos)
minorit ário diant e da dominação das linguagens verbais. Em conse-
100
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16
E pode ser f ont e de erros graves, na medida em que a const rução de mapas at uais pode
se basear em out ros mapas problemát icos, que por sua vez j á se inspiraram em out ros
et c. A esse respeit o cf . MONMONIER, 1993, p. 76.
101
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porque cont ribui para que se concent re o olhar do leit or sobre o essencial,
mas, se se vai muit o longe nessa direção, a pont o de se ir chegando a
figuras geomét ricas muit o simples, de significações cult urais fort es, pode-
se criar novas int erf erências e ef eit os indesej áveis. Esse é um dos
paradoxos que a coremát ica encont ra em suas modelizações gráficas.
Considerando essa quest ão das peculiaridades do cont ext o aut o-re-
ferent e do mapa e o fat o de ele se realizar como leit ura visual inst ant ânea,
não se pode deixar de concluir que é difícil usar o mapa para ser um
discurso t eórico aut o-suficient e. Há algumas t ent at ivas de discurso gráfico
nesse campo, mas que vai ficando t ão int rincado, que, para não suscit ar
confusão, acaba-se se fazendo uma legenda muit o mais considerável do
que aquilo que est á propost o na represent ação. Esse t ambém é out ro
paradoxo da coremát ica.
De t odo modo, não se pode nesse esforço de fazer da linguagem
cart ográf ica algo menos prisioneiro de um cont ext o aut o-ref erent e
rest rit o, romper limit es que a levem a não ser mais linguagem cart ográfica.
Nesse sent ido, há regras comuns a t odos os mapas que devem ser respei-
t adas. São quat ro os element os caract eríst icos fundament ais da lingua-
gem cart ográfica. Cada um desses element os comport a algumas escolhas
int ernas. Os t rês primeiros element os concernem ao fundo do mapa,
que é um mapa de base que dá as informações cont ext uais j ulgadas
út eis para esclarecer uma sit uação. O quart o element o refere-se às in-
formações proj et adas sobre o fundo.
Os element os que compõem o mapa podem ser resumidos t al como
se apresent a no quadro a seguir:
Linguagem cartográfica17
17
A análise sobre a linguagem cart ográfica a seguir se apóia, principalment e, nas elaborações
de Jacques Lévy que aparecem, por exemplo, na obra Le t ournant géographique : penser
l´ espace pour lire le monde. Paris : Belin, 1999. 400 p. (Mappemonde 8)
102
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lhor uso de cada uma. Algo que a lit erat ura em Cart ografia j á fez fart a-
ment e. O mais int eressant e é reflet ir se de fat o essa t emát ica arraigada
à qualquer discussão em Cart ografia, nas suas prát icas e no seu ensino,
inclusive na Geografia escolar, possui a import ância que lhe é dada? Sa-
bemos, por exemplo, que essa deformação proj et iva exige conversões
na est rut ura geomét rica do espaço considerado: não se podem conser-
var ao mesmo t empo os compriment os, as superfícies e os ângulos. De
onde a escolha ent re as proj eções eqüidist ant es, equivalent es ou con-
formes, que são casos part iculares de t ransposição analógica. Não é
incomum opt ar-se por soluções híbridas, o que vai complicando cada
vez mais a quest ão, e adicionando a ela a aura de quest ão respeit ável.
Mas o que há de essencial nisso, para a Cart ografia em Geografia? Para
ext ensões pequenas da superfície t errest re (prioridade da Cart ografia
euclidiana), que efeit o problemát ico t raz a escolha por proj eções de
t ipos diferent es? Quase nenhum. Uma quest ão mais import ant e ainda:
as proj eções não são mais do que opções de formas de se represent ar
uma dimensão do planet a. Colocando t odos os pont os da Terra sobre um
mesmo plano (o que t odas as proj eções fazem). O result ado no mapa-
múndi é que t emos uma primazia dos oceanos, ampliada em relação ao
t erreno por cont a das deformações produzidas pelas proj eções. Esse
paradigma proj et ivo devia, só por isso, ser alvo de alguma discussão quando
o assunt o é a represent ação do espaço geográfico t ido como algo não
coincident e com a superfície t errest re.
Um aspect o da linguagem cart ográf ica cuj a discussão não é comum
ref ere-se às mét r i cas. Como a mét rica euclidiana não é compreendida
como uma opção ent re out ras, a palavra mét rica acaba signif icando a
f orma de se medir o espaço euclidiano. Como se sabe, o f undo do
mapa f oi t rat ado como uma evidência (“ f oi nat uralizado” ), após a
imposição do f undo euclidiano único. Mas, pode-se conceber os f undos
do mapa sobre a base de mét ricas ext raídas da relação dist ância-t empo,
dist ância-cust o ou ainda dar proporções às superf ícies conf orme out ras
grandezas (população, riquezas et c. ). Esse é o princípio da criação de
uma anamor f ose. É igualment e possível de se recorrer às mét ricas
t opológicas, por exemplo, para represent ar as redes, t al como j á t rat ado
ant eriorment e. Muit as da f iguras rej eit adas pela Cart ograf ia clássica
como “ diagramas” ou “ cart ogramas” podem ser consideradas como
verdadeiros mapas desde que eles possam ser conf ront adas de uma
104
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18
Verbet e Anamorphose. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (Org.), 2003, op. cit . p. 74,
t radução nossa.
19
Algumas ref lexões sobre o obj et o e mét odo da Cart ograf ia depois da sext a Conf erência
Int ernacional. Sel eção de Text os (AGB), São Paulo, n.18, p.17-24, maio, 1988.
105
FERNANDA PADOVESI FONSECA
20
CAUVIN, Colet t e. Transformações cart ográficas espaciais e anamorfoses. In: DIAS, Maria
Helena (Coord.) Os mapas em Port ugal : da t radição aos novos rumos da cart ograf ia.
Lisboa: Edições Cosmos, 1995. p: 267-310.
106
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j á que é a mudança, por meio de “ uma operação mat emát ica (ou event u-
alment e gráf ica), de uma f orma do mapa a out ra f orma do mesmo espa-
ço. Desde que est as modif icações originem alt eração dos cont ornos,
f ala-se em anamorf ose (CAUVIN, 1995, p. 270). O que import a resgat ar
nessa posição é abert ura para a quest ão e a assimilação da anamorf ose
como prát ica legít ima no int erior das prát icas cart ográf icas. O que de-
monst ra que as resist ências est ão diminuindo. E ela assume essa posi-
ção em benef ício da análise espacial, t irando em alguma medida a Car-
t ograf ia do seu universo aut o-ref erent e rest rit o: “ [ . . . ] [ mapas que
f azem uso da anamorf ose] devem ser [ . . . ] divulgados, uma vez que
permit em dar respost a a problemas espaciais que t êm permanecido
sem solução. ” (CAUVIN, 1995, p. 305)
Mark Monmonier t ambém coment a a import ância das anamorfoses.
Diz que os cart ógrafos t radicionais t rat am as anamorfoses como “ [...]
desenhos em quadrinho ext ravagant es e fant asiosos” (1993, p. 44, t ra-
dução nossa). O result ado é que esses cart ógrafos acabaram se privando
do pot encial de represent ação dessas “ deformações volunt árias” . Ele
fala em deformação volunt ária, porque na verdade t oda cart a t em um
t ipo de deformação (de maior st at us, mas deformação), que não é vo-
lunt ária: a proj eção.
Eric Blin e Jean-Paul Bord (1998, p. 251) não são indiferent es à im-
port ância das anamorfoses e ident ificam em seu uso algumas vant agens:
os mapas result ant es são espet aculares, vivos, e é isso gera uma comu-
nicação bem int eressant e, pois eles evidenciam t endências espaciais
relevant es do fenômeno est udado, difíceis de serem expressas sobre o
fundo euclidiano. Porém, ident ificam um inconvenient e que é a dificul-
dade de ler e int erpret ar t ais cart as. A reconst rução da forma em relação
à forma euclidiana consagrada t orna irreconhecível a área de origem.
Logo, se não se t iver em ment e o familiar cont orno euclidiano, a recons-
t rução (a “ deformação” ) não será int erpret ada e aproveit ada quant o
aos significados novos que oferece.
Considerado os aspect os relat ivos ao fundo do mapa que const it uem
a linguagem (diferent ement e da apreensão que ent ende a linguagem ape-
nas como o simbólico que se proj et a no fundo), rest a nos referirmos à
dimensão simbólica da linguagem cart ográfica. Essa dimensão deve ser
t rabalhada respeit ando-se: a regra da não-exaust ividade, pois t odo mapa
pressupõe a eliminação de informações o que implica, mais uma vez, em
107
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escolhas que começam j á na preparação dos dados que podem ser fact uais
ou conceit uais. A quest ão t ambém conduz a um t rat ament o rigoroso das
palet as gráficas em cont inuidade, de maneira a que a ordem visual reflit a
a ordem dos dados, t al como os princípios da Semiologia Gráfica. Os ou-
t ros recursos gráficos como as figuras devem t er sua escolha cercada de
cuidados. Seu carát er simbólico (não-figurat ivo) deve ser o crit ério de
escolha. Imagens figurat ivas podem ser prej udiciais. Isso se explica pela
necessidade de coerência dos códigos gráficos.
Para concluir os coment ários relat ivos aos t emas que ent endemos
ser import ant es para a const rução de uma relação produt iva ent re a
Cart ografia e a Geografia, relações essas não vão bem, rest a sublinhar
uma quest ão. Ela diz respeit o à necessidade de se desnat uralizar a rela-
ção da Cart ografia com a Geografia visando sua flexibilização e renova-
ção. O espaço cart ográfico euclidiano não é a encarnação do espaço
geográfico, apenas uma represent ação possível, fácil de ser hist oricizada.
Do mesmo modo que espaço geográfico é uma expressão que remet e a
várias represent ações a seu respeit o, algumas incompat íveis ent re si.
Por conseguint e, a produção da Cart ografia em Geografia, deve se rela-
cionar com essas represent ações, e no int erior dessas saber ident ificar
o que há de renovação produt iva. Não há t rabalho de represent ação
cart ográfica que não comece por flexibilizar as post uras consagradas e
enrij ecidas. É preciso eliminar o que rest a de mist erioso numa Cart ogra-
fia cient ificizada, cuj a aplicação no planej ament o, no urbanismo e em
out ras áreas sempre esconde seu carát er de represent ação e const ru-
ção como se o represent ado sempre est ivesse ali int egralment e como
verdade, e não fosse int erpret ação dos elaboradores da Cart ografia. Essa
desnat uralização, essa flexibilização do espaço cart ográfico é algo que
concerne não soment e a especialist as em Cart ografia, mais é uma ques-
t ão fundament al para a Geografia e t odos os seus prat icant es. O proble-
ma percebido dessa maneira poderia servir para abrir caminho para uma
Cart ografia disponível à renovação das ciências e da Geografia. Porém,
mais import ant e do que isso: poderia criar condições para uma Cart o-
grafia mais part icipat iva (menos aut o-referent e, para domínio de pou-
cos), inst rument o import ant e para ações de planej ament o compart ilha-
do socialment e, o que seria uma cont ribuição de valor e democrát ica
que a Cart ografia poderia oferecer para as sociedades.
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 111-129, 2007
Resumo: O t rabalho dest aca a relevância de uma cart ografia t emát ica
volt ada a populações minorit árias e apresent a os result ados de pesquisa
sobre cart ograf ia t át il para usuários com def iciência visual. Design,
produção e uso do mapa t át il f oram discut idos, j unt ament e com os
result ados aplicados a out ras populações minorit árias, t ais como os
indígenas do est ado do Acre que ut ilizam mapas de out ras formas e por
razões diferent es. Denominada et nocart ografia, ela é essencial para est e
grupo de usuários que depende dos mapas para defender suas t erras,
realizar a gest ão ambient al de seus t errit órios, visualizar seu espaço.
Est e grupo usa mapas convencionais e digit ais para represent ar seus
mundos – físico, mat erial, social, cult ural, espirit ual. Novos recursos são
discut idos, em part icular mapas mult issensoriais e mult icult urais, assim
como a import ância da educação cart ográfica.
Palavras-chave: cart ografia t át il, et nocart ografia, linguagem gráfica
e necessidades especiais, mapas t emát icos para minorias.
* Depart ament o de Geograf ia (FFLCH - USP). Laborat ório de Ensino e Mat erial Didát ico
(Lemadi). (reginaaa@usp.br)
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REGINA ARAUJO DE ALMEIDA (VASCONCELLOS)
INTRODUÇÃO
Qual a especificidade da Cart ografia para populações minorit árias,
em part icular indígenas e pessoas com rest rição sensorial ou física? Quem
são? Qual é o pot encial dos mapas na educação diferenciada? O que dife-
rencia o mapa volt ado a usuários com necessidades especiais? A ut iliza-
ção de out ros canais de comunicação e dos sent idos da audição e t at o,
além da visão, abre uma perspect iva de ampliação do uso da linguagem
cart ográfica na educação. Vários grupos de usuários de mapas, t ais como
j ovens com dificuldades de aprendizagem e idosos podem ser benefici-
ados com a ut ilização de t odos sent idos. No caso das pessoas com algu-
ma rest rição física e usuários de cadeiras de rodas, a adapt ação do mapa
at inge a et apa da colet a e represent ação das informações, como por
exemplo, a exist ência de rampas, sanit ários adapt ados e event uais bar-
reiras arquit et ônicas. O present e t rabalho propõe uma discussão sobre
o ensino da Cart ografia para populações minorit árias, em part icular indí-
genas e pessoas com rest rição sensorial. Est es dois est udos de caso es-
clarecem quest ões relacionadas ao processo da comunicação cart ográfica
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 111-129, 2007
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REGINA ARAUJO DE ALMEIDA (VASCONCELLOS)
2006). O est udo concent rou at enção em duas áreas: 1. concepção e produ-
ção de mat eriais t át eis – análise, const rução e t est e de várias t écnicas e
produt os cart ográficos, com especial at enção para uso de variáveis t á-
t eis, aplicando a semiologia gráfica (BERTIN, 1977); 2. Uso da linguagem
t át il, avaliação do processo de comunicação e desenvolviment o de pro-
gramas de t reinament o para professores e est udant es deficient es visu-
ais. Uma vast a bibliografia foi organizada durant e esse período e inúmeras
at ividades realizadas, inclusive event os int ernacionais. No período de 1996
a 2006, o Laborat ório de Ensino e Mat erial Didát ico (Lemadi), Geografia
(FFLCH-USP), cont inuou o t rabalho com alunos de graduação e pós-gradu-
ação, mant endo o mat erial didát ico t át il a disposição dos usuários e part i-
cipando de proj et os nacionais e int ernacionais, sob a coordenação de
Waldirene Ribeiro do Carmo e Carla Gimenes de Sena, que minist raram
cursos no Chile, Argent ina e México ent re 2003 e 2005.
A relevância de int egrar crianças e j ovens com necessidades especi-
ais nas escolas e na vida cot idiana é amplament e reconhecida e apoiada.
Nest e aspect o, é preciso considerar esse grupo t ant o como usuários de
mapas como mapeadores. Além das razões que levam um aluno a ut ilizar
a linguagem gráfica em várias disciplinas da escola, esses produt os são
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fundament ais para orient ação e localização, para a leit ura e a compre-
ensão do espaço geográfico nas suas várias escalas.
A combinação de diferent es imagens, t ais como, mapas, fot ografias
convencionais, imagens de sat élit es e ilust rações, é muit o import ant e
para aprender Geograf ia e mot ivar o aluno (VASCONCELLOS, 2000;
ALMEIDA, 2005), mas dependem essencialment e da visão nesse processo
de aprendizagem. Usuários com deficiência visual podem recorrer ao
t at o para conhecer o espaço geográfico. Na verdade, ut ilizam esse canal
t ambém para sua orient ação e mobilidade no espaço, inclusive na escala
das edif icações e das ruas. Assim, é f undament al que essas pessoas
t enham acesso a mapas t át eis e out ros mat eriais didát icos que possam
ser percebidos pelo sent ido do t at o e pela força mot ora (maquet es,
ilust rações em relevo, dent re out ras). Daí a import ância dest a área de
pesquisa, principalment e na cart ografia escolar.
Mapas t át eis (Figura 2) são excelent es exemplos para dest acar a re-
levância do processo de comunicação cart ográfica, t ema amplament e
est udado pelos cart ógrafos há mais de 40 anos. Na Cart ografia Tát il, a
comunicação bem sucedida requer a adoção de novas abordagens, uma
vez que os problemas que pessoas com deficiência visual encont ram são
diferent es daqueles ident ificados com os usuários vident es.
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Figura 3: Mapa elaborado durant e as aulas de cart ograf ia no Cent ro de Formação dos
Povos da Florest a - Comissão Pró-Índio do Acre
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Figura 5: Exemplos de rosa dos vent os desenhadas por prof essores indígenas
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Figura 6: Exemplos de Livros de Geograf ia organizados e publicados para uso nas escolas
i ndígenas. As i l ust rações e t ext os f oram produzi dos, na sua mai ori a, por prof essores
indígenas.
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Figura 8: Mapas elaborados pelos prof essores indígenas durant e aulas de Geograf ia, no
Cent ro de Formação dos Povos da f lorest a, CPI-Acre.
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Foi uma semana com muit o proveit o; deu reflexão no pensament o. Alguns
sonhos dos out ros são realidade, valorização. Como uma f ot o, as
apresent ações deu para viaj ar no pensament o da pessoa ao ver mapas.
Cada um t em um sonho! Tem que ir com obj et ivos [...] (Professora
indígena Raimunda)
Marcel Proust
Nest e início do século XXI, a Cart ografia dest aca-se pelos novos pro-
dut os, novos usuários, novas abordagens, com mapas at ingindo um pú-
blico maior e encont rando caminhos mais inovadores, acima de t udo
com relação à educação de crianças e j ovens. Hoj e, novas t ecnologias
digit ais est ão revendo as bases t eóricas da Cart ografia, uma vez que os
mapas digit ais que aparecem nos monit ores do comput ador, nas t elas de
celulares e agendas, precisam ser avaliados como meios de comunicação
da informação espacial. Pesquisas cognit ivas e de percepção serão ne-
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INTRODUÇÃO
No final da década de 1980 iniciamos, no Laborat ório de Cart ografia
do Depart ament o de Geografia da Universidade de São Paulo, at ividades
de produção e aprendizagem de const rução de maquet es. Marcou o início
mais sist emát ico dest e t rabalho a elaboração de uma maquet e de relevo
do Brasil, na escala de 1:5 000 000, com o obj et ivo de ser apresent ada no
8º Encont ro Nacional de Geógrafos, da AGB, ocorrido em j ulho de 1990,
em Salvador-BA, com o t ít ulo “ Do plano ao t ridimensional - A maquet e
como recurso didát ico” 1.
Desdobrament os dest e t rabalho permit iram uma série de cursos
minist rados em várias inst it uições de ensino brasileiras, um proj et o de
elaboração de bases cart ográf icas para maquet es de t odos os est ados
brasileiros e t ambém o art igo Do pl ano ao t ridimensional - A maquet e
*
Prof essora Dout ora e Livre Docent e no Depart ament o de Geograf ia da Universidade de
São Paulo. Endereço elet rônico:simielli@usp.br.
**
Geógraf a e Dout ora em Geograf ia pela USP, Prof essora de Cart ograf ia no Depart ament o
de Geograf i a da Uni versi dade Federal do Espíri t o Sant o. Endereço el et rôni co:
g.girardi@uol.com.br
***
Geógrafa e Dout oranda em Geografia pela USP, Professora de Geografia no Ensino Médio
no Est ado de São Paulo. Endereço elet rônico: morone@usp.br
1
A equipe que elaborou a maquet e do Brasil f oi compost a por: Douglas G. dos Sant os e
Humbert o L. B. Mendes (Região Nort e); Avelino Pereira, Kát ia Canil e Márcia R. B.
Piacent ini (Região Nordest e); Gisele Girardi e Mônica Pavão (Região Sudest e); Pat rícia
Bromberg, Rosemeire Morone e Sílvia Lopes Raimundo (Região Sul); Márcia A. da Cost a e
Márcia R. C. Soares (Região Cent ro-Oest e), sob orient ação da Prof a. Maria Elena R.
Simielli.
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MARIA ELENA RAMOS SIMIELLI; GISELE GIRARDI; ROSEMEIRE MORONE
2
Aut oria: Maria Elena Ramos Simielli, Gisele Girardi, Pat rícia Bromberg, Rosemeire Morone
e Sílvia Lopes Raimundo.
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dução da base cart ográfica para maquet e deve levar em cont a o público-
alvo, os obj et ivos do t rabalho, o t empo que será dedicado ao t rabalho
em sala de aula, as possibilidades mat eriais da escola, dent re out ros
fat ores. Est es element os preliminarment e analisados balizarão a escolha
da escala da base (o t amanho da maquet e), a quant idade de curvas a
serem t rabalhadas e o t ipo de acabament o que será dado.
Exemplificando: se o t errit ório a ser t rabalhado é o Brasil, no cont ext o
da sext a série do ensino fundament al, pode-se opt ar por:
a) cada aluno fazer sua própria maquet e: a base cart ográfica t em de
ser bast ant e simplificada, em t amanho pequeno;
b) cada grupo de alunos fazer uma maquet e: a base pode ser mais
det alhada, em t amanho maior, sendo que cada aluno pode ficar res-
ponsável por uma curva de nível;
c) cada grupo de alunos fazer uma região: nest e caso a classe produz
soment e uma maquet e, sendo que cada aluno pode ficar responsável
por uma curva de nível de sua região.
Podemos observar que para cada opção possível há uma base cart o-
gráfica adequada. Reafirmamos, port ant o, a necessidade de o professor
t er em ment e as condições de t empo, mat eriais e os obj et ivos para
elaborar a base cart ográfica. Det alharemos a seguir alguns element os
import ant es para a const rução da base cart ográfica.
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MARIA ELENA RAMOS SIMIELLI; GISELE GIRARDI; ROSEMEIRE MORONE
3500 m, 4000 m, 4500 m e 5000 m). Se for ut ilizado mat erial com espessura
de 1 cm a alt ura t ot al da maquet e será de 11 cm. Dependendo da escala
horizont al (escala da base cart ográfica) isso pode significar um exagero
vert ical excessivo.
Exagero vert ical é a proporcionalidade ent re as escalas horizont al e
vert ical. Para sua det erminação é preciso que se divida o denominador
da escala horizont al (da base cart ográfica) pelo denominador da escala
vert ical (no exemplo acima 1 cm equivale a 500 met ros de alt it ude,
port ant o, a escala vert ical é de 1: 50.000). Como regra geral, quant o
menor for o exagero vert ical mais próxima às proporções reais est ará a
maquet e de relevo. Cont udo, quando se t rabalha com escalas muit o
pequenas ele pode ser acent uado em função das grandezas (dist ância e
alt it ude) serem muit o dist int as. Bast a raciocinarmos que a linha do
Equador, círculo máximo da Terra, t em aproximadament e 40.000 km e a
mais alt a alt it ude no planet a, no Everest , é de cerca de 8.000 m ou 8 km.
Se fosse represent ada t oda a Terra e a linha do Equador t ivesse 1 m de
compriment o, proporcionalment e o Everest t eria aproximadament e dois
décimos de milímet ro. Assim, nest e caso, convém t rabalhar com maior
exagero vert ical.
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• Generalização cartográfica
A generalização cart ográfica é o processo que envolve a simplificação,
seleção e t ambém a valorização de det alhes significat ivos em função da
escala. Na Figura 3 est á exemplificado um processo de generalização de
curvas de nível para a const rução de maquet es.
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Figura 5A/ 5B. Base cart ográf ica para maquet e de relevo da Região Nort e
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
Figura 6. Base cart ográf ica para maquet e de relevo da Região Nordest e
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
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Figura 7. Base cart ográf ica para maquet e de relevo da Região Sudest e
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
Figura 8. Base cart ográf ica para maquet e de relevo da Região Sul
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
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Figura 9. Base cart ográf ica para maquet e de relevo da Região Cent ro-Oest e
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
Figura 10. Base cart ográf ica para maquet e de relevo do Est ado de São Paulo
Org. : SIMIELLI; GIRARDI; MORONE, 2007.
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MARIA ELENA RAMOS SIMIELLI; GISELE GIRARDI; ROSEMEIRE MORONE
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Em seguida t raçamos ou perf uramos com alf inet e t odo o cont orno, f i-
cando a curva demarcada na placa. A curva mais baixa pode ser t ranspost a
em mat erial mais resist ent e ou pode, post eriorment e, ser colada a um
suport e.
6 Acabamento
Após a secagem complet a do mat erial de recobriment o ut ilizamos
lixa d’ água suavement e para dar uniformidade ao acabament o. Terminada
est a et apa passamos finalment e à pint ura, que pode ser feit a com t int a
adequada ao mat erial ut ilizado. As mais recomendáveis são lát ex ou t int a
pl ást ica, de pref erência em cores neut ras para não int erf erir nas
informações dos fut uros usos.
145
MARIA ELENA RAMOS SIMIELLI; GISELE GIRARDI; ROSEMEIRE MORONE
vist a um obj et ivo a ser alcançado, os mat eriais de apoio (mapas t emát icos,
document os hist óricos) devem ser cuidadosament e selecionados e pro-
videnciados para que se efet ivem aprendizados significat ivos a part ir do
uso da maquet e de relevo. A t ít ulo de cont ribuição, elencamos algumas
sugest ões de ut ilização, com indicação dos mat eriais. É import ant e res-
salt ar que quando a maquet e recebe uma ut ilização ela passa a t er um
st at us semelhant e ao de um mapa t emát ico, devendo port ant o t er os
element os essenciais de qualquer mapa: legenda, t ít ulo, orient ação,
font e e aut or.
Sugest ão 1 – Toponímia: os alunos podem ident ificar na maquet e as
formas do relevo e, com o auxílio de um mapa físico denominá-las corret a-
ment e. Est e exercício t rabalha simult aneament e a leit ura do relevo repre-
sent ado pela hipsomet ria (bidimensional) e pela maquet e (t ridimensional).
Convém que se inicie o exercício pela ident ificação e nominação da
hidrografia. Os t opônimos (nomes dos rios, das serras, das mont anhas, et c.)
podem ser regist rados diret ament e sobre a maquet e ou com t iras de plás-
t ico ou papel t ransparent e que podem ser colocadas sobre a maquet e.
Sugest ão 2 –Veget ação: inicialment e deve ser providenciado um mapa
de veget ação na mesma escala que a base cart ográfica ut ilizada para a
const rução da maquet e. Est e mapa pode ser ampliado ou reduzido de
um original para se chegar à mesma escala que a base cart ográfica. Convém
que est e mapa est ej a em papel t ransparent e, pois isso permit e sua so-
breposição à base cart ográfica, facilit ando a localização das áreas de
veget ação específica. Depois os alunos devem t raçar os cont ornos sobre
a maquet e de relevo e ut ilizar recursos visuais para diferenciá-las. Areias
com granulações diferent es e t ingidas com variados t ons de verde, pó
de serragem em diferent es t ext uras e t ons são mat eriais que propor-
cionam bons result ados. O mais import ant e: o aluno deve fazer corre-
lações ent re o relevo e a cobert ura veget al, inst ruído e mot ivado pelo
professor mediador.
Sugest ão 3 – Variações t emporais: em sit uações em que o grupo
possui várias maquet es da mesma área pode-se eleger algum element o
t emporal e cada maquet e ret rat ar um período. Por exemplo: como e
quais eram a cobert ura veget al, as est radas e as principais cidades em
1500, em 1800, 1950 e em 2000. Pode-se, explorar a dinâmica da ocupação
do t errit ório e buscar correlações ent re as mot ivações da ocupação e o
avanço das t écnicas. Para a cobert ura veget al pode-se ut ilizar mat eriais
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CONSIDERAÇÕESFINAIS
A maquet e cont ribui para a represent ação t ridimensional do relevo
à medida que regist ra e dá visibilidade às formas t opográficas que são
ident ificadas nas bases cart ográficas pela dist ribuição diferenciada das
curvas de nível.
É import ant e que no moment o em que os alunos est ej am t rabalhando
com a maquet e de relevo consigam, de acordo com as habilidades e
compet ências que possuem, produzir conheciment o geográf ico. Essa
produção se faz a part ir das informações que os element os da maquet e
em si t raduzem, assim como de informações que possam ser sobrepost as
à maquet e e t rabalhadas para a elaboração de conceit os e para a
compreensão de fenômenos em suas int erações com o relevo.
A maquet e de relevo não é um fim didát ico e sim um meio didát ico
at ravés do qual vários element os da realidade devem ser t rabalhados em
conj unt o.
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 131-148, 2007
Resumé: Cet art icle t rait e le dessin comme forme art ist ique et cart o-
graphique, qui, dans ce cadre, const it ue des différent s manières de
const ruct ion e d’ expression pour apprendre e enseigner aux écoles. On
considére dans cet art icle que le développement de la capacit é de des-
siner, dans les enfant s, accompagne le cadre cognit if, néanmoins les
* Rosa Iavelberg é prof essora dout ora da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo.
** Sonia Maria Vanzella Cast ellar é prof essora dout ora da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (smvc@usp.br)
149
ROSA IAVELBERG; SONIA MARIA VANZELLA CASTELLAR
codes des langages (art ist ique et cart ographique) sont const ruit s dans
chaque cult ure différent et se t ransforment au long de l’ hist oire.
La relat ion ent re art e réalit é passe par la subj ect ivit é, celle-ci ouver-
t e aux marques individuelles, à la lect ure sensible et cognit ive du monde,
et elle ne cherche pas à êt re le miroir du réel, mais à le surpasser et à
créer des nouvelles realit és à t ravers la langage poét ique. La relat ion
ent re la cart ographie, conçue comme langage, et la réalit é, elle est à
son t our plus obj ect ive, c’ est -à-dire que la cart ographie const it ue une
représent at ion qui n’ est que part iellement le miroir de la realit é, en ce
qu’ elle mat érialise ou t errit orialise les phénomènes present s, mais elle
est aussi soumise aux t ransformat ions qui se produisent au long du t emps.
Palavras-Chave: Dessin. Apprent issage. Cognit ion. Art et géographie.
INTRODUÇÃO
Nest e t ext o vamos t rat ar o desenho como forma art íst ica e cart o-
gráfica, que, nesses âmbit os, const it ui diferent es modos de const rução
e expressão a serem aprendidos e ensinados nas escolas.
O desenho como linguagem, como meio de comunicação visual, é
um sist ema abert o a muit as funções. E como sist ema de represent ação
pode ser simbólico ou codificado. O viés represent at ivo inclui possibi-
lidades art íst icas e cient íficas, met afóricas e exat as.
O desenho pode ser feit o para aprender sobre art e, para criar em art e,
além de cumprir funções não art íst icas, como em ações int erdisciplinares
nas quais opera como desenho de represent ação, por exemplos com mapas
em geografia ou desenho de observação em ciências. Como desenho de
ilust ração na produção de t ext os, na edição de imagens e t ext os no
comput ador, com pesquisa na int ernet ou uso de scanner, o desenho
art íst ico ganha novos espaços (IAVELBERG, 2006, p. 72)
O desenvolviment o da capacidade de desenhar na criança acompanha
o âmbit o cognit ivo, ent ret ant o os códigos das linguagens (art íst ica e
cart ográfica) são const ruídos em cada uma das diferent es cult uras e se
t ransformam na hist ória.
Por int ermédio do desenho art íst ico, o aluno pode represent ar a
escola de seus sonhos, por exemplo, sem se prender aos códigos con-
vencionais da cart ografia, mas não pode dispensar os element os da lin-
guagem visual: pont o, linha, plano, luz, sombra, rit mo. Por out ro lado, o
desenho como proj et o para const ruir uma obra arquit et ônica libert ou a
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gráf icas monossêmicas, por sua vez, t razem apenas um significado, impos-
sibilit ando a exist ência de abert ura na int erpret ação.
No ent ant o, apesar dessas dist inções possíveis, os art ist as plást icos
apropriam-se de element os da linguagem cart ográfica e os cart ógrafos
apropriam-se dos símbolos e percepções espaciais, const it uídas por sím-
bolos e signos, para elaborar um produt o de comunicação visual, como
as represent ações de paisagens, mapas, pl ant as e represent ações
ment ais.
Muit os art ist as usaram mapas para realizar suas obras, fazendo do
mapa um símbolo dent ro de suas poét icas: Chaplin, por exemplo, no
filme O Grande Dit ador, t ent a cont rolar o globo t errest re, mapa do mundo,
em cena na qual sat iriza Hit ler.
Na XIX Bienal Int ernacional de São Paulo de 1987, o grupo de art ist as
Família Boyle realizou est udos da superfície da t erra, a part ir de mapa do
mundo, do qual selecionou um pont o para ser fisicament e recort ado e
expost o na parede como obra de art e:
Mark Boyle (Glasgow, 1934) Est udou Direit o na Glasgow Universit y. Em 1964
começou, j unt o com Joan Hills, os t rabalhos com a superfície da Terra.
Mais t arde, os filhos do casal –Sebast ian Boyle e Georgia Boyle envolveram-
se t ambém com esses t rabalhos, e os quat ro passaram a se apresent ar e
assinar como Família Boyle. Vivem em Londres. Georgia Boyle, Sebast ian
Boyle (Londres, 1962) Joan Boyle (FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO, 1987)
Nos dois casos, o mapa do mundo é símbolo abert o às leit uras poét icas
do público e não um sist ema codificado a ser lido igualment e por t odos
os que dominam a represent ação da cart ografia cont ida neles.
O desenho é a base de muit as modalidades de expressão visual em
art e: pint ura, gravura, escult ura, e da cult ura visual: hist órias em quadri-
nhos, publicidade, design de moda, webdesign. Trabalhado t radicional-
ment e em muit os suport es, o desenho cont emporâneo ainda ut ilizou
out ros, est ranhos em relação aos t radicionais: pedra, madeira e papel.
O grafit e, por exemplo, ocupa o espaço das ruas, e o corpo t ambém
é suport e para desenho, na art e cont emporânea. Nos rit uais religiosos
de vários povos ant igos e at uais, a pint ura corporal é marca de suas
visualidades.
Nas formas da art e pré-hist órica, encont ramos o desenho com funções
mágico-fenomenist as na relação com a caça, como símbolo da fert ilidade,
vinculado à crença no poder da imagem, ent re out ros.
153
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Ilustração 1. Tradição indiana de pint ura corporal com Henna em f est as de casament o
para t razer sort e às bodas
2a
154
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2b
Ilustração 2. Keit h Haring, art ist a americano, nascido em 1958 (2a). Desenvolveu uma
série grande de desenhos que lembravam cart uns: aplicava sobre paredes, t ela, obj et os e
t ambém sobre o corpo humano (2b).
Font e: <ht t p:/ / www.haring.com/ popshop/ asset s/ keit h_popshop.j pg>. Acesso em: 9 dez. 2007.
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Est e desenho de criança a part ir de uma imagem exist ent e é aut oral,
não se t rat a de uma cópia, mas de uma int erpret ação, do pont o de vist a
da criança, fut uro aliment o a seus desenhos de livre escolha t écnica e
t emát ica.
Quem afirma não saber desenhar na sala de aula pede do professor
um conj unt o de orient ações didát icas que promovam a apropriação da
linguagem do desenho. Muit as vezes, a opinião e as propost as dos pro-
fessores alt eram negat ivament e a condut a da criança em desenho. Por-
t ant o, quando há sugest ão com propost a sobre o que a criança vai de-
senhar, deve-se t er clareza sobre os propósit os didát icos da t arefa e,
sobret udo, considerar que essas ações devem servir à const rução do
percurso criat ivo em desenho de cada aluno.
É necessário que o professor domine o desenho como sist ema de
criação em art e, para ensinar a desenhar. Propost as orient adas podem
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O DESENHO NACARTOGRAFIAESCOLAR
O desenho no âmbit o do processo de aprendizagem em geografia
t em como referência a formação dos conceit os cart ográficos, conside-
rando que os desenhos das crianças são o pont o de part ida para explorar
o conheciment o que elas t êm da realidade e dos fenômenos que querem
represent ar. Esses desenhos são considerados represent ações gráficas
copiadas ou de memória, e não há preocupações com perspect ivas, escala,
ou qualquer out ra convenção cart ográfica.
Ao elaborar um desenho de uma rua, um t raj et o, um esboço da
casa, a criança ut iliza-se da memória. Esse desenho é, port ant o, consi-
derado realist a, na medida em que a criança escolhe a figura que será
desenhada pela nat ureza dos mot ivos. Nas formas de represent ações
aparecerão os obj et os em diferent es fases do desenvolviment o cognit ivo,
como, por exemplo, as est abelecidas por Luquet (1969), ao dest acar a
incapacidade sint ét ica como uma fase em que a criança desenha com
rebat iment o e não há cont inuidade na superf ície e perspect iva; pro-
porcional idade e seqüência dos l ugares (l ocal ização). Os pormenores dos
desenhos acabam revelando as caract eríst icas da realidade e provando
que as crianças não desenham réplicas est ereot ipadas, mas procuram
ser fiéis às suas observações da realidade.
As fases do desenho t êm relação com o desenvolviment o da capa-
cidade da percepção espacial, que se concret iza, primeirament e, nas
relações espaciais t opológicas e, em seguida, nas proj et ivas e euclidianas.
Observar isso significa not ar como a criança percebe os obj et os no espaço
e as condições de fazer a sua t ransposição no papel.
Na fase em que a criança se encont ra no realismo int elect ual, os
obj et os represent ados ainda não se apresent am no conj unt o, porque nessa
fase é impossível ver ao mesmo t empo t odos os det alhes e represent á-
los. Por exemplo, a criança pode desenhar part e do corpo (a cabeça sem o
t ronco) e não o corpo int eiro. Uma out ra caract eríst ica dessa fase é que
no desenho de uma cena, ora os obj et os est ão na visão vert ical, ora est ão
na f ront al, além de mant er o rebat iment o. No desenho o rebat iment o
aparece, por exemplo, ao se desenhar uma carroça na visão vert ical e as
quat ro rodas rebat idas no plano horizont al.
Nesse moment o, a criança, no desenho, percebe e represent a
considerando diferent es pont os de vist a. Ela observa no plano vert ical e
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Exist e uma série de noções que est ão sendo const ruídas paralela-
ment e ao desenvolviment o da represent ação – são as relações espaciais
t opológicas, proj et ivas e euclidianas –, fundament ais para a represent ação
gráfica, a represent ação simbólica, o pensament o reversível; ent ret ant o
nem sempre as relações que cont ribuem para a percepção são as mesmas
que cont ribuem para a formação da imagem que será desenhada, isso
depende muit o dos est ímulos cult urais que a criança recebe.
À medida que a criança faz suas represent ações gráficas, podemos
analisar como o pensament o cont inua est rut urando-se. Ora aparecerá
seqüência dos lugares represent ados; ora haverá exagero na propor-
cionalidade e no rebat iment o; ora não. Isso significa que, durant e o
processo de let rament o cart ográfico, as crianças das séries iniciais, prin-
cipalment e ent re os set e e oit o anos de idade, precisam ser est imuladas
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ROSA IAVELBERG; SONIA MARIA VANZELLA CASTELLAR
PARA FINALIZAR
O diálogo ent re a art e e a cart ografia t orna os obj et os ou os lugares
cheios de significados, ao est abelecer relações com o cot idiano. Nessa
perspect iva as crianças são post as em desafios no que se refere à per-
cepção espacial e à observação dos lugares em que vivem. Elas percebem
que esses lugares não são est át icos, mas sist emas dinâmicos nos quais
fluem informações e cult ura.
Ao desenvolver uma propost a didát ica numa perspect iva int er-
disciplinar, faz-se necessário int egrar t odos os aspect os do obj et o est u-
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 149-166, 2007
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BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, SÃO PAULO, nº 87, p. 149-166, 2007
Resumo: O present e t rabalho busca efet uar uma análise crít ica de
um conhecido modelo de int erpret ação da hist ória econômica de Mat o
Grosso/ Mat o Grosso do Sul, ist o é, o modelo apresent ado por Gilbert o
L. Alves no art igo int it ulado Mat o Grosso e a hist ória, 1870-1929: ensaio
sobre a t ransição do domínio econômico da casa comercial para a hege-
monia do capit al f inanceiro, publicado no Bol et im Paul ist a de Geograf ia
em 1984. Busca-se ainda apresent ar, como alt ernat iva, sugest ões de
mét odo com vist as ao est udo dos import ant es problemas levant ados no
referido art igo.
Palavras-chave: Mat o Grosso. Hist oriografia econômica. Desenvol-
viment o econômico.
Abstract: This art icle at t empt s a crit ical analysis of a long-st anding
int erpret at ion of t he economic hist ory of t he Brazilian st at es of Mat o
Grosso and Mat o Grosso do Sul; t hat is, t he int erpret at ion present ed by
Gilbert o L. Alves in his essay ent it led Mat o Grosso e a hist ória, 1870-
1929: ensaio sobre a t ransição do domínio econômico da casa comercial
* Est e t rabalho f oi originalment e apresent ado no VII Congresso Brasileiro de Hist ória
Econômica / 8ª Conferência Int ernacional de Hist ória de Empresas, realizados em Aracaj u
em set embro de 2007, t endo sido elaborado no âmbit o de um proj et o de pesquisa que
cont a com financiament o da Fundação de Apoio ao Desenvolviment o do Ensino, Ciência e
Tecnologia do Est ado de Mat o Grosso do Sul (Fundect ).
** Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); Fundect / MS
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PAULO ROBERTO CIMÓ QUEIROZ
1
A ant iga capit ania, província e depois est ado de Mat o Grosso abrangia, originalment e,
t ambém os espaços correspondent es a Rondônia (desmembrado, como t errit ório federal,
em 1943) e Mat o Grosso do Sul (criado em 1977). Nest e t rabalho, refiro-me ao t errit ório
que daria origem a Mat o Grosso do Sul como “ sul do ant igo Mat o Grosso” , “ ant igo sul de
Mat o Grosso” ou simplesment e “ SMT” .
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2
Em 1985, as idéias cent rais desse ensaio f oram reproduzidas em out ro t ext o do aut or,
dest inado a fundament ar a propost a de t ombament o do conj unt o arquit et ônico do port o
de Corumbá (Alves, 1985). Esse últ imo t ext o, por sua vez, foi recent ement e republicado
(Alves, 2003).
3
Limit ava-se, prat icament e, às obras de Ana Célia Cast ro (As empresas est rangeiras no
Brasil, 1979) e Alcir Lenharo (As t ropas da moderação, 1979). No t ocant e à hist oriografia
acadêmica sul-mat o-grossense, o diálogo era limit ado a uma única obra de Valmir Corrêa
(1976).
169
PAULO ROBERTO CIMÓ QUEIROZ
4
Um bom exemplo, a esse respeit o, é uma recent e t ese de dout orado em Geograf ia, que
acaba de ser publicada (cf. Moret t i, 2006, esp. p. 24-28). No mesmo sent ido, v. diversos
t rabalhos produzidos no âmbit o do programa de pós-graduação em Educação da UFMS.
5
Considero import ant e deixar claro que encaro est a como uma t aref a essencialment e
int elect ual – necessária, a meu ver, nos quadros do saudável debat e acadêmico. Assim,
manifest o meu respeit o pessoal e profissional pelo aut or, bem como meu reconheciment o
por seu esforço: apoiado, em boa medida, em font es document ais, ele se animou a abrir
uma “ picada” int erpret at iva em f unção da qual t odos nós, est udiosos da hist ória mat o-
grossense/ sul-mat o-grossense, pudemos aprender (pois não só com os acert os se aprende,
mas sobret udo com os equívocos próprios e dos out ros).
170
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quando a criação ext ensiva de gado bovino, j á prat icada na porção nort e,
se implant ou t ambém na porção sul da região, out ros caminhos t errest res
foram abert os, ligando diret ament e essa últ ima porção t ant o a Minas
Gerais como a São Paulo (cf. LEITE, 2003).
Nesse cont ext o, eram freqüent es as queixas dos dirigent es e out ros
observadores da sit uação da capit ania (depois província) com relação à
precariedade de t ais meios de comunicação, queixas essas que bem cedo,
ainda no início do século XIX, se t raduziram na reivindicação da abert ura
da navegação pelo rio Paraguai – a qual permit iria, via est uário do Prat a,
uma ligação com o lit oral do sudest e que, embora mais longa, era muit o
mais prát ica, rápida e barat a que aquela oferecida pelos caminhos int ernos.
Tal reivindicação const it uiu, de fat o, um dos principais element os das
complexas e cont radit órias relações ent re o Império do Brasil e a República
do Paraguai, sendo que soment e ao final dos anos 1850 o Império logrou
obt er o direit o de t rafegar pelo t recho paraguaio do rio Paraguai. Essa
navegação foi int errompida durant e a Guerra, ent re 1864 e 1869, e foi
ret omada, de modo mais desembaraçado, ao fim da mesma guerra, quando
o referido rio foi abert o à livre navegação int ernacional.
É nesse cont ext o, port ant o, que se sit uam os principais raciocínios
do aut or, o qual corret ament e apont a os efeit os econômicos advindos
dessa abert ura: a) o “ sensível barat eament o das mercadorias” e o in-
crement o da at ividade comercial em Mat o Grosso (como “ part e de um
moviment o generalizado, só explicável em escala mundial, det erminado
pelos baixos cust os de produção, viabilizados pela fábrica moderna, e
pelos baixos cust os dos t ransport es, propiciados pela navegação a vapor” ,
cf. ALVES, 1984, p. 18); b) o increment o dessa navegação, em t orno da
qual passava a desenvolver-se “ t oda a vida econômica” da província e
que “ facilit ava o escoament o da produção, assim como a import ação das
mercadorias indispensáveis à região, inclusive maquinaria moderna” ;
nesse cont ext o Alves inclui a modernização da agroindúst ria açucareira
(rest rit a, no caso, à porção nort e), mediant e a import ação de equi-
pament os que “ rivalizava[m] com os mais modernos do Nordest e” (id.,
p. 19); c) os avanços no aproveit ament o do imenso rebanho bovino da
província, sobret udo aquele do Pant anal, dest acando-se, a esse respeit o,
o moderno est abeleciment o fundado em 1873, por invest idores plat inos,
na localidade de Descalvados (no at ual município de Cáceres, em Mat o
Grosso, às margens do rio Paraguai) – est abeleciment o esse volt ado
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“ vit ória dos pequenos posseiros” , t eria represent ado, na verdade, uma
vit ória da empresa: na medida em que ela cont rolava os meios de
t ransport e necessários à comercialização da erva, os posseiros t eriam
sido obrigados a “ girar sob a órbit a” da Companhia, como fornecedores
de erva e mesmo como “ reserva de mão-de-obra” . Desse modo, uma vez
que não levou à eliminação pura e simples da empresa, “ a solução da
‘ quest ão do mat e’ correspondeu a uma derrot a para os comerciant es”
(op. cit ., p. 53-54).
Em decorrência de t udo isso, enfim, de acordo com o aut or, em fins
da década de 1920 “ est ava bast ant e avançado o processo que t ransformou
os comerciant es mat o-grossenses em propriet ários de est abeleciment os
purament e comerciais e/ ou de fazendas de criação de gado” ; na mesma
época, “ Mat o Grosso, em correspondência, assumira sua ‘ vocação
econômica’ ” , volt ando, agora sob a “ hegemonia plena” do capit al fi-
nanceiro, a “ paut ar-se por sua condição de região basicament e expor-
t adora de gado bovino em pé” (op. cit ., p. 72-73).
Alves se equivoca, a meu ver, ao t ent ar aplicar diret a e imediat ament e,
à hist ória mat o-grossense/ sul-mat o-grossense, conceit os derivados da
análise do capit alismo em escala global –desprezando, em grande medida,
as mediações ent re as det erminações universais e as especificidades
nacionais e regionais. Desse modo, pode-se dizer que est amos aqui em
face de um dos “ mecanicismos e reducionismos economicist as” apont ados
por Emília Viot t i da Cost a como cont rafações do mat erialismo hist órico
(COSTA, 1994, p. 12), ou, em out ras palavras, um dos “ delírios oniscient es”
que, de acordo com Fragoso e Florent ino, cost umavam acomet er a Hist ória
Econômica, levando-a a acredit ar que podia “ t udo explicar e det erminar”
– ao preço, cont udo, de se afast ar “ da hist ória, dos hist oriadores e dos
homens” (1997, p. 36).
De fat o, o desenvolviment o da reflexão hist oriográfica, sobret udo
no últ imo quart el do século XX, t ornou ext remament e problemát icas
algumas das ant igas pret ensões do mat erialismo hist órico. Por out ra
part e, conforme t ambém assinala Cost a, as crít icas ao mat erialismo,
embora inicialment e válidas, “ freqüent ement e levaram a um t ot al sub-
j et ivismo, à negação da possibilidade de conheciment o e at é mesmo ao
quest ionament o dos limit es ent re hist ória e ficção” (COSTA, 1994, p. 12-
13). Nesse cont ext o, penso que essa aut ora est á corret a ao post ular
“ uma nova sínt ese” , que sej a “ cent rada na t eoria da práxis enriquecida
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Para f icar só no período após a Independência, vale lembrar, com Moraes, que a idéia de
cont rolar o t errit ório, e assim “ const ruir o país” , “ at uou como f ort e ciment o na
manut enção da unidade e int egridade da ant iga colônia” ; pelo “ proj et o nacional” assim
delineado, t rat ava-se de “ const ruir a nação na expansão t errit orial” , com o que se
j ust ificava, ao mesmo t empo, “ o Est ado fort e e cent ralizador” que deveria “ conduzir e
comandar o processo” (2005, p. 140).
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Nesse sent ido, t ais apreciações exageradas f oram, em det erminados moment os e em
variados graus, compart ilhadas por out ros aut ores (dos quais, aliás, não me excluo).
8
De modo indiret o e cont radit ório, Alves parece admit ir t ais exageros ao mencionar o
carát er limit ado da paut a de export ações de Mat o Grosso, at é o f inal do século XIX,
mot ivo pelo qual era “ débil” a “ art iculação da região com os cent ros dinâmicos do
comércio mundial” (p. 25-26).
9
Out ra facet a daquela exagerada avaliação aparece na explicação de Alves para a presença,
no ramo do t ransport e fluvial, de empresas ligadas (real ou supost ament e) ao “ capit al
financeiro” , as quais t eriam cont ribuído para sufocar as casas comerciais ao ret irar delas
uma das fontes de seu poderio, a saber, o “ monopólio sobre a navegação” . Na impossibilidade
de t rat ar dessa quest ão, nos limit es dest e t ext o, remet o o leit or a Queiroz (2004, p. 334-
335); Souza (2001, p. 25-26); Reynaldo (2000, p. 96-118); Oliveira, 2005.
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Mas t ais exageros decorrem t ambém, por out ro lado, do afã de incluir
as realidades da região nos esquemas t eóricos adot ados. Assim, com
base nos poucos casos cit ados, referent es à “ implant ação da indúst ria
moderna na região” , o aut or avalia, por exemplo, que Mat o Grosso se
t ornava uma “ grande frent e de invest iment os” e est ava j á ent ão “ t ran-
sit ando do período manufat ureiro para o da maquinaria indust rial” (p.
23). Nesse cont ext o, o cont ingent e de paraguaios que emigrou para Mat o
Grosso, após a guerra, chega a ser considerado um “ prolet ariado” , como
“ necessário ant ípoda” dos capit ais ent ão igualment e encaminhados para
a província – quando, na verdade, esse cont ingent e era formado, de
acordo com uma font e cit ada pelo próprio aut or, por “ vivandeiros” que
est avam, em sua maior part e, acost umados “ a viver da magra et apa dos
soldados” brasileiros que ocupavam Assunção e que por isso os seguiram
quando esses soldados, em 1876, foram removidos dali para Mat o Grosso
(apud ALVES, 1984, p. 22-23).
Já com relação ao domínio do capit al comercial sobre o conj unt o da
economia mat o-grossense, na época, pode-se dizer que essa é uma in-
t erpret ação que encont ra apoio na hist oriografia (cf. CORRÊA, L. S., 1980,
1999; GARCIA, 2001; BORGES, 2001). Mesmo assim, parece a meu ver não-
demonst rada uma das principais premissas do pensament o de Alves, a
saber, aquela segundo a qual as casas comerciais est ariam promovendo um
saudável moviment o de “ diversificação da produção” (o que, no caso,
explicaria a const ernação com a supost a derrot a que lhes t eria sido
post eriorment e impost a pelo “ capit al financeiro” ). Garcia, por exemplo,
vai no sent ido opost o, af irmando que, no período após a Guerra do
Paraguai, o capit al mercant il “ não est ava ancorado em uma at ividade
produt iva fort e, que lhe desse sust ent ação” (GARCIA, 2001, p. 122); assim,
o aut or menciona o “ quadro de at raso na at ividade produt iva” mat o-
grossense para dizer que, nesse cont ext o, “ o domínio do comércio sobre
a economia provincial era sinônimo do seu at raso” (id., p. 100).
De fat o, no t ocant e à cit ada “ diversificação” aparecem, no esquema
de Alves, a rigor, apenas as at ividades ext rat ivas (erva-mat e e borracha).
As at ividades indust riais propriament e consideradas “ modernas” (Des-
calvados e as usinas de açúcar) são dadas como iniciat ivas alheias ao
capit al comercial, conforme j á vist o. Já no que t oca à produção de
charque (vist a como a principal possibilidade de Mat o Grosso escapar do
t rist e lugar que lhe est aria reservado na “ divisão regional do t rabalho” ),
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seu desenvolviment o é explicit ament e colocado, pelo próprio aut or, como
um frut o de invest iment os de “ empresas monopolist as” ligadas ao “ pólo
imperialist a” plat ino, como j á foi igualment e vist o.
Desse modo, o que parece ficar claro é que o aut or idealiza a cat e-
goria dos “ comerciant es mat o-grossenses” , ist o é, o “ grande comerciant e
dos port os” (cf. ALVES, 2003, p. 78). Esse novo t ipo de comerciant e, diz
ele, surgido em Mat o Grosso após a abert ura da navegação, correspondia
j á ao t ipo produzido pela Revolução Indust rial, ist o é, pela era da ma-
quinaria, e se sent ia port ant o à vont ade no novo cont ext o de mercadorias
padronizadas, negociadas no “ abst rat o mercado fut uro” 10; cosmopolit a,
ele “ expressou, no plano polít ico, a sua forma universalist a de conceber o
mundo e o homem” , compondo enf im uma cat egoria que t eria sido
“ marcada pelo universalismo e pelo engaj ament o na lut a pelo progresso
mat erial” (ALVES, 2003, p. 66-67; p. 78). Tal idealização fica especialment e
caract erizada quando se observa que as relações ent re as casas comerciais
e os produt ores locais (e, na verdade, t ambém os consumidores) sit uavam-
se nos t ermos de uma dominação verdadeirament e odiosa. Assim, o próprio
Alves menciona o “ domínio exercido sobre os produt ores regionais,
est reit ament e dependent es das frot as das casas comerciais para efeit o
de abast eciment o e de escoament o de seus produt os” , acrescent ando
que o “ pront o at endiment o ao produt or” era “ condicionado ao seu grau
de resist ência às condições de compra e de t ransport e impost as pelos
comerciant es” (1984, p. 51). Menciona t ambém a “ ação implacável” dos
mesmos comerciant es, reflet ida nos elevados j uros cobrados aos pro-
dut ores, a t al pont o que est es últ imos, segundo o aut or, “ ansiavam” pela
presença de aut ênt icos bancos na região (1984, p. 39). Lúcia S. Corrêa,
por sua vez, falando especificament e de Corumbá, regist ra a prát ica
cost umeira, por part e dos comerciant es, do cont rabando, do açambar-
cament o de gêneros agrícolas, da sonegação de impost os e da especulação,
inclusive com medicament os, por ocasião das freqüent es epidemias que
grassavam na cidade (CORRÊA, L. S., 1980, esp. p. 82 e ss.) 11.
10
O aut or cont rapõe esse segment o aos comerciant es mat o-grossenses de velho t ipo, ist o
é, o que ele chama “ comerciant es de f ísicos” , dependent es, para suas t ransações, do
presença f ísica das mercadorias.
11
Para uma ampla análise, não-idealizada, dos efet ivos cont ornos sociais das t ransformações
ent ão verif icadas em Corumbá, v. Souza, 2001.
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Essa empresa est ava present e t ambém na Bolívia, t endo sua mat riz em Puert o Suárez e
f iliais em várias out ras localidades (cf . Al bum graphico, anúncio da empresa na part e
final do volume).
13
Vale not ar que t ambém nas empresas fundadas ant es de 1895, bem como naquelas para as
quais não se indica a dat a de f undação, há várias com nomes de est rangeiros, ist o é,
alemães, it alianos, espanhóis e t ambém lusit anos.
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Semelhant e vinculação, na verdade, é apont ada por Valmir Corrêa j á com relação aos
primeiros comerciant es a se inst alarem em Mat o Grosso após a abert ura do rio Paraguai,
ainda em f ins da década de 1850: a at uação de t ais “ mascat es f luviais” , “ em especial
imigrant es europeus” , “ represent ou de f at o o pont o f inal da cadeia imperialist a, ao
incorporar a dist ant e província de Mat o Grosso ao mercado dos produt os indust rializados
da Europa” (CORRÊA, V. B., 1999, p. 23-24).
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A respeit o dos peculiares int eresses belgas na região, nessa época, ver Garcia (2005).
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Cont udo, não deixa de ser int eressant e not ar que Lúcia S. Corrêa assinala, no segment o
dos comerciant es, o peso part icular dos est rangeiros, os quais, em vist a de suas
condenáveis prát icas (conf orme j á vist o), chegaram a ser obj et o de moviment os locais
de sent ido “ nat ivist a” , de “ reação ao est rangeiro” , ist o é, cont ra “ o rest rit o grupo de
est rangeiros que cont rolavam o grande comércio de Corumbá” (CORRÊA, L. S., 1980, p.
99). Takeya por sua vez menciona, no caso que analisou, “ prot est os dos comerciant es
nat ivos” com relação aos est rangeiros (1992, p. 333).
17
Na verdade, t al post ura aparece j á quando, mencionando o processo de concent ração do
capit al, em escala mundial, o aut or simplesment e subscreve a avaliação original de Lênin,
concluindo que, “ num mundo j á dominado pelos oligopólios, com a emergência do capitalismo
monopolist a” , j á “ não havia mais lugar para a lei da of ert a e da procura, para a livre
concorrência, enf im” (cf . p. 23-24). Vej a-se, a propósit o, a seguint e observação de
Hobsbawm: “ o cont role do mercado e a eliminação da concorrência const it uíam apenas
um aspect o de um processo mais geral de concent ração capit alist a, e não eram nem
universais nem irreversíveis: em 1914 houve uma concorrência muit o mais acent uada
nos set ores pet roleiro e siderúrgico nort e-americanos do que houvera dez anos ant es.
Nest e sent ido, é ilusório f alar, em relação a 1914, daquilo que por volt a de 1900 era
clarament e ident ificado como sendo uma nova fase do desenvolviment o capit alist a, como
‘ capit alismo monopolist a’ ” (1988, p. 70).
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t udo, ser mais corret o e produt ivo ret er e dest acar out ros aspect os
assinalados pelo cit ado aut or, em sua crít ica de algumas das proposições
de Alves. De fat o, Borges observa que “ a presença diret a do capit al es-
t rangeiro em Mat o Grosso foi de duração limit ada, pelo menos nos níveis
ext raordinariament e elevados dos anos que precedem a Primeira Guerra
Mundial” , o que “ se explica, afinal, pela própria expansão dos mercados
financeiros int ernacionais na década que precede a eclosão da Primeira
Grande Guerra” ; concluindo, Borges assinala enfim que o capit al financeiro
“ não ‘ subst it uiu’ [...] as classes sociais int ernas: o cresciment o do poder
dos pecuarist as e de comerciant es de novas áreas expressa esse fat o”
(p. 129; grifo do original).
Em out ras palavras, parece possível dizer que Alves t oma como
duradoura e definit iva uma presença que, na maior part e dos casos, foi
apenas episódica e t ransit ória, como especialment e no caso das várias
empresas ligadas à ext ração da borracha e à exploração de minérios (ouro,
diamant e e manganês). Assim, das 29 empresas que aparecem na referida
list a, parecem t er subsist ido, na verdade, apenas 8 ou 9 (propriet árias de
fazendas est abelecidas no SMT com a finalidade de explorar a pecuária),
além da Companhia Mat e Laranj eira (cuj as event uais ligações com o capit al
financeiro precisam ainda ser, na verdade, melhor elucidadas).
Com relação especificament e à economia ervat eira, deve-se dizer que
a proposição de Alves, acerca do apoio de represent ant es do capit al co-
mercial à t ese do fracionament o dos ervais, apresent a efet ivos element os
de verossimilhança. Num art igo publicado no cit ado Album graphico, o
polít ico mat o-grossense Brandão Júnior, part idário desse fracionament o,
defendia enfat icament e o papel que, nessa hipót ese, seria exercido pelos
comerciant es: “ A export ação compet e ao comércio, a quem incumbe o
papel de int ermediário ent re o produt or e o consumidor. E no caso do
mat e, o comércio, cert o, não se deixará pret erir, porque ninguém poderá
preencher est a função com mais vant agem que ele” . Na verdade, a crer
em Brandão Júnior, o int eresse dos comerciant es est aria radicado mais
precisament e no mercado consumidor a ser criado pela renda provenient e
da export ação da erva. Segundo esse aut or, de fat o, em casos como o do
mat e “ o comércio limit a-se, quase sempre, a um lucro muit o insignificant e,
acont ecendo muit a vez não pret ender out ra recompensa al ém do
forneciment o de mercadorias de consumo aos vendedores de produt os a
export ar” (BRANDÃO JÚNIOR, 1914, p. 429).
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Vale lembrar que a Argent ina, o grande mercado consumidor da erva-mat e, não possuía
senão uma pequena ext ensão de ervais nat ivos, e at é pelo menos a década de 1930
dependia quase t ot alment e da import ação (FIGUEIREDO, 1968).
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Sobre esse assunt o, ver t ambém Jesus (2004).
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Ademais, o espaço da Companhia Mat e cont inuou a ser cada vez mais
rest ringido, devido, ent re out ras coisas, à ação do Est ado nacional brasileiro
– movido, no caso, por preocupações que se inscrevem t ant o no âmbit o
da economia quant o no da polít ica (cf. LENHARO, 1986). Em sua polít ica
de “ nacionalização das fronteiras” , parte da chamada “ Marcha para Oeste” ,
o Est ado Novo de Vargas recusou-se a renovar os arrendament os da Com-
panhia. Ao mesmo t empo, com a criação, em 1938, do Inst it ut o Nacional
do Mat e, os produt ores independent es foram est imulados a se organizarem
em cooperat ivas e passaram a cont ar (em medida ainda a ser melhor
avaliada) com financiament o e assist ência t écnica est at ais. Desse modo,
sabe-se que, a part ir de fins dos anos 1940, a Companhia deixou a cena
principal e esses produt ores assumiram na prát ica a operação da economia
ervat eira (cf. SALDANHA, 1986).
Rest a enfim a analisar os element os do esquema de Alves que parecem
t er alcançado maior poder de disseminação, ist o é, aqueles referent es
ao supost o “ assalt o final” cont ra o poder da “ burguesia comercial mat o-
grossense” , com seu pret enso efeit o de “ est rangular” a diversificação
produt iva ent ão ensaiada. Como j á foi dit o, o aut or at ribui à Noroest e
(dada como um “ t ent áculo” do “ pólo imperialist a” sit uado no sudest e
brasileiro) o papel de algoz das perspect ivas de desenvolviment o aut ô-
nomo da região. Para o aut or, a Noroest e t eria sido pensada e const ruída
com a finalidade principal de prover mat éria-prima (gado bovino) aos
frigoríficos inst alados em São Paulo pelo capit al financeiro, o que t eria
decret ado o fracasso da t ent at iva de indust rialização local represent ada
pelas charqueadas. Um eloqüent e indício de como t ais afirmações de
Alves cont inuam a ser apreendidas pode ser encont rado em uma recent e
obra, onde se lê o seguint e:
com a inst alação da Ferrovia Noroest e do Brasil, ligando o cent ro indust rial
em pleno desenvolviment o (São Paulo) e o Mat o Grosso [...], o domínio
monopolist a sobre a região t ransfere-se da região plat ina para o Sudest e
brasileiro. Verifica-se, nest e período, a falência das empresas de charque
da região. O int eresse do monopólio agora é pelo gado em pé, t ransport ado
pela ferrovia Noroest e do Brasil para ser abat ido nos frigoríficos inst alados
em São Paulo (MORETTI, 2006, p. 26).
Compreende-se que, no t rabalho acima cit ado, t ais t emas, conforme
observei de início, figuram apenas como element os de composição de
um “ quadro abrangent e” no qual o aut or busca sit uar seu obj et o precí-
puo, que é int eirament e out ro.
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Tais afirmações, cont udo, foram j á largament e refut adas por pesquisas
realizadas ao longo da década de 1990. Em primeiro lugar, não é possível
at ribuir à const rução da Noroest e um sent ido purament e econômico. Em
dois t rabalhos (concluídos um em 1992 e o out ro em 1999, depois
publicados, respect ivament e, em 1997 e 2004), creio haver demonst rado
que os int eresses econômicos imediat os, ligados à moviment ação de
mercadorias ent re São Paulo e Mat o Grosso, não eram suficient es para
explicar a const rução dessa est rada. Na verdade, os event uais efeit os
econômicos da ferrovia apareciam, na época, clarament e subordinados a
int eresses polít ico-est rat égicos do Est ado nacional brasileiro (t ant o que
seu t recho sul -mat o-grossense f oi, desde o início, est at al , ist o é,
pert encent e à União). O que se buscava era, essencialment e, uma ligação
diret a ent re a front eira sul-mat o-grossense e o lit oral at lânt ico brasileiro,
de modo a se poder dispensar a via plat ina de acesso a Mat o Grosso – a
qual dependia do t rânsit o por dois países est rangeiros (o Paraguai e a
Argent ina) com os quais o Est ado brasileiro mant inha relações nem sempre
amigáveis e j amais confiáveis. Desse modo, o fat o de a ferrovia haver
at uado de modo poderoso no enfraqueciment o da via plat ina const it ui,
ant es de qualquer coisa, a própria concret ização, em t ermos econômicos,
de seu sent ido polít ico-est rat égico: ela deveria ser, como foi, um “ dreno”
do t ráfego efet uado pela calha do rio Paraguai, de modo a “ nacionalizar”
(direcionando-as para o sudest e brasileiro) as ligações econômicas e
polít icas mat o-grossenses.
Out ro equívoco consist e em afirmar que as charqueadas mat o-gros-
senses t eriam ent rado em “ falência” após a década de 1920. Em primeiro
lugar, o processo de melhorament o do rebanho bovino mat o-grossense,
que poderia t orná-lo apt o ao aproveit ament o nos frigoríficos paulist as,
embora se t enha de fat o iniciado na segunda década do século XX, não
t eve cont inuidade, sendo ret omado, de modo significat ivo, apenas a part ir
da década de 1950 (QUEIROZ, 2004, p. 482-484). Assim, durant e a primeira
met ade do século, a Noroest e prat icament e não t ransport ou gado gordo
(ist o é, pront o para o abat e) de Mat o Grosso para São Paulo. Ao cont rário,
os animais export ados pela via ferroviária se dest inavam às invernadas
sit uadas no oest e paulist a, de onde, aí sim, seguiam para o abat e nos
frigoríficos (na verdade, dado o valor relat ivament e baixo do gado, a maior
part e cont inuou a ser export ada no velho sist ema das boiadas; cf. QUEIROZ,
2004, p. 395-411; LEITE, 2003).
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Um raciocínio semelhant e é ef et uado pelo aut or com relação ao dest ino da economia
açucareira em Mat o Grosso. Nest e t rabalho, cont udo, deixo de analisar esse caso, t ant o
pelas limit ações de espaço como pelo fat o de ele est ar mais diret ament e relacionado com
a porção nort e da região considerada.
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Conf orme not a Wilcox (1992, p. 103), uma incipient e produção de charque para
export ação, por iniciat iva dos próprios f azendeiros, t eve início logo após a abert ura do
rio Paraguai.
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A esse respeit o, ver Wilcox (1993).
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e comercialização et c. Creio, no ent ant o, que esse não deve ser o pont o
de part ida de uma análise. Not e-se por exemplo que, pelo que diz a
hist oriografia, essa empresa pagava impost os numa ínfima proporção de
seus rendiment os, de modo que, por esse crit ério, ela não poderia ser
vist a como o t ípico enclave de propriedade est rangeira (t ipo esse que
const it ui, como not a Hirschman, “ an obvious and comparat ivel y easy
t arget of t he f iscal aut horit ies” , cf. 1981, p. 67). Penso port ant o que
exist e um campo abert o à invest igação das event uais relações ent re a
empresa e produt ores locais de gêneros aliment ícios e out ros, bem como
o event ual forneciment o, a t erceiros, de gêneros de consumo import ados
pela Companhia.
A possibilidade da ocorrência de encadeament os, cont udo, é cert a-
ment e muit o maior no período seguint e. Na verdade, a própria presença
do Est ado, conf orme j á indicado, parece const it uir um encadeament o
produt ivo do t ipo ext erno, ist o é, aquele relacionado, na conceit uação
de Hirschman, à ação de “ t he commercial and indust rial cl asses, f oreign
invest ors, or t he st at e” (1981, p. 80). Ademais, o ret raiment o da Com-
panhia, associado à expansão dos produt ores independent es, cert a-
ment e implicou numa desconcent ração da renda provenient e das ex-
port ações – conf orme aliás é sugerido, j á em 1914, pelas palavras de
Brandão Júnior (cit . ). Desse modo, pode-se supor um espaço, mesmo
que modest o, para a ocorrência de l inkages de consumo, ist o é, “ a
indução a invest ir em indúst rias domést icas produt oras de bens de
consumo para os f at ores empregados no set or export ador” (WATKINS,
apud SUZIGAN, 2000, p. 71).
Além disso, como not a Hirschman, “ t he grower of t he st apl e may
himself become involved in t he more accessible nonindust rial f orwarding
operat ions, such as t ransport at ion, commerce, and f inance” (1981, p.
74). Tais operações, com efeit o, podem t er sido assumidas, pelo menos
em part e, pelos próprios produt ores por meio de suas cooperat ivas (com
o que se t eria, port ant o, um l inkage int erno, nos t ermos definidos por
Hirschman); mas cert ament e não se poderia descart ar a ocorrência de
t ais encadeament os do t ipo ext erno, ist o é, a possibilidade de que agen-
t es est ranhos às cooperat ivas, como os comerciant es locais ou regionais,
t enham at uado, com cert a import ância, no t ransport e da produção e no
financiament o dos produt ores.
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Por últ imo, e especialment e not ável, é o fat o de que o poder at ingido
pelas cooperat ivas parece haver chegado ao pont o de, cont rariando o
usual, levá-las a uma at ividade de elevada complexidade t ecnológica,
volt ada à exploração de uma “ possibilidade de processament o ult erior”
do próprio produt o básico. Hirschman, de fat o, escreve que “ if t he new
act ivit y is t echnol ogical l y al ien t o t he ongoing act ivit y, inside l inkage
wil l meet wit h special dif f icul t ies” (1981, p. 76). No caso, ent ret ant o,
sabe-se que a federação das cooperat ivas ervat eiras sul-mat o-grossenses
empreendeu, no início da década de 1960, a const rução e operação, na
cidade de Pont a Porã, de uma grande indúst ria volt ada à produção de
mat e solúvel, com o nome comercial Mat ex (cf. SALDANHA, 1986). O caso
dessa indúst ria precisa, evident ement e, ser melhor est udado. Aparen-
t ement e, no ent ant o, el a si mbol i za, ao mesmo t empo, t ant o as
possibilidades quant o as limit ações subj acent es à economia ervat eira
sul-mat o-grossense. Sabe-se de fat o que a Mat ex foi desat ivada, após
alguns anos de operação, devido à descapit alização do set or – durament e
golpeado, em 1965, com o fechament o do mercado argent ino à export ação
da erva cancheada (cf. SALDANHA, 1986).
Enfim, sem pret ender haver esgot ado o assunt o, nem muit o menos
haver dit o sobre ele a “ últ ima palavra” , concluo apenas acent uando a
idéia de que, caso se deixem de lado rígidos esquemas preconcebidos, o
est udo da hist ória econômica de Mat o Grosso/ Mat o Grosso do Sul só
t erá a ganhar.
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5 Solicit amos a seguint e forma para a bibliografia:
BIONDI, J. C. Kimberlit os. In: CONGRESSO BRAS. GEOLOGIA. 32. Sal-
vador, 1982. Anais... Salvador: SBG, 1982. v.2, p. 452-464.
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Ist o permit e a referência bibliográfica e a indicação da font e de
cit ação ao longo do t ext o, na seguint e forma: (BIONDI, 1982, p. 457) ou
(LACOSTE; SALONON, 1973, p. 86).
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