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Francimar José da Silva (1); João Manoel de Freitas Mota (2); Simone Perruci Galvão (3).
(1) Engenhario Civil pela Faculdade do Vale do Ipojuca, FAVIP
(2) Professor Coordenador do Departamento de Engenharia Civil da FAVIP e Doutorando do Departamento
de Engenharia Civil, UFPE
(3) Professora de Engenharia Civil da FAVIP e Doutorado em Ciências de Materiais pela Universidade
Federal de Pernambuco, UFPE
Travessa José Rodrigues de Paula, 38, Centro, Tacaimbó-PE, CEP 55140-000.
Resumo
Nos últimos anos o concreto se tornou o segundo produto mais consumido do mundo, como resultado,
excessivos problemas tem surgido em estruturas de concreto. Com a utilização de técnicas e materiais
inadequados, assim como construções em ambientes cada vez mais hostis, demasiadas patologias têm
ocorrido nas estruturas provocando a necessidade de alternativas para aumentar sua durabilidade e vida
útil. Uma das principais alternativas, sendo bastante disseminada no meio acadêmico, é a utilização de
sistemas binários com cimento Portland e pozolana metacaulim que pode viabilizar técnica e
economicamente a produção de concreto, garantindo o aumento na vida útil das peças estruturais
contribuindo de forma eficiente na produção de concretos mais resistentes e duradouros. Desse modo à
pesquisa tem como objetivo a realização de uma revisão bibliográfica acerca da influência da pozolana
metacaulim em matriz cimentícia. O trabalho busca descrever desde o processo de obtenção da matéria-
prima para produção do metacaulim, até as contribuições evidenciadas em misturas que contém esta adição
mineral. Os resultados do estudo permitem concluir que o emprego do metacaulim na produção de
concretos e argamassas é tecnicamente viável. Este fato é corroborado pelo desempenho das misturas com
metacaulim que apresentaram melhor trabalhabilidade; maior resistência mecânica; menor exsudação,
tempo de pega, calor de hidratação, absorção e índice de vazios. Além de reduzir as manifestações
patológicas nas edificações e proporcionar maior durabilidade e vida útil.
Palavra-Chave: metacaulim, pozolana, cimento Portland, concreto, caulim.
Abstract
In the last years concrete has become the second most consumed product in the world, as a result,
excessive problems have arisen in concrete structures. With the use of inappropriate materials and
techniques, as well as buildings in increasingly hostile environments, too many diseases have occurred in
the structures causing the need for alternatives to increase its durability and service life. One of the main
alternatives are quite widespread in the academic field is the use of binary systems with Portland cement
and pozzolan metakaolin that can technically and economically facilitate to produce concrete, ensuring an
increase in the useful life of structural components contributing efficiently to produce concrete more resistant
and durable. So the study aims to conduct a literature review on the influence of pozzolan metakaolin in
cement matrix. The paper aims to describe since the process of obtaining the raw material for production of
metakaolin until the contributions evidenced in mixtures containing mineral this addition. The results of the
study show that the use of metakaolin in the production of concrete and mortar is technically feasible. This is
corroborated by the performance of mixtures with metakaolin that showed better workability, higher
mechanical strength; less bleeding, setting time, heat of hydration, absorption and voids. Besides reducing
the pathological manifestations in buildings and provide greater durability and service life.
Keywords: metakaolin, pozzolan, Portland cement, concrete, kaolin.
Sua produção denota baixo impacto ambiental, pois, o beneficiamento do caulim gera
areia quartzosa que pode ser facilmente aproveitada como agregado miúdo na indústria
da construção civil; no processo de calcinação são emitidos vapor de água para a
atmosfera; diferentemente do cimento Portland, que gera diversos problemas ambientais,
notadamente quanto à elevação de dióxido de carbono na atmosfera durante sua
fabricação (ROCHA, 2005).
Uma vez que a avaliação do mineral foi determinada é iniciado o processo de lavra, que
na maioria das minas de caulim do mundo é realizado a céu aberto já que os custos de
produção das minas de caulim por meio de métodos de lavra subterrâneos são
economicamente inviáveis (MURRAY, 2007). No Brasil, a entidade responsável pela
elaboração das normas para extração mineral é o departamento nacional de produção
mineral e a norma regulamentadora para lavras a céu aberto é a NRM 02.
Segundo Rocha (2005), após todos esses processos a composição química da argila
caulinítica e do caulim ideal para utilização como pozolana metacaulim ou MCAR, deverá
apresentar os seguintes percentuais para cada composto (Tabela 1).
Tabela 1 – Composição química da argila caulinítica e do caulim (Rocha, 2005).
Composição Argila Caulinítica Caulim Teórico
SiO2 > 40,0% e < 60,0% 46,54 %
Al2O3 > 25,0% e < 45,0% 39,50%
Fe2O3 < 8,0% -
Na2O < 0,1% -
K2O < 3,0% -
TiO2 < 1,0% -
CaO < 1,0% -
H2O (PF) > 8,0% e < 18,0% 13,96%
Outros < 1,0% -
Relação Al2O3 / SiO2 - 0,85
Os caulins podem ser de origem primária ou secundária, sendo que o primeiro tipo é
aquele proveniente da alteração de rochas in situ, devido principalmente à circulação de
fluidos quentes provenientes do interior da crosta, da ação de vulcões ou da hidratação de
um silicato anidro de alumínio, seguido pela remoção de álcalis. Os secundários são
formados pela deposição de sedimentos em ambientes lacustres, lagunares ou deltaicos,
e normalmente apresentam menores teores de quartzo e mica, porém, maiores teores de
contaminação de óxidos de ferro e titânio (LUZ et al., 2005).
A rede atômica da caulinita é formada por uma camada de sílica tetraédrica (quatro
átomos de oxigênios ligados a um átomo de silício), ligada a uma camada de alumina
octaédrica (oito átomos de oxigênio ligados a um átomo de alumínio) (MONTE; PAIVA;
TRIGUEIRO, 2003), podendo sua formulação ser descrita como resultado da
decomposição de 2 moles de gibsita, cuja ordem estrutural dos átomos de alumínio está
posicionada no centro dos octaedros e, nos vértices estão posicionados os grupamentos
hidroxila; entretanto, somente 2/3 dos octaedros são ocupados e ligados pelas arestas, o
que caracteriza a caulinita como dioctaédrica. Na estrutura da sílica os átomos de silício
estão posicionados no centro dos tetraedros, sendo os vértices ocupados por átomos de
oxigênio. Devido à forma com que os tetraedros são coordenados uns aos outros, cria-se
um buraco na lamela que expõe a hidroxila interna para eventuais reações
(GARDOLINSKI; MARTINS FILHO; WYPYCH, 2003).
A produção do metacaulim e/ou do MCAR deve ter processo criterioso com relação à
finura do produto final, já que suas partículas têm como principal função no concreto a
redução da porosidade da matriz e as reações com o hidróxido de cálcio livre para
formação de compostos de origens secundárias. Para que o efeito do metacaulim seja
maximizado na matriz, o seu diâmetro médio deve ser inferior ao diâmetro médio do
cimento, assim a reatividade do metacaulim é elevada. No entanto, devem-se estabelecer
alguns limites a esta finura, pois, seu excesso poderá acarretar alguns problemas como o
aumento da viscosidade ou até mesmo provocar a perda de plasticidade, já que a partir
de certa finura não se nota grandes vantagens ao concreto (ROCHA, 2005).
A distribuição granulométrica dos grãos, de acordo com a norma americana ASTM C 618,
deverá apresentar um limite no tamanho máximo das partículas de adições pozolânicas,
sendo este restringido a 34% das partículas retidas na peneira nº 325, ou, maior que 45
µm. A norma técnica brasileira NBR 12653 (1992) também especifica o tamanho das
partículas de materiais pozolânicos aos mesmos valores da ASTM C 618. Já a norma
atual e vigente NBR 15894 (2010) referente à metacaulim, fixa o valor máximo de 10%
para os resíduos retidos na peneira com abertura de malha de 45 µm (MEDINA, 2011).
Outro ponto importante com relação as características físicas, é a área específica das
partículas, pois quanto maior a área específica superficial do material maior será a
capacidade deste reagir com o hidróxido de cálcio, devido a uma disponibilidade de área
de contato entre os reagentes (NITA; JOHN, 2007); além de conceder maior estabilidade
e coesão ao concreto, especialmente aqueles propensos à exsudação e segregação
(MEDINA, 2011). Para o metacaulim de alta reatividade, dentro das exigências físicas de
uso, segundo Carmo (2006), acredita-se que uma menor quantidade de material retido na
peneira 45 µm, e uma maior superficie específica possam assegurar o desempenho
especificado dessa pozolana. No metacaulim, o tamanho de suas partículas variam de 0,2
a 15 µm (DOMONE, 2001 apud NITA, 2006) e sua areá específica encontra-se em
valores superiores a 12.000 m²/Kg. Já o MCAR apresenta área específica com valores em
torno de 60.000 m²/kg e suas partículas são lamelares (CARMO; PORTELLA, 2008).
Barata (1998) explica que à composição mineralógica, ou o teor de sílica amorfa presente
no metacaulim influencia diretamente na atividade pozolânica deste material. Nas argilas
termicamente ativas esse componente está associado à porcentagem de argilominerais
presente em sua composição. Para produção de pozolanas altamente reativas (MCAR) o
teor mínimo de caulinita deverá ser de 90%; no entanto, é comum encontrar nas argilas
teores de sílica cristalina. Para percentuais de até 10% de fases inertes sobre a massa de
metacaulim não ocorre redução significativa na melhoria das propriedades mecânicas
(resistência à compressão e tração) das misturas com metacaulim (AMBROISE et al.,
1993 apud BARATA, 1998).
2.2 Exsudação
Metha e Monteiro (2008) relatam que as causas principais de segregação e exsudação
estão associadas a uma combinação de consistência inadequada, quantidade excessiva
de partículas do agregado graúdo com densidade muito alta ou muito baixa, pouca
quantidade de partículas finas e métodos impróprios de lançamento e adensamento.
A utilização do metacaulim assim como outras adições como a sílica ativa e a cinza de
casca de arroz, produz uma redução nas taxas de exsudação quando comparadas com o
concreto sem adição (CHRISTÓFOLLI, 2010). Barata (1998) associa este comportamento
às partículas extremamente finas da pozolana, que consegue promover um melhor
empacotamento dos grãos de cimento, de modo que os canais ascendentes de água são
reduzidos. Esta constatação foi verificada no trabalho de Saad et al. (1982) apud Souza
(2003) que na ocasião estudou o comportamento do concreto com o uso de metacaulim
com teores de substituição de até 50% na massa de cimento, e foi constatado que a
exsudação é reduzida à metade, quando comparada com as amostras de referência.
Outras pesquisas como as realizadas por Zhang e Malhotra (1995), Caldarone et al.
(1994), utilizando misturas com o MCAR também constataram que a exsudação das
misturas com essa adição mineral foi bastante reduzida (SOUZA, 2003).
Em estudo realizado por Saad et al. (1982) apud Oliveira (2007), o qual utilizou um
metacaulim com superfície específica de 850 m²/kg para produção de concreto massa,
constatou-se uma redução no calor de hidratação nas primeiras idades. Os pesquisadores
apresentaram como justificativa os altos teores de substituição de cimento por metacaulim
ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 9
(entre 30% a 50%). No trabalho realizado por Rabello et al. (2003) apud Liduário (2006),
diversos ensaios foram realizados com metacaulim em substituição parcial à massa de
cimento no teor de 7%, e com cimento de baixo calor de hidratação. No ensaio referente
ao calor de hidratação as amostras com adição apresentaram menor temperatura de
hidratação, sobretudo, para as idades de 3, 5 e 7 dias.
Já em estudos realizados por Ambroise et al. (1994) apud Oliveira (2007) com MCAR,
ocorreu um aumento de 1, 6 e 8ºC no calor de hidratação das amostras com 10, 20 e 30%
de metacaulim com alta superfície específica, respectivamente, em relação as amostras
de referência, sem a utilização de adição mineral. Esses valores confirmam o efeito
acelerador desta pozolana sobre a cinética de hidratação de cimento. Comportamento
semelhante foi constatado na pesquisa realizada por BAI e WILD (2002), quando
utilizaram metacaulim de alta reatividade em teores de 10% e 15% em argamassas
(OLIVEIRA, 2007).
2.4 Trabalhabilidade
Segundo Castro (2007) a trabalhabilidade de um concreto fresco é influenciada por
diversos fatores, tais como: o tempo decorrido desde a mistura; as propriedades e as
características dos cimentos e agregados; a presença de qualquer adição mineral em
substituição ao cimento; a presença de qualquer adição química; e as proporções
relativas dos materiais constituintes da mistura.
Basheer et al. (1999) apud Souza (2003) avaliando o desempenho de concretos com
metacaulim de alta reatividade, constataram que esta adição influencia diretamente na
trabalhabilidade desse material. Nesta pesquisa, os autores verificaram que os concretos
com pozolana, mesmo apresentando menores valores de abatimento, garantiram uma
maior facilidade de lançamento, adensamento e acabamento a mistura. Para os autores,
esse fato decorre da distribuição granulométrica do MCAR, e como sua distribuição pode
ocorrer de forma controlada durante sua produção, a utilização desta adição torna-se
vantajosa, quando comparada a outras pozolanas de alta reatividade, como a sílica ativa
que não possui este controle.
Em outro trabalho, realizado por Lacerda e Helene (2005), utilizando misturas com
metacaulim e sílica ativa foi constatado que os concretos com adição mineral apresentam
melhor trabalhabilidade, quando comparados ao concreto de referência sem adição. Essa
melhora, segundo os pesquisadores, ocorreu devido à inclusão da adição que apresenta
partículas muito finas. Além, dos mecanismos intrínsecos do metacaulim, que dado seu
formato em camadas superpostas, cuja microestrutura herdada da sua matéria prima, a
argila caulinítica, apresenta estrutura lamelar estratificada e causa o efeito de
deslizamento, onde as minúsculas placas deslizam umas sobre as outras. Isso porque o
MC como em outros materiais com estruturas lamelares, apesar de existir uma forte
ligação ao longo das camadas, estão fracamente ligadas entre si. Logo, as tensões de
cisalhamento adequadamente alinhadas provocam o escorregamento entre as camadas.
No estudo realizado por Wild et al. (1996) apud Barata (1998), foi constatado que o
metacaulim de alta reatividade quando empregado como substituição parcial a massa de
cimento, desenvolve três fatores que contribuem para a influência sobre a resistência à
compressão do concreto: o efeito físico filler (preenchimento), a aceleração da hidratação
do cimento, e a reação pozolânica com o CH. O efeito filler é imediato, a aceleração da
hidratação do cimento atinge o máximo dentro das primeiras 24 horas, e o efeito máximo
da reação pozolânica ocorre entre o 7º e o 14º dia. A partir daí não são observados
acréscimos na resistência em relação ao proporcionado pelas misturas de cimento
Portland comum.
Rocha (2005) explana que a utilização do metacaulim em matriz cimentícia contribui para
o aumento da resistência mecânica das misturas que utilizam desta pozolana, e que a
dosagem ideal situa-se entre 6% e 15% em relação a massa de cimento, e em alguns
casos especiais, dependendo da aplicação e demais materiais na mistura, pode chegar
até 20%. Este autor ainda comenta que o acréscimo na resistência à compressão pode
chegar a até 50% quando utilizado como adição suplementar ao cimento Portland.
Em estudo realizado por CALDARONE et al. (1994) apud Oliveira (2007), utilizou-se vigas
de 15 cm x 15 cm x 51 cm para avaliação da resistência à tração na flexão. Neste
trabalho foi comparado o desempenho entre amostras contendo 10% de MCAR, amostra
com 10% de sílica ativa, e amostras de referência (sem adição mineral).
Figura 2: Comportamento da resistência à tração em concretos com MCAR e com sílica ativa (CALDARONE
et al. 1994 apud OLIVEIRA 2007).
Os resultados obtidos por CALDARONE et al. (1994) apud Oliveira (2007), mostram um
melhor desempenho das amostras com sílica ativa e metacaulim, quando comparadas as
de referência. Na comparação entre a sílica ativa e o MCAR, verifica-se que as amostras
apresentam valores semelhantes, principalmente nas idades de 28 e 90 dias.
Barata e Dal Molin (2002) constataram no seu estudo que a modificação do concreto com
10% de metacaulim reduziu significativamente o coeficiente de absorção, se comparadas
às amostras de referência, sendo que para as amostras com sílica ativa este coeficiente
foi ligeiramente superior. Os autores justificam o comportamento dos concretos com sílica
ativa ao fato desta adição possuir maior finura, o que proporcionou um empacotamento
mais pronunciado do que as partículas do MC. Os pesquisadores ainda afirmam que a
incorporação de metacaulim em pastas de cimento promove a formação de uma estrutura
de poros de tamanhos reduzida.
Os vazios presentes nos concretos são originados devido a vários fatores, a saber:
excesso de água de mistura necessária à obtenção de trabalhabilidade conveniente;
diminuição do volume absoluto que acompanha a hidratação dos constituintes do cimento;
ar eventualmente ou, propositadamente arrastado durante a operação de mistura; e
fissuras de origens, térmicas, de retração, mecânica, de má elaboração e dosagem do
material (GABRICH, 2008). À medida que se reduz esses vazios, as misturas tornam-se
mais resistente a ambientes agressivos (BARATA, 1998). Uma forma eficiente de
promover essa redução é através da incorporação de adições minerais.
No trabalho realizado por Helene e Medeiros (2004), avaliando as amostras com adição
de pozolana metacaulim, contatou-se que todas as amostras com adição apresentaram
menor índice de vazios, quando comparadas as de referência (sem adição).
Comportamento semelhante foi observado na pesquisa de Lacerda e Helene (2004), que
avaliou a durabilidade de concretos de alto desempenho com metacaulim. Na avaliação,
os pesquisadores observaram que os concretos com adição apresentaram em todas as
idades índices de vazios abaixo das amostras de referência, sem uso de metacaulim.
BARATA, M. S.; DAL MOLIN, D.C.C. Avaliação preliminar do resíduo caulinítico das
indústrias de beneficiamento de caulim como matéria-prima na produção de uma
metacaulinita altamente reativa. Ambiente Construído, v. 2, n. 1, p. 69-78, 2002.
PINTO, Carlos de Souza. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo, 2006. 3ª
Ed.