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Automatização de Cartografia Temática

Organização da Cartografia Temática no SIG da EDIA

Carreira, Duarte Nuno, Cardoso, Sandra

PALAVRAS CHAVE: Cartografia Temática, SIG, EDIA

RESUMO

O Sistema de Informação Geográfica da EDIA, Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do


Alqueva, S.A., tem como fundação uma base de dados geográfica central, que deve dar resposta aos
vários sectores da empresa, desde a área do Planeamento, à Avaliação de Impactes Ambientais.
Esta diversidade de fins e utilizadores leva a que os dados devam ser simbolizados de várias
formas. Além da simbologia, poderá ser necessário filtrar os dados de forma diferente consoante o
objectivo, visualizando apenas um sub-conjunto de registos. A equipa gestora do SIG implementou
uma forma de automatizar o acesso dos utilizadores à informação geográfica, que acedem assim a
Cartografia Temática em vez de aceder directamente aos dados de base, não tendo portanto
necessidade de efectuar esse trabalho inicial com os dados para obter a cartografia desejada. O
utilizador tem acesso a uma lista de categorias temáticas, e dentro destas a um conjunto de temas
previamente definidos ao nível da simbologia, dados, escalas de visualização, e outras
características. Esta abstracção é conseguida através da criação de uma base de dados com as
características dos temas disponíveis, e por um módulo no próprio software de SIG que permite a
visualização dos temas de forma categorizada e o acesso aos seus metadados. Com esta
metodologia, obtém-se a padronização da cartografia temática da empresa, com elevada
qualidade, criando uma linguagem comum entre os vários sectores utilizadores do SIG. Por outro
lado, obtém-se uma maior confiança na cartografia produzida na empresa, tornando mais acessível
a utilização das ferramentas SIG, libertando recursos no departamento de SIG e facilitando a
evolução da informação de base.

INTRODUÇÃO

O Sistema de Informação Geográfica da EDIA tem como fundação uma base de dados geográfica
central, que abrange um grande conjunto de áreas temáticas, respondendo aos vários sectores da
empresa que recorrem a informação georreferenciada.

O SIG da EDIA é gerido pelo Departamento de Informação Geográfica e Cartografia (DIGC), onde três
técnicos asseguram as actividades de edição, manutenção, e análise da informação, e produção de
cartografia temática, servindo as solicitações da empresa por ordem de chegada e grau de
prioridade, através de um simples sistema online de registo de solicitações.

Complementarmente, existem 12 postos de trabalho SIG adicionais com software SIG instalado, onde
os técnicos da EDIA podem aceder aos dados e utilizar as ferramentas SIG de forma autónoma.

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A variedade de disciplinas e matérias tratadas pelo corpo técnico da EDIA leva a que um mesmo
conjunto de dados possa ser simbolizado e interpretado de diversas formas. Por exemplo, ao sector
de projecto hidroagrícola interessará visualizar a rede de transporte de água de acordo com o
projecto em que cada troço se insere. Já ao sector de planeamento, interessará simbolizar a mesma
informação de acordo com os prazos de execução e financiamento previstos. Adicionalmente,
poderá também ser necessário filtrar esses dados de forma a visualizar apenas um sub-conjunto,
considerando, por exemplo, apenas infra-estruturas primárias, deixando de fora as infra-estruturas
secundárias.

Esta realidade obriga a que cada técnico conheça de forma aprofundada a informação existente na
base de dados, para que consiga determinar qual o conjunto de dados que necessita de usar, bem
como os atributos que melhor representarão o seu objecto de estudo. Além disso, deve dominar as
ferramentas SIG para que consiga obter os resultados pretendidos, desde as ferramentas de
simbologia às ferramentas de pesquisa e query, tipicamente mais complexas. Em geral, resulta desta
situação que o departamento de SIG é sobrecarregado com solicitações de produção de cartografia
temática, que não sendo muito complexas para técnicos especializados, ultrapassa no entanto os
conhecimentos mais generalistas dos técnicos de outras áreas que necessitam de recorrer ao SIG.

Mesmo quando um utilizador domina já os dados relacionados com a sua área de actividade, a
equipa SIG pode necessitar de alterar a estrutura dos mesmos, ou até criar um novo conjunto de
informação mais adaptado às diversas solicitações da empresa. Esta é uma dificuldade que tende a
impedir a evolução do SIG, obrigando à estagnação dos dados com efeitos negativos sobre as
potencialidades do sistema.

Outra consequência desta abordagem de acesso directo aos dados é a produção de cartografia
impressa com qualidade muito diversa, sem qualquer padronização, e por vezes até mesmo
incorrecta. No pior cenário, os erros cometidos serão depois transmitidos como fundamento para a
tomada de decisões.

Com o objectivo de obviar os problemas identificados, a equipa gestora do SIG desenvolveu um


conjunto de iniciativas que permitiram abstrair os utilizadores dos dados que utilizam, focando-se
antes na utilização de temas ou níveis de informação, previamente definidos e simbolizados de
acordo com cada área temática. O utilizador tem acesso a uma lista de categorias temáticas, e
dentro de cada categoria a um conjunto de temas que pode utilizar nos seus projectos SIG. Os dados
de base usados encontram-se previamente processados, com definição de filtros aplicados,
simbologia complexa, toponímia, escalas de visualização, e de outras características. Mesmo que a
equipa SIG altere a estrutura de dados, desde que a estrutura de temas seja também actualizada,
não provocará problemas. Antes pelo contrário, o SIG obtém a liberdade para evoluir e trazer novos
benefícios aos seus utilizadores.

Esta abstracção entre os dados de base e os utilizadores é conseguida recorrendo a 4 elementos: i)


uma base de dados de temas, indicando os dados de base utilizados, denominação, descrição,
metadados, organização temática, e outras informações; ii) um conjunto de ficheiros de simbologia
para cada tema, acessíveis através da rede interna da empresa; iii) uma ferramenta para o acesso
aos temas, dispondo-os de forma categorizada, permitindo o seu carregamento e o acesso à sua
descrição e metadados; e iv) uma ferramenta para a sua gestão centralizada.

A presente comunicação apresenta a forma como o SIG da EDIA automatiza a cartografia temática
na empresa, descrevendo a abstracção utilizada entre a cartografia temática e a estrutura da base
de dados geográficos, bem como as ferramentas desenvolvidas para obter a sua automatização e
gestão.

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BASE DE DADOS DE TEMAS

A base de dados de temas é o cérebro de toda a automatização. Esta base de dados em formato
Access, está localizada numa partilha de rede acessível a todos os utilizadores em modo de leitura.
A sua gestão é efectuada pelo DIGC, que deve mantê-la sempre actualizada.

A base de dados de temas contém uma única tabela com a lista dos temas disponibilizados pelo SIG
da empresa. As principais características definidas para cada tema são: Categoria XML, Nome do
Tema, Ficheiro de Simbologia, Descrição, e Ficheiro Descritivo. São também definidos outros itens
que de momento têm preenchimento opcional e que se destinam a melhoramentos futuros: Fonte
actual (futura gestão de versões), Legenda (imagem para incluir nos metadados), Extrato exemplo
(imagem a incluir nos metadados). Na Figura 1 é apresentado um extracto desta base de dados.

Figura 1 – Base de dados de temas.

FICHEIROS DE SIMBOLOGIA

Cada Tema definido na base de dados tem um ficheiro de simbologia correspondente, cuja
localização é dada pelo campo “Ficheiro_lyr”.

No caso da EDIA, em que a plataforma SIG está padronizada em tecnologia ESRI, os postos de
trabalho utilizam ArcView. Neste software, os ficheiros de simbologia são gravados com a extensão
.lyr, que podem ser partilhados por todos os utilizadores e usados em qualquer projecto. A equipa
SIG é quem prepara estes ficheiros e os coloca num local partilhado em rede, tal como é definido na
base de dados de temas.

Como já foi referido, estes ficheiros de simbologia armazenam um conjunto de configurações para
além da própria simbologia, como sejam toponímia, pesquisas aplicadas, escalas de visualização, e
agrupamento de ficheiros. Desta forma, é possível criar temas de cartografia bastante complexos
baseados num único ficheiro lyr. Na Figura 2 apresenta-se o exemplo do tema de Limites
Administrativos, que engloba níveis de informação para o País, Distritos, Concelhos e Freguesias.

A fonte de dados de cada nível de informação de um Tema é também uma característica dos
ficheiros lyr, e por isso, ao serem carregados no ArcView por um utilizador, os dados
correspondentes que a equipa de SIG definiu ao criar o ficheiro lyr são também carregados. Os
utilizadores abstraem-se da complexidade e extensão da base de dados geográficos, concentrando-
se apenas no conjunto de Temas disponível.

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Tema Escala Nacional Escala de Concelho Escala de Freguesia

Figura 2 – Tema de Limites Administrativos. Com um único tema, obtêm-se várias


visualizações consoante a escala, de forma automática.

FERRAMENTA DE ACESSO À CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Para facilitar a exploração da colecção de Temas, e a sua visualização de forma categorizada, foi
desenvolvido um módulo para ArcView. Cada posto de trabalho é configurado para que este módulo
seja carregado automaticamente quando o ArcView é iniciado. A aplicação propriamente dita
(pequeno conjunto de dll’s) está localizada também na partilha de rede, facilitando a actualização
com novas versões (é apenas necessário substituir os ficheiros na partilha).

Esta ferramenta acrescenta um novo separador à Tabela de Conteúdos do ArcView, mostrando a lista
de Temas na forma de árvore, tal como representado na Figura 3.

Figura 3 – Ferramenta de acesso à cartografia temática em ArcView,


num novo separador na Tabela de Conteúdos.

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O utilizador pode, com duplo-clique, adicionar um Tema ao mapa, ou aceder a um menu de
contexto com o botão direito do rato.

O menu de contexto dá acesso aos metadados do Tema (opção “Ver Info adicional” na Figura 3). Os
metadados podem ser constituídos por qualquer ficheiro reconhecido pelo sistema operativo (Word,
PDF, HTML, etc.), sendo aberta a aplicação predefinida no sistema operativo para leitura de cada
formato. Podem também ser gravados no formato de metadados da ESRI (formato XML), que são
armazenados juntamente com os ficheiros de dados (por exemplo, shapefiles) ou na própria base de
dados geográficos (ArcSDE), caso em que são visualizados no browser de forma formatada (Figura 4).

Ficheiro de Metadados em formato PDF. Metadados armazenados em XML.

Figura 4 – Consulta de Metadados de um Tema.

É também possível definir Temas de informação não geográfica, visíveis também na árvore de temas
numa data categoria.

Estes Temas de informação podem servir para fins de documentação, sendo úteis para apresentar
documentos que esclarecem aspectos relativos à própria categoria, sendo possivelmente o primeiro
tema da categoria.

De forma análoga aos metadados, qualquer formato reconhecido pelo sistema operativo pode ser
usado. Na Figura 5 é apresentado um exemplo deste tipo de tema.

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Tema de documentação na categoria SISAP. Documento aberto na aplicação predefinida.

Figura 5 – Tema de documentação da categoria SISAP, Sistema de Apoio à


Determinação da Aptidão Cultural (em formato HTML).

GESTÃO DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Para realizar a sua gestão, é necessário manter sincronizadas as definições da base de dados de
temas, com os ficheiro de simbologia, e com a representação gráfica que assumem no software de
SIG (ArcView).

A definição da estrutura da árvore de temas pode ser feita apenas manipulando os valores da base
de dados de temas, definindo cuidadosamente a coluna da Categoria, e observando os resultados no
ArcView. Este processo é pouco intuitivo, obrigando a um processo moroso de tentativa-erro.

Foi por isso desenvolvida uma simples ferramenta que permite criar a árvore de categorias de forma
visual, gravando o resultado num ficheiro XML (Figura 6). Ao criar a árvore de forma visual, obtém-
se rapidamente os resultados pretendidos. Esta ferramenta foi adaptada de um projecto existente
no site de ArcScripts denominado DataGator (http://arcscripts.esri.com/).

Tendo o ficheiro XML definido, basta editar a base de dados de temas, atribuindo a cada tema a
categoria da árvore onde se pretende que o tema seja colocado no ArcView. A aplicação ArcView lê
o ficheiro XML para criar a árvore de categorias, e vai distribuir os temas pelas várias categorias de
acordo com a configuração de cada tema definida na base de dados. Temas sem categoria definida
ou com categorias que não existem no ficheiro XML são ignorados, sendo portanto invisíveis aos
utilizadores.

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Criação da árvore de Temas. Ficheiro XML resultante.

Figura 6 – Ferramenta para a criação da árvore de temas de forma visual.

Limitações

Existem algumas limitações inerentes aos ficheiros de simbologia.

Os projectos gravados ao serem de novo utilizados não actualizam os temas já carregados


anteriormente. Logo, havendo actualização dos ficheiros de simbologia, esta não se reflecte de
forma automática nestes projectos. Neste momento, não foi ainda encontrada uma solução para
esta limitação. A equipa de SIG ao realizar alterações na Cartografia Temática, seja na base de
dados de temas, nos ficheiros de simbologia ou nos dados de base, tenta garantir que projectos
anteriores consigam manter-se funcionais, mesmo sem a actualização da componente temática. Os
utilizadores são notificados via email consoante sejam efectuadas alterações, devendo re-adicionar
os temas aos seus projectos antigos quando o desejarem.

Será possível, no futuro, implementar um mecanismo que detecte automaticamente alterações na


base de dados e nos ficheiros de simbologia, notificando o utilizador, que poderá então optar pela
actualização ou por manter o projecto inalterado.

De qualquer forma, neste momento, sempre que um utilizador utiliza um Tema sabe que está a
aceder à sua versão mais actual.

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Alguns melhoramentos estão já em vista para desenvolvimento num futuro próximo. A centralização
de todos os componentes na base de dados geográfica, baseada em Oracle e ArcSDE, incluindo os
ficheiros de simbologia e a base de dados de temas, evitará a utilização de partilhas em rede.

Por outro lado, o componente ArcView deverá ser aproveitado para incluir outras funções. Neste
momento é já utilizado para monitorização das licenças de ArcView, registando na base de dados
central, a frequência com que cada licença é utilizada. Esta monitorização serve de base à gestão

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de licenciamento, permitindo redistribuir licenças e optimizar a forma como são partilhadas pelos
utilizadores. Desta forma, foi também possível criar uma bolsa de licenças para utilizadores menos
frequentes, sendo as licenças atribuídas por curtos períodos a pedido dos utilizadores, sendo
devolvidas no final da sua utilização.

Existem outras funções que se pretende incluir neste componente, como o acesso mais expedito aos
modelos de impressão, e a inclusão das ferramentas mais procuradas, como o cálculo de áreas,
atribuição de coordenadas XY a pontos, a extracção de informação por área de interesse (clip),
entre outras.

Este sistema, na sua forma actual, permite que todos os utilizadores do software SIG acedam à
mesma informação geográfica, com uma simbologia padronizada em toda a empresa, criando uma
cartografia temática reconhecida por todos, facilitando a sua utilização e aumentando o grau de
confiança na sua correcção e qualidade. Além dos óbvios benefícios ao nível da produtividade de
todos quantos recorrem ao SIG, tornou-o também mais acessível, reduzindo o nível de conhecimento
do software SIG necessário à sua utilização, efectivamente democratizando o seu uso. Ao nível da
organização da própria informação geográfica, veio facilitar a sua evolução, ao libertar os
utilizadores da necessidade de aceder aos dados em bruto e de conhecer a sua estrutura, e
permitindo aos gestores da informação um maior grau de liberdade na sua alteração.

EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A.


Rua Zeca Afonso, n.º 2
7800 – 522 BEJA

Tel: (+ 351) 284 315 100


Fax: (+ 351) 284 315 121
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