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Dor Pelvica
Dor Pelvica
A dor pélvica crônica (DPC) é uma queixa comum e se constitui em grande desafio
para o ginecologista porque possui fisiopatologia muito complexa, podendo ser oriunda dos
órgãos pélvicos e da interação dos sistemas gastrintestinal, urinário, musculoesquelético,
neurológico e transtornos psiquiátricos. Devido à inervação compartilhada e as
interconexões funcionais entre as vísceras pélvicas, estruturas somáticas e o sistema nervoso
central, pode haver o envolvimento de mais de um sistema agravando o sintoma que pode
ser debilitante chegando e afetar todos os aspectos da função física e psicossocial. A dor por
ser um sintoma subjetivo é naturalmente influenciada por esses fatores que muitas vezes, a
mulher não refere por temor de que sua queixa possa ser considerada como problema
psicológico e que problemas relevantes sejam negligenciados.
Cerca de 60% das mulheres com a doença nunca receberam o diagnóstico específico e
20% nunca realizaram qualquer investigação para elucidar a causa da dor. Em unidades de
cuidados primários, 39% das mulheres queixam-se de dor pélvica. É responsável por 40 a
50% das laparoscopias ginecológicas, 10% das consultas ginecológicas e, aproximadamente,
12% das histerectomias. Adicionalmente, por levar ao absenteísmo, implica custo direto e
indireto ao indivíduo e ao Estado. Devido à falta de notificação e dados estatísticos não se
sabe a real prevalência em países em desenvolvimento, como o Brasil, mas estima-se que seja
superior àquela encontrada em países desenvolvidos.
Estudos têm identificado fatores de risco para a doença, e embora haja dificuldades
para se concluir de forma peremptória, devido às características dos estudos, há fortes
evidências de que abuso de drogas ou álcool, abortos, fluxo menstrual aumentado, doença
inflamatória pélvica, patologia pélvica, partos cirúrgicos e comorbidades psicológicas
possam estar associados à doença.
FISIOPATOLOGIA
Embora haja número elevado de condições que se manifestam como dor pélvica
crônica, é possível agrupá-las em categorias: Ginecológicas, aspectos relacionados à saúde
mental, gastrintestinais, urológicas e musculoesquelético
Trato urinário
Trato gastrointestinal
DIAGNOSTICO
História clínica
Vítimas de violência sexual têm alta incidência de condições médicas crônicas: dor
pélvica crônica, ansiedade e depressão.
Há uma estreita relação entre dor pélvica crônica e depressão, e a presença dessa
última pode dificultar ou mesmo impedir seu tratamento. Na suspeita de depressão ou
alterações de personalidade, os principais sinais e sintomas psíquicos, orgânicos e sociais
relacionados à depressão devem ser pesquisados.
Exame físico
O exame físico completo deve ser realizado com atenção especial às regiões
abdominal, lombossacral, genital externa, e aos órgãos internos, por meio de exame vaginal,
bimanual e retovaginal. Deve-se ficar atento ao modo de andar, características faciais de
sofrimento e posturas antálgicas.
O exame deve ser realizado com a paciente em pé à procura de hérnias, tanto abdominal
quanto pélvicas, na avaliação abdominal observar presença de abaulamentos e retrações; na
palpação, verificar a presença de massas, aumento do tamanho de vísceras e distensão de
alças intestinais. Deve-se tentar localizar por palpação os tecidos que reproduzem a dor
identificando os pontos dolorosos que possam desencadear sintoma mais profundo ou em
faixas musculares, inclusive na região inguinal.
Na realização do exame pélvico a paciente deve estar com a bexiga vazia e ser
informada de todas as fases do exame tendo em mente que se trata de paciente cuja
sensibilidade à dor está frequentemente exacerbada. Deve-se iniciar o exame pela inspeção
da genitália externa tentando identificar pontos dolorosos, seguida pelo exame especular
tradicional. O exame vaginal, inicialmente unidigital, é realizado para avaliação da uretra,
base da bexiga e região do trígono na parede vaginal anterior, à procura de pontos dolorosos
de origem uretral ou vesical e na avaliação dos músculos do assoalho pélvico.
Caso se observe dor na parede abdominal é útil bloquear essa área com anestésicos
locais e posteriormente realizar o exame pélvico. O exame retal é útil na avaliação do septo
retovaginal e identificação de lesões sugestivas de endometriose profunda e desconforto
doloroso intenso que pode estar associado com a síndrome do intestino irritável
Exames complementares
A natureza multifatorial da DPC, a anamnese e exame físico completos devem
nortear a solicitação de exames complementares para evitar desperdício de tempo e dinheiro
com exames que não iram contribuir no diagnóstico e tratamento. De uma forma geral os
exames que fazem parte do protocolo da DPC incluem: na suspeita de cistite intersticial além
dos exames sumário de urina e urocultura pode-se solicitar cistoscopia com biópsia dirigida e
à critério do urologista realizar avaliação urodinâmica.
Sumario e recomendações
● O objetivo da avaliação é identificar áreas sensíveis, relacionar essas áreas com o mapa de
dor do paciente e determinar quando a dor avaliada no exame representa dor pélvica crônica
● Exame laboratorial é de valor limitado na avaliação de mulheres com dor pélvica crônica.
Um hemograma completo, VHS, urinálise, teste para infecção por clamídia e gonorreia e
teste de gravidez são obtidos para detectar infecção crônica ou processo inflamatório além de
excluir gravidez
● O uso da laparoscopia em mulheres com dor pélvica crônica deve ser avaliado de forma
individualizada. Se a suspeita for que a dor pélvica crônica esteja relacionada com
endometriose, sugere-se tratamento empírico com anti-inflamatórios não esteroidais e/ou
combinados com contraceptivos hormonais combinados de forma contínua ou cíclica. Após o
tratamento empírico medicamentoso por até 6 meses, pode- -se oferecer o procedimento
laparoscópico para as mulheres que não tiveram regressão da dor e não apresentam
contraindicação para essa cirurgia. Pode-se ainda oferecer tratamento empírico com análogo
de GnRH
Com essa conduta conservadora os trabalhos mostram que cerca de 50% das
cirurgias laparoscópicas podem ser evitadas
Abordagem terapêutica
Considera-se a DPC como um sintoma que envolve uma série de fatores
desencadeantes e não uma patologia definida. Porém, mesmo sem uma etiopatogenia
específica a dor causa transtornos físicos e psicológicos. Portanto, merece um tratamento
consistente sustentado na história, exame físico e exames complementares que
habitualmente mostram mais de um fator responsável pela melhora ou piora da dor. Essa
característica multifatorial da DPC é fator relevante na abordagem terapêutica inicial. Além
disso, o estabelecimento de uma boa relação médico/paciente, considerando a percepção da
mulher a respeito de seu problema, é fundamental para adesão e sucesso do tratamento
clínico ou cirúrgico proposto
Tratamento
Tratamento empírico baseado em diagnóstico de probabilidade. Nas pacientes com
dor pélvica cíclica cujo diagnóstico é consistente com endometriose a supressão ovariana
pode ser opção terapêutica eficaz. Pode-se utilizar anticoncepcional oral combinado,
progestogênio, danazol, ou agonistas de GnRH.Na dor pélvica crônica consistente com
diagnóstico de endometriose o uso de Dienogest, SIU de Levonogestrel, Pentoxifilina ,
Anastrazol e Linestrol tem sido utilizados. Porém, não há trabalhos consistentes na
literatura que comprovem sua eficácia33.Outras patologias como Miomas uterinos
sintomáticos, adenomiose, síndrome da congestão pélvica, cistite intersticial e síndrome do
intestino irritável, também podem se beneficiar dessa terapêutica. Pode-se ainda associar
anti-inflamatório não esteroidal.
Laparoscopia para lise de aderências mostra-se pouco efetiva na maioria dos casos,
principalmente porque as aderências mais associadas à dor pélvica crônica são as secundárias
à endometriose severa e à doença inflamatória pélvica.
Histerectomia causa, a longo prazo, o alívio da dor pélvica crônica na maioria das
mulheres e é uma alternativa para aquelas que não desejam mais engravidar e possuem
patologias específicas (Adenomiose, congestão pélvica, miomatose).