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IHUOnlineEdicao389 PDF
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Revista do Instituto Humanitas Unisinos
Nº 389 - Ano XII - 23/04/2012 - ISSN 1981-8769
Caatinga:
um bioma
exclusivamente
brasileiro... e o
mais frágil
O
único bioma exclusivamen- nambuco, frisa que muitas são as es- mia tendo em vista a crise ambiental
te brasileiro, segundo os pécies vegetais da Caatinga utilizadas com que nos defrontamos.
pesquisadores, a Caatinga, como medicamentos fitoterápicos. Gerhard Overbeck, engenheiro
é também o mais frágil. Já o biólogo Rodrigo Castro, co- ambiental, professor do Departamen-
Este bioma é analisado e debati- ordenador da Aliança da Caatinga e a to de Botânica da Universidade Fe-
do na edição desta semana da revista Associação Caatinga, avalia que o bio- deral do Rio Grande do Sul – UFRGS,
IHU On-Line. ma só será valorizado se sua biodiver- analisa a questão dos Campos suli-
Ao analisar a biodiversidade, sidade for mais conhecida. nos e os desafios da conservação da
pouco conhecida e explorada do bio- Maria Tereza Bezerra Farias Sa- biodiversidade.
ma, diversos pesquisadores contri- les, geóloga, coordenadora do Projeto José Luiz Bica de Melo, sociólo-
buem com suas pesquisas e militância Mata Branca, no Ceará, relata que a go, professor da Unisinos, comenta
nesta edição. produção com fibras de palhas, ce- alguns aspectos do filme 5x Favela –
Haroldo Schistek, agrônomo, râmicas, bordados com registros de agora por nós mesmos.
idealizador do Instituto Regional da espécies da fauna e flora e artefatos Pedro Tonon Zuanazzi, estatísti-
Pequena Agropecuária Apropria- oriundos de material reciclável tam- co da Fundação de Economia e Esta-
da – IRPAA, com sede em Juazeiro, bém são destaques do bioma. tística – FEE e mestrando na Universi-
afirma que a situação da Caatinga é Ulysses Paulino de Albuquer- dade do Rio Grande do Sul – UFRGS,
catastrófica. que, biólogo, professor da Universi- reflete sobre a contribuição oferecida
João Arthur Seyffarth, coordena- dade Federal Rural de Pernambuco pela demografia ao desenvolvimento
dor do Núcleo do Bioma Caatinga da – UFRPE, analisa a diversidade de econômico do Rio Grande do Sul.
Secretaria de Biodiversidade e Flores- plantas medicinais existentes no lugar. “Por dispositivos legais sobre a
tas do Ministério do Meio Ambiente Por fim, Lúcia Helena Piedade transmissão de eventos esportivos” é
– MMA, diz que a Caatinga é o bioma Kiill, bióloga, explica que a Caatinga o tema do artigo de Anderson David
semiárido mais biodiverso do mundo. não é um ecossistema homogêneo, G. dos Santos, mestrando no Progra-
Por sua vez, Marcos Antonio pelo contrário, trata-se de Caatingas. ma de Pós-Graduação em Ciências da
Drumond, pesquisador da Empresa Contribui com esta edição, ainda, Comunicação da Universidade do Vale
Brasileira de Pesquisa Agropecuária Castor Bartolomé Ruiz, com o artigo do Rio dos Sinos – Unisinos e Regina
– Embrapa, constata que o bioma é “Objetivação e governo da vida huma- Catarina de Alcântara, coordenadora
como uma verdadeira farmácia viva na. Rupturas arqueo-genealógicas e do curso e Nutrição da Unisinos, narra
na qual a maioria das espécies é des- filosofia crítica”. alguns aspectos da sua vida familiar e
tacada por inúmeras utilizações na Ricardo Abramovay, professor acadêmica.
medicina caseira e outras. titular do curso de Economia da Uni-
Rejane Magalhães de Mendon- versidade de São Paulo – USP, discute A todas e todos uma ótima sema-
ça Pimentel, botânica, professora da as possibilidades de uma outra econo- na e uma excelente leitura!
Universidade Federal Rural de Per-
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IHU
Instituto Humanitas
REDAÇÃO Colaboração: César Sanson,
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Unisinos
André Langer e Darli Sampaio,
Diretor de redação: Inácio
Endereço: Av. IHU On-Line é a revista Neutzling (inacio@unisinos.br). do Centro de Pesquisa e Apoio
Unisinos, 950, semanal do Instituto Editora executiva: Graziela aos Trabalhadores - CEPAT, de
Humanitas Unisinos - IHU Wolfart MTB 13159
São Leopoldo/RS. ISSN 1981-8769. IHU On- Curitiba-PR.
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Redação: Márcia Junges MTB Projeto gráfico: Agência
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Revisão: Isaque Correa
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Schneider (jacintos@unisinos.br).
2
Tema de Capa
Índice
LEIA NESTA EDIÇÃO
TEMA DE CAPA | Entrevistas
05 Conheça a Caatinga
06 Haroldo Schistek: Caatinga, um bioma desconhecido e a “Convivência com o Semi
Árido”
09 João Arthur Seyffarth: Semiárido, o bioma mais diverso do mundo
11 Lúcia Helena Piedade Kiill: Caatinga, ecossistema heterogêneo
13 Marcos Antonio Drumond: Bioma rico em diversidades
18 Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel: Plantas medicinais, riquezas do bioma
20 Rodrigo Castro: Educação ambiental, valorização de diversidades
24 Maria Tereza Bezerra Farias Sales: Produtos artesanais compõem o cenário de
biodiversidade da Caatinga
25 Ulysses Paulino de Albuquerque: Plantas com potencial alimentício em evidência
DESTAQUES DA SEMANA
28 ENTREVISTA DA SEMANA: Ricardo Abramovay: Repensar a economia.
O desafio do século XXI
35 Memória: Gilberto Velho (1945-2012): Um adeus ao pai da “antropologia
da cidade na cidade”
37 COLUNA DO CEPOS: Luciano Gallas: governos, políticas públicas e comunicação
39 DESTAQUES ON-LINE
IHU EM REVISTA
40 Agenda da semana
42 Castor Bartolomé Ruiz – Objetivação e governo da vida humana. Rupturas arqueo-
genealógicas e filosofia crítica –
49 Entrevistas de Eventos: Gerhard Overbeck – Campos sulinos: os desafios da
conservação da biodiversidade
53 Entrevistas de Eventos: José Luiz Bica de Melo – Retratos coloridos e em preto e
branco. Os muitos mundos da favela
55 Entrevistas de Eventos: Pedro Tonon Zuanazzi – Retratos coloridos e em preto e
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branco. Os muitos mundos da favela
58 IHU REPÓRTER: Regina Catarina de Alcântara
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3
Tema
de
Capa
Destaques
da Semana
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IHU em
Revista
4 SÃO LEOPOLDO, 00 DE XXX DE 0000 | EDIÇÃO 000
Tema de Capa
Conheça a Caatinga
Caatinga (do tupi: caa (mata) e secos. A Caatinga ocupa uma biomas brasileiros. O uso insus-
+ tinga (branca) = mata branca) área de cerca de 850.000 km², tentável de seus solos e recursos
é o único bioma exclusivamen- cerca de 10% do território nacio- naturais ao longo de centenas
te brasileiro, o que significa que nal, englobando de forma contí- de anos de ocupação, associado
grande parte do seu patrimônio nua parte dos estados do Mara- à imagem de local pobre e seco,
biológico não pode ser encon- nhão, Piauí, Ceará, Rio Grande fazem com que a Caatinga esteja www.ihu.unisinos.br
trado em nenhum outro lugar do do Norte, Paraíba, Pernambuco, bastante degradada. Entretanto,
planeta. Este nome decorre da Alagoas, Sergipe, Bahia (região pesquisas recentes vêm revelan-
sentada pela vegetação durante norte de Minas Gerais (região em termos de biodiversidade e
“A
Caatinga é o bioma mais frágil que contribuído muito para espalhar uma imagem
temos no Brasil. A ciência, identifi- de inviabilidade econômica, feiura e morte”,
cando sua fauna e flora, nos mostra diz.
que não existe uma Caatinga só, mas muitas Haroldo Schistek����������������
é teólogo pela ���������
Universi-
formas, criadas pela interação de seus seres dade de Salzburgo, Áustria, agrônomo pela
vivos com o conjunto edafoclimático local. O Universidade de Agricultura em Viena e tem
clima é Semi Árido, com uma estação chuvosa Faculdade de Agronomia do Médio São Fran-
curta e longos meses sem chuva, onde a eva- cisco em Juazeiro, na Bahia. É idealizador do
poração potencial supera a precipitação prati- Instituto Regional da Pequena Agropecuária
camente em todos os meses do ano”, constata, Apropriada – IRPAA, com sede em Juazeiro,
em entrevista concedida por e-mail à IHU On- fundado em 1990. Trabalha com assessoria re-
-Line, Haroldo Schistek. Segundo ele, defen- lacionada a recursos hídricos, desenvolvimento
sor do paradigma “Convivência com o Semi- rural, beneficiamento de frutas nativas, ques-
-Árido”, a “Caatinga ocupa 11% do território tões agrárias, entre outras áreas. É elabora-
nacional e mereceria, sem dúvida, um enfoque dor de apostilas, livros, relatórios. Além disso,
apropriado e políticas públicas feitas exclusiva- acompanha e coordena programas junto de
mente para a área que engloba”. agricultores, dentro do conceito da Convivên-
Schistek avalia ainda que não se pode cia com o Semi Árido. Atualmente integra a
pensar o Semi Árido Brasileiro com seu bioma Coordenação Coletiva do IRPAA como coorde-
Caatinga de forma isolada, com propostas se- nador administrativo.
toriais. “A educação escolar tradicional tem Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como podemos nesta proposta se resume no paradig- Haroldo Schistek – Infelizmente,
definir a atual situação da Caatinga? ma da “Convivência com o Semi Ári- preciso insistir num fato que todos
Quais os avanços e dilemas que ainda do”. A Caatinga ocupa 11% do territó- preferem não mencionar, por ser in-
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preocupam as populações que vivem rio nacional e mereceria, sem dúvida, cômodo, por tocar em privilégios de
no local e os pesquisadores que estu- um enfoque apropriado e políticas uma minoria e de ser perigoso e, em
dam o bioma? públicas feitas exclusivamente para a muitos casos, até mortal. Trata-se da
Haroldo Schistek – A situação da área que engloba. Esta área corres- questão da terra, ou melhor, do ta-
Caatinga é catastrófica. Esse bioma ponde às superfícies da Alemanha e manho dela. A Embrapa Semi Árido
continua sendo o mais desconhecido França juntas! – imagine quantas po- afirma que na grande região da De-
do Brasil – embora seja caraterístico líticas localizadas regionalmente po- pressão Sertaneja1 uma propriedade
nosso, só existe no nosso país. Cien- demos encontrar nesses dois países
tificamente tem-se avançado, mas os e aqui não temos, até o momento, 1 A Depressão Sertaneja - São Francisco
políticos que tomam a decisão não nenhuma política consistente para a é uma unidade geoambiental localizada
querem reconhecer sua fragilidade e área toda. no Nordeste brasileiro e centro-oeste de
Minas Gerais. Ocorre em grande parte
realizar as propostas da sociedade ci- do estado do Ceará, e grandes áreas do
vil que, de um lado, poderiam garantir IHU On-Line – De que maneira Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas,
a sua preservação e, de outro lado, podemos pensar formas de preserva- Sergipe, Bahia e centro-oeste de Minas
Gerais. Na Bahia, ocupa toda a calha do
poderiam garantir uma renda estável ção da Caatinga? rio São Francisco até a região de Pirapora.
para a população humana. A essência (Nota da IHU On-Line)
pensar o Semi Árido Brasileiro com seu A característica da chuva é irregu- existência do IRPAA: dizer que a região
bioma Caatinga de forma isolada, com lar em dois sentidos: no tempo e no da “seca” é o Semi Árido que fica na
propostas setoriais. A educação esco- espaço geográfico. Quer dizer, nunca maior parte no Nordeste, mas abrange
lar tradicional tem contribuído muito se sabe quando se terá outra chuva também parte de Minas Gerais.
para espalhar uma imagem de inviabi- nem em que área ela cairá. Essa ir- Programas para o Semi Árido
lidade econômica, feiura e morte. Ain- regularidade é muito acentuada. O Fiquei contente quando Dilma,
da recentemente, encontrei um livro Fundo de Pasto, forma tradicional de em seu discurso de posse, falou em
didático, no capítulo sobre os biomas posse de terra no Semi Árido, remo- programas específicos para o Semi
brasileiros, que mostrava uma foto to desde as Sesmarias, atende a esta Árido e não mais Nordeste. Para dar
da Caatinga nos meses da estiagem, característica. As áreas de pasto não visibilidade, criamos o nome “Semi
com a legenda inacreditável: “Caatin- são individualizadas, não possuem Árido Brasileiro”, como iniciais em
ga morta”. Na verdade, os arbustos e cercas para separar cada propriedade. maiúsculo. Então, devemos distinguir
árvores retratados somente estavam Os animais de todos os proprietários quando se fala de uma região semiári-
em hibernação, cheios de seiva e nu- pastam livremente em toda a área, da ou quando fala do Semi Árido Bra-
trientes, esperando apenas a primeira deslocando-se sempre para aquelas sileiro. Até a sigla criada – SAB – já se
chuva para se vestirem novamente em manchas onde choveu recentemente. popularizou.
“A
Caatinga é o bioma semiárido mais “sendo 318 endêmicas, que só ocorrem no
biodiverso do mundo, sendo extre- bioma. Existem 12 tipos de vegetações na Ca-
mamente distinto em espécies ani- atinga, que vão das mais abertas, como as ca-
mais, vegetais, em paisagens e sob o ponto atingas arbustivas e arbustivo-arbóreas, até as
de vista genético”, frisa o biólogo João Arthur mais florestais, como as florestas estacionais”.
Seyffarth, em entrevista concedida por e-mail João Arthur Seyffarth é biólogo, mestre
à IHU On-Line. E continua: “também muito rico em ecologia e coordenador do Núcleo do Bio-
é o conhecimento tradicional associado a esta ma Caatinga da Secretaria de Biodiversidade
biodiversidade, que pode ser explorado para e Florestas do Ministério do Meio Ambiente
seu uso sustentável e para o desenvolvimento – MMA.
sustentável do país”. Segundo Seyffarth, a Ca- Confira a entrevista.
atinga tem identificadas 932 espécies vegetais,
IHU On-Line – Como pode IHU On-Line – Que tipos conhecimento científico sobre
ser definido sistematicamente o de biodiversidades a Caatinga sua biodiversidade, que resulta
bioma Caatinga? Quais áreas ele oferece? dos poucos centros de pesquisa e
abrange? Equivale a quantos por João Arthur Seyffarth – A Ca- universidades instaladas em seu
cento do território nacional? atinga é o bioma semiárido mais território. Tudo isso também gera
João Arthur Seyffarth – A Ca- biodiverso do mundo, sendo ex- pouco interesse da mídia em di-
atinga é o único bioma exclusiva- tremamente diverso em espécies vulgar o bioma, o que só começou
mente brasileiro. Ela é composta animais, vegetais, em paisagens a mudar nos últimos anos.
por oito ecorregiões e vários tipos e sob o ponto de vista genético.
de vegetação de savana e flo- Também muito rico é o conheci- IHU On-Line – Quais são as
restais. É um bioma adaptado às mento tradicional associado a esta riquezas vegetais que o bioma
condições semiáridas e se locali- biodiversidade, que pode ser ex- oferece?
za nos nove estados do Nordeste plorado para seu uso sustentável e João Arthur Seyffarth – A Ca-
e no norte de Minas Gerais, ocu- para o desenvolvimento sustentá- atinga tem identificadas 932 es-
pando 11% do território nacional vel do país. pécies vegetais, sendo 318 endê-
(844.453 km²). micas, que só ocorrem no bioma.
IHU On-Line – Por que moti- Existem 12 tipos de vegetações na www.ihu.unisinos.br
IHU On-Line – Como pode ser vo a Caatinga é um dos biomas Caatinga, que vão das mais aber-
caracterizado o clima no bioma? menos conhecidos do país? tas, como as Caatingas arbusti-
João Arthur Seyffarth – O cli- João Arthur Seyffarth – O vas e arbustivo-arbóreas, até as
ma da Caatinga é semiárido, com bioma Pampa é ainda menos co- mais florestais, como as florestas
temperaturas anualmente entre nhecido do que a Caatinga. O estacionais.
25°C e 29°C, em média. A esta- desconhecimento da Caatinga e
ção de seca é em geral de 7 a 10 do seu potencial para o desenvol- IHU On-Line – Tem dados de
meses, podendo ficar até 12 me- vimento do país decorre de vários quantas espécies de animais vi-
ses sem chover em certas regiões, fatores. Dentre eles estã o menos- vem no bioma? O que isso repre-
sendo que as estiagens podem prezo por biomas que não sejam senta para o país?
durar mais do que dois anos em florestais, vistos como pobres em João Arthur Seyffarth – Em
algumas regiões. Em geral, a pre- biodiversidade e potencial econô- torno de 1.487 espécies nativas de
cipitação anual não passa de 800 mico; o fato de a Caatinga estar animais vivem na Caatinga, sendo
mm em áreas de planície e fica situada longe dos principais cen- 178 de mamíferos, 591 de aves,
entre 800 e 1.200 mm nas áreas tros do país, em termos econô- 177 de répteis, 79 de anfíbios,
mais elevadas. micos e populacionais; e o pouco 241 de peixes e 221 de abelhas.
“E
m minha opinião, para se minimi- sentam diversos potenciais que, se manejados
zar os impactos sobre a Caatinga, de forma sustentável, poderiam se tornar uma
a sensibilização de agentes multi- alternativa para o desenvolvimento da região.
plicadores e a educação ambiental seriam os A flora da Caatinga apresenta espécies de po-
meios mais indicados para se divulgar a ri- tencial frutífero, medicinal, aromático, melífe-
queza e a importância da sua biodiversidade”, ro, forrageiro, ornamental, que podem ser con-
pontua Lúcia Helena Piedade Kiill, em entrevis- sideradas como uma alternativa sustentável
ta concedida por e-mail à IHU On-Line. Para para a região”.
a bióloga, diante dos cenários das mudanças Lúcia Helena Piedade Kiill possui graduação
climáticas globais, as plantas e animais da em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filo-
Caatinga constituem um patrimônio biológi- sofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Uni-
co de valor incalculável. “Essas espécies estão versidade de São Paulo – USP e mestrado em
totalmente adaptadas às condições locais, Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de
apresentando estratégias para conviver com a Campinas – Unicamp. Nessa instituição, con-
escassez de água, a irregularidade das chuvas, cluiu o doutorado em Biologia Vegetal.
as altas temperaturas, etc.” E completa: “além Confira a entrevista.
da importância biológica, essas espécies apre-
IHU On-Line – Como avalia a processos ecológicos e, consequente- acreditamos que este número pos-
devastação e o desaparecimento de mente, de ações para minimizar esses sa ser muito maior. Entre as famílias
plantas e animais na Caatinga? impactos. botânicas, as cactáceas se destacam
Lúcia Helena Piedade Kiill – A de- como o grupo com maior número de
vastação e o desaparecimento da Ca- IHU On-Line – Quais são as ár- espécies sob ameaça. Quanto à fauna,
atinga podem ser considerados como vores e espécies brasileiras conside- a lista está sendo atualizada. Para a
um dos impactos ambientais mais re- radas ameaçadas de extinção na Ca- Caatinga, as aves e os mamíferos po-
levantes para o semiárido brasileiro. atinga? Como podemos definir esta dem ser considerados como os grupos www.ihu.unisinos.br
Hoje, a degradação e fragmentação situação no bioma? mais ameaçados, principalmente pela
de ambientes naturais são considera- Lúcia Helena Piedade Kiill – Por caça e venda de animais silvestres.
das como uma das principais causas ser considerado como um bioma ain-
de extinção, pois, além de reduzirem da pouco estudado, torna-se difícil IHU On-Line – Qual a importân-
os habitats disponíveis para a fauna e quantificar as espécies ameaçadas cia das espécies endêmicas para o pa-
flora locais, aumentam o grau de iso- de extinção e quantas já foram extin- trimônio biológico do bioma?
lamento entre suas populações, o que tas antes de serem conhecidas. Atu- Lúcia Helena Piedade Kiill – Dian-
pode acarretar perdas de variabilida- almente a lista de espécies da flora te dos cenários das mudanças climá-
de genética. Por ser tratar de um bio- ameaçadas de extinção divulgada pelo ticas globais, as plantas e animais da
ma de ocorrência exclusivamente no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente Caatinga constituem um patrimônio
território brasileiro, a Caatinga possui e dos Recursos Naturais Renováveis - biológico de valor incalculável. Essas
flora e fauna endêmicas da região, ou Ibama - contempla cerca de 50 espé- espécies estão totalmente adaptadas
seja, que não ocorre em nenhum ou- cies de ocorrência na Caatinga. Porém, às condições locais, apresentando es-
tro bioma. O desaparecimento dessas como já se sabe que mais de 60% da tratégias para conviver com a escassez
espécies, mesmo antes de serem es- área do bioma encontra-se de alguma de água, a irregularidade das chuvas,
tudadas, dificulta o entendimento dos forma alterada pela ação antrópica, as altas temperaturas, etc.
“V
ejo a Caatinga com uma parti- camente, diante de estudos pormenorizados,
cularidade ímpar. E esta beleza especialmente explorando os princípios ativos
excepcional do bioma reside na de cada uma dessas espécies para a indústria
diversidade de paisagens e o contraste visual farmacológica”, diz.
proporcionado pelas estações seca e chuvosa”, Marcos Antonio Drumond é pesquisador da
comenta, em entrevista concedida por e-mail à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IHU On-Line, Marcos Antonio Drumond. Segun- – Embrapa desde 1978. É graduado em Enge-
do ele, após um episódio de chuva na Caatin- nharia Florestal pela Universidade Federal de
ga seca, em poucos dias surge uma vegetação Viçosa, com mestrado em Engenharia Flores-
exuberante, sugerindo uma verdadeira ressur- tal pela Escola Superior de Agricultura Luiz de
reição da vegetação, “como se fosse uma pá- Queiroz/USP e doutorado em Ciências Flores-
gina acinzentada que, quando virada, dá lugar tais pela Universidade Federal de Viçosa. Tem
ao verde com várias tonalidades mescladas experiência nas áreas de fitossociologia, mane-
com o amarelo e branco e outras cores das flo- jo florestal, agrossilvicultura, recuperação de
res do referido bioma”. áreas degradadas, florestas energética e ainda
Quando aborda a questão das plantas me- com a seleção e manejo de plantas oleaginosas
dicinais, Drumond afirma que a Caatinga é dos gêneros Jatropha, Ricinus e Helianthus. É
como uma verdadeira farmácia viva na qual “a responsável pela introdução de diversas espé-
maioria das espécies é destacada por inúme- cies arbóreas de múltiplos usos na região do
ras utilizações na medicina caseira e outras”. semiárido. Drumond é ainda professor no cur-
Como exemplo, ele cita a aroeira, baraúna, an- so de pós-graduação em Engenharia Florestal
gico, pelo alto teor de tanino; pau-ferro, mar- da Universidade Federal de Campina Grande,
meleiro, quebra-faca e outras. “Vale destacar Campus de Patos.
que toda a diversidade de espécies do bioma Confira a entrevista.
poderia ser mais bem aproveitada economi-
IHU On-Line – Por que motivo passa por pelo menos seis meses de são elevadas em torno de 27°C, com
muitas vezes a Caatinga é vista como estiagem ao ano, alguns mecanismos precipitações médias anuais em tor-
uma área seca e quente, com uma ve- de adaptação foram desenvolvidos no de 500 mm, com insolação média
getação formada por cactus e arbus- como espinhos, folhas pequenas e ca- de 2.800 horas.ano-1, e evaporação www.ihu.unisinos.br
tos contorcidos? ducifólias, mecanismos que reduzem em torno de 2.000 mm.ano-1. Essas
Marcos Antonio Drumond – a transpiração excessiva. A vegetação características bioedafoclimáticas
Como a Caatinga é um tipo de vege- herbácea é temporária e presente são determinantes para as áreas de
tação constituída especialmente de apenas no período chuvoso. Sob a domínio das Caatingas. Totalmente
árvores e arbustos de pequeno porte, vegetação de Caatinga, os solos são coberto pela vegetação de Caatinga,
folhas miúdas e caducifólias2 e que geralmente rasos e, às vezes, com o semiárido brasileiro é um dos mais
afloramentos rochosos. Em geral, a densamente povoados do mundo e,
temperatura é alta, com baixos índices em função das adversidades climá-
2 Em botânica, caducifólia, caduca ou
decídua é o nome dado às plantas que, pluviométricos, marcada pela irregu- ticas, associadas aos outros fatores
numa certa estação do ano, perdem suas laridade na distribuição das chuvas no históricos, geográficos e políticos que
folhas, geralmente nos meses mais frios e tempo e no espaço. Seus índices plu- remontam centenas de anos, abriga a
com chuva (outono e inverno). É a forma
que as plantas encontram para não perder viométricos são bastante irregulares, parcela mais pobre da população do
água pelo processo de evaporação, pelas variando de 250 a 1.000 mm por ano país.
folhas. Às vezes, ficam só os galhos e o e, geralmente, concentradas de dois
caule. Desta forma, elas armazenam a
água sem perder praticamente nada pela a três meses. Devido à proximidade IHU On-Line – Quais riquezas da
evaporação. (Nota da IHU On-Line) do Equador, as temperaturas médias fauna e flora a Caatinga oferece?
de cambao, entre outros. Cientificamente, Quanto às plantas medicinais, a lente forragem para bovinos, caprinos
recebeu o nome científico de Bursera Caatinga é como uma verdadeira far- e ovinos; a resina exudada dos troncos
leptophloeos, pertencendo à família
Burseraceae, a mesma da Amescla de mácia viva em que a maioria das es- é hemostática, depurativa, adstringen-
cheiro. Árvore com espinhos; folhas opostas pécies é destacada por inúmeras uti- te e é utilizada na medicina caseira em
e pinadas. Suas flores em cachos florescem lizações na medicina caseira e outras. infusão e em xarope. A casca, muito
nos meses de novembro e dezembro.
Possui fruto do tipo drupa, acre doce, Podemos citar a aroeira, baraúna, an- rica em tanino, é utilizada na indústria
mas comestível, quando bem maduro; os gico, pelo alto teor de tanino; pau-fer- do curtume; e na medicina popular é
frutos da Imburana aparecem nos meses ro, marmeleiro, quebra-faca e outras. utilizada como expectorante (chá) ou
de janeiro, março, abril e dezembro,
geralmente. (Nota da IHU On-Line) Vale destacar que toda a diversidade cicatrizante (infusão). A madeira serve
��� Amburana cearensis é uma árvore de espécies do bioma poderia ser mais para estacas, mourões, lenha e carvão
pequena na Caatinga, de 4 a 10 m e de bem aproveitada economicamente, de elevado poder calorífico.
20 m na mata pluvial, caducifólia. A casca
é vermelho-pardacenta, lisa suberosa e diante de estudos pormenorizados es- Aroeira Miracroduon urundeuva
fina, com 7 mm de espessura, descamando pecialmente explorando os princípios é uma árvore da família Anacardia-
em lâminas delgadas. A ramificação é ativos de cada uma dessas espécies ceae, de porte mediano, chegando a
dicotômica. Copa achatada e curta na
Caatinga e alta, larga e umbeliforme na para a indústria farmacológica. atingir 10 m de altura e 30 cm de di-
floresta. (Nota da IHU On-Line) âmetro. Apresenta fuste linheiro, ma-
ram registradas para o referido bioma os peixes os mais estudados: 240 es- milhões de ovelhas. Como alternativa
58 espécies das quais 42 são endêmi- pécies de peixes das quais, aproxima- alimentar, vem crescendo a formação
cas da Caatinga. Outros gêneros ca- damente, 57% são endêmicas deste de pastos de capins exóticos. A deso-
racterísticos são Cereus, Pilosocereus, bioma; as informações também são bediência dessa relação da capacida-
Melocactus e Tacinga, sendo este últi- pontuais, destacando-se o grande de de suporte da Caatinga, que é a su-
mo endêmico do bioma. A família Big- número de peixes registrado para o perlotação de animais nas áreas, tem
noniaceae é bem representada, espe- Médio São Francisco. A herpetofauna causado impactos indesejáveis tanto
cialmente com espécies de lianas dos também é pouco conhecida, sendo para vegetação como para os solos,
gêneros Arrabidaea, Adenocalymma e esta representada por 47 espécies de pela compactação do pisoteio intenso
Piriadacus, o último endêmico da Caa- lagartos, dez anfisbenídeos, 52 espé- de animais. Essa degradação dos solos
tinga. Vale destacar que o número de cies de serpentes, quatro quelônios, reflete diretamente de forma quanti-
espécies arbóreo-arbustivas é peque- três crocodilos e 48 anfíbios, dos quais tativa e qualitativa a cobertura vegetal
no com predominância do extrato her- existe um endemismo de 15%. das áreas.
báceo, sendo a maioria temporárias.
IHU On-Line – Como avalia o
Avifauna fato de uma grande concentração
“É
bastante considerável o número “sem controle e segurança, podendo ocasionar
de plantas com efeitos medicinais sérios riscos à saúde ou, até mesmo, à vida de
no bioma Caatinga que contribuem quem utiliza estas plantas”.
e que poderão contribuir para um melhor tra- Rejane Magalhães de Mendonça Pimen-
tamento e alívio de sintomas indesejáveis re- tel é graduada em Ciências Biológicas pela
lacionados a diferentes enfermidades, tanto Faculdade de Filosofia do Recife – UFPE. Pos-
para a população humana como para a ani- sui mestrado em Botânica pela Universidade
mal”. Essa é a avaliação de Rejane Magalhães Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e dou-
de Mendonça Pimentel, em entrevista conce- torado em Botânica pela mesma instituição.
dida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ela, a Atualmente é Professora Associada II da Uni-
forma mais adequada para sua utilização na versidade Federal Rural de Pernambuco, onde
indústria farmacêutica se dá como resposta a coordena as atividades no Laboratório de Fito-
estudos desenvolvidos por pesquisadores de morfologia Funcional. Tem experiência na área
diferentes especialidades, como botânicos, far- de Botânica, com ênfase em Ecologia Vegetal,
macêuticos, químicos, médicos, entre outros, especialmente em Fitomorfologia Funcional,
“os quais, em conjunto, informarão desde uma aplicando informações da Morfologia e Ana-
segura identificação da espécie botânica, tipo tomia Vegetal. É membro do Corpo Editorial
e doses de substâncias, até formas de uso e/ dos periódicos: Revista de Geografia (Recife),
ou aplicação”. Rejane afirma ainda que a po- Revista Brasileira de Geografia Física e Journal
pulação, de modo geral, utiliza as plantas me- of Hyperspectral Remote Sensing.
dicinais a partir do conhecimento passado por Confira a entrevista.
familiares, a famosa indicação “boca a boca”,
IHU On-Line – Como pode- com grande quantidade de plantas es- Rejane Magalhães de Mendonça
mos definir didaticamente o bioma pinhosas (exemplo: leguminosas), en- Pimentel – A Caatinga se caracteriza
Caatinga? tremeadas de outras espécies como as por apresentar vegetação sob estresse
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A
educação ambiental tem um importan- se tornar, efetivamente em setembro, o masco-
te papel para a Caatinga, pois tem a te da Copa do Mundo”.
capacidade de valorizar cada vez mais Rodrigo Castro é biólogo. Tem mestrado
as diversidades que podem ser encontradas no em Ciências do Desenvolvimento. Participa de
bioma. “Quer dizer, ele ainda hoje é visto, no diversas redes nacionais e internacionais volta-
imaginário predominante da sociedade, como das para a questão da conservação ambiental.
um ambiente sem valor, atrelado a questões Fundou e coordena a Aliança da Caatinga e a
de escassez, de falta, sofrimento. Ou seja, não Associação Caatinga, que são movimentos de
existe viabilidade ou sustentabilidade na Caa- instituições que se unem para trabalhar algu-
tinga”, lamenta o biólogo Rodrigo Castro, em mas questões do bioma, no intuito de unir es-
entrevista concedida por telefone à IHU On- forços, buscando ampliar a proteção e o nível
-Line. Essa é uma visão que, segundo ele, se de conservação da Caatinga. Além disso, busca
acumulou devido à questão das grandes secas trazer um novo olhar para o semiárido brasilei-
históricas desde o século XIX. “Além disso, no ro, preservando a flora e a fauna e fomentan-
imaginário popular, fixou-se a ideia de que o do o desenvolvimento sustentável do entorno
bioma é sinônimo de sofrimento e de que nele das reservas particulares. Rodrigo criou ainda
é difícil sobreviver. Essa é uma faceta que não a primeira Reserva Particular do Patrimônio
devemos subestimar. Porém, em muitos as- Natural – RPPN do país no bioma Caatinga.
pectos, não se deu espaço para falar de uma É pioneiro na implantação do Selo Município
Caatinga rica, com grande potencial para o Verde, programa de certificação ambiental de
desenvolvimento, com uma enorme biodiversi- municípios do Brasil reconhecido pelo Ministé-
dade, a ser conhecida e descoberta, e de um rio do Meio Ambiente. Desde 1998, beneficiou
bioma que tem muitos exemplos de desenvol- mais de 50 mil pessoas que vivem nas proximi-
vimento viável”, completa. E lança uma novi- dades das 50 reservas criadas em nove estados
dade: “recentemente, a Associação Caatinga do Nordeste e no norte de Minas Gerais. Além
lançou uma campanha nacional de valorização disso, participou da fundação da Associação
para atrair o interesse da sociedade no intui- dos Proprietários de RPPNs do Ceará, a Asa
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to de conhecer melhor a Caatinga e por que é Branca, e esteve à frente, como diretor durante
importante cuidar dela. Trata-se da campanha três anos, até o ano de 2011, da Confederação
do tatu-bola para mascote da Copa do Mun- Nacional de RPPNs, movimento nacional de
do. Lançamos essa campanha em janeiro deste proprietários e proprietárias. Atualmente são
ano. A Fifa recebeu a proposta e achou muito 1.072 em todos os biomas do Brasil.
interessante. Então, o tatu-bola concorre para Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como podemos vido a questões ligadas à topografia, IHU On-Line – Por que a Caatinga
descrever a Caatinga? Quais as pecu- ao clima, a estrutura dos solos, entre representa um dos biomas brasilei-
liaridades do bioma? outros. Então, trata-se de um conjun- ros mais alterados pelas atividades
Rodrigo Castro – A Caatinga é de- to de fatores que criam as condições humanas?
terminada por aspectos de clima, rele- para que exista a Caatinga como co- Rodrigo Castro – Na verdade, a
vo, de regimes de chuvas etc. Ela tem nhecemos, que é um bioma que está Caatinga é uma região com alta den-
as características que conhecemos de- inserido em todos esses atributos. sidade populacional. Ou seja, muitas
“A
credito que somente o processo educativo e co- Unidades de Conservação de uso sustentável; assegurar
ercitivo dos gestores ambientais não é suficien- recursos para pagamentos por serviços ambientais e pro-
te para estimular a população. São necessários mover a integração da política ambiental com os demais
projetos e linhas de financiamentos acessíveis aos usuá- setores econômicos (turismo, agricultura, indústria), edu-
rios de produtos e serviços ambientais de forma gradativa, cação e extensão”.
face às especificidades regionais”, esclarece Maria Tereza Maria Tereza Bezerra Farias Sales é coordenadora do
Bezerra Farias Sales, em entrevista concedida por e-mail Projeto Mata Branca, no Ceará. Possui graduação em Ge-
à IHU On-Line, ao ser questionada sobre a dificuldade ologia pela Universidade Federal do Ceará – UFCE e Mes-
em mobilizar as pessoas para a preservação da Caatinga. trado em Geologia Ambiental pela mesma Universidade. É
Maria Tereza diz, ainda, que um dos desafios que o bioma autora de Geologia da Estação Ecológica de Aiuaba - Cea-
enfrenta atualmente é o de criar Unidades de Conserva- rá. Fortaleza: UFC, 1988 (Geologia).
ção de proteção integral: “adotar modelos de cogestão em Confira a entrevista.
IHU On-Line – No que consiste o entre Estados e iniciativa privada e/ou IHU On-Line – Qual o potencial
Projeto Mata Branca? Quais as contri- terceiro para assegurar o turismo em madeireiro que o bioma oferece?
buições que ele oferece à Caatinga? Unidades de Conservação. Maria Tereza Bezerra Farias Sales
Maria Tereza Bezerra Farias Sa- – O potencial madeireiro encontra-se
les – Consiste em promover a gestão IHU On-Line – A senhora acredi- em fase de diagnóstico pelo Ministério
sustentável da Caatinga nos estados do ta que é difícil mobilizar as pessoas do Meio Ambiente e estado do Ceará,
Ceará e da Bahia por meio de um plano para a preservação do bioma? realizado ainda na década de 1990. É
de capacitação para atores sociais diver- Maria Tereza Bezerra Farias Sa- crescente o uso para fins energéticos
sos, envolvendo tomadores de decisão, les – Acredito que somente o proces- e produtos de móveis e demais sub-
comunidades locais e terceiro setor. so educativo e coercitivo dos gestores produtos. Portanto, o potencial pode
Prioriza a implementação de projetos ambientais não é suficiente para es- estar comprometido em algumas regi-
ambientais sustentáveis com agregação timular a população. São necessários ões do estado, o que reflete também
de melhoria de renda, inserindo aspec- projetos e linhas de financiamentos na diminuição de espécies da fauna.
tos culturais e tecnologias limpas. acessíveis aos usuários de produtos e
serviços ambientais de forma gradati- IHU On-Line – Quais os maio-
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IHU On-Line – Quais são as contri- va, face às especificidades regionais. res desafios que a Caatinga enfrenta
buições artesanais que a Caatinga tem? atualmente?
Maria Tereza Bezerra Farias Sa- IHU On-Line – Como avalia o des- Maria Tereza Bezerra Farias Sales
les – Produção com fibras de palhas, matamento na Caatinga? – Um deles é aumentar o percentual
cerâmicas, bordados com registros de Maria Tereza Bezerra Farias Sa- de áreas manejadas. Outro seria criar
espécies da fauna e flora e artefatos les – Este problema somente na últi- Unidades de Conservação de proteção
oriundos de material reciclável. ma década passou a ser considerado integral: adotar modelos de cogestão
relevante para fins de implementação em Unidades de Conservação de uso
IHU On-Line – De que maneira é de políticas públicas e monitoramen- sustentável; assegurar recursos para
possível gerar um pensamento de va- to deste bioma. Portanto, agrava-se pagamentos por serviços ambientais e
lorização da Caatinga com atividades à medida que a implementação de promover a integração da política am-
diferentes das agrícolas? planos, programas e incentivos ainda biental com os demais setores econô-
Maria Tereza Bezerra Farias Sales representam iniciativas pontuais em micos (turismo, agricultura, indústria),
– A partir arranjos produtivos de pro- face de dimensão do bioma da e por- educação e extensão.
dutos envolvendo os atrativos naturais centagem da população que sobrevive ”
para estimular o turismo rural e cien- de produtos oriundos dele.
tífico; adotar modelos de cogestão
24 SÃO LEOPOLDO, 23 DE ABRIL DE 2012 | EDIÇÃO 389
Tema de Capa
Plantas com potencial
alimentício em evidência
Muitas espécies arbóreas da Caatinga são utilizadas no setor domiciliar para o
cozimento de alimentos, pontua Ulysses Paulino de Albuquerque
“
A Caatinga apresenta uma grande diversi- é exuberante!”
dade de plantas medicinais”. A afirmação Ulysses Paulino de Albuquerque concluiu
é do professor associado da Universidade o doutorado em Biologia Vegetal pela Univer-
Federal Rural de Pernambuco – UFRPE Ulysses sidade Federal de Pernambuco – UFPE, com
Paulino de Albuquerque, em entrevista conce- realização de estágio no laboratório de etno-
dida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, botânica da Universidade Nacional Autônoma
estima-se que hoje mais de 500 espécies, entre do México sob a supervisão do Dr. Javier Ca-
nativas e exóticas, são usadas para fins medici- ballero. É professor associado da Universidade
nais por comunidades tradicionais e locais. “No Federal Rural de Pernambuco – UFRPE onde
que tange aos recursos madeireiros, o bioma coordena o Laboratório de Etnobotânica Apli-
tem uma forte vocação no fornecimento de cada. Foi presidente da Sociedade Brasileira de
plantas para fins energéticos: carvão e lenha. Etnobiologia e Etnoecologia (2005-2008), sen-
Além disso, muitas espécies arbóreas da Caa- do atualmente vice-presidente. Ainda foi vocal
tinga são utilizadas no setor domiciliar para o internacional da Sociedade Latino-Americana
cozimento de alimentos”. Albuquerque avalia, de Etnobiologia. Publicou vários artigos em pe-
ainda, que o aspecto mais fascinante da Caa- riódicos especializados e trabalhos em anais de
tinga é a chamada sazonalidade climática. Ao eventos. Atua na área de botânica e antropo-
ser questionado a respeito de o bioma ser as- logia ecológica, com ênfase em etnobotânica.
sociado à imagem de seca, ao gado magro e Tem interesse especial voltado para a com-
à fome, responde o seguinte: “as chuvas apre- preensão dos fatores que modulam a relação
sentam uma distribuição irregular ao longo do entre pessoas e plantas na interface ecologia e
ano, concentrando-se em poucos meses. Como processos evolutivos.
a estação seca é a mais duradoura, a imagem Confira a entrevista.
de seca persiste fortemente no imaginário”. E
diz contente: “na estação chuvosa, a Caatinga
IHU On-Line – Quais as contribui- IHU On-Line – Por que o bioma é adversidades ambientais. Na estação
ções medicinais e madeireiras que a associado à imagem de seca, ao gado chuvosa, a Caatinga é exuberante! www.ihu.unisinos.br
Caatinga oferece? magro e à fome? IHU On-Line – Quais as diversi-
Ulysses Paulino de Albuquerque Ulysses Paulino de Albuquerque dades de plantas e animais que a Ca-
– A Caatinga apresenta uma grande di- – Na verdade, o aspecto mais fascinan- atinga oferece?
versidade de plantas medicinais. Hoje te da Caatinga é a chamada sazonali- Ulysses Paulino de Albuquerque
estimamos que mais de 500 espécies, dade climática. As chuvas apresentam – Antigamente, acreditava-se que a
entre nativas e exóticas, são usadas uma distribuição irregular ao longo Caatinga era muito pobre em termos
para fins medicinais por comunidades do ano, concentrando-se em poucos de biodiversidade. Hoje esse concei-
tradicionais e locais. No que tange aos meses. Como a estação seca é a mais to mudou completamente, pois foi
recursos madeireiros, o bioma tem duradoura, a imagem de seca persiste construído com base em um banco de
uma forte vocação no fornecimento de fortemente no imaginário. É claro que dados pobre, oriundo de poucos es-
plantas para fins energéticos: carvão e existem dificuldades e pobreza na re- tudos. Na verdade, o bioma é rico em
lenha. Além disso, muitas espécies ar- gião, mas as populações humanas que endemismos e com um grande poten-
bóreas da Caatinga são utilizadas no habitam a Caatinga estão adaptadas a cial econômico que precisa ser explo-
setor domiciliar para o cozimento de esta sazonalidade e têm desenvolvido rado em uma base sustentável.
alimentos. várias estratégias para contornar as
Destaques
Destaques
da da
Semana
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IHU
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emem
Revista
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27 EDIÇÃO 000 | SÃO LEOPOLDO, 00 DE 00 DE 0000 SÃO LEOPOLDO, 00SÃO
DE LEOPOLDO,
XXX DE 000000
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Entrevista da Semana
Destaques da Semana
Repensar a economia.
O desafio do século XXI
“Não se trata de contestar o crescimento econômico por si só. Trata-se de fazer a
pergunta que a ciência econômica habitualmente não faz: crescer para quê, para
produzir o quê, para ter qual resultado na sociedade?”, questiona o professor titular
do Curso de Economia da Universidade de São Paulo – USP
E
mbora tenha sido possível produzir bens sárias, a partir da ideia de limites e luta contra as
de consumo emitindo 21% a menos de ga- desigualdades”.
ses de efeito estufa e consumindo 23% me- Antes do evento, Abramovay conversou com
nos materiais, o crescimento econômico mundial IHU On-Line pessoalmente e falou sobre o que
foi tão expansivo, nas últimas duas décadas, que significa repensar a economia e os desafios inte-
os esforços econômicos e ambientais não surti- lectuais e políticos que envolvem essa discussão.
ram efeito. Com base nessas informações, e par- Segundo ele, o momento atual exige mudanças
tindo de uma posição moderada, nem pessimista decisivas especialmente “nos propósitos da vida
nem otimista demais, o professor da USP, Ricardo econômica. (...) Para a ciência econômica (a Eco-
Abramovay (foto abaixo), destaca que, no atual nomics) o sentido da vida econômica não é algo
período de transição para uma economia de bai- que deva ser questionado: porque cada indivíduo
xo carbono, os desafios para o planeta atingir a vai cuidar de si e o resultado vai ser o melhor para
sustentabilidade perpassam por mudanças não só todo mundo. Isso talvez fosse verossímil em um
na forma de produzir bens de consumo e serviço, mundo de três bilhões de pessoas. Mas em um
mas também de repensar a Ciência Econômica. mundo tão desigual e rumando para 10 bilhões
Essas foram as discussões centrais da palestra de habitantes, temos que nos perguntar para
que Abramovay ministrou na Unisinos, na última que se produz e quais são as finalidades da vida
quarta-feira, 12-04-2012, participando do Ciclo econômica. É nesse sentido que penso que preci-
de palestras Rio+20, promovido pelo Instituto Hu- samos ir além da economia, ou seja, repensar a
manitas Unisinos – IHU. Apesar de ser favorável economia com base nas suas origens, como uma
ao conceito de economia verde, um dos temas ciência organicamente integrada à questão do
centrais a ser abordado na Rio+20, ele é enfático: bem viver e da ética. E não como uma mecânica
“Reconhecer a importância das inovações tecno- dos interesses individuais de cuja interação resul-
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lógicas embutidas na ideia de economia verde taria, de forma não intencional, não voluntária,
não significa dizer que a economia verde e, muito maior riqueza e, portanto, supostamente, maior
menos o suposto crescimento verde, são capazes bem-estar”, esclarece.
de resolver os problemas do século XXI”. Para ele, Ricardo Abramovay é graduado em Filosofia,
a desconfiança que os diferentes participantes da mestre em Ciência Política e doutor em Sociolo-
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvi- gia. É professor titular do curso de Economia da
mento Sustentável têm em relação à efetividade Universidade de São Paulo – USP. Para acompa-
da economia verde “tem razão de ser”. E esclare- nhar as publicações do pesquisador, acesse sua
ce: “Essa desconfiança só será atenuada caso se home page abramovay.pro.br, ou pelo Twitter @
consigam associar as inovações tecnológicas da abramovay.
economia verde – que são importantes e neces- Confira a entrevista.
Brasil está passando. Nessa página do sentido de bloquear as realizações das IHU On-Line n.º 100, de 10-05-2004,
Valor há uma tabela com 16 medidas pessoas. Pelo contrário, espera-se que Como salvar o planeta e a humanidade?
Decrescimento ou desenvolvimento
que foram tomadas desde o início do o enfrentamento desses limites traga sustentável?, disponível para download em
governo, e seis medidas que foram para os indivíduos as maiores possibi- http://bit.ly/n1Zh6T. Confira, também,
prometidas. Dessas 22 medidas, ne- lidades de eles viverem uma vida que a edição nº 56 dos Cadernos IHU Ideias,
intitulado O decrescimento como condição
nhuma tem relação com a economia vale a pena ser vivida, uma vida melhor de uma sociedade convivial, disponível
verde. As medidas do governo, por e não pior. Ou seja, uma vida em que para download em http://bit.ly/qGBHiJ.
outro lado, são de incentivar o crédito, uma pessoa não fique três horas para- Latouche foi conferencista do evento Ciclo
de Palestras: Economia de Baixo Carbono.
conceder isenções fiscais, subsídios, do dentro de um carro, em que as pes- Limites e Possibilidades, de 22 a 25-11-
etc. e, como sempre, com forte ênfase soas possam trabalhar proximamente 2011, na Unisinos. Confira a programação
no setor automobilístico. de suas residências para que conheçam completa em http://migre.me/69uxi.
Confira ainda, as seguintes publicações de
O Brasil está na contramão de as pessoas do seu bairro e que vivam Latouche no IHU: Cadernos IHU Ideias 164,
países como a China, Coreia do Sul e num circulo local e, ao mesmo tempo, intitulado Será o decrescimento a boa nova
EUA. Duas semanas depois da publi- cosmopolita. Isso porque as pesso- de Ivan Illich?; Precisamos ultrapassar a
economia e sair dela. Entrevista especial
cação dessa reportagem, houve um as estão conectadas, ligadas às redes com Serge Latouche, disponível em http://
encontro entre os 28 principais indus- sociais. bit.ly/vt9QHJ. (Nota da IHU On-Line)
deva ser questionado: porque cada IHU On-Line – Recentemente a em qualquer parte do mundo, a es-
indivíduo vai cuidar de si e o resulta- presidente Dilma declarou que na querda voltou a conceber um modelo
do vai ser o melhor para todo mundo. Rio+20 não há tempo para fantasias, de transição com esse conteúdo.
Isso talvez fosse verossímil em um referindo-se àqueles que são con-
mundo de três bilhões de pessoas. trários à construção de novas hidre-
Mas em um mundo tão desigual e ru- létricas. Como o senhor interpreta a Acerto de contas
mando para 10 bilhões de habitantes, posição brasileira de investir em mais Só que não se fez um acerto de
temos que nos perguntar para que hidrelétricas nos próximos anos, con- contas com esta estratégia da qual
se produz e quais são as finalidades siderando que se busca um modelo hoje ninguém mais fala. Quer dizer,
da vida econômica. É nesse sentido sustentável? havia uma estratégia que, no fundo,
que penso que precisamos ir além da Ricardo Abramovay – É normal era de crítica ao mercado e que ruma-
economia, ou seja, repensar a econo- que uma presidente diga isso. Você va em direção à ideia segundo a qual
mia com base em suas origens, como precisa de energia. A preocupação uma sociedade melhor é aquela em
uma ciência organicamente integrada dela é fazer com que as coisas fun- que mercados e empresas privadas
à questão do bem viver e da ética, e cionem. Agora, o que não me parece vão exercendo papéis cada vez menos
não como uma mecânica dos interes- razoável, sobretudo num país como o importantes. Posteriormente, os líde-
em http://bit.ly/zq8Ng9
•07/03/2012 - Economia verde inclusiva. A proposta do Brasil para a Rio+20. Entrevista especial com Fernando Lyrio,
disponível em http://bit.ly/AbRt9v
•16/01/2012 - Rio+20: os equívocos da economia verde e das tecnologias. Entrevista especial com Kathy Jo Wetter, dis-
ponível em http://bit.ly/ypzjFT
•10/12/2011 - A passagem da economia da destruição da natureza para a economia do conhecimento da natureza. En-
trevista especial com Ricardo Abramovay, disponível em http://bit.ly/IjOmIm
•04/11/2011 - A “economia verde” será “verde” o suficiente a ponto de permitir a aplicação da Consulta Prévia? Entre-
vista especial com Ricardo Verdum, disponível em http://bit.ly/IjOmIm
•13/08/2011 - “A economia é um subsistema do ecossistema”. Entrevista especial com Herman Daly, disponível em
http://bit.ly/I5ezMV
•01/08/2011 - Economia norte-americana e o dilema da dívida pública. Entrevista especial com Guilherme Delgado,
disponível em http://bit.ly/IjRW5d
Destaques da Semana
Gilberto Velho (1945-2012)
D
edicamos o espaço que segue à memória Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais -
do antropólogo brasileiro Gilberto Velho, ANPOCS (1994-96) e vice-presidente da Socieda-
falecido no último dia 14 de abril. Ao re- de Brasileira para o Progresso da Ciência (1991-
fletir sobre o legado e sobre o pensamento do 93). Desde 2000 integra a Academia Brasileira
antropólogo, a professora Ana Luiza Carvalho da de Ciências. Até sua morte, era professor titular
Rocha, em entrevista concedida por e-mail, afir- e decano do Departamento de Antropologia do
ma que a atenção de Velho “se voltava às formas Museu Nacional da UFRJ.
de vida urbana nas modernas sociedades urbanas Entre seus livros publicamos citamos “Mudan-
e industriais, aos dilemas de seus grupos e cama- ça, Crise e Violência: política e cultura no Brasil
das sociais, às formas diversas de seus estilos de contemporâneo” (Rio de Janeiro: Civilização Bra-
vida e visão de mundo, segundo a particularidade sileira, 2002); “Nobres & Anjos: um estudo de
de suas trajetórias sociais”. Na sua visão, “para tóxicos e hierarquia” (Rio de Janeiro: Editora da
Gilberto Velho a pesquisa com violência implicava FGV, 1998); “Projeto e Metamorfose: antropolo-
pensá-la como parte de um estilo de vida e visão gia das sociedades complexas” (Rio de Janeiro:
de mundo no interior de determinados segmentos Jorge Zahar Editores, 1994); “Subjetividade e
sociais em que o fenômeno da democracia e da Sociedade: uma experiência de geração” (Rio de
cidadania não se disseminava de forma idêntica Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1986); “Individua-
ao de outras camadas sociais”. lismo e Cultura: notas para uma antropologia da
O antropólogo Gilberto Cardoso Alves Velho sociedade contemporânea” (Rio de Janeiro: Jorge
era graduado em Ciências Sociais pelo Instituto Zahar Editores, 1981); e “A Utopia Urbana: um www.ihu.unisinos.br
de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Fe- estudo de antropologia social” (Rio de Janeiro:
deral do Rio de Janeiro, mestre em Antropologia Jorge Zahar Editores, 1973).
Social também pela UFRJ e doutor em Ciências Ana Luiza Carvalho da Rocha é graduada em
Humanas pela Universidade de São Paulo. Atuou Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio
nas áreas de Antropologia Urbana, Antropologia Grande do Sul - UFRGS, mestre em Antropologia
das Sociedades Complexas e Teoria Antropológi- Social, doutora em Antropologia pela Université
ca. Além de vários cargos acadêmicos, como co- de Paris V (René Descartes) (1994) e pós-doutora
ordenador do PPGAS do Museu Nacional e chefe pela Université Denis Diderot, Paris VII. Atualmen-
de Departamento de Antropologia, foi presidente te é antropóloga da Universidade Federal do Rio
da Associação Brasileira de Antropologia - ABA Grande do Sul e professora na Feevale.
(1982-84), presidente da Associação Nacional de Confira a entrevista.
ridade de suas trajetórias sociais. quais os indivíduos acham-se situa- nada, um mestre e agradeço o que ge-
dos, e que delimitam seus sistemas de nerosamente com ele pude comparti-
IHU On-Line - O que caracteri- valores e códigos morais em relação à lhar nestes anos de convívio.
zava o olhar de Gilberto em relação criminalidade.
às problemáticas sociais brasilei-
Por Anderson David G. dos Santos1 Como exemplo, basta citar o imbróglio
relativo aos Jogos Pan-Americanos do ano
Quarta-feira à noite, um torcedor liga passado. A Rede Record, detentora dos di-
a televisão e resolve assistir à partida da reitos de transmissão do evento, liberou
Copa do Brasil por outra emissora, já que o imagens das disputas, mas desde que fosse
seu time do coração não está na principal TV apresenta a marca da emissora no canto da
aberta do país. Primeiro escanteio e na ânsia tela. Porém, a Globo resolveu usar imagens
para que alguém cabeceie a bola para o gol, de uma agência de notícias para “burlar” o
repara o close que a câmera faz no logotipo acordo. De imediato, a Record ameaçou pro-
da emissora concorrente, em placas coloca- cessar a concorrente, já que havia avisado
das nos cantos do campo. todas as emissoras de como proceder – e
Isso não seria anormal, já que nos cam- a Globo, com experiência no assunto, sabe
peonatos apoiados pelas Organizações Glo- muito bem disso.
bo, casos do Novo Basquete Brasil e da Super A Globo parou de mostrar imagens da
Liga de Vôlei, é bastante comum ver as mar- competição, mas passou a entrevistar os
cas da Rede Globo ou do SporTV. No caso principais atletas brasileiros fora das áreas
do futebol, a imagem do jogador cobrando oficiais. Alguns dos atletas foram pressio-
um escanteio torna inevitável a publicidade nados pelos patrocinadores a fazerem isso
para a emissora concorrente. O inverso seria por falta de visibilidade na Record. Se as
admitido? barreiras historicamente estabelecidas pela
emissora carioca não serviram para garantir
os direitos de transmissão de competições
1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em
olímpicas, a importância no mercado publi-
Ciências da Comunicação da Universidade do citário continua gigante.
Vale do Rio dos Sinos – Unisinos (bolsista CAPES Em termos de publicidade para o con-
RH-TVD) e membro do Grupo de Pesquisa Cepos,
apoiado pela Ford Foundation. E-mail: <andder-
corrente, o grande baque sofrido pela emis-
son.santos@gmail.com>. sora da família Martinho foi o patrocínio
Destaques da Semana
Entrevistas especiais feitas pela IHU On-Line e disponíveis nas Notícias do Dia do
sítio do IHU (www.ihu.unisinos.br) de 17-04-2012 a 23-04-2012
Destaques
da Semana
www.ihu.unisinos.br
IHU em
Revista
40 SÃO LEOPOLDO, 00 DE XXX DE 0000 | EDIÇÃO 000
IHU em Revista
Agenda da
Semana
Eventos do Instituto Humanitas Unisinos – IHU
programados para a semana de 23-04-2012 a 30-04-2012
Data: 24-04-2012
Evento: Ciclo de Filmes Realidades do Brasil: Relações de poder e violência
Exibição do filme: Cinco vezes favela (Direção: Marcos Farias (Ep.1), Miguel Borges (Ep.2), Carlos Diegues (Ep.3), Joaquim
Pedro de Andrade (Ep.4) e Leon Hirszman (Ep.5) – 80min - drama)
Debatedor: Prof. Dr. José Luiz Bica de Melo – Unisinos
Horário: 19h30min às 22h
Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU
Maiores informações: http://bit.ly/wrgv3U
Data: 26-04-2012
Evento: IHU ideias
Palestra: Projeções populacionais do Rio Grande do Sul: mudanças no bônus demográfico
Palestrante: Pedro Tonon Zuanazzi - Estatístico da Fundação de Economia e Estatística/FEE
Horário: 17h30min às 19h
Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU
Maiores informações: http://bit.ly/zUcY4D
Data: 28-04-2012
Evento: Ciclo de Filmes e Debates: Sociedade Sustentável no Cinema
Exibição do filme: Lutzenberger: For Ever Gaia - direção: Otto Guerra e Frank Coe, Brasil, 2007, 52min
Horário: 08h30min às 11h30min
Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU
Maiores informações: http://bit.ly/zxjoIy
Data: 28-04-2012
Evento: Ciclo de Filmes e Debates: Sociedade Sustentável no Cinema
Exibição do filme: Zembla - direção: Mascha Boogaard e Wendel Hesen, Holanda, 1995, 35min
Horário: 08h30min às 11h30min
Local: Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU
Maiores informações: http://bit.ly/zxjoIy
www.ihu.unisinos.br
Data: 30-04-2012
Evento: Filosofia e Sociedade: A biopolítica, a testemunha e a linguagem. (Des) encontros filosófi-
cos: M. Foucault, H. Arendt, E. Levinas, G. Agamben
Tema: Giorgio Agamben, O homo sacer e a vida nua
Palestrante: Prof. Dr. Castor Bartolomé Ruiz - Unisinos
Horário: 19h30min às 22h
Local: Sala Ignacio Ellacuría e companheiros, no IHU
Maiores informações: http://bit.ly/Jk797T
“S
e a genealogia é o método filosófico sobre Michel Foucault, a biopolítica e o cuidado
que mostra a historicidade constitu- da vida. Para conferir a programação completa
tiva dos valores, a arqueologia pro- do evento, acesse http://bit.ly/AqEfwa. Profes-
cura reconstruir as singularidades históricas, as sor dos cursos de graduação e pós-graduação
rupturas e desvios das práticas”. A constatação em Filosofia da Unisinos, é graduado nessa
é do filósofo Castor Bartolomé Ruiz, no artigo área pela Universidade de Comillas, na Espa-
que escreveu especialmente para a IHU On-Li- nha, mestre em História, pela Universidade
ne. “Foucault adotou em suas pesquisas o mé- Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e dou-
todo genealógico para delinear a historicidade tor em Filosofia, pela Universidade de Deusto,
das verdades. Porém, também se preocupou Espanha. É pós-doutor pelo Conselho Superior
em apontar não só as continuidades históri- de Investigações Científicas. Escreveu inúmeras
cas da genealogia, mas as rupturas epistêmi- obras, das quais destacamos: Os paradoxos do
cas dos conceitos numa determinada época”, imaginário (São Leopoldo: Unisinos, 2003); Os
completa. E alerta: “sem a consciência crítica labirintos do poder. O poder (do) simbólico e os
da arqueo-genealogia de nossas crenças e prá- modos de subjetivação (Porto Alegre: Escritos,
ticas, seremos facilmente levados pela inércia 2004) e As encruzilhadas do humanismo. A
do status quo e pela reprodução da mesmida- subjetividade e alteridade ante os dilemas do
de estabelecida. poder ético (Petrópolis: Vozes, 2006). Leia, ain-
Castor Bartolomé Ruiz é o coordenador e da, o livro eletrônico do XI Simpósio Interna-
www.ihu.unisinos.br
conferencista do curso Filosofia e sociedade: A cional IHU: o (des) governo biopolítico da vida
biopolítica, a testemunha e a linguagem. (Des) humana, no qual Castor contribui com o artigo
encontros filosóficos: M. Foucault, H. Arendt, E. A exceção jurídica na biopolítica moderna, dis-
Levinas, G. Agamben, cuja temática desta se- ponível em http://bit.ly/a88wnF.
gunda-feira, 09-04-2012, é Michel Foucault, a Confira o artigo.
biopolítica e a soberania. Em 02-04-2012 falou
russos e tido como um dos fundadores tido, uma nova perspectiva se abre e sempre são conscientes dos marcos
do existencialismo. De sua vasta obra, um novo significado se lhe acrescenta. epistêmicos através dos quais se va-
destacamos Crime e castigo, O Idiota,
Os Demônios e Os Irmãos Karamázov. A Na modernidade o conceito de vida lidam ou desconstroem os discursos.
esse autor a IHU On-Line edição 195, de humana foi submetido a uma ruptura A arqueologia pretende reconstruir
11-9-2006. dedicou a matéria de capa, ou desvio epistêmico cujas consequ- o discurso como acontecimento que
intitulada Dostoiévski. Pelos subterrâneos
do ser humano, disponível em http://bit. ências políticas e éticas ainda estamos se articula com o não discursivo que
ly/g98im2. Confira, também, as seguintes por compreender. constitui a sua validação. Tenta cap-
entrevistas sobre o autor russo: Dostoiévski tar o feixe de relações que criam o
e Tolstoi: exacerbação e estranhamento,
com Aurora Bernardini, na edição 384, discurso como acontecimento e o
de 12-12-2011, disponível em http://bit. A arqueologia das práticas validam como verdade. Diz Foucault
ly/upBvgN; Polifonia atual: 130 anos de Se a genealogia é o método fi- na Arqueologia do Saber: “Fazer apa-
Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski,
entrevista com Chico Lopes, edição nº 288, losófico que mostra a historicidade recer na sua pureza o espaço em que
de 06-04-2009, disponível em http://bit. constitutiva dos valores, a arqueologia se desenvolvem os acontecimentos
ly/sSjCfy; Dostoiévski chorou com Hegel, procura reconstruir as singularidades discursivos não é tentar restabelecê-lo
entrevista com Lázló Földényi, edição nº
226, de 02-07-2007, disponível em http:// históricas, as rupturas e desvios das em um isolamento que nada poderia
bit.ly/uhTy9x. (Nota da IHU On-Line) práticas. superar; não é fechá-lo em si mesmo;
alemão naturalizado norte-americano, das técnicas de controle sobre a vida o comportamento individual, procu-
membro da Escola de Frankfurt. Estudou humana enquanto corpo biológico. ram administrar a conduta global das
Filosofia em Berlim e Freiburg, onde
conheceu os filósofos e professores de Por sua vez, o controle da sociedade populações. Essas técnicas de gover-
filosofia Husserl e Heidegger e se doutorou capitalista sobre os indivíduos não se no não pretendem só o ajustamento
com a tese Romance de artista. Algumas realiza simplesmente pela ideologia disciplinar do individuo à instituição,
de suas obras: Razão e Revolução, Eros e
Civilização, O Homem Unidimensional. ou a consciência, como analisam as te- mas também a condução coletiva do
(Nota da IHU On-Line) orias críticas de raiz marxista – com as comportamento social. Esse vetor de
9 Walter Benjamin (1892-1940): filósofo quais Foucault compartilha um amplo técnicas é que Foucault denominou de
alemão crítico das técnicas de reprodução
em massa da obra de arte. Foi refugiado campo semântico – mas principalmen- biopolítica. Sem essa administração
judeu alemão e diante da perspectiva de te através de dispositivos de controle normalizada da vida coletiva, as so-
ser capturado pelos nazistas, preferiu o do corpo e da vida humana biológica. ciedades modernas se tornariam tão
suicídio. Um dos principais pensadores
da Escola de Frankfurt. Sobre Benjamin, Afirma Foucault que foi no somático, imprevisíveis quanto uma democracia
confira a entrevista O império do instante no corporal, que a sociedade capi- direta ou efetiva.
e a memória, concedida pelo filósofo talista investiu principalmente. Não
espanhol José Antonio Zamora às Notícias
do Dia 01-11-2009, disponível em http:// é possível compreender a complexi-
bit.ly/2FtAJl. (Nota da IHU On-Line) dade dos dispositivos desenvolvidos
Leia mais...
>> Confira os artigos de Castor Bartolomé Ruiz sobre o evento Giorgio Agamben: “O Homo Sacer I, II, III.
A exceção jurídica e o governo da vida humana” e a respeito do curso Filosofia e sociedade: A bio-
política, a testemunha e a linguagem. (Des) encontros filosóficos: M. Foucault, H. Arendt, E. Levinas,
G. Agamben:
* Homo sacer. O poder soberano e a vida nua. Revista IHU On-Line, edição 371, de 29-08-2011, disponível em http://
www.ihu.unisinos.br
bit.ly/naBMm8;
* O campo como paradigma biopolítico moderno. Revista IHU On-Line, edição 372, de 05-09-2011, disponível em
http://bit.ly/nPTZz3;
* O estado de exceção como paradigma de governo. Revista IHU On-Line, edição 373, de 12-09-2011, disponível em
http://bit.ly/nsUUpX;
* A exceção jurídica e a vida humana. Cruzamentos e rupturas entre C. Schmitt e W. Benjamin. Revista IHU On-Line,
edição 374, de 26-09-2011, disponível em http://bit.ly/pDpE2N;
* A testemunha, um acontecimento. Revista IHU On-Line, edição 375, de 03-10-2011, disponível em http://bit.ly/
q84Ecj;
* A testemunha, o resto humano na dissolução pós-metafísica do sujeito. Revista IHU On-Line, edição 376, de 17-10-
2011, disponível em http://migre.me/66N5R;
* A vítima da violência: testemunha do incomunicável, critério ético de justiça. Revista IHU On-Line, edição 380, de
14-11-2011, disponível em http://bit.ly/vQLFZE;
* Genealogia da biopolítica. Legitimações naturalistas e filosofia crítica. Revista IHU On-Line, edição
IHU em Revista
Campos sulinos: os desafios da
conservação da biodiversidade
Riqueza da fauna e da flora é característica do bioma, revela o engenheiro ambiental
Gerhard Overbeck. Contudo, restam hoje cerca de 50% das áreas originalmente
cobertas por vegetação campestre no Sul brasileiro
U
m bioma extremamente rico, mas ain- constatado nos campos sulinos é a conversão
da pouco conhecido pela sociedade e, do uso da terra. “No total, restam hoje cerca
por isso, pouco valorizado. É a realida- de 50% das áreas originalmente cobertas por
de dos campos sulinos, com um grande número vegetação campestre no sul do Brasil”.
de espécies de animais e plantas ameaçadas, Engenheiro ambiental, natural da Alema-
pontua o engenheiro ambiental Gerhard Over- nha, Gerhard Overbeck é mestre em Arquite-
beck. A composição florística, por exemplo, tura de Paisagem e Planejamento Ambiental
está totalmente modificada nos locais onde foi pela Universidade Técnica de Munique, onde
transformada, seja em função da lavoura ou cursou doutorado em Ciências Naturais com a
da silvicultura, que trazem modificações “nas tese Effect of fire on vegetation dynamics and
propriedades do solo ou do banco de sementes plant types in subtropical grassland in Sou-
e impedem a recuperação rápida e espontânea thern Brazil. Leciona atualmente no Departa-
das áreas originalmente campestres”. Contu- mento de Botânica da Universidade Federal do
do, completa Overbeck, é preciso ter em con- Rio Grande do Sul – UFRGS. É um dos organiza-
sideração que a atividade pecuária preserva os dores da obra Wandel von Vulnerabilität und
campos em função do pastejo, mas ressalva: Klima: Müssen unsere Vorsorgewerkzeuge an-
“Claro que também é importante ter áreas em gepasst werden? (Hannover, Bonn: ARL, DKKV,
reservas sem pastejo, nas quais podemos estu- 2007). Overbeck esteve no Instituto Humanitas
dar o desenvolvimento da vegetação sem inter- Unisinos – IHU quinta-feira, 19-04-2012, onde
ferência humana ou nas quais até poderíamos proferiu a palestra Rio+20 e desafios para a
experimentar diferentes tipos de manejo, anali- conservação da biodiversidade e dos serviços
sar os efeitos sobre a diversidade de diferentes ecossistêmicos nos Campos sulinos.
grupos de plantas ou animais, sobre serviços Confira a entrevista.
ambientais, etc.” Um dos principais problemas
www.ihu.unisinos.br
IHU On-Line – Quais são os prin- ainda permanecem, com consequên- pécie africana que chega a se tornar
cipais desafios para a conservação da cias negativas para a biodiversidade. dominante em grandes áreas e reduz
biodiversidade e dos serviços ecossis- Adicionalmente, o manejo inadequa- tanto a diversidade florística como a
têmicos nos campos sulinos? do de grandes áreas ainda campestres produtividade dos campos. Então, te-
Gerhard Overbeck – Os campos dificulta a manutenção da diversidade mos desafios bastante concretos e ur-
sulinos têm sofrido, nas últimas dé- e dos serviços ecossistêmicos, princi- gentes frente à degradação observada
cadas, uma constante e elevada con- palmente por causa do sobrepasto- no bioma – mais ainda quando con-
versão para outros usos de terra. No reio, o qual também pode ser conside- sideramos que a transformação em
total, restam hoje cerca de 50% das rado problemático pelo ponto de vista outros tipos de habitat continua com
áreas originalmente cobertas por ve- econômico, já que não utiliza o recurso taxas altas em muitas regiões.
getação campestre no sul do Brasil; e – campo nativo – em uma forma pro-
menos ainda em algumas regiões, por dutiva. Este manejo inadequado pode
exemplo, no Paraná. Além da perda di- levar, entre outras consequências, ao Necessidade de manejo
reta de habitat, esta redução em área aumento de espécies invasoras, por O desafio que de certa maneira
implica a fragmentação daquelas que exemplo, do capim-anoni, uma es- está por trás desta problemática é a
de manejo de unidades de conserva- os quais terão de ser implementados na metade norte do Rio Grande do Sul
ção, e com isso se põe a risco o gran- em políticas nacionais e regionais. e em Santa Catarina e Paraná), cada
de potencial desta região, tanto para Desse modo, a Conferência em um com características específicas.
a conservação como para a produção si não trará resultados práticos para a Os campos no sul do estado têm a sua
sustentável. conservação dos campos sulinos. Po- continuação nos campos de Uruguai
rém, deverá estimular tanto um maior e Argentina. Em termos florísticos, o
IHU On-Line – Em que medida a interesse em questões do desenvolvi- número de espécies encontradas nas
Rio+20 é importante no sentido de se mento sustentável e da conservação áreas de vegetação campestre é im-
pensar e preservar esse ecossistema? do bioma como uma maior elaboração pressionante: trabalhos atuais de pes-
Gerhard Overbeck – A Rio+20 é de políticas públicas voltadas para sua quisadores do Departamento da UFR-
uma conferência organizada pelas Na- conservação e seu manejo adequado. GS apontam para a presença de mais
ções Unidas, em nível mundial, e tem E nós, pesquisadores, ambientalistas de 2.500 espécies vegetais campestres
como objetivo reafirmar o compromis- ou produtores, podemos “pegar esta somente no Rio Grande do Sul. Entre
so político para um desenvolvimento onda” e aproveitar a possibilidade de elas, muitas espécies raras ou endê-
sustentável. Especificamente serão entrar no debate, no âmbito mais re- micas, ou seja, espécies que ocorrem
abordados dois temas: a economia gional aqui no Sul brasileiro mesmo, somente no Rio Grande do Sul ou até
IHU em Revista
mesmo em algumas partes do estado, pestres e fragmentação dos campos
às vezes em um ou em pouco locais. remanescentes. O preocupante é que
Embora nem todos os grupos
de animais tenham sido estudados
de certa maneira, esta conversão acontece cada vez
mais até em regiões onde o solo não
com o mesmo grau de detalhamen-
to, também já se conhece uma alta
está por trás desta está muito apropriado ao uso como la-
voura, ou seja, os outros tipos de uso
diversidade de muitos grupos. E para
citar um exemplo: das 480 espécies de
problemática é a de terra não são práticas sustentáveis.
Mas uma vez perdido, provavelmente
aves que ocorrem no bioma Pampa10,
cerca de 120 vivem exclusivamente baixa valorização é muito difícil restaurar a vegetação
campestre. Além disso, práticas ina-
em áreas campestres. Em termos de
biodiversidade, os campos sulinos são, dos campos dequadas de manejo, por exemplo,
carga alta de animais, levam a perda
então, extremamente ricos – só que
este fato ainda é pouco conhecido na sulinos, mais de diversidade através da seleção
de certas espécies e podem causar
sociedade, e, por causa disso, há uma problemas de erosão e de perda de
baixa valorização dos campos. especificamente produtividade.
IHU On-Line – E da flora desse
bioma, em específico, o que há de a dos campos IHU On-Line – Os campos su-
singular? linos são um bioma ameaçado de
Gerhard Overbeck – Dentro da nativos, pela extinção?
família botânica das gramíneas, que Gerhard Overbeck – Como desta-
formam a matriz da vegetação cam- sociedade” cado anteriormente, um bioma pode
pestre, há dois grandes grupos: espé- ser definido principalmente em base
cies hibernais (adaptadas a condições das condições climáticas específicas.
climáticas mais temperadas) e espé- Contudo, quem pode ser ameaçado de
cies estivais (adaptadas a condições diferentes épocas do ano. Além dis- extinção não é o bioma (o qual pode
climáticas mais tropicais). Nos campos so, como já mencionado, os campos ser alterado), mas só o tipo de vege-
sulinos, situados na transição entre destacam-se pela sua alta diversidade tação e as espécies que fazem parte
climas temperado e tropical, os dois florística, a qual pode ser observada desta vegetação podem ser ameaça-
grupos de gramíneas ocorrem juntos, em várias escalas espaciais. Por exem- das ou, até mesmo, extintas. Há um
de maneira que as espécies hibernais plo, em um único metro quadrado de grande número de espécies (tanto de
são mais evidentes na primavera e as uma área “típica” dos campos sulinos, animais como de plantas) incluído na
espécies estivais, dominantes no ve- são facilmente encontradas entre 20 lista oficial de espécies ameaçadas. A
rão. Essa característica bastante singu- e 30 espécies, se não mais. Dentro lista das espécies ameaçadas da flo-
lar também possibilita um bom apro- dos campos sulinos, algumas regiões ra, publicada com o Decreto 42.099,
veitamento do recurso forrageiro em destacam-se por outras característi- editata em 31-12-2002, contém cerca
cas, como na Serra do Sudeste, em de 10% da flora campestre. Mesmo
�� Bioma pampa: nome de origem que os campos são caracterizados por sabendo disso, não temos, na grande
quechua genericamente dado à região alta presença de espécies lenhosas. E maioria dos casos, programas de con-
pastoril de planícies com coxilhas, entre o podemos destacar a riqueza específi- servação para essas espécies, nem um
estado brasileiro do Rio Grande do Sul, as
províncias argentinas de Buenos Aires, La ca de algumas famílias vegetais – por monitoramento das populações. Além
Pampa, Santa Fé, Entre Ríos e Corrientes exemplo, nos campos do Rio Grande disso, importantes serviços ecológicos
e a República Oriental do Uruguai. É do Sul ocorrem cerca de 450 espécies podem estar em risco com a perda de
também chamada de campos sulinos.
Ecologicamente, é um bioma caracterizado de asteráceas, 450 espécies de gra- vegetação campestre. www.ihu.unisinos.br
por uma vegetação composta por gramíneas míneas e 200 espécies de fabáceas
e plantas rasteiras, sendo encontradas (leguminosas) – para só destacar as IHU On-Line – Em 2007, pesqui-
algumas árvores e arbustos próximos a
cursos d’água, que não são abundantes. famílias botânicas com maior número sadores apontaram que o avanço da
Comparados às florestas e às savanas, de espécies. agricultura e da silvicultura, a cada
os campos têm importante contribuição ano, destrói cerca de 140 mil hectares
na preservação da biodiversidade,
principalmente por atenuar o efeito estufa IHU On-Line – Quais são as prin- do Pampa gaúcho. Qual é a situação
e auxiliar no controle da erosão. Sobre o cipais ameaças que esse bioma tem recente e em que medida a agrope-
pampa, confira a edição 247 da IHU On- sofrido? cuária e o plantio de eucalipto vem
Line, de 10-12-2007, intitulada O Pampa
e o monocultivo do eucalipto, disponível Gerhard Overbeck – Como desta- alterando a composição dos campos
em http://bit.ly/tcF9AS. Outro tema afim cado no início da entrevista, o maior sulinos?
é tratado na edição 183, de 05-06-2006, problema é a perda de área como Gerhard Overbeck – Não dispo-
Floresta de Araucária: uma teia ecológica
complexa, disponível em http://bit.ly/ consequência de sua conversão para nho de números atuais, mas acredito
bUgV2J. Leia, também, a edição 27 do outros usos de terra. Esse é um pro- que esta situação – ameaça dos cam-
Cadernos IHU Em Formação, cujo título cesso que continua e pode facilmente pos por mudanças no uso de terra
é Monocultura do eucalipto. Deserto
disfarçado de verde?, disponível em http:// ser observado na região Sul, causando – não tenha mudado muito, de for-
bit.ly/K1OjgE. (Nota da IHU On-Line) perda de habitat para espécies cam- ma geral. Além das áreas totalmente
IHU em Revista
Retratos coloridos e em preto e
branco. Os muitos mundos da
favela
José Luiz Bica de Melo comenta alguns aspectos do filme 5x Favela – agora por nós
mesmos e percebe que a obra apanha a complexidade das relações sociais onde estão
muitas vezes embaralhadas as normas cotidianas e as leis, a necessidade e o drama, a
ordem e a desordem tecendo laços de sociabilidade
Q
uando você pensa em favela, que ao filme, Bica percebe que “o morador das fa-
imagem lhe vem à cabeça? O cinema velas deseja ser. Não tem vergonha de estar na
nacional possui muitas obras que re- favela e é um equívoco pensar que está sem-
tratam o cotidiano das comunidades/favelas. pre querendo descer ao asfalto. Quer dignida-
Mas que tal assistir a um filme produzido pe- de, respeito, alegria, sonho, beleza, casa, luz,
los próprios moradores? É o caso de 5x Favela trabalho digno. Como em todo lugar. Talvez o
– agora por nós mesmos, que será exibido no grande desafio seja descolonizar um imaginá-
Ciclo de Filmes Realidades do Brasil: Relações rio que, estando de fora e de longe, não com-
de poder e violência, promovido pelo Instituto preende o que significam as comunidades para
Humanitas Unisinos – IHU, no próximo dia 24 quem lá vive. O mundo não é dividido entre
de abril, das 19h30min às 22h20min, na Sala bons e maus. Maldade e bondade podem estar
Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU. em todo lugar. Aqui e lá”.
Quem estará no evento debatendo a obra O professor Dr. José Luiz Bica de Melo é
com o público é o professor da Unisinos José graduado em Ciências Sociais pela Unisinos e
Luiz Bica de Melo. Ele aceitou conceder a en- especialista em Educação Popular pela mesma
trevista a seguir à IHU On-Line, por e-mail, instituição. Cursou mestrado e doutorado em
em que aponta que os cinco episódios que Sociologia pela Universidade Federal do Rio
compõem o filme retratam uma “dimensão da Grande do Sul – UFRGS.
realidade social brasileira, complexa, plural a Confira a entrevista.
desafiar a ficção e a análise social”. Ao assistir www.ihu.unisinos.br
IHU On-Line – Qual é a realidade desigualdades, necessidades, dramas social brasileira, complexa, plural a de-
social brasileira retratada no filme 5x humanos, tráfico de drogas, violência safiar a ficção e a análise social.
vezes favela – agora por nós mesmos? e sonhos, sem, no entanto, reduzir o
José Luiz Bica de Melo – 5x favela olhar da câmera às análises dicotômi- IHU On-Line – Em que sentido o
– agora por nós mesmos é composto cas (bandidos x mocinhos, os “bons” x filme 5x vezes favela – agora por nós
por cinco episódios dirigidos por cine- os “maus”, trabalhadores x vagabun- mesmos contribui para a reflexão so-
astas cuja origem é a favela ou as co- dos) como em alguns casos do cinema bre as relações de poder e violência
munidades, conforme aparece no fil- brasileiro, mas apanhando a complexi- que marcam a complexa realidade
me, produção que resultou de oficinas dade das relações sociais onde estão social brasileira?
orientadas por cineastas como Fer- muitas vezes embaralhadas as normas José Luiz Bica de Melo – De várias
nando Meirelles, Ruy Guerra e Walter cotidianas e as leis, a necessidade e o maneiras. O que pode ser exemplifica-
Salles. Retrata a realidade social brasi- drama, a ordem e a desordem tecen- do pelo desejo e o sonho de obter um
leira tomando como lócus as comuni- do laços de sociabilidade. Os episódios diploma de curso superior e romper
dades do Rio de Janeiro tratando das retratam uma dimensão da realidade com a condição de classe buscando
da vida por um fio. Por apresentar as relação aos valores das comunidades assim”, mas que procura dizer “está
comunidades em sua complexidade, que vivem na favela? sendo assim”, “nós mesmos estamos
o filme nos mostra, sob a forma espe- José Luiz Bica de Melo – Os cinco mostrando desde dentro”. Essa é a
lhada, os contrastes: territórios ma- episódios de 5x favela – agora por nós magia do cinema (aquele do passado e
peados e apropriados pelo tráfico, os mesmos foram roteirizados, dirigidos o de hoje). As dinâmicas da sociedade
serviços públicos que não chegam às e produzidos por cineastas que nasce- mudaram e 5x favela – agora por nós
comunidades, a arma que mata, mas ram nas comunidades do Rio de Janei- mesmos capta magistralmente esse
também a alegria do encontro, a mão ro e muitos lá vivem até hoje. Há uma movimento.
amiga que conforta, a festa, o café, a preocupação que não é propriamente OLHO
cerveja, a sensualidade e o lugar do moral: é cultural e estética. Mostrar a “5X favela – agora por nós mes-
inesperado, do surpreendente na vida complexidade das relações humanas mos é uma bela e poderosa âncora
de cada um. Retratos. Coloridos. E em nas comunidades, entre os desejos e o para a reflexão sobre os poderes e as
preto e branco. Muitos mundos. medo, entre a luz e a escuridão, entre violências (e os contrapoderes sutis,
uma pipa que cai e um desejo que voa, quase invisíveis) em nossa sociedade”
entre uma ponte que separa (e une) e
uma mão que bate (e ampara), entre a
IHU em Revista
Projeções populacionais do RS –
menos gaúchos até 2050
Pedro Tonon Zuanazzi reflete sobre a contribuição oferecida pela demografia ao
desenvolvimento econômico do estado do Rio Grande do Sul
Por Graziela Wolfart
E
is uma projeção do cenário populacio- “no caso da educação em grandes cidades
nal do Rio Grande do Sul para as próxi- (onde não há o problema do deslocamento),
mas décadas: o número de jovens (até 14 será que precisamos abrir mais escolas em um
anos) deve diminuir continuamente; o número cenário futuro em que teremos cada vez menos
de pessoas na idade potencialmente ativa (15 jovens? Será que o sistema atual de previdên-
a 65 anos) deve crescer aproximadamente até cia comporta uma população cada vez maior
2020 e depois passar a diminuir; e o número de de idosos e cada vez menor de pessoas em
idosos (65 anos ou mais) deve aumentar conti- idade potencialmente ativa? Enfim, só estou
nuamente. Os dados são trazidos pelo estatísti- levantando questões. O foco do meu trabalho
co da FEE Pedro Zuanazzi, que abordará o tema é mais quantitativo, mas os resultados devem
Projeções populacionais do Rio Grande do Sul: ser utilizados n o intuito de se planejar para es-
mudanças no bônus demográfico na próxima sas questões”.
quinta-feira, dia 26-04, das 17h30min às 19h Pedro Tonon Zuanazzi é estatístico da Fun-
na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no dação de Economia e Estatística – FEE e mes-
IHU. Em entrevista concedida por e-mail para a trando na Universidade do Rio Grande do Sul
IHU On-Line, Zuanazzi adianta aspectos do que – UFRGS.
discutirá na palestra em questão. E questiona: Confira a entrevista.
IHU On-Line – A partir das recen- IHU On-Line – Em que se baseia zero nas próximas décadas (como na
tes projeções populacionais do Rio ao afirmar que a população gaú- década de 1990), a inversão da popu-
Grande do Sul, como o senhor afirma cha deve atingir seu ápice em torno lação deve ocorrer entre 2025 e 2035. www.ihu.unisinos.br
que o estado terá baixo crescimento de 2030 e depois deve começar a Vale ressaltar que só saberemos o sal-
populacional nas próximas décadas? diminuir? do migratório ocorrido na última déca-
Pedro Tonon Zuanazzi – Trata- Pedro Tonon Zuanazzi – Traça- da quando saírem os dados definitivos
-se de uma tendência mundial que mos três cenários prováveis para a do Censo. Além de trabalhar com ce-
começou a ocorrer nos países desen- taxa de fecundidade e para as expecta- nários para a população total, projeta-
volvidos há mais tempo e que agora tivas de vida masculina e feminina, ba- mos a população por faixa de idade: o
está atingindo o Brasil e o Rio Grande seados em métodos da ONU. Nesses número de jovens (até 14 anos) deve
do Sul. A taxa de fecundidade, hoje, já três cenários a inversão do crescimen- diminuir continuamente nas próximas
está em menos de dois filhos por mu- to da população ocorreria entre 2025 décadas; o número de pessoas na
lher (em 2010 era 1,86 no Brasil e 1,75 e 2035. A grande dificuldade é prever idade potencialmente ativa (15 a 65
na região Sul). Ou seja, a população a migração. O Rio Grande do Sul não é anos) deve crescer aproximadamente
não está se repondo. Os efeitos disso, um estado com grande saldo migrató- até 2020 e depois passar a diminuir; e
em breve, será a diminuição do cresci- rio. Sendo assim, consideramos valor o número de idosos (65 anos ou mais)
mento vegetativo. zero para esse componente demográ- deve aumentar continuamente.
fico. Podemos dizer assim: se o saldo
migratório se comportar próximo a
IHU em Revista
Um método perigo
Diretor: David Cronenberg crucial da expansão desta nova clínica da alma. O tema, em
Elenco: Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Keira Kni- si, já desperta uma expectativa grande, que em parte é con-
ghtley, Vincent Cassel, Sarah Gadon, Michael Fassbender templada por atuações ímpares, pela recriação dos ambien-
Produção: Martin Katz, Marco Mehlitz tes e pelo cuidado com os detalhes. Contudo, para quem
Roteiro: Christopher Hampton leu o livro de John Kerr ou conhece a história da psicanálise,
Fotografia: Peter Suschitzky o filme parece mais uma caricatura. Apesar disso, o rotei-
Trilha Sonora: Howard Shore ro de C. Hampton escolhe o tema do sexo como o pivô em
Duração: 99 min torno do qual se desenrola a relação entre Jung e Freud.
Ano: 2011 Nesse embate, prevalece a valorização da posição de Freud
País: EUA em desfavor da pessoa de Jung, que, como se sabe, não
Gênero: Drama aceitava a concepção da sexualidade freudiana. Apesar de
Cor: Colorido que a discórdia entre os dois não possa ser reduzida à trian-
Distribuidora: Imagem Filmes gulação mediada por Sabine Speilrein, paciente de Jung, o
Estúdio: Recorded Picture Company (RPC)/Lago Film/Pros- filme vale pela magistral apresentação dos efeitos que um
pero Pictures homem pode produzir numa mulher. Isso me evoca algo
Classificação: 14 anos que Lacan3 dizia: “se para um homem uma mulher é um sin-
toma, um homem para uma mulher é uma devastação”. E só
Professor Mario Fleig, psicanalista e professor do Pro- por isso o filme provoca em nós múltiplas interrogações. Por
grama de Pós-Graduação em Filosofia da Unisinos comenta que o método seria perigoso? No mínimo em razão dele nos
o filme. confrontar com as imediações (_peri_) do gozo.
Mario Fleig é psicanalista e presidente da Escola de Es-
tudos Psicanalíticos (EEP) (www.freudlacan.com.br)
“Um método perigoso”, de David Cronenber, versa so-
bre a relação intensa e conflituosa entre o jovem psiquiatra
C. Jung1 e o inventor da psicanálise, S. Freud2, no período
download em http://migre.me/s8jF. A edição 16 dos Cadernos
IHU em formação tem como título Quer entender a modernidade?
1 Carl Gustav Jung (1875-1961): psiquiatra suíço. Colega de Freud, Freud explica, disponível para download em http://migre.me/
www.ihu.unisinos.br
Jung estudou medicina e elaborou estudos no campo da psicologia, s8jU. (Nota da IHU On-Line)
discutindo os conceitos de introversão e extroversão. (Nota da IHU 3 Jacques Lacan (1901-1981): psicanalista francês. Realizou uma
On-Line) releitura do trabalho de Freud, mas acabou por eliminar vários
2 Sigmund Freud (1856-1939): neurologista e fundador da elementos deste autor (descartando os impulsos sexuais e de
Psicanálise. Interessou-se, inicialmente, pela histeria e, tendo agressividade, por exemplo). Para Lacan, o inconsciente determina
como método a hipnose, estudava pessoas que apresentavam esse a consciência, mas este é apenas uma estrutura vazia e sem
quadro. Mais tarde, interessado pelo inconsciente e pelas pulsões, conteúdo. Confira a edição 267 da Revista IHU On-Line, de 04-
foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em 08-2008, intitulada A função do pai, hoje. Uma leitura de Lacan,
favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da disponível em http://migre.me/zAMA. Sobre Lacan, confira, ainda,
Psicanálise. Freud, além de ter sido um grande cientista e escritor, as seguintes edições da revista IHU On-Line, produzidas tendo
realizou, assim como Darwin e Copérnico, uma revolução no âmbito em vista o Colóquio Internacional A ética da psicanálise: Lacan
humano: a idéia de que somos movidos pelo inconsciente. Freud, estaria justificado em dizer “não cedas de teu desejo”? [ne cède
suas teorias e o tratamento com seus pacientes foram controversos pas sur ton désir]?, realizado em 14 e 15 de agosto de 2009: edição
na Viena do século XIX, e continuam muito debatidos hoje. A edição 298, de 22-06-2009, intitulada Desejo e violência, disponível para
179 da IHU On-Line, de 08-05-2006, dedicou-lhe o tema de capa download em http://migre.me/zAMO, e edição 303, de 10-08-
sob o título Sigmund Freud. Mestre da suspeita, disponível para 2009, intitulada A ética da psicanálise. Lacan estaria justificado
consulta no link http://migre.me/s8jc. A edição 207, de 04-12- em dizer “não cedas de teu desejo”?, disponível para download em
2006, tem como tema de capa Freud e a religião, disponível para http://migre.me/zAMQ. (Nota da IHU On-Line)
“Sou uma mulher muito feliz e de prazer em cuidar dela; meu marido
bem com a vida, agradecendo todos é parceiro em todos os sentidos e a
os dias”, afirma a coordenadora Unisinos é para mim uma referência
do curso de Nutrição da Unisinos, profissional excelente”. A docente
Regina Catarina de Alcântara, em afirma que adora viajar, podendo
entrevista concedida pessoalmente à ser viagens longas, programadas,
IHU On-Line. E continua: “acordo a ou a de final de semana. “Já viajei
mil, passo o dia mentalizando coisas para os EUA, para a Europa etc. Nas
positivas. Tenho uma família muito últimas férias, fui a Nova Iorque e a
amada. Minha mãe é uma pessoa que Las Vegas”. Saiba um pouco mais de
tenho como referência. Tenho muito sua história.
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Contracapa
IHU em Revista
Projeções populacionais do RS
Eis potencialmente ativa (15 a 65 anos) deve crescer
uma pro- aproximadamente até 2020 e depois passar a di-
jeção do minuir; e o número de idosos (65 anos ou mais) deve
cenário aumentar continuamente. Os dados são trazidos pelo
popu- estatístico da FEE Pedro Zuanazzi, que abordará o
lacional tema Projeções populacionais do Rio Grande do Sul:
do Rio mudanças no bônus demográfico na próxima quinta-
Grande feira, dia 26-04, das 17h30min às 19h na Sala Ignacio
do Sul Ellacuría e Companheiros, no IHU. Em entrevista pub-
para as licada nesta edição, Zuanazzi adianta aspectos do
próximas que discutirá na palestra em questão. Maiores infor-
décadas: o número de jovens (até 14 anos) deve di- mações podem ser obtidas em http://bit.ly/zUcY4D
minuir continuamente; o número de pessoas na idade
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