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Trocadilhos e risadas numa noite fria de junho

Sabe aqueles momentos espontâneos de conversa, onde o papo e a risada ficam


tão bons que o tchau acaba precedendo um “há, lembrei de algo pra te contar”?
Esses dias vivi um momento desses.

Era uma sexta-feira à noite, estava na faculdade, tinha acabado de sair da sala de
aula onde apresentamos nossos trabalhos de sociologia. Ali fora encontrei meu
amigo Simião, que tinha acabado de apresentar um trabalho excelente.

“Vou pra lá, você vai pra onde? ”

“Vou pra lá também! ”

“Opa, então vamos! ”

Naquele pequeno trecho de caminhada até o portão da universidade, o assunto era


Heavy Metal e as contradições da rotina de estudos e trabalho, mas os trocadilhos
estavam presentes na conversa tanto quanto o frio estava presente naquela noite
fria de junho.

O Simião, além de muito eloquente, também é um ótimo ouvinte. Com gentileza, me


ouviu falar dos dilemas pessoais, da correria do dia a dia que me fez voltar a sentir
uma dor no peito, velha companheira minha desde 2016, que sempre me assolava
em tempos de ansiedade; dor que já alcançara até os nervos do meu braço
esquerdo, de tanta intensidade.

Entre conversas sobre músicas de heavy metal, trocadilhos e contradições do dia a


dia, nos aproximamos do ponto onde esperaria minha carona.

“Fica assim então, bom fim de semana!”


“Opa, boa noite, bom fim de semana meu caro! Vou lá encontrar minha mina, ela
não está muito legal, entraram na casa dela essa madrugada...”

O tchau precedeu um novo assunto.

“Nossa cara, que tenso...”

“Aliás, você está namorando ainda? ”


“Namorando? Sim, há três anos e meio. Se der certo, caso daqui um ano e meio! ”

Naturalmente minha fala gerou um trocadilho, não podia ser diferente numa
conversa com o Simião.

“Mas agora tenho que ir” – ele disse, e rimos, porque apesar do tchau ainda tinha
assunto.

Avistei, vindo do portão, minha mãe chegando. Vinha com sua motoneta preta -
como sempre - mas dessa vez bem agasalhada, pronta pra enfrentar uma noite fria
de junho.

“Bom Simião, agora realmente vou” – rimos outra vez, “Foi um prazer conversar
contigo! ”

“Te digo o mesmo! Um abraço, bom fim de semana”

“Bom fim de semana, meu caro”

Nos cumprimentamos, ele foi pegar seu ônibus, foi encontrar minha mãe para ir para
casa – lamentando o frio dessa noite de junho, que ficaria mais severo em cima
dessa motoneta no caminho de casa.

Bom, foi um momento trivial, desses que volta e meia vivenciamos. Para o Simião,
provavelmente foi mais um em muitos. Mas certamente ele foi embora sem saber
que aquela dor, minha velha amiga desde 2016, foi embora naquele instante junto
com o vento cortante que nos castigava naquela noite de julho.

Esse momento me fez pensar: o melhor remédio para a dor, sempre será as boas
risadas com um bom amigo, especialmente, se for com o icônico e eloquente
Simião.

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