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Educar e Instruir PDF
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Educar e instruir
Educar e instruir
Inês Lacerda Araújo*
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Professora pesquisadora do programa de
pós-graduação em Filosofia (Mestrado) na PUC-PR;
doutora em Estudos Lingüísticos, UFPR.
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oi somente com a chamada virada pragmática que as filosofias
de estilo cartesiano e kantiano foram postas em xeque com
sua pretensão fracassada de fundar absolutamente o sujeito,
considerado seja como portador de uma mente cognitiva seja como
centro de irradiação do conhecimento. O novo modelo não pre-
tende mais certeza absoluta (todo conhecimento tem fundo histó-
rico, é produto humano) e nem reduz o sujeito a formas mentais
de cognição do mundo, o que fomenta a noção errada de que o
sujeito da educação se limita a apreender, a assimilar, a absorver
informações como se fosse uma esponja. O primeiro obstáculo a
ser levantado é o de superar o pressuposto de que há uma dicotomia
entre a escola formadora e a escola profissionalizante. É preciso
mostrar que o preparo profissional inclui e se realiza através da
formação de valores e da capacidade criativa; eles não são proces-
sos excludentes: a profissionalização, essencial para o desenvolvi-
mento econômico e social, requer a formação da pessoa do
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5 Em Teoria da ação comunicativa (1988) Habermas lança as bases de seu conceito de racionalidade
comunicativa e da distinção entre mundo da vida e sistema. A escola, além de socializar e funci-
onar no mundo da vida na esfera social, cultural e pessoal, sujeita-se ao sistema, que a coloniza,
burocratiza.
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6 ARAÚJO, I. L. “Teoria do discurso e educação”. In: Espaço Pedagógico. Passo Fundo, vol. 10, nº 1,
2003, p. 99.
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ta, que educa e que instrui, é a arma contra esse tipo de risco. Aten-
der exclusivamente interesses hegemônicos e corporativos impede
a discussão e a crítica. A ação inteligente, como diz Dewey, os valo-
res, a educação, as decisões éticas e políticas podem barrar o poder
técnico; já a escola reduzida a testes, provas, a medidas de desempe-
nho, avaliação perpétua, e exercícios puramente formais, compactua
com a mediocridade e a falta de vontade política.
Na escola, especialmente no ensino médio, impôs-se um padrão
de ensino pautado pelo exame vestibular; nas relações sociais e
mesmo pessoais, aceita-se sem reservas o aval técnico ou científico.
Nessa sociedade disciplinar, empobrecida por a educação ter sido
relegada a um segundo plano, a própria ciência perde o rumo. Pro-
jetos que visam a uma pesquisa alternativa, menos comprometida
com os interesses de mega financiadores, dificilmente são estimu-
lados. No ensino o padrão é o do teste; nas relações pessoais, o aval
do perito tem mais valor do que uma conversa franca; na socieda-
de tecnocrática, as relações pessoais, a escola, a universidade, as
decisões políticas, a esfera da justiça e do direito, se tornam unidi-
mensionais, mecânicas, prontas a dar repostas como se não passas-
sem de um sistema informatizado.
A educação de qualidade é o melhor, senão o único antídoto
contra a pobreza, a ignorância, a violência, a corrupção, e em favor
do desenvolvimento, do espírito crítico, das decisões inteligentes,
do planejamento político conseqüente, da aplicação em ciência e
tecnologia guiada pela educação renovada. Trata-se de um círculo
virtuoso. A liberdade de crítica é um exercício de sabedoria, de-
pende de uma produtiva relação entre educação e democracia, ou
seja, que haja discernimento e espaço para tomar decisões corajo-
sas e responsáveis:
Referências bibliográficas
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Educar e instruir
Inês Lacerda Araújo
Resumo Abstract
A função da escola deveria ser a de simul- The function of school should be simultaneously
taneamente educar, no sentido formador, to educate meaning formation so that
para que a instrução, no sentido de prepa- instruction meaning professional training
ração profissional, não seja o foco único would not be the exclusive focus of the
dos processos pedagógicos. Em um siste- pedagogical process. Just in a disciplinary
ma disciplinar há apenas treino em habi- system there are capacities training only. In a
lidades. Em um sistema democrático a democratic system school is the territory for life
escola é o terreno das formas de vida hu- forms to learn, understand, communicate, act
manas que aprendem, compreendem, se and think. Dewey and Habermas point to this
comunicam, agem e pensam. Dewey e direction, the first in order to demonstrate that
Habermas apontam nessa direção, o pri- the objective of educating is to locate problems,
meiro demonstra que o objetivo educacio- generalize, analyze, to give problems a solution
nal é situar, generalizar, analisar, and be capable to apply. The former shows that
solucionar problemas, deduzir, aplicar. O the communicative speech acts demand
segundo, mostra que os atos de fala comu- intersubjective exchange, plurality of
nicativos exigem a troca intersubjetiva, a perspectives, inclusion of the different,
pluralidade de perspectivas, a inclusão do contextual comprehension, argue with reasons
outro, a compreensão contextualizada, o in argumentative processes, learn by means of
dar e ouvir razões em processos argumen- theory and practice. What society demands of
tativos, aprender pela teoria e pela práti- school is not the present dichotomy between
ca. O que a sociedade demanda da escola education and instruction, both lacking a
não é a permanência da atual dicotomia minimum of quality; education for developing
educação/instrução, e da escola sem um must integrate formation and instruction, and
nível mínimo de qualidade; a educação besides, it must attain parameters of quality
para o desenvolvimento deve integrar a and efficiency.
formação e a instrução, além de atender
parâmetros de qualidade e eficiência. Key words
Education – instruction – Dewey – Habermas
Palavras-chave – science – technology
Educação – instrução – Dewey –
Habermas – ciência – tecnologia
E-mail:
ineslara@matrix.com.br