Você está na página 1de 19

OAB XXVIII

III Exame de Ordem - Direito Processual Penal


Prof. Ana Cristina Mendonça

www.cers.com.br 1
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

6. COMPETÊNCIA NO PROCESSO PENAL

1. Competência constitucional

A competência ratione materiae começa a ser analisada na própria Constituição Federal, mas ela não se
esgota na mesma, já que normas infraconstitucionais também delimitam competência material.
A competência constitucionalmente delimitada acaba por classificar os órgãos do poder judiciário
judiciá em Jus-
tiça Militar, Justiça Eleitoral, Justiça Trabalhista, Justiça Federal e Justiça Estadual.
As Justiças Militar, Eleitoral e Trabalhista pertencem ao que chamamos Justiça Especial, enquanto as Jus- Ju
tiças Federal e Estadual à Justiça Comum.
A Justiça do Trabalho não detém competência em matéria penal. Ressalte-se
Ressalte se que mesmo os crimes con-co
tra a organização do trabalho previstos nos arts. 197 a 207, são de competência da Justiça Comum, sendo, parte
deles, de competência Federal, conforme estabelece o art. 109, inciso VI, da CRFB.
Para fins de delimitação da competência da Justiça Eleitoral em matéria penal, deve-se
deve observar o dispos-
to no art. 121 da Constituição Federal, bem como nos arts. 22, I, d e e, 29, I, d e e,, e 35, II, do Código Eleitoral (Lei
4.737/65).

CRFB
Art. 121 - Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais,
dos juízes de direito e das juntas eleitorais",

Código Eleitoral
Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:
I - Processar e julgar originariamente:
d) os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos cometidos pelos seus pró-
pr
prios juízes e pelos juízes dos Tribunais Regionais;
e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em matéria eleitoral, relativos a atos do
Presidente da República, dos Ministros de de Estado e dos Tribunais Regionais; ou, ainda,
o habeas corpus, quando houver perigo de se consumar a violência antes que o juiz
competente possa prover sobre a impetração;
Art. 29. Compete aos Tribunais Regionais:
I - processar e julgar originariamente:
d) os crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais;
e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em matéria eleitoral, contra ato de auto-
aut
ridades que respondam perante os Tribunais de Justiça por crime de responsabilidade e,
em grau de recurso, os denegados
denegados ou concedidos pelos juízes eleitorais; ou, ainda, o
habeas corpus quando houver perigo de se consumar a violência antes que o juiz com- co
petente possa prover sobre a impetração;

Art. 35. Compete aos juízes:


II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalva-
ressalv
da a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;

Assim, compete à Justiça Eleitoral os crimes previstos nos arts. 289 a 354-A
354 A do Código Eleitoral, bem co-
c
mo outros de natureza eleitoral previstos em legislação extravagante, como os tipificados na Lei 9.504/97.
o
Quanto à Justiça Militar, cumpre analisar o disposto no art. 124 da CRFB e o art. 9 . do Código Penal Mili-
tar.

CRFB
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da
Justiça Militar.

Código Penal Militar


Crimes militares em tempo de paz
Art. 9º Consideram-se
Consideram crimes militares, em tempo de paz:

www.cers.com.br 2
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando prati-pra
cados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à admi-
adm
nistração militar, contra militar da
da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natu- nat
reza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar con-co
tra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da re- r
serva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob
a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se
considerando se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administra-
administr
tiva militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no e-
xercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, ob-
o
servação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em fun-
fu
ção de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preserva-
preserv
ção da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
o
§ 1 Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência
comp do Tribunal do Júri.
o
§ 2 Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da U-
nião, se praticados no contexto:
I – do cumprimento
cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo
que não beligerante; ou 'III – de atividade de naturezatureza militar, de operação de paz, de
garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com
o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:
o
a) Lei n 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica
o
b) Lei Complementar n 97, de 9 de junho de 1999;
o
c) Decreto-Lei
Decreto n 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal
Militar; e
o
d) Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.
o
Destaque-se
se a recente alteração do artigo 9 . do CPM, acima transcrito, implementada pela Lei
o o
13.491/2017, em especial no que se refere aos §§ 1 . e 2 ., relativo a crimes dolosos contra a vida.
Portanto, embora os crimes dolosos contra a vida sejam de competência do Tribunal do Júri, conforme art.
o o o
5 ., XXXVIII, da Constituição Federal, ainda que praticados por militares contra civil (art. 9 ., § 1 . do CPM), a Lei
13.491/17 passou a definir como de competência da da Justiça Militar os crimes dolosos contra a vida cometidos por
militares das Forças Armadas (portanto, membros da Marinha, Exército e Aeronáutica)
Aeronáutica contra civil, quando
praticados:
I - no
o cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente
Presidente da República ou pelo Mi- M
nistro de Estado da Defesa;
II – em ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não belige-
belig
rante; ou

www.cers.com.br 3
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

III – em atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem


o ou de atribuição
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma do Código
Brasileiro de Aeronáutica, da LCP 97/99, do CPPM e do Código Eleitoral.
Assim, indiscutível que não estão incluídos na referida reforma legislativa os crimes dolosos contra a vida
o
praticados por policiais militares contra civil, para os quais ainda prevalece o disposto no § 4 . do art. 125 da
Constituição: "Compete
Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares
militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a
vítima for civil,, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
oficia e da gra-
duação das praças."
A mesma Lei 13.491/17, alterando o inciso II do art. 9o. do CPM, estendeu a competência da Jus-
tiça Militar para alcançar crimes previstos no Código Penal e na legislação penal extravagante, quando prati- prat
cados nas condições elencadas nas alíneas do mesmo inciso, o que, aparentemente, inclui os crimes pratica- pratic
dos por militares em serviço.
Assim, prevalecendo este entendimento, é evidente a ampliação do conceito atribuído aos crimes mili- mil
tares, antes reconhecidos como aqueles previstos
pr no Código Penal Militar.
Desta feita, passam à competência da Justiça Militar, por exemplo, crimes como o de abuso de autori- autor
dade (Lei 4.898/65) praticado por policial militar em atividade, antes de competência dos Juizados Especiais
Criminais, restandoando superadas, por consequência, as Súmulas 172 do STJ, que possuem (ou possuíam) o
seguinte teor:

Súmula 172 do STJ - Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de au-
a
toridade, ainda que praticado em serviço.

Súmula 75 do STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime
de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

Súmula 6 do STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de aci- ac
dente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem Policiais Militares em situ-
sit
ação de atividade.

Todas essas hipóteses passam à competência da Justiça Militar Estadual.

Competência da Justiça Federal

No que se refere à competência da Justiça Federal, encontra-se


encontra se a mesma delimitada pelo art. 109 da
Constituição Federal. Assim, consideram-se
consideram crimes federais:
a) os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a com- co
petência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral (art. 109, IV, da CRFB).
b) os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
exec no País, o re-
sultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (art. 109, V, da CRFB);
c) as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo (art. 109, V-A, da CRFB), hi-
póteses nas quais poderá o Procuradorr Geral da República suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, o
o
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, conforme § 5 . do art. 109 da CF.
d) os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema finan-
ceiro e a ordem econômico-financeira (art. 109, VI, da CRFB);
e) os “habeas-corpus”,
corpus”, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição
jurisdiç (art. 109, VII, da CRFB);
f) os mandados de segurança e os “habeas-data”
“habeas data” contra ato de autoridade federal, excetuados os casos
de competência dos tribunais federais (art. 109, VIII, da CRFB);
g) os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada
ressalvada a competência da Justiça Militar (art.
109, IX, da CRFB);
h) os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
“exequatur”, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade,
nacion inclusive a
respectiva opção, e à naturalização (art. 109, X, da CRFB);
i) a disputa sobre direitos indígenas (art. 109, XI, da CRFB).
Enquadram-se, se, por exemplo, no inciso IV do art. 109 da CF os crimes praticados contra a Caixa Econômi-
Econôm
ca Federal e contra a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ambas empresas públicas federais. Da mesma

www.cers.com.br 4
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

forma, aqueles praticados em detrimento do patrimônio das autarquias, como o Instituto Nacional do Seguro Soci-
Soc
al (INSS) ou ainda as Universidades Federais etc.
et
Já os crimes praticados em detrimento do Banco do Brasil, empresa de economia mista, são de compe-
comp
tência da Justiça Estadual, conforme Súmula 42 do STJ:

Súmula 42 STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
part
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Podemos ainda citar as súmulas 508, 517 e 556 do STF, que, embora não expressas quanto à matéria
criminal, também excluem a competência federal para as causas em que o Banco do Brasil seja parte ou interes-
sado.

Súmula 508 STF - Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em
que for parte o Banco do Brasil S.A.
Súmula 517 STF - As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União in-
tervém como assistente ou opoente."
Súmula 556 STF - É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de
economia mista.

Outra questão que suscita dúvida entre os candidatos dos mais diversos concursos diz respeito à compe-
co
tência para o processo e julgamento do crime de tráfico de entorpecentes. Embora o Brasil seja signatário de tra-
tr
tados/convenções de combate ao tráfico de drogas, para que se estabeleça a competência da Justiça Federal,
conforme art. 109, inciso V da CF, é necessário que o critério da transnacionalidade esteja presente, o que, inclu-
incl
sive, é objeto do art. 70 da Lei 11.343/2006.

Lei 11.343/2006
Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se
caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara fe- f
deral serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

Além disso, vários são os entendimentos


entendimento sumulados a respeito do tema:

Súmula 522 STF – Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da jus- ju
tiça federal, compete à justiça dos estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Súmula 528 STJ – Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via
postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
internacional
Súmula 587 STJ – Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é desneces-
desnece
sária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca
da intenção de realizar o tráfico interestadual.
Súmula 607 STJ - A majorante do tráfico
tráfico transnacional de drogas (artigo 40, inciso I, da Lei 11.343/06)
configura-se
se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de
fronteiras.

Portanto, a regra no caso de tráfico de entorpecentes é a competência da Justiça Estadual, ainda que o
crime ultrapasse as fronteiras entre estados da federação. Neste caso, embora a investigação dos crimes interes-
intere
taduais, incluindo o tráfico de entorpecentes, seja de atribuição da Polícia Federal (Lei 10.446/2002), a competên-
compet
cia para o processo e julgamento mantém-se
mantém perante a Justiça Estadual.
Para que a competência da Justiça Federal, na forma do inciso V do supracitado art. 109 se estabeleça, é
necessário que, além de estar previsto em tratados dos quais o Brasil seja signatário,
signatário, o crime tenha início da exe-
ex
cução no território nacional e a consumação ocorra ou deva ocorrer no estrangeiro, ou vice-versa.
vice No caso do
transporte de drogas, crime de caráter permanente, há, para definição da competência federal, necessidade de
transposição
ansposição da fronteira nacional ou provas da destinação internacional do entorpecente.
a a
Muitos são os possíveis questionamentos, nas provas de 1 . ou de 2 . fase do Exame de Ordem, acerca
da competência da Justiça Federal em matéria criminal. Assim, é essencial
essencial o acompanhamento dos muitos posi- pos
cionamentos jurisprudenciais sobre o tema, motivo pelo qual selecionamos as decisões colacionadas nos tópicos
6.8 e 6.9, apresentados ao final deste capítulo.

www.cers.com.br 5
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

2. Distribuição da Competência conforme as regras processuais penais

Verificamos que a competência no Processo Penal tem suas regras de determinação no artigo 69, que
dispõe: art. 69, que dispõe: “Determinará a competência jurisdicional: o lugar da infração; o domicilio do réu; a
natureza da infração; a distribuição; a conexão e a continência.; a prevenção; a prerrogativa de função.”
Art. 69 – determinará a competência jurisdicional.
I – o lugar da infração.
II – o domicilio do réu.
III – a natureza da infração.
IV – a distribuição.
V – a conexão e a continência.
VI – a prevenção.
VII – a prerrogativa de função.
Os incisos I a IV do art. 69 são os critérios fixadores da competência, enquanto os incisos V a VII definem
os critérios modificadores da competência.

3. Competência pelo lugar da infração

O art. 70 do CPP diz que a competência pelo lugar da infração será determinada, em regra, pelo lugar on- o
de o crime produziu o seu resultado, e no caso de tentativa o lugar do último ato de execução. A competência pelo
lugar da infração a que se refere o art. 70 é aplicável aos crimes materiais.
No caso de crimes tentados não há maiores discussões, estabelecendo a lei como critério para definição
da competência pelo lugar da infração aquele em que ocorreu o último ato de execução.
Problema surge nos crimes consumados,
consumados, uma vez que o Código de Processo Penal define como regra o
locus comissi delicti,, ou seja, o local para processo e julgamento é o local da consumação do crime, o local onde o
crime produziu seu resultado.
Entretanto, sabemos que existem crimes chamados plurilocais, aqueles em que o local da ação é distinto
do local do resultado. Nestes casos, de acordo com o CPP, que não os diferenciou, o local para processo e julga- julg
mento seria o local onde se concretizou o resultado, muito embora as provas sejam melhor apuradas no local da
ação ou omissão. Por tal motivo, doutrina e jurisprudência são divergentes.
Para alguns, o melhor local para processo e julgamento dos crimes plurilocais seria o lugar onde estão as
provas, o que seria compatível com a teoria da atividade adotada pelo Direito Penal. No entanto, como o art. 70 do
CPP dispõe de outro modo, deve-se se utilizar, de acordo com este posicionamento, a teoria da ubiquidade (art. 6º.
do CP), processando-se o agente no local da ação ou omissão, ou no local do resultado, o que seria definido pela
1
prevenção.
Para outros, tal entendimento apresenta-se
apresenta se contrário à norma processual e, como competência é matéria
processual, também no caso de crimes plurilocais deve-se
deve aplicar a regra locus comissi delicti do art. 70 do CPP.
A controvérsia desponta ainda mais relevante no caso dos crimes contra a vida, uma vez que as provas,
principalmente a prova testemunhal, encontram-se,
encontram se, em regra, no local da ação, e não há possibilidade
possibi de se fazer
um plenário do Júri através de precatória. Além disso, a instituição do Júri tem como escopo garantir que o réu
seja julgado por seus pares, dentro do contexto social em que praticou a infração, não havendo muita lógica em
que o julgamento to seja realizado em local diverso daquele em que a ação foi praticada. Por tal motivo, compreen-
compree
de-se
se como majoritário o entendimento de que poderia, neste caso, ser adotada a teoria da ubiquidade, não ha- h
2
vendo vício no julgamento realizado no local da ação,ação, apesar do disposto no art. 70 do CPP.

1 No julgamento do RHC 116.200, de 13/08/2013, decidiu o STF que, nos crimes plurilocais, o MP poderá oferecer a denúncia tanto no local
da ação ou omissão, como no local do resultado, aplicando-se
aplicando se à hipótese o foro de eleição: “Crime de homicídio culposo (CP,
(C art. 121, §§
3º e 4º). Competência. Consumação do delito em local distinto daquele onde foram praticados os atos executórios. Crime plurilocal.
pluril Possi-
bilidade excepcional de deslocamento da competência para foro diverso do local onde se deu a consumação do delito (CPP, art. 70). Faci-
litação da instrução probatória, Precedente.”
2
“2. A competência para o processamento e julgamento da causa, em regra, é firmada pelo foro do local em que ocorreu a consumaçãoconsuma do
delito (locus delicti commissi), com a reunião de todos os elementos típicos, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o úl- ú
timo ato de execução. Adotou-se se a teoria do resultado. (Art. 70, caput, do CPP). 3. No caso concreto, aplicando-se
aplicando simplesmente o art. 70
do Código de Processo Penal, nal, teríamos como Juízo competente o da comarca de Nazaré Paulista/SP, onde veio a falecer a vítima. 4. O
princípio que rege a fixação de competência é de interesse público, objetivando alcançar não só a sentença formalmente legal, mas, prin-
cipalmente, justa,
sta, de maneira que a norma prevista no caput do art. 70 do Código de Processo Penal não pode ser interpretada de forma
absoluta. 5. Partindo-sese de uma interpretação teleológica da norma processual penal, em caso de crimes dolosos contra a vida, a doutrina,
doutrina
secundada pela jurisprudência, tem admitido exceções nas hipóteses em que o resultado morte ocorrer em lugar diverso daquele onde se
iniciaram os atos executórios, ao determinar que a competência poderá ser do local onde os atos foram inicialmente praticados.
pratic 6. O moti-
vo que levou o legislador a estabelecer como competente o local da consumação do delito foi, certamente, o de facilitar a apuração
apu dos fa-

www.cers.com.br 6
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

3
No caso de crimes à distância, os §§ 1º. e 2º. do art. 70 do CPP são expressos:
§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que e tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§ 2º “Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do
lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
resulta
No caso de crimes formais não há disposição legal, o que se justifica pelo fato de que, nestes crimes, a-
ção e resultado são imediatos, não havendo dificuldades na definição da competência.
Nos crimes permanentes e continuados, prevê o § 3º. do mesmo art. art. 70, que a competência será definida
pela prevenção, o que se justifica pelo fato de que todos os locais seriam igualmente competentes. Exemplo típico
é o da extorsão mediante sequestro, uma vez que a permanência ocorre enquanto a vítima estiver privada de sua
liberdade, podendo ultrapassar os limites de uma única comarca. Neste caso, todos os locais por onde a vítima for
privada de sua liberdade serão igualmente competentes. Devemos lembrar que o recebimento do eventual resga- resg
te é mero exaurimento e não consumação.
onsumação.
Também não houve por parte do CPP disposição acerca dos crimes habituais, porém não é difícil com- co
preender que se aplica a estes casos a mesma ideia de prevenção.
Nos três casos (crimes permanentes, continuados e habituais), e ainda no local e território
te incerto, a pre-
venção atua como verdadeiro critério fixador, uma vez que auxilia na definição da competência pelo lugar da infra-infr
ção.

4. Competência pelo domicílio do réu

Utiliza-se
se domicílio do réu quando não se conhece do lugar da infração. É critério subsidiário, ao contrário
do que ocorre no Processo Civil.
Não podemos, entretanto, confundir lugar desconhecido com lugar incerto.
Local incerto ocorre quando a infração ocorreu no limite entre duas ou mais comarcas. Neste caso, o lugar
é conhecido,
do, no entanto, permanece a dúvida sobre quem seria competente, já que, em tese, o crime ocorreu no
limite de todas aquelas jurisdições e todas elas poderiam, igualmente, processar o fato. Neste caso, a dúvida se
resolve pela prevenção e não pelo domicílio do réu.
Além da hipótese de lugar desconhecido, o domicilio do réu é foro de eleição nos casos de ação penal pri-
pr
vada, quando a vítima pode escolher entre o lugar da infração e o domicílio do réu.
Importante ressaltar, ainda, que o domicílio do réu também é utilizado nos casos de extraterritorialidade,
conforme dispõe o art. 88 do CPP:
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da Capital
do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nuncanunca tiver residido no Brasil, será competente o
juízo da Capital da República.

5. Competência pela natureza da infração

A competência pela natureza da infração encontra amparo no art. 74 do CPP. Contudo, referido artigo nos
remete à organização judiciária de cada Estado.
Art. 74. A competência pela natureza da infração será determinada pelas regras de organização judiciária
de cada Estado, ressalvada a competência privativa do Tribunal do Júri.

tos e a produção de provas, bem como o de garantir que o processo possa atingir à sua finalidade primordial,
primord qual seja, a busca da verda-
de real. 7. Embora, no caso concreto, os atos executórios do crime de homicídio tenham se iniciado na comarca de Guarulhos/SP,
Guarulhos/SP local em
que houve, em tese, os disparos de arma de fogo contra a vítima, e não obstante tenha se apurado que a causa efetiva da sua morte foi
asfixia por afogamento, a qual ocorreu em represa localizada na comarca de Nazaré Paulista/SP, tem-setem se que, sem dúvidas, o lugar que
mais atende às finalidades almejadas pelo legislador ao fixar a competência de foro é o do local em que foram iniciados os atos executó-
execut
rios, o Juízo de Guarulhos/SP, portanto. 8. O local onde o delito repercutiu, primeira e primordialmente, de modo mais intenso
intens deve ser
considerado para fins de fixação da competência.” (STJ, HC 196.458/SP
196. de 06/12/2011, DJe 08/02/2012)
3
Assim decidiu o STF, no julgamento do HC 106.074 PR, de 08/10/2013, DJe 08/11/2013: “Com efeito, iniciada a execução do crime no
território nacional, a consumação ocorrer no exterior, a competência é fixada segundo o lugar em que tiver sido praticado, no País, o último
ato de execução. É o que dispõe o § 1º do art. 70 do CPP, verbis: “Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar
fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução”. 4. E, ainda quando
praticado ato de execução remanescente te no exterior, a lei processual penal prevê regra semelhante para determinar a competência, esta-
est
belecendo que esta observará o lugar em que o crime tenha produzido parcialmente seus efeitos (art. 70, § 2º, CPP, verbis: “Quando
“Q o úl-
timo ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha
produzido ou devia produzir seu resultado”.

www.cers.com.br 7
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

Não há, portanto, uma regra específica para a distribuição das diversas espécies de crimes entre os ór- ó
gãos jurisdicionais, salvo nas hipóteses dos crimes dolosos contra a vida, cuja competência está constitucional-
constituciona
o
mente garantida ao Tribunal do Júri, nas infrações de menor potencial ofensivo, em decorrência da Lei n .
o
9.099/95, e, hoje, nas infrações de violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n . 11.340/2006).
Assim, o § 1° do art. 74 do CPP dispõe sobre os crimes da competência do Tribunal do Júri: homicídio do- d
loso, infanticídio, aborto, induzimento, instigação
instig ou auxílio ao suicídio.
Não são da competência do Júri crimes como homicídio culposo ou, ainda, aqueles cujo resultado morte seja
preterdoloso (latrocínio, extorsão qualificada pelo resultado morte, extorsão mediante sequestro seguida de morte,
estuproo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte, etc.)
Da mesma forma, o art. 74, § 2°, do CPP não pode ser confundido com o dispositivo específico para a
competência do Tribunal do Júri. A hipótese de júri está prevista no art. 74, § 3°, do CPP, visto que o crime doloso
contra vida tem um procedimento com duas fases. Ocorre que a primeira fase, ou juízo de admissibilidade, resulta
em uma decisão que determina o futuro do procedimento. Se o réu for pronunciado, será submetido à segunda
fase, na qual ocorrerá
rrerá o julgamento pelo júri popular. Caso ocorra a desclassificação da infração para outra, não
afeta à competência do júri, o procedimento prosseguirá perante o juízo que seja competente e com o rito proces-proce
sual cabível ao crime desclassificado.
O § 2° versarsa sobre a possibilidade de desclassificação de crimes outros, não dolosos contra a vida, por
exemplo, em casos de aplicação da emendatio e mutatio libelli (temas que trataremos no capítulo 16). A título de
exemplo, imagine que a organização judiciária de determinado Estado tenha atribuído que na comarca X, a 1ª.
Vara Criminal julgue crimes contra a administração pública, enquanto a 5ª. Vara teria competência para crimes
patrimoniais. Se uma denúncia for oferecida, naquela comarca, por um crime de peculato,peculato será distribuída para a
1ª. Vara Criminal. Durante o processo, no entanto, surgem provas de que a conduta praticada era, na verdade,
apropriação indébita, já que o bem do qual o réu se apropriara não pertencia à administração. Neste caso, compe-comp
tente a 5ª.. Vara Criminal, a quem deverá o juiz remeter os autos.
Outro aspecto que configura competência em razão da matéria diz respeito à execução penal. Cumpre ao
juízo da Vara de Execuções Penais de cada Estado, portanto, órgão pertencente à Justiça Estadual, a presidência
dos processos de execução das penas privativas de liberdade, independentemente da origem da condenação.
Assim, ainda que a pena tenha origem em uma sentença condenatória proferida por juízo federal, eleitoral ou mili- mil
tar, a execução estará a cargoargo da Vara de Execuções Penais do Estado (arts. 2, 65 e 66 da Lei 7.210/84). Contu-
Cont
do, duas são as exceções: quando o preso estiver cumprindo sua pena em presídio federal a competência para o
processo de execução será da Justiça Federal; e quando a condenação condenação ocorrer em processo de competência
originária do STF (arts. 102, inc. I, m,, da CRFB). Neste sentido a Súmula 192 do STJ:
Súmula 192 do STJ - Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas
a sentenciados pela justiça federal,ral, militar ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a adminis-
admini
tração estadual

6. Competência por distribuição

Segundo o art. 75 do CPP, a precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma cir-
ci
cunscrição judiciária, houver
er mais de um juiz igualmente competente.

7. Conexão

A conexão, prevista no art. 76 do CPP, ocorre nas hipóteses em que duas ou mais infrações são pratica-
pratic
das, possuindo, entre elas, um mesmo nexo causal. Dependendo do nexo causal entre as infrações, três são as
espécies de conexão:
I – Subjetiva ou intersubjetiva, que se subdividem em:
a) por simultaneidade;
b) por concurso ou concursal;
c) por reciprocidade.
II – Objetiva ou material, lógica ou teleológica.
III – Processual, instrumental ou probatória.
No inciso I, o nexo causal se caracteriza através do vínculo entre as várias pessoas envolvidas, o motivo
que as leva à prática dos crimes, isolada ou conjuntamente, daí falarmos em conexão subjetiva ou intersubjetiva.
Art. 76. A competência será determinada
determina pela conexão:
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas
contra as outras.

www.cers.com.br 8
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

Neste caso, identificamos três períodos distintos no inciso I do art. 76, os quais configuram, respectiva-
respectiv
mente, as espécies de conexão subjetiva por SIMULTANEIDADE (“se, ocorrendo duas ou mais infrações, houve- houv
rem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas),re por CONCURSO ou CONCURSAL (por
várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar), ou ainda a conexão subjetiva por RECIPROCI-
DADE (por várias pessoas, umas contra as outras).
Já o inciso II apresenta vínculos objetivos entre as diversas infrações. Ocorre quando uma infração é
praticada para facilitar ou ocultar outra, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação às demais. Dis- Di
põe o art. 76, inc. II, do CPP: “se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar
oculta as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas (OBJETIVA OU MATERIAL,
LÓGICA OU TELEOLÓGICA)”.
São exemplos de conexão objetiva ou material: um sequestro praticado para facilitar o crime de estupro;
a ocultação de um cadáver dáver decorrente da prática de um homicídio.
Quando falamos em conexão, principalmente nos casos de conexão objetiva e lógica, devemos estar a-
tentos
tos à eventual aplicação do princípio da consunção, já que existem situações nas quais ocorrem ante-fatos
ante e
pós-fatos
fatos impuníveis, hipóteses em que o crime é único e, portanto, não há que se falar em fatos conexos.
Exemplos de conexão lógica ou teleológicas podem ser encontrados em uma ameaça a testemunhas, re- r
sistência à prisão, hipóteses em que se procura garantir impunidade, bem como nos crimes de favorecimento, em
que se busca obter vantagem.
Dispõe o artigo 76, inc. II, do CPP:
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conse-
cons
guir impunidade ou vantagem em relação lação a qualquer delas (OBJETIVA
OBJETIVA OU MATERIAL, LÓGICA OU TELEOLÓ-TELEOL
GICA).
Já o inc. III estabelece:
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova
de outra infração (PROBATÓRIA,
PROBATÓRIA, INSTRUMENTAL OU PROCESSUAL).
PROCESSUA
Melhor exemplo para a hipótese é o que envolve furto e receptação, onde a prova da receptação depende
da prova da origem ilícita da res.

8. Continência

A continência, prevista no art. 77 do CPP, também é causa de modificação da competência. Ocorre quan-
do temos uma única infração (uma única ação ou uma única omissão) e esta produz vários resultados, ou ainda
quando foi praticada por várias pessoas e, em decorrência, vários serão acusados pela mesma infração.
São, portanto, hipóteses de continência:
1) Concurso de agentes:
Ocorre quando várias pessoas praticam a mesma infração. Estamos diante de um concurso de agentes.
Pode ser uma hipótese de coautoria ou uma hipótese de participação.
Como consequência da continência, haverá unidade de processo e julgamento,
julgamento, de forma a garantir eco-
ec
nomia processual, evitando-se,
se, ainda, decisões conflitantes.
Ressalte-se,
se, entretanto, que haverá separação obrigatória (na forma do art. 79, inc. II, do CPP) no caso de
um dos coautores ou partícipes ser menor de dezoito anos,anos, caso em que o menor será encaminhado ao Juízo da
Infância e Juventude.
2) Concurso formal; aberratio ictus;
ictus aberratio criminis.
Ocorre continência quando temos pluralidade de resultados, como nos casos de concurso formal de
crimes, nas hipóteses de aberratio
atio ictus ou erro na execução, e aberratio criminis ou resultado diverso do pre-
pr
tendido. Essas hipóteses de continência estão previstas no art. 77, II, do CPP.

9. Prevenção

A prevenção atua como causa de modificação da competência nas hipóteses em que o juiz realiza ato ju-
risdicional em processo no qual não seria territorialmente competente. Trata-se
Trata se de competência relativa que, como
visto anteriormente, é prorrogável, sendo novamente necessário lembrar da súmula 706 do STF, indicada anteri-
anter
ormente.
Súmula 706 do STF: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por preven-
preve
ção”.

10. Prerrogativa de função

www.cers.com.br 9
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

A competência ratione personae pode ser analisada sob dois aspectos. No primeiro aspecto olhamos a fi- f
gura do magistrado e se ele pode exercer função jurisdicional naquele momento do processo. Vejamos o seguinte
exemplo: O Ministro do STF tem competência para analisar casos praticamente de todas as matérias e detém
competência territorial em todo território nacional, mas não poderia
poderia proferir decisões em processos em curso no
primeiro grau de jurisdição. O limite para o exercício da função jurisdicional por parte daquele magistrado restrin-
restri
ge-se
se aos processos de competência originária da Corte Suprema ou aos recursos de competência daquele ór-
gão. Trata-sese da competência funcional vertical.
Mas precisamos analisar a competência funcional horizontalmente.
horizontalmente
Considerando todos os réus criminais do país, verificamos que os mesmos se encontram em uma mesma
situação dentro da relação jurídico-processual
processual penal: são réus, polo passivo da relação jurídico processual penal.
No entanto, verificamos que determinados réus, em razão de relevante função exercida dentro das di- d
versas esferas do poder estatal, possuem “força” hierárquica, certa influência, no exercício de cargos para os
quais se exigiria uma conduta pautada pela moralidade, legalidade e idoneidade. Receberam os mesmos, para
o exercício daquela função, um voto de confiança da sociedade, sendo certo que o último que se esperaria espera de-
les seria a prática de crimes, devendo ser julgados por órgãos do Poder Judiciário que, ao menos em tese, não
sofreriam dos mesmos qualquer influência.
A título de exemplo, um juiz não pode ser julgado por outro juiz, que se poderia considerar seu colega
co ou
ter sido de alguma forma influenciado por ele durante sua formação.
Um juiz, por exemplo, não poderia ser julgado pelos seus pares, devendo ser julgado por membros do Ju- J
diciário que exercem a função jurisdicional há mais tempo e que, ainda que em tese,tese, possuem mais conhecimento
da matéria e mais experiência no exercício da função, dificultando eventual influência por parte do magistrado em
face de quem pesa a acusação. Por isso, juízes de primeira instância são julgados pelo Tribunal que reformaria
suas decisões. Se referido tribunal é isento para reformar a decisão daquele magistrado, em consequência, deve- dev
ria estar isento para julgá-lo
lo pelo crime supostamente praticado.
Da mesma forma, desembargadores não podem ser julgados pelos próprios desembargadores
desembarga do Tribunal
a que pertencem, devendo ser julgados pelo órgão que reformaria suas decisões, ou seja, o STJ, e assim por
diante.
De maneira semelhante, se um prefeito comete um crime, a função por ele exercida se encontra, dentro
do Poder Executivo, em um mesmo nível hierárquico daquela exercida pelos juízes no Poder Judiciário. Portanto,
se um prefeito praticar um crime, ele será julgado pelo Tribunal de Justiça, órgão que julgaria os juízes.
Dentro desta mesma sistemática conseguimos distribuir a maioriamaioria dos cargos que possui prerrogativa
de função no texto constitucional.
Devemos, entretanto, tomar cuidado com eventuais exceções. A título de exemplo, podemos citar os
Conselheiros Municipais de Contas, que, embora atuem em nível municipal, possuem prerrogativa pre de função
para o STJ. Reparem, dispõe a CRFB que: Conselheiros do Tribunal de Contas da União são julgados no STF,
Conselheiros do Tribunal de Contas dos Estados são julgados no STJ, e os Conselheiros Municipais também
são julgados no STJ. É uma exceção, mas que se justifica. Afinal, os Conselhos Municipais de Contas foram
extintos com a CRFB/88, somente permanecendo dos Conselhos do RJ e SP, os quais possuem status de con- co
selhos estaduais. Portanto, ao equiparar os Conselheiros Municipais de Contas Contas do RJ e SP a Conselheiros
Estaduais, a CRFB os manteve sendo julgados no STJ.
Contudo, com relação aos parlamentares federais, em recente decisão proferida em questão de ordem na
AP 937, por maioria de votos, decidiu o Plenário do STF que o foro por prerrogativa
prerrogativa de função conferido aos depu-
dep
tados federais e senadores aplica-se se apenas a crimes cometidos no exercício do cargo e em razão das funções a
ele relacionadas.
A hipótese enquadra-se se dentro do contexto do que a doutrina denomina mutação constitucional,
constitucional que con-
siste na alteração informal do texto/norma da Constituição Federal, para a qual se passa a dar interpretação diver-
dive
sa.
A decisão do STF na Ação Penal 937 é, com certeza, a decisão de maior relevância no tema prerrogativa
de função desde o cancelamento ento da antiga Súmula 394 da mesma Corte, mas seus reais e completos efeitos
dependerão de discussões futuras. Como mencionado anteriormente, a decisão proferida em questão de ordem
na referida ação penal originária considerou apenas a prerrogativa dos membros
membros do Congresso Nacional, sendo
necessário o acompanhamento da jurisprudência quanto aos demais cargos.
Da mesma forma, faz-se se necessária maior discussão sobre os critérios a serem adotados para a definição
do que ou quais seriam os crimes praticados no exercício da função e em razão dela.
Vejamos a posição adotada pelo STF:

"DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. QUESTÃO DE ORDEM EM


AÇÃO PENAL. LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO AOS CRI-
CR

www.cers.com.br 10
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

MES PRATICADOS NO CARGO E EM RAZÃO DELE. ESTABELECIMENTO ESTABELEC DE MAR-


CO TEMPORAL DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA.
I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa
1. O foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na intepretação até aqui adota-
adot
da pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes crimes de que são acusados os a-
gentes públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados an-a
tes da investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício.
2. Impõe-se,
se, todavia, a alteração desta linha de entendimento,
entendimento, para restringir o foro privi-
priv
legiado aos crimes praticados no cargo e em razão do cargo. É que a prática atual não
realiza adequadamente princípios constitucionais estruturantes, como igualdade e repú- rep
blica, por impedir, em grande número de casos,
casos, a responsabilização de agentes públicos
por crimes de naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema
penal, nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a probidade e a
moralidade administrativa.
3. Para assegurar
gurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir
o livre exercício das funções – e não ao fim ilegítimo de assegurar impunidade – é indis-
pensável que haja relação de causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo.
A experiência e as estatísticas revelam a manifesta disfuncionalidade do sistema, cau- ca
sando indignação à sociedade e trazendo desprestígio para o Supremo.
4. A orientação aqui preconizada encontra-se
encontra se em harmonia com diversos precedentes
do STF. De fato, o Tribunal
Tribunal adotou idêntica lógica ao condicionar a imunidade parlamen-
parlame
tar material – i.e., a que os protege por suas opiniões, palavras e votos – à exigência de
que a manifestação tivesse relação com o exercício do mandato. Ademais, em inúmeros
casos, o STF realizou
realizou interpretação restritiva de suas competências constitucionais, para
adequá-las
las às suas finalidades. Precedentes. II. Quanto ao momento da fixação definiti-
definit
va da competência do STF 5. A partir do final da instrução processual, com a publicação
do despacho
acho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para
processar e julgar ações penais – do STF ou de qualquer outro órgão – não será mais
afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que o-
cupava, qualquer
lquer que seja o motivo. A jurisprudência desta Corte admite a possibilidade
de prorrogação de competências constitucionais quando necessária para preservar a e-
fetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional. Precedentes. III. Conclusão 6.
Resolução o da questão de ordem com a fixação das seguintes teses: “(i) O foro por prer- pre
rogativa de função aplica-se
aplica se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo
e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual,
com a publicação
ublicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a
competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o
agente público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o
motivo”. 7.. Aplicação da nova linha interpretativa aos processos em curso. Ressalva de
todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e demais juízos com base na ju- j
risprudência anterior. 8. Como resultado, determinação de baixa da ação penal ao Juízo
da 256ªª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão de o réu ter renunciado ao cargo de
Deputado Federal e tendo em vista que a instrução processual já havia sido finalizada
perante a 1ª instância." (passagem do voto do relator, Ministro Luis Roberto Barroso na
questão
uestão de ordem da AP 937, julgada em 03.05.2018).

Quanto à modulação dos efeitos da decisão, posicionou-se


posicionou se o STF no sentido de que o novo entendimento
deve ser aplicado inclusive aos processos em curso, salvo quando já encerrada a instrução probatória, ficando
resguardados os atos e as decisões do STF – e dos juízes de outras instâncias – tomados com base na jurispru-
jurispr
dência anterior, a qual fora assentada no julgamento do INQ 687, que ensejou o cancelamento da antiga Súmula
394, bem como no julgamento da questão de ordem na AP 606, cuja ementa abaixo transcreve-se
transcreve a seguir.

Ementa: AÇÃO PENAL CONTRA DEPUTADO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM. RE- R


NÚNCIA AO MANDATO. PRERROGATIVA DE FORO. 1. A renúncia de parlamentar,
após o final da instrução, não acarreta a perda dede competência do Supremo Tribunal
Federal. Superação da jurisprudência anterior. 2. Havendo a renúncia ocorrido anterior-
anterio
mente ao final da instrução, declina-se
declina se da competência para o juízo de primeiro grau.
(AP-QO
QO 606, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, julgado gado em 12/08/2014, publicado
em 18/09/2014, Primeira Turma)

www.cers.com.br 11
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PROCESSO CRIMINAL CON- CO


TRA EX-DEPUTADO
DEPUTADO FEDERAL. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. INEXISTÊNCIA DE
FORO PRIVILEGIADO. COMPETÊNCIA DE JUÍZO DE 1º GRAU. NÃO MAIS DO SU- S
PREMO TRIBUNAL FEDERAL. CANCELAMENTO DA SÚMULA 394. 1. Interpretando
ampliativamente normas da Constituição Federal de 1946 e das Leis nºs 1.079/50 e
3.528/59, o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência, consolidada na Súmula
394, segunda a qual, "cometido
"cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a com-co
petência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal se- s
jam iniciados após a cessação daquele exercício". 2. A tese consubstanciada nessa Sú- S
mula não se refletiu na Constituição
Constituição de 1988, ao menos às expressas, pois, no art. 102,
I, "b", estabeleceu competência originária do Supremo Tribunal Federal, para processar
e julgar "os membros do Congresso Nacional", nos crimes comuns. Continua a norma
constitucional não contemplando
contem os ex-membros
membros do Congresso Nacional, assim como
não contempla o ex-Presidente,
ex o ex-Vice-Presidente, o ex-Procurador
Procurador-Geral da Repú-
blica, nem os ex-Ministros
ex Ministros de Estado (art. 102, I, "b" e "c"). Em outras palavras, a Consti-
Const
tuição não é explícita em atribuir
atribuir tal prerrogativa de foro às autoridades e mandatários,
que, por qualquer razão, deixaram o exercício do cargo ou do mandato. Dir-se-áDir que a
tese da Súmula 394 permanece válida, pois, com ela, ao menos de forma indireta, tam- ta
bém se protege o exercício do cargo ou do mandato, se durante ele o delito foi praticado
e o acusado não mais o exerce. Não se pode negar a relevância dessa argumentação,
que, por tantos anos, foi aceita pelo Tribunal. Mas também não se pode, por outro lado,
deixar de admitir que a prerrogativa de foro visa a garantir o exercício do cargo ou do
mandato, e não a proteger quem o exerce. Menos ainda quem deixa de exercê-lo.exercê Aliás,
a prerrogativa de foro perante a Corte Suprema, como expressa na Constituição brasilei-
brasile
ra, mesmo para os queque se encontram no exercício do cargo ou mandato, não é encon- enco
tradiça no Direito Constitucional Comparado. Menos, ainda, para ex-exercentes
ex de car-
gos ou mandatos. Ademais, as prerrogativas de foro, pelo privilégio, que, de certa forma,
conferem, não devem ser ser interpretadas ampliativamente, numa Constituição que preten-
prete
de tratar igualmente os cidadãos comuns, como são, também, os ex-exercentes
ex de tais
cargos ou mandatos. 3. Questão de Ordem suscitada pelo Relator, propondo cancela- cancel
mento da Súmula 394 e o reconhecimento,
reconhecimento, no caso, da competência do Juízo de 1º grau
para o processo e julgamento de ação penal contra ex-Deputado
ex Deputado Federal. Acolhimento
de ambas as propostas, por decisão unânime do Plenário. 4. Ressalva, também unâni- unân
me, de todos os atos praticados e decisões
decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,
com base na Súmula 394, enquanto vigorou. (Inq 687 QO, Relator(a): Min. SYDNEY
SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 25/08/1999, DJ 09-11 09 11-2001 PP-00044 EMENT
VOL-02051-02 02 PP-00217
PP RTJ VOL-00179-03 PP-00912)

Muitas
tas são as dúvidas ainda existentes sobre a recente decisão do STF. A principal diz respeito aos car-
ca
gos a que aplicada a nova interpretação, já que tanto a Ação Penal 937 como o Inquérito 4667 (ementa abaixo
colacionada) referem-se
se apenas a parlamentares federais.
f

DIREITO PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO. FORO ESPECIAL POR PRERROGATI- PRERROGAT


VA DE FUNÇÃO. IMPUTAÇÃO DE FATO OCORRIDO ANTES DA POSSE COMO DE- D
PUTADO FEDERAL. MAIORIA EXPRESSIVA JÁ FORMADA EM PLENÁRIO. DECLÍNIO
DA COMPETÊNCIA.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por expressiva maioria de 8 (oito) votos, já
manifestou entendimento de que o foro por prerrogativa de função só deve ser observa-
observ
do nos casos de imputação de crimes cometidos no cargo e em razão do cargo. Sentido
e alcance do art. 53, § 1º da Constituição
Constituição Federal, referente a Deputados Federais e Se-
S
nadores.
2. Diante da improbabilidade de reversão de tal orientação, não se afigura adequado que
o Tribunal continue a conduzir inquéritos ou a instruir ações penais para os quais a maio-
mai
ria dos seus membros
me considera não ter ele competência.
3. A condução de um processo por Tribunal que não será competente para julgamento
final da causa contraria o princípio da identidade física do juiz, sem que exista uma razão
legítima para tanto.
4. Competência declinada
declinada para o Juízo Federal Criminal de Santos/SP. (...)
II. A POSIÇÃO JÁ CLARAMENTE DELINEADA EM PLENÁRIO

www.cers.com.br 12
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

7. Na Sessão do dia 23 de novembro, o Supremo Tribunal retomou o julgamento iniciado


em 31 de maio deste ano (Questão de Ordem na AP 937), relativamente
relativa ao tema do foro
privilegiado. Sete dos Ministros acompanharam meu voto, na parte em que sustentei que
o foro perante o STF somente se verificaria relativamente aos fatos ocorridos no cargo e
em razão do cargo. O eminente Ministro Alexandre de Moraes acompanhou-me
acompanhou quanto à
exigência de que os fatos tivessem ocorrido no cargo, embora tenha entendido que não
se limitasse aos praticados em razão do cargo. Vale dizer: a posição de S. Exa. quanto à
não incidência do foro aplica-se
aplica à presente hipótese.
8. Portanto,
ortanto, oito dos Ministros do Supremo Tribunal Federal – i.e., a totalidade dos que
votaram até agora, em número superior à maioria absoluta – manifestaram-se pela in-
competência desta Corte, entendendo que o foro especial por prerrogativa de função, de
que e cuida o § 1º do art. 53 da Constituição Federal (relativo a Deputados Federais e Se- S
nadores), só deve ser observado nos casos em que a prática de crimes se deu no exer- exe
cício do cargo e em razão do cargo.
9. Ainda que interrompido o julgamento por pedido de de vista regimental, não parece pro-
pr
vável, considerada a maioria já formada, que sua conclusão se dê em sentido oposto ao
já delineado. Para evitar controvérsias desnecessárias em outros órgãos jurisdicionais,
destaco que – sem prejuízo da tese que venha a ser er adotada pelo Tribunal ao fim do jul-ju
gamento da referida Questão de Ordem – o entendimento majoritário já consolidado
se refere, ao menos por ora, unicamente ao foro competente para o processamen-processame
to e julgamento de parlamentares federais.
III. BREVE REFLEXÃO: FORO PRIVILEGIADO, IMPUNIDADE E PROPOSTAS PARA O
FUTURO TRATAMENTO DA MATÉRIA
10. Como tenho afirmado, a restrição do foro aqui proposta – como a restrição do foro
em geral – resolve, sobretudo, os problemas que ele acarreta para o Supremo Tribunal Tribu
Federal. Dentre eles, a politização indevida da Corte, a criação de tensões com o Con- Co
gresso Nacional e o desprestígio junto à sociedade, por se tratar de uma competência
que ele exerce mal. Há uma visão atrasada que ainda prevalece em alguns espaços da
vida brasileira de que quanto mais competências se têm, maior a quantidade de poder.
Nesta visão, o poder não é uma forma de fazer o bem e promover justiça, mas um ins- in
trumento para proteger os amigos e perseguir os inimigos. Já é boa hora de se supera- super
rem os ciclos do atraso institucional e existencial no Brasil. (...)
III. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA
14. No caso aqui examinado, não se afigura adequado que o Tribunal continue a instruir
ações penais ou a conduzir inquéritos para os quais não se considere competente,
comp por
ampla maioria, como no caso sob exame. Entender de modo diverso, com manutenção
destes feitos em tramitação neste Tribunal, implica deliberada vulneração ao princípio da
identidade física do juiz, sem que exista uma razão legítima para tanto.
15. Além disso, a permanência dos autos no Supremo representaria uma inversão de va- v
lores, uma vez que este Tribunal funcionaria como instância de execução meramente
material de atos processuais relacionados a processos que serão, em realidade, julga- julg
dos pela a primeira instância, em prejuízo até mesmo do princípio da identidade física do
juiz.
16. Este o quadro, impõe-se
impõe se a imediata implementação do entendimento majoritário do
Tribunal com a remessa dos autos para o Juízo competente (arts. 109, na forma do 108, 108
§ 1o, ambos do CPP).
17. Assim, considerando que a conduta imputada ao investigado foi praticada quando
ainda não detinha foro especial por prerrogativa de função perante este Tribunal, declino
da competência desta Corte para remeter os autos ao Juízo Federal F Criminal de San-
tos/SP. (passagem do voto do relator, Inq 4667, julgado em 06/02/2018, DJe-023DJe
08/02/2018 - grifou-se)
grifou

Embora a decisão do STF esteja, a princípio, restrita aos Deputados Federais e Senadores, a mesma já
começa a repercutir sobree os demais tribunais, o que verificamos, desde logo, na decisão proferida pelo Ministro
Luís Felipe Salomão, relator nos autos da AP 866/DF, que tramitava perante o Superior Tribunal de Justiça, abai-
aba
xo transcrita.
Vejamos a posição do STJ, adotada em caráter
caráter monocrático, logo a seguir ao julgamento do STF na Ação
Penal 937:

www.cers.com.br 13
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

DECISÃO: 1. Diante da recente e notória decisão do Plenário do Supremo Tribunal Fe- F


deral, ao julgar questão de ordem na AP 937, da relatoria do Ministro Roberto Barroso,
conferindo nova e conforme interpretação ao art. 102, I, b e c da CF, assentando a com- co
petência da Corte Suprema para processar e julgar os membros do Congresso Nacional
exclusivamente quanto aos crimes praticados no exercício e em razão da função pública,
e que tem efeitostos prospectivos, em linha de princípio, ao menos em relação às pessoas
detentoras de mandato eletivo com prerrogativa de foro perante este Superior Tribunal
de Justiça (CF, art. 105, I, "a"), faz-se
faz se necessária igual observância da regra constitucio-
constituci
nal a justificar
ustificar eventual manutenção, ou não, do trâmite processual da presente ação
penal perante a Corte Especial deste Tribunal Superior. (...)
2. Assim, parece claro que o Excelso Pretório decidiu que se faz necessária a adoção de
interpretação restritiva das
das competências constitucionais, consoante precedentes recen- rece
tes daquela Suprema Corte. (...)
3. De outra parte, pelo princípio da simetria, os Estados são obrigados a se organizarem
de forma simétrica à prevista para a União. Afinal, de acordo com o art. 25, 2 caput, da
CF/1988, "os Estados organizam-se
organizam e regem-se
se pelas Constituições e leis que adota-
adot
rem, observados os princípios desta Constituição".
A jurisprudência da Corte Constitucional sempre conferiu grande relevância ao princípio
da simetria. (...)
Assim,
sim, o princípio da simetria informa a interpretação de qualquer regra que envolva o
pacto federativo no Brasil.
4. No caso em exame, é ação penal na qual foi ofertada denúncia em face de (...), atual
Governador do Estado da Paraíba, pela suposta prática de 12 (doze) crimes de respon- respo
sabilidade de prefeitos (art. 1º, inciso XIII, do DL 201/67), decorrente da nomeação e
admissão de servidores contra expressa disposição de lei, ocorridos entre 01.01.2010 e
01.02.2010, quando o denunciado exercia o cargo de Prefeito
Prefeito Municipal de João Pesso-
Pess
a/PB, ou seja, delitos que, em tese, não guardam relação com o exercício, tampouco te- t
riam sido praticados em razão da função pública atualmente exercida pelo denunciado
como Governador. Nessa conformidade, reconhecida a inaplicabilidade
inaplicabilidade da regra consti-
const
tucional de prerrogativa de foro ao presente caso, por aplicação do princípio da simetria
e em consonância com a decisão da Suprema Corte antes referida, determino a remes- reme
sa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,Pa para distribuição a
uma das Varas Criminais da Capital, e posterior prosseguimento da presente ação penal
perante o juízo competente. (Passagem da decisão monocrática proferida pelo Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, nos autos da AP 866/DF (2013/0258052
(2013/0258052-5), em 07.05.2018,
DJe 08.05.2018)
Contudo, considerando as prerrogativas estabelecidas no texto constitucional, observe o gráfico abaixo:

STF

Presidente
da Repúbli-
ca Procurador-
Vice- Geral da
Membros
Presidente República
dos Tribu- Senadores
Ministros dos Tribunais Ministros da Chefes de
nais de Deputados
Superiores República Missão Di-
Contas da Federais
Ministros e plomática
União
Comandan- de caráter
tes das For- permanente
ças Arma-
das

STJ

Membros Desembargadores dos Governado- Membros do


dos Tribu- Tribunais de Justiça dos res dos Ministério
nais de Estados e do Distrito Fede-
Fed Estados e Público da

www.cers.com.br 14
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

Contas dos ral do Distrito União que


Estados e Desembargadores dos Federal oficiem pe-
do Distrito Tribunais Regionais Fede-
Fed rante tribu-
Federal rais nais
Membros Desembargadores dos
dos Conse- Tribunais Regionais Eleito-
Eleit
lhos ou Tri- rais e do Trabalho
Trabalh
bunais de
Contas dos
Municípios

TJ TRF

Deputados
Estaduais **

Juízes Fe-
derais da
área de sua
Juízes Es-
Membros do jurisdição Membros do
taduais e do
Ministério Deputados Juízes da Ministério
Distrito Fe- Prefeitos *
Público Estaduais ** Justiça Mili- Público da
deral e Ter-
r-
Estadual tar União
ritórios
Juízes da
Justiça do
Trabalho

Vereadores Secretários
** de Estado**

A princípio, prerrogativa de função deve ser estabelecida pela Constituição Federal, mas é importante des-
de
tacar que alguns cargos não foram lembrados pelo legislador constituinte. Neste caso, admite-se
admite que a Constitui-
ção dos Estados atribua a prerrogativa, desde que sejam respeitados dois critérios: simetria
imetria e não contrariedade.
contrariedade
Ou seja, a função exercida pelo ocupante do cargo deve ser semelhante a uma função desempenhada por cargo
que possua prerrogativa na Carta Magna.
Por tal motivo, Deputados Estaduais**, Vereadores** e Secretários de Estado**, por po exemplo, podem ter
sua prerrogativa definida na Constituição Estadual.
Por outro lado, não atende ao critério da simetria, p. ex., a prerrogativa que determinadas Constituições
Estaduais estabeleceram para Delegados de Polícia, motivo pelo qual os Tribunais
Tribunais Superiores reconhecem a in-i
4
constitucionalidade desses dispositivos .
Já a não contrariedade significa dizer que o disposto na Constituição Estadual não pode contrariar texto
da Constituição Federal. Exatamente por isso, a prerrogativa de função fixada em em Constituições Estaduais não
pode prevalecer sobre a garantia individual fundamental do Tribunal do Júri, fixada na CRFB. Neste sentido as
Súmulas 721 do STF e Vinculante 45.

Súmula Vinculante 45 - A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prer-
pre
rogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.
Súmula 721 - A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.

4 Veja-se:
se: 1) “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ALÍNEA “E” DO INCISO VIII DO ARTIGO 46 DA CONSTITUIÇÃO C DO ES-
TADO DE GOIÁS, NA REDAÇÃO QUE LHE FOI DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 29, DE 31 DE OUTUBRO DE 2001. Ação
julgada parcialmente procedente para reconhecer a inconstitucionalidade da expressão “e os Delegados de Polícia”, contida no dispositivo
normativo impugnado.” (ADI 2587, de 01/12/2004, DJ 06/11/2006); e 2) “PRERROGATIVA DE FORO. EXTENSÃO AOS DELEGADOS.
INADMISSIBILIDADE. (...) 4. Prerrogativa de foro. Delegados de Polícia. Esta Corte consagrou tese no sentido da impossibilidade
impossibilida de es-
tender-sese a prerrogativa de foro, ainda que por previsão da Carta Estadual, em face da ausência de previsão simétrica no modelo federal.
fede
(...) Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte.” (ADI 882, de 19/02/2004, DJ 23/04/2004).

www.cers.com.br 15
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

Ressalte-se,
se, entretanto, que, conforme posicionamento majoritário, Deputados Estaduais possuem sime-
sim
tria firmada pela própria Constituição Federal (art. 27, § 1º), razão pela qual, diferentemente
diferentemente dos demais cargos
com prerrogativas estaduais, devem ser processados pelos respectivos tribunais, em competência originária, ain-
ai
da que o crime seja doloso contra a vida.
Apesar do tema apresentar grande divergência doutrinária, deve-se
deve se observar o entendimento
en apresentado
pelo STJ nos julgados a seguir:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DEPUTADO


ESTADUAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
TRIBUNAL DO JÚRI. SIMETRIA CONSTITUCIONAL. ABRANGÊNCIA DA PRERRO- PRERR
GATIVA DE FORO NA EXPRESSÃO INVIOLABILIDADE E IMUNIDADE. INAPLICABI- INAPLICAB
LIDADE DA SÚMULA 721/STF AOS DEPUTADOS ESTADUAIS. EXTENSÃO DA GA- G
RANTIA DO ART. 27, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.” (HC 109.941/RJ, de
02/12/2010, DJe 04/04/2011)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PROCESSUAL PENAL. CRIME DOLOSO
CONTRA A VIDA. DEPUTADO ESTADUAL. ART. 27, § 1º, CF. PRINCÍPIO DA SIME- SIM
TRIA. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO.
1. Apesar de não constar do artigo 27, parágrafo 1º, da Carta Magna, expressamente, a
extensão do foro por
por prerrogativa de função aos deputados estaduais, tem-se
tem que as
Constituições locais, ao estabelecerem para os parlamentares do estado idêntica garan-
gara
tia prevista para os congressistas, refletem a própria Constituição Federal, não se po-p
dendo, portanto, afirmar
afir que referida prerrogativa encontra-se
se prevista, exclusivamente,
na Constituição Estadual.
2. A adoção de um critério fundado na aplicação de regras simétricas, conforme precei-
prece
tua a própria Carta Magna, em seu artigo 25, reforça a relevância da função pública
p pro-
tegida pela norma do foro privativo.
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Tribunal de Justiça do Estado de
Alagoas.
(STJ. CC 105.227/TO, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 25/03/2011)

Entretanto, todas essas questões estão agora em xeque, uma vez que, a princípio, posiciona-se
posiciona o STF,
com a AP 937 anteriormente indicada, por afastar a prerrogativa nos casos em que o crime não se relacione à
função exercida.
Detalhe não menoss importante diz respeito a um conflito entre a competência ratione personae atribuída
aos prefeitos e a competência ratione materiae da Justiça Federal ou da Justiça Eleitoral. É certo que a prerrogati-
prerrogat
va dos Prefeitos está estabelecida para o Tribunal de Justiça do Estado em que exerce a função (no art. 29, X, da
CRFB/88). Contudo, o Tribunal de Justiça é órgão da Justiça Comum Estadual, motivo pelo qual se o crime prati-prat
cado pelo Prefeito for federal ou eleitoral, deverá o mesmo ser processado e julgado pelo
pe TRF ou TRE, respecti-
vamente.
Neste sentido o teor das Súmulas 702 do STF e 208 do STJ:

Súmula 702 (STF) - A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se
restringe aos cri-
mes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao res- re
pectivo tribunal de segundo grau.
Súmula 208 (STJ) - Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba
sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Raciocínio diferente aplica-se e a Juízes Estaduais e membros do Ministério Público Estadual, que se man-
ma
tém no Tribunal de Justiça mesmo em caso de crimes federais, somente dali saindo para a Justiça Eleitoral, res- re
saltando-sese o disposto no art. 96, III, da CRFB/88:
Art. 96. Compete privativamente:
III. aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os
membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral.
Importante ainda a lembrar que a prerrogativa de função somente se aplica à prática de crimes, não
se estendendo a atos de improbidade administrativa, e decorre exclusivamente da função e não da pessoa,
não sendo possível sua extensão após o final do exercício funcional. Por P or tal motivo, a antiga súmula 394

www.cers.com.br 16
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

do STF foi cancelada, bem como foram, em 2005, declarados inconstitucionais os parágrafos do art. 84 do
CPP (ADIN 2797-2 e ADIN 2860-0).
Da mesma forma, dispõe a Súmula 451 do STF:
“A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação
definitiva do exercício funcional.”
Contudo, o STF, julgando questão de ordem na Ação Penal originária 606, passou a entender que
nas hipóteses em que a perda do cargo decorre de renúncia por parte
parte de seu titular, caso esta tenha ocorrido
após encerramento da instrução probatória, deverá ser mantida a competência da Corte para o julgamento,
evitando-sese a fraude processual por parte do acusado que, propositalmente, renuncia ao cargo/mandato ape-ap
nas para evitar o julgamento iminente.

AÇÃO PENAL CONTRA DEPUTADO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM. RENÚNCIA


AO MANDATO. PRERROGATIVA DE FORO. 1. A renúncia de parlamentar, após o final
da instrução, não acarreta a perda de competência do Supremo Tribunal Federal. Supe-
Su
ração da jurisprudência anterior. 2. Havendo a renúncia ocorrido anteriormente ao final
da instrução, declina-se
declina se da competência para o juízo de primeiro grau. (STF. AP 606
QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 12/08/2014,
ACÓRDÃO ÃO ELETRÔNICO DJe-181
DJe DIVULG 17-09-2014
2014 PUBLIC 18-09-2014)
18

Para finalizar, devemos lembrar que em face do disposto no art. 77, I, do CPP, quando várias pessoas fo-
f
rem acusadas pela mesma infração e uma delas possui prerrogativa, esta exercerá sobre as demaisdema a vis attracti-
5
va,, sendo todos processados e julgados juntos perante o órgão de instância superior (art. 78, III, do CPP) .
Este entendimento é reforçado pela Súmula 704 do STF:

Súmula 704 - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração
por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Contudo, há exceções, dentre as quais destacamos os processos em que, diante da complexidade ou do


número excessivo de réus, em especial quando há réus presos e soltos, faz-se faz se necessária a separação, a critério
6
do julgador . É o que estabelece o art. 80 do CPP:
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos
processos quando as infrações tiverem sido praticadas em cir- ci
cunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes
prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
sep

11. Foro e Juízo Prevalente

Dispõe o art. 78 do CPP:

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas


as seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, pre-
pr
valecerá a competência do júri;
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as
respectivas
vas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á
á a competência pela prevenção, nos outros casos;

5 Assim decidiu o STF no Inq 2688, de 02/12/2014, DJe--029 029 12/02/2015: “Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. Conexão e continência.
Réus sem foro originário perante o Supremo Tribunal Federal. “Não viola as garantias do juiz natural,
natural, da ampla defesa e do devido processo legal, a atração, por conti-
cont
nência ou conexão, do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados” (Súmula 704). Eventual separação
sep dos processos e consequente
declinação do julgamento a outra instância deve ser analisada pelo Supremo Tribunal, com base no art. 80 do CPP. Tratando-se
Tratando se de delitos praticados em concurso de
agente, não havendo motivo relevante, o desmembramento não se justifica.”
6 “(...) nos termos da jurisprudência desta Corte,te, “O desmembramento do feito é faculdade do juiz (art. 80 do Código de Processo Penal). Não havendo comprovação de
qualquer prejuízo em razão da separação dos feitos, não há como reconhecer-se
reconhecer se qualquer nulidade” (HC 56.817/SP, 6.ª Turma, Rel. MARIA THEREZA
THERE DE ASSIS MOU-
RA, DJe de 30/03/2009). No caso, o desmembramento restou justificado, com amparo no art. 80 do Código de Processo Penal, tendo tend o Tribunal de origem ressaltado
que ‘Vários são os envolvidos, e as testemunhas e as diligências a serem determinadas
determinadas e analisadas, o que poderia tornar inviável o processamento adequado da ação
penal, acaso todos os fatos venham a ser agrupados em uma única ação. Pois bem, diante desse quadro, não se pode permitir o ‘agigantamento’
‘ do processo, sob pena
de trazer prejuízos
juízos à jurisdição e às próprias defesas’.” (HC 129491, de 04/08/2015, DJe-155
DJe 07/08/2015)

www.cers.com.br 17
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior gradua-


gradu
ção;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá
prevalecer esta.

Assim, havendo conexão e continência, a regra é a de que deverá haver unidade de processo e julgamen-
julgame
to, definindo-se
se o foro e/ou o juízo competente de acordo com o disposto no art. 78 do CPP.
Contudo, existem hipóteses de separação obrigatória dos processos, conforme indicado no art. 79 do
mesmo Código. Caso haja concurso de agentes envolvendo um menor de 18 anos (inimputável) e um maior, so- s
mente o maior poderá ser processado criminalmente, devendo o menor ser submetido ao Juízo da Infância e Ju- J
ventude,
tude, para fins de aplicação do procedimento previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Da mesma
forma, os crimes militares, previstos no Código Penal Militar, submetem-se
submetem se a processo próprio perante a Justiça
Militar, regido pelas regras do Código de e Processo Penal Militar, e não ao CPP comum, motivo pelo qual também
se dará a separação obrigatória dos processos, ainda que haja conexão entre o crime militar e o crime comum.
Também será hipótese de separação obrigatória dos processos quando um dos corréus cor contrair, no curso
do processo, doença mental, hipótese na qual, em relação a ele, deverá ser suspenso o processo na forma do art.
152 do CPP, ou ainda, na eventualidade das recusas, no julgamento perante o Tribunal do Júri, não for obtido o
número mínimo
nimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença (art. 469, § 1º., do CPP).
Poderá ocorrer ainda a separação facultativa dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não
lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Acesse nosso site e siga nossas redes sociais

www.anacrismendonca.com.br

@professoraanacristina Ana Cristina Men-


Me Ana Cristina Men- @anacrismendonca @anacrismendonca
donca donça

www.cers.com.br 18
OAB XXVIII
III Exame de Ordem - Direito Processual Penal
Prof. Ana Cristina Mendonça

www.cers.com.br 19

Você também pode gostar