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COSMOLOGIA BUDISTA

In SADAKATA, Akira – Cosmologie Bouddhiste. Vannes, Sully, 2002

OS COMPONENTES FUNDAMENTAIS DA MATÉRIA


As Partículas Infinitesinais
À maneira da visão científica moderna do cosmos, fundada sobre a teoria atômica, o budismo
coloca a existência de elementos e de átomos em sua exposição de sua teoria da estrutura do universo.
O Abhidharmakosha do Século V estuda os elementos e os átomos num capítulo intitulado “Análise
do Mundo (dhatu)”.
Examinaremos a maneira como o Abhidharmakosha trata o assunto e complementaremos as
explicações do tema com a ajuda do Grande Comentário (Abhidharma-mahavibhasa-sastra, 100-150
d.J.C.), que é a enciclopédia do pensamento dos Sarvastivadins (uma das vinte escolas Hinayana), e
da qual o Abhidharmakosha é a síntese.
Estes textos budistas tratam das partículas denominadas átomos (paramanu) e definidas como
sendo “a menor parte da matéria, indivisível (insécable),
indestrutível (indestructible),
inapreensível (insaissisable),
incapturável (incapturable).
“Eles (átomos) não são nem longos, nem curtos, nem quadrados, nem redondos. Eles não
podem ser analisados, vistos, ouvidos ou tocados”.
Paramanu vem de parama (“extremo”) e anu (“minúsculo”). Esta definição nos lembra os átomos
gregos (“atomo’), formado de a (“não”) e tomos (“cortado)”. Os paramanus não podem existir
isoladamente. É apenas quando eles se acumular, se aglomeram, se ajuntam, que eles podem ocupar
um espaço e passar por transformações. Segundo o Abhidharmakosha, na primeira etapa do processo,
um dos sete paramanus torna-se o núcleo em torno do qual os seis outros se posicionam nas três
dimensões, formando uma molécula (anu; ver figura 1). Todavia, segundo a Escola Vaishesika (uma
das seis escolas filosóficas bramanistas ou hinduísta ortodoxa), a matéria torna-se visível da seguinte
maneira: - dois paramanus formam uma molécula, partícula denominada dvyanuka; - três dvyukas se
ajuntam para formar um tryanuka, do tamaho de um trasarenu, partícula de poeira visível nos raios do
sol; - quatro tryanukas formam um caturanuka (ver figura 2).
Assim se formam as partículas, de mais em mais densas, que terminam por criar a matéria visível.
Esse processo é feito graças à potência ou poder do arsdrsta, a “força invisível”.
É dito que toda a matéria é constituída de “quatro grandes elementos” (catvari maha-bhutani): a
terra, a água, o fogo, e o vento. Ao que parece, enquanto que os paramanus são a matéria, os quatro
grandes elementos são a energia. Eles não são, portanto, a terra, a água, o fogo, e o vento no sentido
físico do termo, e que nós podemos ver e tocar em torno de nós. Eles são invisíveis e, no entanto, eles
ocupam o espaço. Enquanto energia, os quatro grandes elementos formam os paramanus, e é somente
quando um grande número deles se ajuntam, é que nos é possível perceber a terra, a água, o fogo ou o
vento enquanto tais, ou toda outra matéria fisicamente existente.
Cada elemento possui suas próprias e funções: a terra é sólida e suporta as coisas; a água é úmida
e dissolve as coisas; o fogo é quente e faz ferver as coisas; e o vento é móvel e impulsiona as coisas.
(O vento, sendo constituído de ar, foi assimilado à respiração, e se pensava que ele fazia crescer ou, ao
menos, mantinha a existência.) Os elementos não manifestam sua presença em partes iguais em todos
os tipos de matéria. Certos elementos, em particular, abundam numa coisa, enquanto que outros
abundam em outras coisas. É isso que explica que certas matérias são sólidas, outras são maleáveis,
outras são úmidas e outras são quentes. Existe uma outra explicação que pretende que os quatro
elementos estejam repartidos em partes iguais em toda matéria, mas que só um dos elementos tem o
poder de determinar a característica desta matéria.

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