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Modernismo

O modernismo tem início no século XX, pelo panorama histórico ele é marcado pelas
grandes inovações científicas e técnicas, novas teorias filosóficas, formação da teoria
psicanalistica e descobertas na antropologia.
O modernismo em Portugal começa em 1913 e é composto por três poetas, Fernando
Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Juntos, neste período, eles criam a Revista
Orpheu.
A Revista Orpheu foi criada em 1915, por Fernando, Mário, Almada e alguns outros
poetas, com o intuito de modernizar a cultura portuguesa que estava estagnada, eles queriam
integrar Portugal ao cenário da modernidade europeia. A ideia da revista surgiu com Luís de
Montalvor, que ficou responsável pela primeira edição da revista. A revista só teve duas
edições, a terceira foi apenas anunciada, não chegando a ser publicada.
Uma das poéticas experimentais criadas na época da revista são os poemas
interseccionistas, poética criada por F. Pessoa, utilizada, como exemplo, em “Chuva obliqua”.
São utilizados versos livres, uma das características do modernismo, que são experimentos
rítmicos inovadores. Outras características são temas do mundo moderno, na época
(velocidade, simultaneidade...) sem deixar os temas tradicionais (saudade, nostalgia
indefinida...)
Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nasceu em Lisboa, em 1988, Perdeu o pai aos 5
anos, o que acarretou com uma mudança para a África do Sul, onde aprendeu a Língua Inglesa.
Aos 17 anos volta para Lisboa, compondo poemas em inglês, abandona a faculdade de Letras
e dedica-se aos estudos filosóficos e leituras modernas.
Pessoa foi um inventor, não apenas de poemas, mas também de poetas, seus
heterônimos, outras personalidades, que possuem vidas, pensamentos e estilo distintos dele
próprio.
“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me"
Entre seus heterônimos se destacam Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.
Álvaro de Campos foi engenheiro naval, formado na Escócia, nasceu em 1890. Ele fez
uma viagem ao oriente, onde a bordo de um navio, escreve seu primeiro poema, em 1914,
Opiário, um poema decadentista, sobre um homem, entediado com o mundo, que fuma ópio
para escapar da doença da vida, onde começa sua primeira fase, a fase decadentista, que possui
versos medido e ritmados. Ele deixa a forma tradicional de organização de poemas, quando
passa para uma fase de grande entusiasmo com o mundo moderno, onde cria poemas com
influências futuristas, como em “Ode triunfal”, chamada fase do entusiasmo futurista, que
possui grande intensidade rítmica. Em sua última fase, chamada amargura angustiada, Álvaro
utiliza versos livres, cheio de melancolia e angustia, como em “Tabacaria”
“Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada...”

Ricardo Reis, médico, nascido em 1887, é pagão e admirador de clássicos e latinos.


Em seus poemas utiliza de linguagem densa, neoclássica, hiperculta, sintaxe latinizante, com
vocabulário raro ou uso de latim. Utiliza de temas como lugares comuns clássicos, a velocidade
da vida, a necessidade de aproveitar o presente. Possui poemas de odes à maneira antiga

“Cada coisa a seu tempo tem seu tempo

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.

Não florescem no Inverno os arvoredos,

Nem pela Primavera

Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,

O mesmo ardor que o dia nos pedia.

Com mais sossego amemos

A nossa incerta vida...”

Alberto Caeiro, considerado mestre dos heterônimos e até do próprio Pessoa, nascido
em 1889, é um dos heterônimos menos cultos. Ele é mestre, segundo Pessoa, de uma visão
pagã, não espiritualizada da vida e do mundo. Caeiro defende uma filosofia antifilosofica
possui poemas abstratos, uma poesia antimetafísica, negação da transcendência.
“O Guardador de Rebanhos
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.”
Já na poesia ortônima, Pessoa começa com uma fase vanguardista, composta com novas
poéticas. Passa para as poesias épico-irônica e lírica.
“Hora Absurda
O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...
Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte...
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto...
Minha ideia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e entanto
Tu és a tela irreal em que erro em cor a minha arte...”

Mário de Sá-Carneiro, nasceu em Lisboa, em 1890, foi amigo de Fernando Pessoa,


um dos fundadores da revista Orpheu. Se suicidou em um quarto de hotel em Paris, aos 26 anos
de idade. Psicologicamente complexo, deixou poucas obras, mas obras que fizeram dele um
dos grandes poetas da literatura portuguesa.
“A Partida
Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.
Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz.
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam refletir.”

José Sobral de Almada-Negreiros, nasceu em S. Tomé, na África, em 1893. Com 12


anos já redigi e ilustra o jornal A república e O Mundo. Um dos fundadores da revista Orpheu,
fora a literatura desenvolveu a pintura a óleo, composições coreográficas para ballet, trabalhou
com tapeçaria, gravura, pintura mural, caricatura, mosaico, azulejo e vitral. Em todas essas
atividades revelou um espírito criador invulgar, por vezes chegando a rasgos de verdadeira
genialidade. Uma de suas obras é o romance Nome de Guerra.

“Esperança
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.”

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