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FELIPE TIAGO FERNANDES BEZERRA

APLICAÇÕES DE SUPERCONDUTORES NO TRANSPORTE


FERROVIÁRIO

Uberlândia
2018
FELIPE TIAGO FERNANDES BEZERRA

APLICAÇÕES DE SUPERCONDUTORES NO TRANSPORTE


FERROVIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Pitágoras de Uberlândia, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Engenharia Elétrica.

Orientador: Caio Campos

Uberlândia
2018
FELIPE TIAGO FERNANDES BEZERRA

APLICAÇÕES DE SUPERCONDUTORES NO TRANSPORTE


FERROVIÁRIO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Pitágoras de Uberlândia, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Engenharia Elétrica.

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Uberlândia, de de 2018
Dedico este trabalho primeiramente a
Deus por todas as bênçãos em minha
vida, a minha esposa Ludimila e minha
mãe Maria Aparecida por todo suporte.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus professores que contribuíram para minha


caminhada até este momento, em especial ao professor João Paulo Seno por todas
as orientações, conselhos e dicas para desenvolvimento deste trabalho, assim como
meu tutor Caio Campos.
BEZERRA, Felipe Tiago Fernandes. Aplicações de Supercondutores no
Transporte Ferroviário. 2018. 32f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Engenharia Elétrica) – Faculdade Pitágoras, Uberlândia, 2018.

RESUMO

Este trabalho busca apresentar uma solução de transporte ferroviário moderna e


eficiente para o cenário brasileiro, o trem de levitação magnética, existente em
outros países, porém utilizando supercondutores como método direto de levitação.
Os supercondutores ganharam destaque desde os anos 90, devido descoberta de
novos materiais, com menor custo de produção e fabricação, isso elevou as
possibilidades de utilização e aplicação desses matérias. Foram realizadas
pesquisas em revistas e trabalhos semelhantes sobre a construção dos
supercondutores, suas aplicações em outras áreas e suas aplicações nos trens do
tipo MagLev, também foi abordada a aplicação no protótipo brasileiro, o MagLev
Cobra. O trabalho apresenta de maneira simples algumas das utilizações dos
supercondutores na engenharia e suas algumas de suas principais vantagens para
utilização nos trens de levitação magnética, abordando custo de implementação e
eficiência energética.

Palavras-chave: Supercondutor; Maglev; Transporte; Levitação; Magnética.


BEZERRA, Felipe Tiago Fernandes. Applications of Superconductors in Rail
Transport. 2018. 32f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia
Elétrica) – Faculdade Pitágoras, Uberlândia, 2018.

ABSTRACT

This work aims to present a modern and efficient rail transportation solution for the
Brazilian scenario, the magnetic levitation train, existing in other countries, but using
superconductors as a direct method of levitation. Superconductors have gained
prominence since the 1990s, due to the discovery of new materials, with lower
production and manufacturing costs, this increased the possibilities of use and
application of these materials. Researches in magazines and similar works on the
construction of superconductors, their applications in other areas and their
applications in MagLev trains were also carried out, the application in the Brazilian
prototype MagLev Cobra was also approached. The paper presents in a simple way
some of the uses of superconductors in engineering and its some of its main
advantages for use in magnetic levitation trains, addressing implementation cost and
energy efficiency.

Key-words: Superconductor; Maglev; Transport; Levitation; Magnetic.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Gráfico da resistência do mercúrio ........................................................ 15


Figura 2 – Efeito Meissner ...................................................................................... 16
Figura 3 – Esquema Básico da Junção de Josephson ............................................ 17
Figura 4 – Evolução cronológica da Tc dos supercondutores ................................. 18
Figura 5 – Exemplo de imagem gerada por um software da MEG .......................... 20
Figura 6 – Computador Quântico D-Wave one........................................................ 21
Figura 7 – Comparação de transformadores ........................................................... 22
Figura 8 – Gráfico de comportamento do supercondutor Tensão x Corrente .......... 24
Figura 9 – Princípio de funcionamento de um trem por levitação eletrodinâmica ... 25
Figura 10 – Trilho utilizado na levitação eletrodinâmica .......................................... 26
Figura 11 – Diagrama de levitação de uma esfera .................................................. 27
Figura 12 – Sistema de levitação eletromagnética do Transrapid ........................... 28
Figura 13 – Maglev Cobra ....................................................................................... 29
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

K Kelvin
Tc Temperatura Crítica
YBCO Yttrium Barium Copper Oxide (Óxido de Ítrio-Bário-Cobre)
Hc Campo Magnético Critico
SQUID Superconducting Quantum Interference Device
MEG Magnetoencefalografia
EEG Electroencefalografia
DLCF Dispositivos Limitadores de Corrente de Falta
DLCFS Dispositivos Limitadores de Corrente de Falta Supercondutor
SAT Supercondutores de Alta Temperatura
MAGLEV Magnetic Levitation (Levitação Magnética)
LASUP Laboratório de Aplicações Supercondutoras
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1. SUPERCONDUTORES ..................................................................................... 15
1.1 RESISTIVIDADE NULA .................................................................................. 15
1.2 EFEITO MEISSNER ....................................................................................... 16
1.3 EFEITO JOSEPHSON .................................................................................... 17
1.4 CERÂMICAS SUPERCONDUTORAS ............................................................ 17
1.5 TIPOS DE SUPERCONDUTORES ................................................................. 18

2. APLICAÇÕES DOS SUPERCONDUTORES .................................................... 20


2.1 MEDICINA ...................................................................................................... 20
2.2 COMPUTAÇÃO .............................................................................................. 21
2.3 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO ............................................. 22

3. TRENS DE LEVITAÇÃO MAGNÉTICA ............................................................. 25


3.1 LEVITAÇÃO ELETRODINÂMICA ................................................................... 25
3.2 LEVITAÇÃO ELETROMAGNÉTCA ................................................................ 27
3.3 LEVITAÇÃO SUPERCONDUTORA................................................................ 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.


REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32
13

INTRODUÇÃO

A mobilidade urbana é um desafio de praticamente toda grande cidade. A


qualidade questionável dos transportes coletivos no Brasil, leva os usuários a
utilização de transportes individuais, esse crescente número de veículos satura a
capacidade das vias urbanas e rodoviárias, além disso, a questão ambiental deve
ser considerada. Estes são apenas alguns fatores pelos quais governos buscam
soluções de transporte coletivos de melhor qualidade, mais confortáveis, rápidos,
eficientes e limpos.
Uma alternativa para o transporte rodoviário de carga seria a utilização do
transporte ferroviário, o que provavelmente resultaria na redução da quantidade de
caminhões e carretas nas rodovias, porém, esse tipo de transporte não é uma boa
opção para o transporte de passageiros em medias distancias, devido à baixa
velocidade média de transporte.
Uma opção viável para o transporte de passageiros seriam os trens de
levitação magnética. No Brasil já existe um projeto de trem de levitação magnética
com a intenção de ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Tal projeto propõe a não
utilização de rodas e/ou trilhos, seu deslocamento será através da levitação
magnética supercondutora, semelhantes aos trens de levitação magnética, já em
operação, no Japão e na Alemanha. O projeto Brasileiro de trem de levitação
magnética consiste na utilização de Supercondutores, material utilizado para eliminar
o atrito entre o trem e a pista.
Quais as vantagens e desvantagens da utilização de supercondutores no
transporte ferroviário?
O objetivo geral é apresentar as aplicações dos supercondutores no
transporte. Os objetivos específicos são descrever o princípio de funcionamento dos
supercondutores, apresentar as formas de utilização dos supercondutores na
Engenharia elétrica, apresentar as aplicações dos supercondutores no transporte,
discutindo os benefícios obtidos e as dificuldades técnicas encontradas para seu
uso.
A metodologia utilizada para a busca dos objetivos do trabalho foi a pesquisa
bibliográfica. As fontes utilizadas foram livros, revistas científicas, artigos, teses e
dissertações, localizadas através do mecanismo de busca Google Acadêmico, com o
14

uso de termos de busca como “supercondutores”, “transporte ferroviário”, “trens de


levitação magnética”, em língua portuguesa e inglesa.
15

1. SUPERCONDUTORES

São denominados de supercondutores, os materiais que possuem resistência


elétrica nula. Essa descoberta aconteceu em 1911 pelo físico holandês Heike
Kammerlingh Onnes, após a liquefação do hélio. Onnes observou esse fenômeno
utilizando uma amostra de mercúrio que, a uma temperatura abaixo de 4,2K (Kelvin)
apresenta uma brusca queda de sua resistência, conforme a Figura 1(DELF; KES,
2010).
Figura 1: Gráfico da resistência do mercúrio

Fonte: Delf; Kes (2011)

Antes dessa descoberta, acreditava-se na proposta de Lord Kelvin de 1902,


que a resistência dos metais puros diminuiria proporcionalmente com a diminuição
da temperatura até um valor mínimo, e finalmente subiria ao infinito em 0K, isso por
acreditar que os elétrons se congelariam (DELF; KES, 2010).

1.1 RESISTIVIDADE NULA

Basicamente a resistividade nula surge quando o material ao atingir a


temperatura de transição ou temperatura critica (Tc), não oferece oposição a
passagem de cargas elétricas, com isso, não ocorrem perdas de energia por calor,
chamadas de efeito Joule (OSTERMANN; FERREIRA; CAVALVANTI, 1998). Assim
como o mercúrio, grande parte dos metais puros apresenta a supercondutividade em
16

baixas temperaturas, abaixo de 40K ou -233º Célsius. Entretanto, os melhores


condutores em temperatura ambiente, prata cobre e ouro, não apresentam a
supercondutividade (OSTERMANN; FERREIRA; CAVALVANTI, 1998; PINA, 2010).
A medição da ausência de resistividade do supercondutor é feita de maneira
experimental, devido a resolução dos aparelhos, medindo a densidade de fluxo
causada por correntes persistentes em anéis supercondutores. Essas correntes,
uma vez estabelecidas, não sofrem alterações significativas em longos intervalos de
tempo (PINA, 2010).

1.2 EFEITO MEISSNER

O efeito Meissner ocorre quando o valor do campo magnético no interior do


material é zero. Com isso, expelem o fluxo magnético submetidos a esse,
diferentemente dos demais materiais que, quando submetido a um campo
magnético, esse penetra o material (OSTERMANN; FERREIRA; CAVALVANTI,
1998). Essa propriedade magnética é conhecida como diamagnetismo perfeito, que
é a capacidade do material se magnetizar opostamente ao campo elétrico aplicado,
desde que esse não ultrapasse o valor do campo magnético crítico Hc (PINA, 2010).
Figura 2: Efeito Meissner

Fonte: Ostermann; Ferreira; Cavalcanti (1997)


17

O efeito Meissner é ilustrado na Figura 2 acima. O campo magnético do imã,


retângulo claro, é repelido pelo supercondutor, retângulo escuro, devido ao
supercondutor produzir um campo oposto ao campo do imã. Isso faz com que esse
último levite sobre o supercondutor (OSTERMANN; FERREIRA; CAVALVANTI,
1998).

1.3 EFEITO JOSEPHSON

Quando aplicada uma tensão elétrica em dois materiais supercondutores


separados por uma fina película isolante, da ordem de nanômetros, surge uma
corrente que oscila na ordem de Giga-hertz. Esse efeito foi descoberto pelo físico
britânico Brian David Josephson, de forma teórica, em 1962, e confirmada por P.W.
Anderson e J.M. Rowell em 1963. A Figura 3 apresenta o esquema básico dessa
junção (PINA, 2010; COSTA; PAVÃO, 2012).

Figura 3Esquema Básico da Junção de Josephson

Fonte: Costa; Pavão (2012)

1.4 CERÂMICAS SUPERCONDUTORAS

A partir da descoberta dos supercondutores, diversos materiais,


principalmente os metais, foram testados afim de descobrir algum que apresentasse
a supercondutividade em maiores temperaturas. Em 1986 uma liga de Nióbio
Germânio apresentou a supercondutividade a 23.2K, porém no mesmo ano Alex
Muller e Georg Bednorz descobriram o efeito supercondutor em uma liga cerâmica.
O fato mais marcante foi que, diferente dos metais testados até então, essa liga
cerâmica em temperatura ambiente é um isolante elétrico. Esse fato alterou
completamente as pesquisas sobre os materiais supercondutores, principalmente
com a descoberta do YBCO (Yttrium Barium Bopper Oxide) que atinge a
supercondutividade a 93K, fato importante, pois essa temperatura é possível atingir
com Nitrogênio, mais fácil e barato de se produzir (BRANÍCIO, 2001).
18

Figura 4Evolução cronológica da Tc dos supercondutores

Fonte: Pina (2010)


Na Figura 4 apresenta a evolução cronológica da máxima temperatura crítica
de alguns supercondutores até o ano de 2000, é possível a identificar a evolução na
curva após a descoberta do primeiro supercondutor cerâmico (PINA, 2010).

1.5 TIPOS DE SUPERCONDUTORES

Devido a algumas diferenças nas características dos supercondutores, esses


foram divididos em 2 grupos, Tipo I e Tipo II. Os supercondutores do Tipo I,
possuem Tc extremamente baixas, são formados por metais e foram os primeiros a
serem descobertos. Dentre suas características, a transição para o estado
supercondutor acontece de maneira brusca acompanhado do efeito Meissner
(BRANÍCIO, 2001). O princípio de funcionamento dos supercondutores do Tipo I é
baseada na teoria do BCS, Bardeen, Cooper e Schrieffer (sobrenome dos autores,
John Bardeen, Leon Cooper e Robert Schrieffer), que diz que o fenômeno da
supercondutividade está na atração entre os elétrons no estado fundamental e
ocorre quando um elétron interagem com a rede cristalina deformando-a, um
segundo elétron, utiliza da deformação para reduzir sua energia, deste modo, o
segundo elétron interage com o primeiro através da deformação da rede, esse
sistema é conhecido como par de Cooper (COSTA; PAVÃO, 2012).
Já os supercondutores do Tipo II são formados por ligas metálicas e outros
compostos, sua temperatura crítica é muito mais alta que os supercondutores do
19

Tipo I, a transição para o estado supercondutor acontece de maneira gradual e o


efeito Meissner não é perfeito, o que significa que há uma pequena penetração de
campo magnético no material, o mesmo possui um estado intermediário onde
apresenta o estado normal e estado supercondutor. A teoria dos BCS não se
encaixa para os supercondutores do Tipo II, o que ainda não está explicado pela
ciência (BRANÍCIO, 2001).
20

2. APLICAÇÕES DOS SUPERCONDUTORES

Apesar de serem pouco conhecidos pela população, os supercondutores já


são amplamente utilizados, porém, devido ao custo e dificuldades no manuseio
desses materiais, os equipamentos que utilizam supercondutores ainda não fazem
parte da maioria da população (COSTA; PAVÃO, 2012).

2.1 MEDICINA

Dispositivo Supercondutor de Interferência Quântica SQUID (Superconducting


Quantum Interference Device), é o mais sensível transdutor de campo magnético
em tensão elétrica, sendo essencial para medições de campos ultra fracos, seu
funcionamento é baseado no efeito Meissner e no efeito Josephson (JIMENEZ,
2017).
O SQUID, é utilizado para exames de MEG Magnetoencefalografia, obtendo
imagens do cérebro, através do mapeamento do campo magnético gerado por esse,
conforme Figura 3 (COSTA; PAVÃO, 2012).
Figura 5: Exemplo de imagem gerada por um software da MEG

Fonte: Trindade(2004)

A MEG é uma técnica semelhante ao EEG Eletroencefalografia, porém, com


maior resolução espacial para localizar regiões funcionais do córtex cerebral. As
principais aplicações para a MEG são os exames de localização pré-cirúrgica e da
atividade epiléptica. A primeira vez que um campo magnético cerebral foi medido no
21

final da década de 90 por uma MEG, utilizando sensores não supercondutores,


quatro anos depois, agora com sensor supercondutor, SQUID, David Cohen mediu
novamente, os resultados com menor ruído e mais sensível aos campos o que
tornou a MEG mais pratica, possibilitando também, grandes progressos no estudo
da atividade fisiológica do coração, músculos e olhos (TRINDADE, 2004).

2.2 COMPUTAÇÃO

Outra utilização para o efeito Josephson e o SQUID dos supercondutores, é a


construção de computadores quânticos. Esses modelos de computadores utilizam
propriedades mecânicas quânticas, como por exemplo a superposição quântica e o
entrelaçamento quântico.
O primeiro computador quântico a base de supercondutores, D-Wave One,
foi vendido em maio de 2011 por 10 milhões de dólares a empresa Lockheed Martin.
A empresa fabricante tem sido alvo de críticas de céticos que não acreditam no
potencial do computador e que seja verdadeiramente um computador quântico, uma
vez que a empresa não provou que existe o entrelaçamento quântico ou a coerência
quântica, requisitos mínimos para ser considerado um computador quântico
verdadeiro, na Figura 6 é mostrado 2 D-Wave One, seu tamanho é devido ao
sistema de refrigeração dos supercondutores e para facilitar as alterações
necessárias dos engenheiros (FIGUEIREDO, 2012).
Figura 6: Computador Quântico D-Wave one

Fonte: Figueiredo (2012)


22

2.3 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO

As duas principais aplicações dos supercondutores na geração transmissão e


distribuição de energia elétrica são os transformadores de potência supercondutor e
os limitadores de corrente supercondutor, a seguir será apresentada algumas de
suas características e vantagens.
Nos sistemas elétricos de potência, o transformador é fundamental para a
interligação dos sistemas elétricos de diversos níveis de tensão, sendo responsável
pela transmissão dessa energia por quilômetros com perdas reduzidas, além de
poder ser utilizado como controlador de fluxo de potência (PENA, 2003).
Um transformador de potência supercondutor tem seu funcionamento
semelhante ao transformador comum, sua diferença está na construção dos seus
enrolamentos, sendo material supercondutor, normalmente um Supercondutor de
Alta Temperatura – SAT. Dentre as vantagens da utilização desses transformadores
pode ser citado o melhor rendimento; redução de peso e dimensões, na Figura 7 é
apresentada uma comparação entre tipos de transformadores em mesma potência;
aumento da vida útil; menor risco ao ambiente; capacidade de atuar como limitador
de corrente; além de que, o azoto, funciona como sistema arrefecimento, isolamento
acústico e elétrico (FIGUEIRA, 2013; PINA, 2010).
Figura 7: Comparação de transformadores

Fonte: Pina (2010)


23

Existem duas possibilidades para o manter os materiais supercondutores


arrefecidos, manter apenas os enrolamentos imersos no liquido de arrefecimento ou
todo transformador. Os transformadores supercondutores ainda possuem as perdas
magnéticas no núcleo ou são agravadas caso o núcleo seja mantido em baixa
temperatura, sendo assim, a escolha dos materiais constituintes torna-se mais
importante para a otimização dos transformadores. O custo de um transformador
supercondutor é superior, porém esse é compensado devido a diminuição das
perdas ôhmicas nos enrolamentos. Mesmo para transformadores de menor potência
o investimento de enrolamentos supercondutores pode ser justificado, caso a
redução as dimensões for um fator determinante para o projeto (PRONTO, 2009).
Os Dispositivos Limitadores de Corrente de Falta DLCF tem a finalidade de
limitar a corrente de curto-circuito, que em alguns casos, podem atingir valores
superiores a capacidade dos dispositivos de proteção, com isso é necessário limitar
ou até mesmo eliminar essas altas correntes no intervalo de tempo suficiente para
que os dispositivos de proteção possam atuar e a corrente de curto-circuito não
danifique os equipamentos e cabos das instalações. Os principais meios para limitar
as correntes de curto são os dispositivos eletrônicos de potência com reatores série
convencionais ou combinação de capacitores e reatores e dispositivos pirotécnicos,
porém esses dispositivos apresentam queda de tensão em operação normal,
aquecimentos por efeito Joule e fluxos magnéticos elevados ou a necessidade de
reparação após atuarem o que afeta a qualidade do fornecimento de energia
elétrica, suas aplicações só não são inviáveis pois, economicamente, seus efeitos
podem ser compensados evitando a substituição de equipamentos de proteção e/ou
cabos. Um DLCF ideal possui as seguintes características, baixa impedância sob
condição normal de operação, alta impedância durante o curto, rápida transição da
condição normal de operação para a condição de curto e vice-versa (FREITAS,
2009).
Outro dispositivo limitador de corrente de curto-circuito é o limitador resistivo
supercondutor, conhecido como DLCFS Dispositivo Limitador de Corrente de Falta
Supercondutores, utilizado pela primeira vez em 1996 em uma indústria na Suíça.
Diversos modelos do DLCFS foram desenvolvidos até agora, pois esses limitadores
são os que mais se assemelham a um DLCF ideal, além do fato que os limitadores
convencionais desliga todo sistema enquanto nos limitadores a base de
24

supercondutor altera seu estado praticamente instantaneamente e não desliga o


sistema, apenas se a corrente de falta persistir por um longo período, nesse caso, o
sistema e desligado por outro dispositivo de manobra, como um disjuntor por
exemplo (FREITAS, 2009).
O funcionamento dos limitadores resistivos supercondutores é baseada na
corrente crítica do material, que é o valor de corrente máxima que um supercondutor
pode suportar sem perder as características supercondutoras, denominada Jc,
densidade de corrente crítica, conforme a Figura 8, esse valor de máxima corrente é
determinado pelo tipo de material supercondutor utilizado, temperatura, área e
comprimento. Sendo assim, o DLCFS é ligado no percurso da corrente, se houver
uma corrente de falta e essa for maior que a corrente critica determinada para o
DLCFS instalado o mesmo perde a propriedade supercondutora e passa a se
comportar como resistor comum, limitando a corrente de falta até que a mesma se
normalize ou algum dispositivo de proteção atue e interrompa a corrente
completamente (FREITAS, 2009).
Figura 8: Gráfico de comportamento do supercondutor Tensão x Corrente

Fonte: Freitas (2009)


25

3. TRENS DE LEVITAÇÃO MAGNÉTICA

O transporte ferroviário ganhou espaço na década de 90. Diversos trens


começaram a ser desenvolvidos principalmente no Japão, onde o governo apoiou o
projeto do MAGLEV (Magnetic Levitation) (BRANICIO, 2001).
A seguir será apresentada as 3 principais formas de levitação magnética para
os trens de levitação magnética.

3.1 LEVITAÇÃO ELETRODINÂMICA

A levitação eletrodinâmica possui o mesmo princípio de funcionamento de


uma máquina de indução, ao aproximar um campo magnético variável de um
elemento condutor, nesse são induzidas correntes elétricas, que por sua vez, geram
outro campo magnético que se opõe ao que o deu origem, lei de Lenz. Com o
sentido contrário dos campos é gerado uma força de repulsão entre eles (PAINHO,
2009).
Nos trens por levitação eletrodinâmica, bobinas supercondutoras geram o
campo principal enquanto nos trilhos laterais são instaladas uma serie de bobinas
em formato de “8” conforme mostrado na Figura 9-a.
Figura 9: Principio de funcionamento de um trem por levitação eletrodinâmica.

Fonte: Painho (2009)


26

Inicialmente as bobinas supercondutoras ficam alinhadas com a parte inferior


das bobinas laterais, durante o movimento o campo induzido nessas bobinas gera 2
campos magnéticos devido a sua configuração de “8”, isso faz com que a bobina
supercondutora seja repelida pela parte inferior e atraída pela parte superior, o que
causa a suspensão do trem conforme a Figura 9-b (PAINHO, 2009).
Como a indução ocorre somente quando a variação do campo e as bobinas
supercondutoras geram um campo fixo, a variação desse campo nas bobinas
laterais se dá pelo movimento do trem, com isso o mesmo possui rodas para esse
deslocamento inicial. Após uma determinada velocidade, que será quando o trem
induzir um campo suficientemente capaz de suspender o mesmo. O sistema de
propulsão é realizado por outro conjunto de bobina, no qual gera um campo
magnético linear, a Figura 10 ilustra os componentes de trilho de um trem de
levitação eletrodinâmica. O sistema de controle desse tipo deste tipo de trem é
relativamente simples, uma vez que o campo das bobinas supercondutoras é fixo, e
o campo nas bobinas de guiamento é proporcional a velocidade que o trem se
desloca (PAINHO, 2009).
Figura 10: Trilho utilizado na levitação eletrodinâmica

Fonte: Painho (2009)


27

3.2 LEVITAÇÃO ELETROMAGNÉTCA

O sistema de levitação eletromagnética, conhecida como levitação por


atração, baseia-se no princípio de atração eletromagnética, que é, quando um
material ferromagnético é suspenso no ar pela atração de um campo magnético
gerado por um eletroímã (GOMES, 2016; PAINHO, 2009).
A levitação por atração, devido suas características é instável o que o briga
ao sistema ter um controle em malha fechada para dar estabilidade ao sistema, na
Figura 11 é apresentada um diagrama de um sistema de levitação de uma esfera.
Figura 11: Diagrama de levitação de uma esfera

Fonte: Painho (2009)


Na esfera atuam a força da gravidade e a força de atração magnética gerada
pelo eletroímã acima, o sensor de posição monitora a posição da esfera, caso ela se
aproxime do eletroímã o controlador reduz a corrente da bobina, caso a esfera se
afaste do eletroímã o controlador aumenta a corrente da bobina. A estabilidade do
modelo apresentado depende diretamente da eficiência dos sensores e controlador,
uma vez que a mínima variação pode fazer a esfera cair ou ser completamente
atraída pelo eletroímã (PAINHO, 2009).
Esse tipo de sistema é utilizado no trem de tecnologia Alemã em operação na
China, o Transrapid, o trem possui 2 sistema de controle semelhante ao apresentado
28

anteriormente, um para a sustentação e outro para o guiamento lateral, em um trilho


em formato de “T”, conforme ilustrado na Figura 12 (GOMES, 2016; PAINHO, 2009).
Figura 12: Sistema de levitação eletromagnética do Transrapid

Fonte: Painho (2009)

3.3 LEVITAÇÃO MAGNÉTICA SUPERCONDUTORA

A levitação supercondutora baseia-se no efeito Meissner, exclusão de campo


magnético no interior dos materiais supercondutores. Apesar da supercondutividade
ser explorada a alguns anos, sua aplicação para levitação em sistema de transporte
é recente, contudo, em alguns países, como o Brasil, construíram protótipos em
escala reduzida (PAINHO, 2009).
O trem de levitação magnética supercondutora do Brasil é chamado de
Cobra, possui blocos de aço inoxidável, que são os criostatos, dentro destes é
armazenado o nitrogênio líquido e o material supercondutor, YBCO, os trilhos são
feitos de imãs prementes. O trem levita a aproximadamente 10 milímetros dos
trilhos, a Figura 13 apresenta a imagem real do trem brasileiro (CAPISTRANO,
2016).
29

Figura 13: Maglev Cobra

Fonte: Capistrano (2016)


O Maglev Cobra foi projetado e desenvolvido pelo Laboratório de Aplicações
Supercondutoras, LASUP, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, e
encontra-se instalado ligando 2 centros de tecnologia, compreendendo uma
distância de 190 metros, até 2020 o plano diretor da UFRJ prevê a instalação de
aproximadamente 5 quilômetros de linha para circulação na cidade universitária.
Assim como os trens de levitação Eletromagnética e Eletrodinâmica, o Maglev Cobra
possui sistema de propulsão por motor de indução linear, também possui
capacidade de curvas com raios de 50 metros de ultrapassagens de declives de até
15%, o que permite sua implantação com maior liberdade em ambientes urbanos
(MOURA, 2016).
O Maglev Cobra tem custo energético de equivalente a 13% do consumo
médio de um ônibus urbano, economia de 87%, o que representa 30% do custo de
operação e cerca de 70% mais barato que uma estação subterrânea. Além de custo
reduzido de operação, o projeto da UFRJ foi pensado visando o desenvolvimento
sustentável, sistema de drenagem de água da chuva para utilização na jardinagem e
lavagem de pisos e o sistema de geração de energia fotovoltaica, que supre as
necessidade do Cobra e injeta o excedente na rede de distribuição (SOUZA, 2016).
30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após descoberta do primeiro supercondutor de baixa temperatura, diversas


outras propriedades desse material foram descobertas consequentemente, o que
abriu um leque para novos estudos e pesquisas, principalmente com a descoberta
dos supercondutores Tipo II, pois a maior dificuldade de se trabalhar com os esses
eram as baixas temperaturas, a possibilidade de trabalhar com nitrogênio e azoto
como liquido refrigerante possibilitou a criação de diversos dispositivos para uso da
engenharia.
Apesar dos anos de estudo e mesmo não fazendo parte do dia a dia da
população, os supercondutores já são realidade, utilizado em diversas áreas. A
medicina, por exemplo, teve um avanço significativo em alguns exames e
diagnósticos de algumas doenças como epilepsia, problemas no coração e visão.
Além da medicina o setor de energia elétrica também sofreu impactos positivos na
qualidade e segurança de sua geração, transmissão e distribuição assim como o
setor de transporte.
O setor de público ferroviário, no Japão e na China, são exemplos de
revolução diretamente ligadas ao supercondutores, os governos desses países não
só acreditaram mais deram grande incentivo para que os projetos de Maglev
saíssem do papel e se tornarem símbolos de eficiência e qualidade de transporte. O
Brasil está um passo à frente de diversos outros, com um protótipo pronto e já em
funcionamento, mesmo que instalado em uma pequena distância, já possui planos
para ampliação dentro da universidade. Com custo de construção menor que um
metro e maior eficiência que um ônibus o Maglev Cobra é alternativa viável para
solucionar os problemas de mobilidade urbana no Brasil.
Para que um projeto dessa dimensão seja realidade é preciso de incentivos,
principalmente governamentais, assim como aconteceu no Japão, China e
Alemanha onde foi desenvolvido e produzido o Maglev que opera na China. Desta
maneira o Brasil não só teria o primeiro Trem de levitação magnética
supercondutora, mas seria referência para demais países, pois o grande diferencial
do modelo brasileiro e sua facilidade de construção, pois não são necessários os
trilhos e rodas extras dos trens de levitação eletrodinâmica e no sistema de controle
sofisticado da levitação eletromagnética. Uma sugestão para continuação desse
31

trabalho é a comparação de custo de operação dos principais meios de transporte


do Brasil, Ônibus, Trem e Metrô comparados ao custo de operação do Maglev
Cobra.
32

REFERÊNCIAS

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