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Psicologia da Linguagem

Ana Pinto

AULA 5

1. Fala vs Escrita

Fala Escrita
Universal Existência Histórica
Origem antiga Origem recente
Exposição é suficiente Exposição insuficiente
Desenvolvimento espontâneo Aprendizagem intencional pela instrução
Atividades linguísticas primárias Atividades linguísticas secundárias

1.1. Escrita

 A grafia pré-existe à escrita e diz respeito ao uso de símbolos para


exprimir mensagens e ideias sobre acontecimentos presentes,
futuros e passados.

 Representa figurativa – e.g., pinturas rupestres – forma


grá fica de representaç ão nã o-linguística – os símbolos sã o
representaç ões directas dos objectos e conceitos que
pretendem representar e nã o representam palavras ou
partes destas – representaç ão nã o sujeita a convenç ões.
 Pictografia – e.g., hieró glifos e escrita chinesa – os sinais ou
símbolos tê m menor semelhanç a grá fica com os objectos e
passam a representar palavras em vez dos objectos e
situaç ões em si – representaç ão mais convencionada.

Linguagem vista como independente da fala


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1.1.2. Sistemas de escrita

 Semasiográfica – os sinais gráficos representam significados e ideias (e.g.,


pictograma) e naõ há uma relaçaõ directa directa com o som e/ou palavras
especif́ icas. Há uma independência entre a estrutura da linguagem falada e da
linguagem escrita.
 Glotográfica – os sinais gráficos representam elocuções da linguagem falada –
palavras, frases, unidades/formas de som – havendo uma relaçaõ directa entre estes
sim
́ bolos e o som e/ou palavras da linguagem falada. Há relação de interação entre a
escrita e a fala.

 Logográ fica ou morfossilá bicos – as unidades grá ficas


representam palavras (logogramas) e nã o os sons que a
compõ em (e.g., escrita chinesa).
 Fonográ fica – as unidades/sinais grá ficos representam
elementos sonoros (elementos abstractos da fala) que podem ser:
fonemas (alfabeto grego e latino), sílabas (silabá rios japoneses),
consoantes e vogais (escrita segmental) ou vozeamentos.

 Sistemas silabários
 Sistemas alfabéticos

1.1.3 Ortografia e tipologia de correspondências grafema – fonema (CGF)

 A profundidade da ortografia diz respeito ao grau de (ir)regularidade e


(in)consistência nas correspondências grafema-fonema

 Ortografia pouco profunda ou transparente – as CGF saõ


fixas, regulares, inequívocas e unidireccionais (de um-para-um).
A cada letra/grafema corresponde um único som/fonema e se as
irregularidades existirem saõ raras. Conhecendo as regras de
conversaõ grafema-fonema é possível ler correctamente e de
imediato.
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 Ortografia profunda ou opaca – as CGF saõ irregulares,
inconsistentes e naõ inequiv́ ocas. Existem correspondências de
um-para-muitos e de muitos-para-um.
 Ortografias intermédias – parte das irregularidades saõ regidas
e deduziv́ eis a partir de regras contextuais (leitura do “c”), outras
saõ independentes de regras (leitura do “x”)

 Os sistemas morfossilábicos e silabários – saõ mais exigentes do ponto de vista


da discriminaçaõ das formas visuais e em termos de memória, já os alfabéticos
saõ mais económicos (menos exigentes na discriminaçaõ e memorizaçaõ dos
sinais) – conhecimento de um menor número de letras e grafemas e da sua
correspondência com as unidades da linguagem.
 Contudo, em funçaõ da maior ou menor profundidade da ortografia, diferentes
sistemas alfabéticos colocam diferentes niv́ eis de exigência no estabelecimento
das correspondências grafema-fonema e, consequente, nas tarefas da leitura e
escrita.
 Paralelamente, um dos desafios dos sistemas alfabéticos decorre de as unidades
serem altamente abstractas, exige além do conhecimento dos sim
́ bolos, um
conhecimento metalinguístico, i.e., das propriedades fonológicas e fonéticas da
fala.

1.2. Leitura

 “Conjunto de conhecimentos adquiridos pelo acto de ler”; “Maneira de


interpretar um conjunto de informaç ões”; “interpretar o que está escrito;
compreender o sentido de” - Dicionários
 “Reconhecimento e conversaõ dos sinais gráficos na sua pronúncia”; “Extrair
representaçaõ fonológica a partir de material impresso”; “Descodificaçaõ de
sinais gráficos e estabelecimento de uma correspondência entre estes sinais e a
pronúncia que lhe corresponde.” – Psicolinguística
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1.2.1. Distinção entre finalidade e processo

 A finalidade da leitura é compreender, contudo esta finalidade naõ é atingível


sem o processo em que a leitura no fundo consiste. - É possível ler sem
compreender.
 Enquanto que os processos de compreensaõ da escrita saõ partilhados com os
envolvidos na compreensaõ da linguagem falada e também com outros
processos cognitivos - processos comuns: vocabulário e memória; conhecimento
sintáctico; raciocínio verbal e abstracto há processos específicos inerentes à
leitura e à capacidade de ler.

1.2.2. Leitura e Aprendizagem

 Organização espacial escrita

 Reconhecer os sinais gráficos

 Linguagem falada adquirida

 Memória- Memória de trabalho

 Cognição visual
 Exploração ocular
o Os movimentos oculares naõ percorrem continuamente as linhas de um
texto. Movimentos oculares:

 Sacadas – movimentos rápidos, cujo objectivo é trazer para o centro


do campo visual a mancha gráfica periférica.
 Fixações – paragens cuja duraçaõ e que permitem a recolha e
extracçaõ de informaçaõ do texto (no centro do campo visual) e para
preparar o movimento ocular para a próxima fixaçaõ (com o auxílio
da visaõ periférica).
 Regressões – saõ taõ mais frequentes quanto mais difić il é o texto
e/ou menos hábil é o leitor.

 Padrão de movimentos oculares e ritmo de leitura


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 Não há ritmo de leitura universal, pode variar em diversos fatores:
habilidade, dificuldade do texto, objetivo, extensão, pronunciabilidade,
lexibilidade, regularidade da ortografia, etc. Os processos de leitura vaõ -se
automatizando e tornando mais rápidos – o tempo de fixaçaõ diminui,
algumas palavras, se muito pequenas e previsíveis, naõ saõ fixadas e podem
ser processadas a partir de palavras adjacentes.

 Leitor principiante – Focado no processo de descodificação

(Processo de automatização)

 Leitor hábil e autónomo – Focado na compreensão

 Processos cognitivos para o reconhecimento da palavra escrita


 A aprendizagem da leitura nas escritas alfabéticas está dependente de
competências metalinguísticas – conhecimento explić ito, operacional e
verbalizável e que pode ser usado de forma intencional.

 Consciência fonémica – consciência/reconhecimento da estrutura


segmentar e fonológica da fala e da existência das unidades abstractas
que saõ os fonemas. (Desenvolve-se com a entrada na escola, através da

.
exposiçaõ a palavras escritas) Dá estrutura segmentar da fala, da

existência de grafemas e fonemas, da sua correspondência - permite a


compreensaõ do princípio alfabético.

 Principio alfabético – associação entre letras, grafemas e fonemas. (1º


passo para a aprendizagem da leitura e para a aplicação de estratégias na
leitura fonológica).

1.2.3. Estádios da aprendizagem da leitura

 Estádio logográfico (3 e 4 anos)


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 Identificaçaõ da palavra baseia-se nas caracteriś ticas pictóricas/visuais
́ bolos, e no reconhecimento do contexto, através de um processos
dos sim
de “adivinhaçaõ grosseira - Estratégia logográfica.

 Estádio parcialmente alfabético (período pré-escolar e 1 ano de escolaridade)


 A identificaçaõ da palavra baseia-se no (re)conhecimento de algumas
letras e sons correspondentes, através de processos de “adivinhaçaõ
sofisticada”.
 Estádio alfabético (leitor principiante)
 Domínio do princiṕ io alfabético desenvolve-se a capacidade para
identificar as palavras com base no estabelecimento de correspondências
grafema-fonema – estratégia alfabética e o procedimento fonológico.

(Passagem entre estes 2 estádios)

 Exposiçaõ repetida à representaçaõ ortográfica das palavras, do conhecimento


da regras contextuais e posicionais que ajudam a lidar com as irregularidades na
correspondência directa grafema- fonema.
 Armazenamento de unidades lexicais ortográficas para posterior reconhecimento
– incluindo as que naõ obedecem a regras e que resultam de excepções.

 Estádio ortográfico (leitor hábil)


 Ler corretamente e identificar as palavras cuja correspondência grafema-
fonema naõ é linear e directa, com base no conhecimento e compreensaõ
das regras ortográficas – aplicaçaõ da estratégia ortográfica.
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1.2.4. Modelo da via dupla

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