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Marxismo e metodologia da
ciência social:
aprendizados, limites e
possibilidades
Maciel Cover*
Introdução
Este texto pretende organizar algumas reflexões sobre metodologia
das ciências sociais, buscando considerar alguns aprendizados referentes à
obra de Marx, incorporando criticas atuais ao marxismo, desde uma
perspectiva interna do campo. Para tanto será exposto algumas categorias
chaves para compreender metodologia a partir de Marx. Posteriormente será
apresentando as criticas e por fim um breve balanço considerando
possibilidades de utilização desta concepção particular de ciência na pesquisa
sociológica atual.
Aprendizados do Marxismo
A obra de Karl Marx (1818 -1883) é multidisciplinar. Filósofo de
formação, Marx escreveu importantes contribuições também para a
economia e para a política. Sua preocupação central era política, participava
ativamente dos movimentos operários da época. As fontes teóricas com
*
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina
Grande/PB. End. eletrônico: macielcover@gmail.com
GT 8. Marx e marxismos latino-americanos 162
quem ele dialoga para interpretar a realidade e construir sua obra são a
filosofia clássica alemã, a economia política inglesa e a política francesa. De
maneira muito particular Marx vai apontando os limites de cada corrente de
pensamento, ao mesmo tempo em que aproveita os conceitos centrais
reelaborando a teoria do valor de Smith e Ricardo, invertendo a dialética
idealista de Hegel, debatendo um caráter cientifico para o projeto de
socialismo utópico criado no movimento operário europeu do século XIX.
A interpretação teórica de Marx é intensa, com conceitos de um caráter
bastante explicativo.
Marx não escreveu nenhum texto especifico sobre metodologia.
Porém, na Introdução de 1857 aos Gundrisse o autor faz anotações sobre o
método da economia política, demonstrando com que bases organizou a
reflexão de sua densa obra chamada “O capital: contribuição a critica da
economia política”.
Categorias como totalidade; concreto aparente e pensado; e
contradição são centrais para compreender a metodologia das obras de
Marx.
Um primeiro aprendizado a extrair é a necessidade de observar a
materialidade das relações sociais. Esse conceito que inclusive denomina o
método de Marx (Materialismo Histórico Dialético) foi desenvolvido em
debate com o a filosofia idealista de Hegel, que considerava que as idéias
antecediam a ação humana. Marx discorda dessa concepção e na formulação
a seguir, deixa claro que “não é a consciência dos homens que determina o
seu ser, mas ao contrário, é o seu ser social que determina a sua
consciência.” (MARX, 1974, pg.136).
Porém o materialismo de Marx não é estático, que considera apenas
que a realidade é anterior ao homem, e que a materialidade determina as
idéias e ponto final. Em debate com o filosofo materialista Feuerbach, Marx
considera a práxis e a subjetividade ativa como fundamental para
compreender e transformar a realidade e formula que “os filósofos se
limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa
é transformá-lo” (XI Tese sobre Feuerbach - Marx, 2005, pg. 118).
Considerando estas premissas, de que o real precede o ser social, e
que o ser social transforma este real, é que Marx irá desenvolver sua obra.
Na Introdução aos Gundrisse de 1857, onde o autor expõe uma resenha do
que seria seu método de analise, escreve que:
Se começasse, pois, pela população, teria uma representação caótica do
conjunto e, precisando cada vez mais, chegaria analiticamente a conceitos
cada vez mais simples; do concreto representando chegaria a abstrações
cada vez mais sutis até alcançar determinações mais simples. Chegando a
este ponto, haveria que empreender a viagem de retorno, até dar de novo
Limites do Marxismo
Certamente há varias maneiras para se criticar uma obra da
envergadura de Karl Marx. Poderíamos partir de uma perspectiva mais
comum, e considerar o marxismo como não cientifico e ultrapassado, por
que carrega juízos de valor, por que não tem neutralidade, por que é
panfletário, ou todas essas afirmações que ouvimos de maneira sutil nos
bancos acadêmicos, evidentemente fundamentados por teorias coerentes; ou
de maneira leviana, direta e objetiva nos editoriais e comentários dos
grandes meios de comunicação social. Mas não é nesta perspectiva que
buscaremos refletir.
Possibilidades e desafios
Diante dos limites expostos, como aproveitar o marxismo como
ferramenta conceitual para analisar a sociedade contemporânea? Utilizar o
marxismo de maneira dogmática não é uma pista aconselhável. Gonzalez
afirma que:
Muito dano tem feito ao pensamento dogmático que converteu o
marxismo em um corpo teórico acabado e auto-suficiente, com respostas
inequívocas para todo tempo e lugar. Tal tipo de atitude parece mais
própria dos livros de auto-ajuda que da tradição de pensamento vivo que
Marx ajudou a fundar. (GONZALEZ, 2007, pg. 24)
Nessa mesma perspectiva é necessário considerar que, uma
interpretação passiva do marxismo, reproduzindo de maneira acrítica os
conceitos, não enriquece as analises, para Grüner:
A estilo de interpretação (característico, por exemplo, da hermenêutica
bíblica tradicional) chamaremos interpretação passiva, já que ao que ela
conduz não é a produção de um novo conhecimento, mas sim a
restauração de uma ‘realidade’ que na verdade sempre ‘esteve ali’, só que
deformada pela mascara simbólica. (GRÜNER, 2007, pg. 119).
Bibliografia
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BORON, A. et al. A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. CLACSO
Livros/ Expressão Popular: São Paulo, 2007.
GRÜNER, Eduardo. Leituras culpadas: Marx (ismos) e a práxis do conhecimento.
In: BORON, A. et al. A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas.
CLACSO Livros/ Expressão Popular: São Paulo, 2007.
LANDER, Edgardo. Marxismo, eurocentrismo e colonialismo. . In: BORON, A.
et al. A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. CLACSO Livros/
Expressão Popular: São Paulo, 2007.
LENIN, V.I. Materialismo y empiricismo. Notas criticas sobre una filosofia
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MALAGODI, Edgard. Notas Epistemológicas e Metodológicas sobre a teoria
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MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: Feuerbach – a
contraposição entre as cosmovisões materialista e idealista. Martin Claret: São
Paulo, 2005.
MARX, Karl. Elementos fundamentales para la critica de la economia política
(Gundrisse) Siglo XXI: México, 1976.