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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


Faculdade de Filosofia

TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS

Trabalho apresentado como requisito parcial da


avaliação na disciplina TÓPICOS DE
FILOSOFIA POLÍTICA ministrada pelo Prof.
Dr. CELSO ANTONIO COELHO VAZ,
elaborado pelo discente: Mauro Sérgio Souza
dos Santos (Matrícula: 201608040026) .

Belém-Pa
2019
Crítica de Jonh Rawls à teoria político-moral utilitarista

John Rawls (1921-2002), filósofo político norte-americano, cuja obra-prima Uma


teoria da Justiça (TJ), publicada em 1971, fora o seu trabalho mais expressivo e
influente, no campo da filosofia política e moral
À essa época a tradição predominante na filosofia política e moral era o utilitarismo,
cuja doutrina, na sua formulação mais geral, consistia em sustentar que ações,
instituições sociais, leis, etc., podem ser avaliadas como moralmente corretas, quando
maximizam o somatório de felicidades dos indivíduos, ou seja, quando potencializam de
maneira eficiente e racionalmente o maior bem-estar geral. O objetivo de Rawls, na TJ é
exatamente elaborar uma teoria da justiça, denominada de justiça como equidade
enquanto proposta alternativa, em particular, à teoria utilitarista, em particular. O ponto
central, então da TJ, é precisamente a defesa e explanação dessa alternativa.
Rawls assim oferecerá uma série de observações sobre o utilitarismo, revelando,
de maneira preliminar, os pontos de contrastes com sua teoria da justiça como equidade,
a ser desenvolvida com maior profendidade posteriormente.
Uma primeira observação que Rawls contrapõe ao utilitarismo é a de que esta
teoria possui uma estrutura interna “teleológica” ou “consequencialista”. E uma teoria
teleológica é aquela na qual o bem é definido indepedentemente do correto, e em que o
correto é definido como aquilo que amplia ao máximo o bem.
Neste sentido Gargarella (2008, p. 4) destaca que toda teoria é constituida de duas
partes: uma teoria do bem e outra acerca do que é correto ou justo, e que o utilitarismo,
enquanto consenquencialista, subordina a justiça à busca do bem-estar geral. Em
contrapartida, a teoria da justiça como equidade defendida por Rawls pode ser
considerada é não-teleológica ou deontológica, na medida que prioriza o que é correto
(justo) em relação ao que é bom ou ao bem almejado (felicidade, bem-estar geral, etc.).
Isso leva Rawls, por intermédio de sua teoria da justiça como equidade, a desfiar
uma série de críticas à teoria utilitária, sobretudo no que diz respeito, ao cálculo
teleológico, a partir de uma ponderação entre custos presentes e benefícios futuros.
Rawls vai oferecer uma objeção a tal ideia consignando que deveríamos rejeitar certo
tipos de cálculo, uma vez que no nível pessoal pode ser razoável aceitar certos sacrfícios,
mas no nível social, tal postura seria inaceitável, como o sacrifício das gerações atuais,
em prol das futuras. Ademais, para o autor, a sociedade não é um corpo, uma vez que
que há uma certa independência e dissociabilidade entre as pessoas, de maneira que o
que pode ter legitimidade para o interesse de um indivíduo, pode não ser legítimo para o
bem-estar geral, enquano mera justaposição ou somatório de pretensões majoritárias
individuais.
Outra observação importante, é que o filósofo norte-americano destaca que o
utilitarismo acaba frustrando uma certa promessa igualitária existente no bojo de sua
proposta filosófico-pragmática, na medida em que, enquanto teoria consequencialista, a
distribuição de bens na sociedade deverá ser realizada livre de preconceitos, ou
indiferentes aos conteúdos das propostas e interesses em disputas. Rawls assevera que
tal proposta é “cega” e que gerará, na verdade, injustiças e desigualdades flagrantes, uma
vez os indivíduos não são meros portadores passivos de desejos; e por outro lado tal
concepção poderia respaldar discriminações arbitrárias, em virtude do respaldo de
preferências ou gostos “ofensivos”
Nesse âmbito de ideias, para Rawls os critérios do utilitarismo são subjetivos, e
proporá uma medida objetiva de como distribuir os recursos da sociedade de modo justo
e igualitário, através da definição de bem primário. Ademais, medidas objetivas garantem
estabilidade.
Rawls, então, para legitimar a sua concepção de justiça, o qual dera seus primeiros
delineamentos nas suas objeções ao utilitarismo, irá desenvolver para sua orignial ideia
de um tipo específico de contratualismo.

Acerca do contrato hipotético rawlsiano

O contratualismo de Rawls está inserido dentro da tradição filosófico-política do


pensamento liberal, no âmbito do qual a autonomia da pessoa humana e a consequente
possibilidade das tomadas de decisões, em questões políticas, por tais indivíduos, se
revelam como um um novo horizonte teórico-prático.
Na verdade o contratualismo visa a resolver questões político-morais, sem recorer-
se a fundamentos religiosos, nem a princípios abstratos e universais, a exemplo do
imperativo categórico kantiano.
Gargarella (2008, p. 14) aponta que adotar uma teoria contratualista, significa
procurar responder duas perguntas fundamentais: o que a moral exige de nós? E porque
devemos obedecer determinadas regras? E Rawls procurará responder a tais
questionamentos, através da ideia de um contrato hipotético.
Rawls (1997, p. 12) esclarece que seu objetivo é apresentar uma teoria do
contratos social, firmados entre pessoas livres e racionais, cujo fio condutor para o objeto
do consenso original seriam determinados por certos princípios de justiça, os quais
regualarão a estrututa básica da sociedade e todos os contratos posteriores.
Na verdade, o contrato rawsiano é uma situação hipotética de liberdade equitativa,
fixado e estabelecido por participantes que possuem o mesmo status moral, onde o
destino existencial de cada contraente tem a mesma importância. Nestes termos, o
contratualismo de Rawls nega qualquer possibilidade de extrair princípios de justiça
fundados apenas no poder de negociação de cada um, onde n o que prevalece é a
conveniência de cada um.
O contratualismo de Rawls, assim, busca respeitar o valor intrínseco de cada
indivíduo, considerando uma inerente igualdade moral entre os participantes do contrato.
Isso dimplica de certa forma, que Rawls, não admitirrá em sua teoria contratualísitca, que
os participantes se encontrem, no contexto da condição ideal, em posições vantajosas de
negociação, o que irá preservar, de certo mkodo, os direitos dos vulneráveis e do que
estão inseridos em grupos minoritários.
Veremos então quais são as características peculiares do contrato hipotético
elaborado por Rawls.

Notas peculiares da teoria da justiça como equidade

É importante, de plano, esclarecer que o propósito fundamental do contrato


rawlsiano é fixar determinados princípios de justiça enquanto parâmetros a serem
aplicados à estrutura básica da sociedade, ou seja: como os direitos e deveres, as
vantagens provenientes da cooperação social serão distribuídos pelas instituições
políticas e sócio-econômicas.
Entretanto, vale a pena dstacar, que referidos princíos de de justiça só são ou
poderão ser eficazmente aplicados a sociedades bem-organizadas, que são aquelas
voltadas para promover o bem de seus membros e na qual não há nem escassez nem
abundância de bens.
Rawls pretende que o acordo geral do contrato devem chegar a resultados
equitativos para todos os participantes do contrato. Para tanto, o autor considera que seja
necessária uma deliberação geral realizada por pessoas livres, racionais não invejosas, a
qua se dará por intermédio condições procedimentais imparciais (É o seu sistema de
'justiça como equidade'). Rawls então recorrerá a um experimento teórico-mental, o qual
denomina 'posição original', por meio do qual dará forma às condições referidas.
Essas condição procedimental ideal, denominada de posição original, caracteriza-
se pela reunião de todos os membros da sociedade, onde a escolha dos princípios de
justiça não poderão estar subordinados aos interesses particulares dos indivíduos. Para
tal intento, o autor norte-americano, irá impor uma restrição inicial aos contratantes, que
ele denomina de 'véu da ignorância'.
Pelo véu da ignorância, os indivíduos particiapantes do contrato não conhecem
determinados fatos sobre si mesmos, como seu lugar na sociedade, sua posição de
classe ou seu status social, sua força, sua raça etc, o que não os impede de conhecer
certas proposições gerais,desde que não atente contra a posição de equidade dos
sujeitos. O objetivo é alcançar um acordo imparcial e a negociação de um contrato justo.
Para Rawls é necessário definir duas questões para a correição da condição
procedimental: as motivações próprias dos sujeitos envolvidos e e qual critério de
racionalidade ou teoria de justiça deve-se adotar em situaçõe de incertezas deliberativas.
No que diz respeito às motivações desses sujeitos, Rawls pressupões que estes
estão incentivados a buscar o que ele denomina de 'bens primários', seja do tipo social,
seja da espécie natural. Para Rawls qualquer pessoa deve estar em condições de buscar
seu próprio projeto de vida, indepedente da matéria dele.
No referente à regra de racionalidade, Rawls estabelece a 'regra maximin',
segunada a qual num momento de incerteza, a alternativa a ser escolhida é aquela em
que o pior resultado for inferior ao pior do resultado das outras alternativas, não se
direcionando, assim, a opções que possam envolver riscos muitos graves.
No contexto delineado pela posição original, Rawls enumera dois princípios de
justiça que seriam escolhido pelos cotraentes: um princípio relacionado à um esquema de
liberdades iguais e o princípio da diferença.
O primeiro princípio decorre da ignorância acerca da concepção do bem. É pode
ser formulado no sentido de que toda pessoa deve ter direito igual à mais ampla liberdade
básica compatível com a liberdade similar para os outros.
O princípio da diferença, mostra-se associado à ideía de igualdade-equitativa, e é o
principio que governa a distribuição de recursos na sociedade. Gargarella (2008, p. 25),
asevera que, sob a diretiva deste princípio, as maiores vantagens dos mais beneficiados
pela 'loteria natural' só são justificáveis, se elas fazem parte de um esquema que melhore
as expectativas dos membros menos favorecidos da sociedade.
Cumpre ainda ressaltar, que segundo uma regra de prioridade, a liberdade não
pode ser limitada em prol de maiores benefícios sociais ou econômicos, como o pretende,
em cert medida o utilitarismo.
O compromisso da teoria da justiça com a igualdade

A idéi central da proposta igualitária da teoria da justiça como equidade de Rawls, é


de que não se pode permitir o reconhecer que as pessoas sejam beneficiadas por
circunstâncias alheias a sua vontade ou escolha.
O autor, então, vai traçar, uma diferença entre fatos arbitrários de um ponto de vista
moral (talentos, nascimento sob condições economicas favoráveis, etc.) e fatos pelos
quais alguém é plenamente responsável.
Os fatos arbitráros devem-se, assim, somente aos acasos da natureza ou 'loteria
natural', de sorte que os indivíduos por eles beneficiados ou prejudicados, nada fizeram
para merecê-los.
Enquanto que os fatos derivados de uma escolha pessoal, desde que igualada as
demais em suas circunstâncias, não são moralmente censuráveis. A ideía então da teoria
da justiça de Rawls, é que cada um, desde que numa posição de equanimidade social,
deve aceitar pagar o preço das escolhas para os quais tende.
Rawl então explana que os fatos moralmente arbitrários não são justos nem
injustos. A justiça e a injustiça, pelo contrário, reside na maneira como as instituições
sócio-políticas lidam com esses fatos. É nesse sentido que irá afirmar que a primeira
virtude de qualquer sistema institucional é a justiça.
O sistema institucional, no âmbito do sistema equitativo rawlsiano, deve compensar
os efeitos da 'loteria natural' e que as pessoas, em condições de igualdade relativa,
devem arcar com seus atos voluntários, ante o princípio da responsabilidade.
E por fim, na base do compromisso igualitaris da teoria da justiça de Rawls
encontra-se o ideal defendido de que as pessoas possam viver de forma autônoma,
escolhendo os planos de vida que considerem mais atraentes. Para a consecução de tais
objetivos, o Estado devem projetar instituições que facilitem esse propósito.
REFERÊNCIAS

GARGARELLA, Roberto. As teorias da justiça depois de Rawls: um breve manual de filosofia política.
prática. Tradução de Alonso Reis Freire Morão;revisão da tradução por Elza Maria Gasparotto. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2008.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita Esteves. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.

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