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Patologias da Madeira

Acadêmicos: Eduardo Rampanelli e Victória Paz


DEFINIÇÃO
• A madeira pode ser definida como sendo o tecido lenhoso das
árvores, ela é o principal produto mercantil florestal. É obtida do
corte das árvores.
• Após o corte, as árvores têm seus galhos removidos e são cortadas
novamente em diagonal antes de serem transportadas para
tratamento adicional. Ao chegar à serralheria, os cortes de madeira
são convertidos em pranchas de tamanho diversificado e recebem um
tratamento com conservantes para prolongar sua vida útil.
A MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
• A madeira é um material naturalmente resistente e relativamente
leve, por isso é frequentemente utilizada para fins estruturais e de
sustentação de construções.
• Está presente em quase todas as etapas das obras de construção
civil. Seja em fôrmas, estruturas, esquadrias, pisos, forros,
revestimentos até a mobília e decoração. Seu uso ainda é
indispensável para muitos arquitetos e engenheiros por ser um
diferencial de beleza e sofisticação, além de oferecer isolamento
térmico e acústico e garantir a diminuição dos custos da obra.
A MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
• Engenheiros e arquitetos ao definirem projetos que utilizem a
madeira como principal elemento construtivo precisam por obrigação
ter conhecimentos das espécies mais apropriadas e adequadas,
considerando alguns fatores como a localização do empreendimento
e os agentes biológicos a qual a construção será exposta. Desta
maneira, torna‐se possível determinar o tipo de construção, os
detalhes dos sistemas de proteção e construtivos que irão garantir a
vida útil da edificação.
CONHEÇA ALGUMAS ESPÉCIES DE MADEIRA:
• Angelim: fácil de trabalhar e muito utilizada em peças de decoração, escadas, pisos, vigas, estacas,
tacos de assoalhos, vigamentos, etc.

• Champanhe: muito resistente e firme. Usada em pontes, construção pesada, portos, estacas,
obras imersas em ambiente de água doce, vigamentos, carpintaria, tacos, tábuas para assoalho.

• Jatobá: muito resistente aos fungos e cupins. Utilizada em construção civil, estacas, postes, tonéis,
móveis finos, vigamentos.

• Peroba: resistência mecânica e retrabilidade médias. Usada em interiores, decoração, pisos,


esquadrias, móveis, etc.

• Pinnus: madeira fácil de tratar, muito usada em ripas, partes secundárias de estruturas, rodapés,
forros, pontaletes, andaimes, formas para concreto.
ESTACA ESQUADRIA

FORRO ESTRUTURA DE TELHADO


PRÓS E CONTRAS
• A madeira é um produto de origem natural e renovável, exige baixo consumo energético.
A construção civil faz uso da madeira como matéria-prima há milhares de anos.
Enquanto novas árvores forem plantadas e usadas de forma consciente, a madeira
continuará disponível.
• A madeira é um material fácil de trabalhar, por ser muito versátil, pode ser usada de
formas variadas e cumpre com determinadas especificações, de acordo com o tipo de
aplicação pretendida.
• É uma matéria-prima que não oxida. O metal, por exemplo, quando é levado à altas
temperaturas pela ocorrência de fogo deforma-se, perdendo sua função estrutural. Já a
madeira tem a capacidade de ser reutilizada diversas vezes.
• Possui algumas desvantagens já que é um material anisotrópico, ou seja, suas
propriedades mecânicas dependem da disposição de suas fibras, tem composição
irregular, e é vulnerável a agentes bióticos e abióticos causadores das principais
patologias.
PATOLOGIAS
• Se você escolheu a madeira para ser sua parceira na obra, é
necessário certificar-se que ela possui certificação e está de acordo
com os padrões de sustentabilidade, também observe se não possui
rachaduras, fungos ou nós que comprometam sua resistência.
• Assim como os outros materiais utilizados na construção civil, a
madeira também pode apresentar algumas patologias.
• A degradação da madeira ocorre quer por perda da capacidade
resistente, quer por estados de utilização inaceitáveis. Para além
disso, tem de se ter em conta a degradação das peças de ligação, tais
como os órgãos de união metálicos, que podem sofrer corrosão.
• As anomalias podem decorrer de uma ou mais das seguintes ações:
1. ação humana;
2. ações naturais;
3. ações de acidente.
PATOLOGIAS CAUSADAS PELA AÇÃO HUMANA:
• Deformações elevadas;
• Sistemas de ligação inadequados;
• Alteração de dimensões;
• Fissuração.

Fissuração

Deformação
CAUSAS MAIS FREQUENTES ASSOCIADAS À AÇÃO
HUMANA:
• Fase de concepção e projeto: má concepção; deficiente quantificação
de ações; modelos de análise e hipóteses de cálculo incorretos;
prescrição deficiente de materiais.
• Fase de construção: má qualidade dos materiais; falta de qualificação
técnica dos executantes; má interpretação do projeto.
• Fase de utilização: ausência, insuficiência ou inadequação de
manutenção; alteração das condições de utilização; alteração da
geometria.
• São erros frequentes a utilização da madeira não classificada para
estruturas, com teor em água sem estar em equilíbrio com o
ambiente onde a estrutura vai estar inserida, e sem tratamento
prévio adequado, podendo acarretar deformações e fissurações nas
peças.
• A alteração das condições de utilização deve ser acompanhada de
estudo, averiguando a compatibilidade com a estrutura existente, e
seguida das medidas necessárias à manutenção do período de vida
útil pretendido.
A ausência de manutenção origina a perda prematura das características
dos materiais empregados e agrava o estado de degradação existente
Deterioração do revestimento da
Fissuração em pavimento caixilharia de madeira

Ausência de manutenção (pintura)

Fissuração do pavimento de madeira


devido a uma deficiente aplicação
PATOLOGIAS CAUSADAS POR AÇÕES NATURAIS
• Alteração de cor e textura;
• Erosão superficial;
• Abertura de fendas;
• Desenvolvimento de distorções;
• Perda de rigidez das ligações;
• Aumento das deformações;
• Corrosão de ligadores metálicos;
• “Azulado”;
• Podridão;
• Galerias na madeira.
CAUSAS MAIS FREQUENTES ASSOCIADAS ÀS AÇÕES
NATURAIS:
• Agentes atmosféricos: luz solar; ação alternada da luz e da água;
água.

• Agente químicos: ambientes úmidos.

• Agentes biológicos: insetos (carunchos e térmitas); fungos; xilófagos


marinhos.
AGENTES ATMOSFÉRICOS:
• A alteração de cor e textura, resultante da ação combinada da luz, da
água e da temperatura, é um aspecto característico do
envelhecimento da madeira.
• A ação da água pode ser nefasta para os elementos de madeira se
não existirem adequados dispositivos / pormenores construtivos que
possibilitem o escoamento da água das chuvas (goteiras, beirados,
caleiras).

Vista exterior do telhado Degradação no interior (alteração


da cor, textura e erosão superficial)
AGENTES QUÍMICOS:
• Em certas condições e na presença de certos produtos, a madeira
pode sofrer alterações e, sobretudo, ocorrer a corrosão dos ligadores
metálicos. O problema da eletro-corrosão só se põe quando a
madeira é mantida em ambientes úmidos (conducentes a teores em
água superiores a 20%) ou tratada com produtos higroscópicos
(certos compostos ignífugos), situações em que é fundamental prever
uma proteção eficaz dos ligadores metálicos.
AGENTES BIOLÓGICOS
• Entre diversos agentes biológicos, suscetíveis de provocar a
deterioração da madeira, causam destruição importante os fungos e
os insetos - carunchos e térmitas.

Fungos

Carunchos
Térmitas subterrâneas
• Os principais responsáveis pela deterioração são insetos sociais -
térmitas ou formiga branca - e insetos de ciclo larvar - carunchos,
grandes e pequenos.
• Térmitas subterrâneas: A sua ação de degradação reveste-se de
particular importância, dada a dimensão usual dos estragos
provocados, que muitas vezes colocam em risco a segurança das
estruturas.
As térmitas vivem em
geral no solo, formando
colônias compostas por
reprodutores, soldados e
obreiras.
• As térmitas (Reticulitermes Lucifugus) atacam preferencialmente a
madeira húmida e em contacto com o solo (direta ou indiretamente).
• O ataque é caracterizado por ser mais frequente e intenso nas
Resinosas do que nas Folhosas e por ser apenas detectável numa fase
muito avançada de deterioração, pois todo o processo se desenvolve
no interior da madeira, conferindo um aspecto laminado à madeira
resultante da destruição das camadas de Primavera sem que tenham
sido lesadas as de Outono.
• Carunchos: atacam a madeira geralmente seca, tendo no entanto
razoável tolerância em relação a valores elevados de humidade e
temperatura.
1. eclosão de ovos em fendas ou poros;
2. aparecimento de larvas;
3. abertura de galerias.

Ciclo de vida
Após metamorfose, o inseto no
estado adulto abandona a
Ovos de insetos no interior da A larva abre galerias no madeira através do orifício de
madeira interior da madeira saída.
• Existem outros tipos de insetos (formigas, escaravelhos e abelhas)
que atacam a madeira, provocando estragos não tão significativos
como os causados pelas térmitas e carunchos. No entanto, este tipo
de ataque facilita o acesso da água ao interior da madeira, permitindo
o desenvolvimento de fungos.
Formigas

Abelhas
• Os fungos são vegetais de estrutura constituída por filamentos que se
desenvolvem e penetram na madeira destruindo os seus constituintes
ou parte deles, por uma acção enzimática, dando origem a podridões
e proporcionando perda de resistência.
• Os fungos podem dividir-se em dois grupos: os cromogéneos e os de
podridão (ou lenhívoros).
• Os fungos cromogéneos • Os fungos de podridão desenvolvem-se
desenvolvem-se para para teores em água na madeira
teores em água na madeira superiores a 20%, alimentando-se
superiores a 25-30%, diretamente da parede celular,
provocando o “azulado” e destruindo-a e ainda mais se a
outras colorações mais ou temperatura se situar entre os 18 e os
menos importantes, sem 26º C. As podridões são facilmente
degradação significativa de identificáveis através da perda de peso
resistência da madeira. e de resistência da madeira,
Geralmente aparecem no acompanhada por mudanças de
borne de árvores recém- coloração e de aspecto. Nas condições
abatidas. de madeira total e permanentemente
imersa em água (saturada de água), o
risco de ataque por estes fungos não
existe.
ATAQUES DE XILÓFAGOS MARINHOS
• Na madeira submersa em água do mar, podem encontrar-se ataques
de xilófagos marinhos, classificáveis como moluscos e crustáceos’

Madeira atacada por crustáceos.


CLASSES DE RISCO DAS ESTRUTURAS DE
MADEIRA (EN 335-2)
Classes Situações Gerais de Serviço Exposição à Teor de água na Principais agentes biológicos
de risco humidade madeira
1 Sem contato com o solo, sob Nenhuma 20% no máximo Carunchos
coberto (pavimentos)
2 Sem contato com o solo, sob Ocasional Ocasionalmente > Carunchos, Termitas e Podridão
contato mas com risco de 20% Castanha
humidificação (estruturas de
cobertura)
3 Sem contato com o solo, não Frequente Frequentemente > Carunchos, Termitas, Podridão
coberto (caixilharia) 20% Castanha e Podridão Branca
4 Em contato com o solo ou Permanente Permanentemente Carunchos, Termitas, Podridão
água doce (fundações) > 20% Castanha, Podridão Branca e
Podridão Mole.
5 Na água salgada (pontões) Permanente Permanentemente CR 4 + xilófagos marinhos
> 20%
ACÇÕES DE ACIDENTES
• Principais causas associadas às acções de acidente
• Sismos;
• Incêndios;
• Explosões;
• Choques;
• Inundações.
TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO
Técnicas não-destrutivas (TND) tradicionais
• Observação Visual
• identificação do grupo de madeiras a que pertence o elemento;
• identificação do tipo de degradação biológica (fungos, carunchos ou
térmitas);
• detecção de rotura mecânica ou deformações excessivas;
• detecção de manchas na madeira indiciadoras da ocorrência de focos de
humidade;
• difícil determinação da extensão de ataques e quantificação da secção
residual.
• Lamina Metálica: • Martelo:
• identificação e estimativa da • localização de vazios, ligados à
extensão da degradação biológica; ocorrência de degradação
• não permite detectar degradação biológica no interior da madeira;
biológica ocorrida no interior da • diferentes secções transversais,
madeira em peças de maiores teores de água, situações de apoio
secções. ou interação com outros
elementos fazem variar o som
emitido, podendo induzir em erro;
• impossibilidade de quantificar a
extensão da degradação ou a
qualidade do elemento;
• somente aplicável para secções
inferiores a cerca de 9 cm de
espessura.
• Humidímetro:
• localização de focos de humidade,
implicando risco de ataque da
madeira por térmitas ou fungos de
podridão;
• estabelecimento do teor de água
de equilíbrio da madeira, afetando
os valores característicos de
resistência mecânica a tomar em
consideração;
• a incorreta identificação da
madeira aplicada e o
desconhecimento de um
tratamento preservador
eventualmente conferido à
madeira conduzem a erros de
leitura.
• Extração de carotes (recolha de amostras):
• verificação da variação da degradação em
profundidade;
• identificação da espécie de madeira em
laboratório;
• detecção de degradação biológica no interior da
madeira;
• tem um carácter já destrutivo, embora geralmente
não afete significativamente a resistência da
estrutura;
• inspeção do elemento somente até 10 a 20 cm de
profundidade;
• necessidade de tapar o orifício por meio de uma
outra carote tratada com um produto preservador
ou de durabilidade natural elevada.
TÉCNICAS NÃO-DESTRUTIVAS (TND) NÃO-
TRADICIONAL
• As TND não-tradicionais surgem como complemento às TND
tradicionais, sendo aplicadas em situações para as quais as técnicas
acima mencionadas não permitem uma resposta apropriada, quando
em respeito a:
• determinação da seção resistente a considerar;
• inspeção do estado de conservação da zona interior dos elementos
(degradação interna);
• estimativa mais precisa da resistência mecânica.
• Resistência à perfuração
• deteção de fendas, vazios ou bolsas de
degradação biológica;
• avaliação da massa volúmica média dos
elementos;
• estimativa da resistência através da correlação
existente para cada espécie de madeira, entre a
massa volúmica e as propriedades mecânicas;
• a avaliação é somente efetuada até uma
profundidade de 40 cm;
• o furo efetuado (3 mm) embora insignificante do
ponto de vista mecânico, poderá constituir um
ponto de entrada para agentes de degradação da
madeira;
• necessidade de ponderar o tratamento por
injeção com um produto preservador.
• Dureza superficial: • Propagação de ondas de choque:
• determinação da massa volúmica • estimativa das propriedades
média do elemento através da mecânicas através da velocidade de
dureza média determinada; propagação ao longo das fibras;
• avaliação da presença de • obtenção do módulo de
degradação superficial; elasticidade dinâmico através da
• estimativa da secção residual; determinação da velocidade de
• análise da madeira somente é feita propagação e da massa volúmica;
até uma profundidade de cerca de • possibilidade de obtenção de um
10cm; perfil de variação longitudinal,
• impossibilidade de detectar bolsas detectando zonas degradadas ou
de degradação no interior dos apresentando defeitos (fendas) no
elementos; interior dos elementos;
• necessidade de ter em conta • necessidade de estarem acessíveis
variações naturais da dureza da duas superfícies opostas dos
madeira. elementos de madeira.
ENSAIOS DESTRUTIVOS
• São considerados ensaios destrutivos os ensaios de carácter mais ou
menos destrutivos, susceptíveis de serem aplicados a:
• modelos da estrutura;
• provetes fabricados para o efeito ou retirados da estrutura;
• modelos de ligações.
ENSAIOS APLICADOS A MODELOS DA
ESTRUTURA
• Ensaios de estruturas trianguladas.
• Ensaios aplicados a provetes:
• Ensaios para determinação do módulo de elasticidade em flexão de “face”,
flexão de “canto” e tensão de ruptura.
• Ensaios aplicados a modelos de ligações:
• Ensaios de ligações cruzadas e alinhadas para medição das deformações.
• Ensaio para estudo da fluência da ligação em provetes submetidos à tração e
compressão.
Conclusão
• A realização de ensaios permite complementar a caracterização das
anomalias e a avaliação das suas causas.
• O tipo de diagnóstico a efetuar e os meios e recursos disponíveis justificam
os ensaios a realizar.
• Os ensaios a realizar deverão ser, preferencialmente, não- destrutivos ou
semi-destrutivos.
• As TND não-tradicionais surgem como complemento às TND tradicionais,
sendo aplicadas em situações para as quais estas últimas não permitem
uma resposta cabal.
• É necessário existir uma interação eficaz entre as TND tradicionais e as não-
tradicionais.
Obrigado!!!

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