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HEINER MÜLLER

PROMETEU

[Céu divino, e vós, ventos


De asas leves. Fontes, rios e ondas
Do mar, que se movem indefinidamente.
Terra, mãe que dás voltas e voltas,
E sobre o teu círculo, Sol que tudo vê. ]
Olhai o que eu, (Prometeu), um deus, sofro por culpa dos deuses,
Arrasado por maus-tratos e preso
Nestas cadeias vis
Por tempo milenar.

Assim Zeus, o novo Senhor dos imortais, o projetou para mim.


Depois de roubar a fonte do fogo
[Com as minhas próprias mãos levei aos mortais
O alicerce de todas as artes.] E agora pago
preso com pregos, suspenso bem alto, debaixo do céu.

Mas, de que me lamento? Sei perfeitamente


O que virá, e não me apanhará de surpresa
O futuro suplício. [O destino, porém,
deve ser suportado com leveza.]

Mas é difícil Calar.


A dor é ambos, fala e silêncio, alegria nada.
Quando os deuses se enfureceram uns
Contra os outros, quem redistribuiu os privilégios
Entre os novos deuses, quem senão eu?
Alguns quiseram derrubar Cronos
Do seu trono para que Zeus governasse lá em cima.

Então, ficam surpreendidos com o quê? Diz lá, Gordo, não foi assim? Nunca precisei de vocês.
Vocês nunca iam ser capazes de se livrar da puta do velho. Não sem mim e sem a minha criação, tu
traidor! Tu EGO 3.0. Diz lá, Gordo, dá a cara, conta lá ao chefe os teus planos para ficarmos os
dois sozinhos! Ah ! Calas-te? Não passas de um cobarde. Mas olha, não és o único. Então
chefinho? Ficas suprendido, porquê? Não querias fazer o mesmo? Hahahahaha. Vocês não sabem
muitas partes da historia. Escutem!

Outros, por outro lado, contra Zeus se levantaram


para que nunca chega-se a reinar. Eu proferi
os melhores conselhos. Mas não consegui convencer
os filhos do céu e da terra, os Titãs,
Que desprezando a minha engenhosa
Arte de pensar acreditaram que poderiam impor-se
Sem nenhum esforço através da violência.
Perante esta situação
Achei conveniente, seguir a minha mãe, e
Tomar o partido de Zeus. Seguindo
o meu conselho, para o negro e profundo
Abismo do Tártaro empurrámos
o velho Cronos e os seus aliados.

Sim meus caros, pensavam que o bonzinho do engenheiro também era parvo? O cabrão do velho
podia ter sido um parceiro bem melhor do que vocês, suas pequenas viboras-cornudas. Ele bem me
tentou avisar, mas, no fundo, eu já sabia o que vocês eram.
Sim, tentei negociar com ele! Mas ele não escutava, não comprendia que meu EGO 3.0., o pérfido,
e eu, éramos a sua única forma de salvar a empresa que ele criou. Foi por isso que ele foi
sacrificado, não forom as vossas maquiavelices de segunda, vocês não são mais que uns patetas,
uns bonifrates ao serviço de um tirano, o EGO 3.0.

Assim que se sentou no trono que outrora fora de seu pai,


Repartiu pelos deuses a parte que correspondia a cada um
E a autoridade. Para os mortais, no entanto, que suportam trabalhos e fadiga,
Não dirigiu uma única palavra, porém quis extreminar a
Sua raça e fazer crescer uma nova. Ninguém se opôs
Exceto eu. Eu ousei, salvei os fugitivos
De caírem despadaçados no Hades.
Por isso encontro-me agora submetido
A estes tormentos. Quem preferiu os homens
Por misericórdia, não merece misericórdia agora.
Por esses crimes, então, Zeus
Tortura-me nesta rocha, sim, e não me quer soltar.

Vá Gordo, diz qualquer coisa dessas que aprendeste no teu MBA: “Não há ética nos negócios,
pá”,”Negócios são negócios”, “Isso é o mercado, amigo”. Vocês desrespeitaram a única regra que
eu impus, a única regra que nos impedia de ficarmos na mão do EGO 3.0. Mas o que é que vocês
sabem sobre isso?Em nenhum MBA se fala de lealdade. O EGO 3.0. soube disso. Ele, o traidor, só
teve que pôr à vossa frente a possibilidade. “Prometo mais lucros” e vocês nem pensaram duas
vezes. Investir em empresas geridas por pessoas não era um capricho! Era uma segurança a para a
NOSSA própria sobrevivência. Pensam que o EGO 3.0. precisa de vocês? Ou de qualquer um outro
como vocês? Em quanto tempo acham que os Homens deixarão de ser os donos disto tudo?

Quem me dera que me tivesse atirado


Para as profundezas sem limites que abrigam os mortos,
Aprisionando-me com correntes inquebráveis,
[Para que nenhum deus nem ninguém se refastelasse com este espetáculo.]
Agora, no entanto, como um brinquedo dos ventos, miserável,
Sofro para alegria dos meus inimigos.

Mas não lamentemos agora o presente, que rapidamente passa


A aflição de um a outro no decorrer do tempo.
Claro que, (Zeus), (o) Príncipe dos Bem-aventurados
Precisará muito de mim, o maltratado, o amarrado com fortes
grilhetas nos pés, pois eu sei por quem
tudo isto acabará, quem o tirará do poder e quem o despojará
De todas as honras que agora desfruta,
E não me irá enfeitiçar com cantos melíferos, nem me submeterei
Diante de suas terríveis ameaças, nem revelarei o meu segredo
sem que primeiro me solte e me pague
Por esta infâmia.

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