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19/10/2019 Sobre as “Meditações Metafísicas” de René Descartes

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Sobre as “Meditações Metafísicas” de


René Descartes
. . .

Da guerra no terreno das naturezas corpóreas

Nina Gaul
Sep 24, 2016 · 13 min read

”A meditação da paixão”, de Vittore Carpaccio (It alia, Veneza 1460/66?–1525/26 Venice), ca. 1490; (John
Stewart Kennedy Fund, 1911; The Met Collection)

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19/10/2019 Sobre as “Meditações Metafísicas” de René Descartes

René
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moderno
espantados caso este composto não se relacionasse com o mundo dos corpos. Veremos
nesse breve artigo como se torna imposto o estado de isolamento em que este composto
espírito-corpo deveria se forçar em sua existência, caso contrário, poderíamos ter
guerra no terreno das naturezas corpóreas.

As verdades
Em suas Meditações, Descartes aplicará o método da dúvida para todos os seus
pensamentos; o menor motivo de dúvida arruinará todo o edifício desses fundamentos.
Descartes inicia suas Meditações dizendo que tudo o que ele recebeu até então como
mais verdadeiro e seguro, aprendeu dos sentidos ou por meio deles, e diz que algumas
vezes esses sentidos eram enganadores; conclui que lhe é prudente jamais confiar
inteiramente naqueles que uma vez já o enganaram (DESCARTES, 2000, p. 31). Mas
ainda que os sentidos o enganem, têm algo que Descartes não pode duvidar. Assim
inicia a sua busca.

Descartes descreve um pensamento no qual estaria sentado perto do fogo, vestido com
um roupão, segurando um papel entre as mãos, e se pergunta:

E como é que eu poderia negar que estas mãos e este


corpo sejam meus? (idem, p. 31)
O autor chega a trazer a possibilidade de uma certa loucura, mas não se considera
extravagante o suficiente para tais exemplos, e então conclui que poderia estar vestido
de roupão, perto da fogueira, segurando um papel em seu sonho e que não há indícios
de que possa distinguir nitidamente seu estado de vigília do sono. Descartes supõe que
está adormecido e que todas as suas particularidades, como o remexer da cabeça, dos
olhos, o esticar das mãos, são ilusões, e talvez suas mãos e o seu corpo não sejam mais
como o vemos, concluindo então que tais imagens são factíveis de quadros e pinturas
que só podem ser formados a semelhança de algo real e verdadeiro. (idem, p. 33) Tais
pensamentos, para ele, são imaginações formadas, mesmo que algumas verdadeiras e
reais, simples e universais, outras fingidas e fantásticas, são imagens formadas. Essas
imagens formadas, para Descartes, são da natureza corpórea.

A ocupação no espaço, a extensão, a figura, a quantidade, a grandeza, o número, o


lugar, o tempo, a duração, são naturezas corpóreas, portanto, inconstantes, duvidosas e
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incertas.
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e indubitável.

Agora pensamos na cena em que Descartes faz uma experiência com o pedaço de cera
para provar daquilo que se concebe em seu espírito sobre este corpo. Descartes
concluirá que a cera, este corpo externo, submetido a experimentos sensíveis em suas
matérias e substâncias — ela mesma, a cera –, continua sendo apenas uma cera.

O pedaço de cera, retirado da colmeia, ainda não


perdeu a doçura do mel que continha, ainda retém
algo do aroma das flores, sua cor, sua figura, sua
grandeza são aparentes, é duro, é frio, se o toca
produzirá algum som (…) ao aproximar a mesma
cera do fogo, o sabor se exala, o aroma esvanece, sua
cor muda, sua figura se perde, sua grandeza
aumenta, torna-se líquida, aquece-se de um jeito
que mal se pode tocá-la, e não produzirá mais
nenhum som. (idem, p. 49 e 50)
Descartes admite que o que restou para ele, em seu espírito, foi a mesma cera:

É preciso admitir que permanece, e ninguém o


pode negar. Então o que conhecia com tanta
distinção nesse pedaço de cera? Por certo não pode
ser absolutamente nada de tudo o que nele observei
por intermédio dos sentidos, porquanto todas as
coisas que caíam sob o paladar, ou o olfato, ou a

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visão, ou o tato, ou a audição, acham-se mudadas, e


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no entanto a mesma cera permanece. (idem, p. 50)


Então conclui que seus sentidos perceberam a cera diferentemente, mas tem algo que
permanece; no entanto, o que resta daquele corpo é a mesma cera. Ora, o que fica
daquele corpo, para Descartes, é a sua concepção do pensamento sobre a cera. Logo
após, ponderará se pode conceber aquela cera apenas pela mudança de suas formas, e
assim imaginar muitas ceras. Conclui que não: a ilustração da cera não passa pela
faculdade de imaginar. Concebe-a apenas pelo espírito ou pelo seu entendimento.
Descartes se perguntará:

que cera é esta que eu toco, imagino, que vejo, e que


só posso conceber pelo meu espírito e que é a
mesma cera desde o começo? (idem, p. 51)
Descartes chega a considerar que seja quase enganado pelos termos da linguagem
ordinária, a palavra, e supõe que tenha apenas concebido a cera pela visão dos olhos e
não pela inspeção do seu espírito.

Após essas indagações, Descartes aplicará o método da dúvida para a cena dos homens
e pensará que ao ver homens pela janela, poderia concluir que são chapéus e capotes
de homens fictícios se mexendo mediante o uso de molas, mas pela potência de julgar
do seu espírito compreende que são homens verdadeiros. (idem, p. 52)

Em suas Meditações, o autor repete que sua busca é para uma contribuição científica no
sentido do fundamento das ciências. Ele está à procura de um ponto fixo e indubitável.
Já colocou em dúvida a existência de todas as substâncias corpóreas e sensíveis no
terreno das naturezas corpóreas, inclusive a sua própria, provando que suas alterações,
mutações e complexidades não o levam a nenhuma conclusão absoluta,

desviando-o do caminho reto que o poderia


conduzir ao conhecimento da verdade. (idem, p.
37)
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da qual ele não pode ter a menor dúvida; pergunta-se:

Não há algum Deus, ou alguma outra potência, que


me ponha no espírito esses pensamentos? (idem, p.
42)
E conclui que isto não seria necessário, pois talvez ele, Descartes, seria capaz de
produzi-los por si mesmo; então volta a se perguntar:

Eu então, pelo menos, não sou algo? (idem, p. 42)


Após ter negado seus sentidos, seu corpo, ter posto tudo em dúvida, ainda tem algo que
nele permanece, sob o seu próprio domínio e isso existia de fato, Descartes conclui:

eu sou, eu existo[; esta proposição] é


necessariamente verdadeira todas as vezes que a
pronuncio ou que a concebo em meu espírito.
(idem, p. 43)
A existência ou não de um mundo enquanto Descartes pensava, mesmo colocando tudo
em dúvida, era o que para ele, existia de mais indubitável.

Descartes conclui que a física, a astronomia, a medicina e todas as outras ciências que
dependem das considerações das coisas compostas são muito duvidosas e incertas, mas
que a aritmética a geometria e outras ciências dessa natureza resistem à dúvida no
argumento do cogito e, portanto, contêm algo de certo e indubitável. (idem, p. 35)

Descartes achou a verdade com características ontológicas e axiomáticas. Ora, a


característica axiomática do pensamento de Descartes se dá pelo processo inerente às
meditações, em que é imprescindível o descarte dos sentidos e corpos para a sua
equação indubitável. A verdade não existe sem esse princípio. E por que esta verdade é
ontológica? Esta verdade é ontológica porque ela habita em um ente, na coisa pensante,

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concepções no terreno das naturezas corpóreas.

Agora, algumas conclusões sobre esta primeira passagem sobre as duas primeiras
meditações de Descartes:

1. Descartes aplicaria a todos os corpos de natureza corpórea do tipo da cera o mesmo


entendimento, salvando os homens verdadeiros na segunda situação: quando os vê
pela janela compreende que são homens verdadeiros somente pela potência de
julgar que reside em seu espírito.

2. Podemos concluir que, em relação aos homens verdadeiros e os corpos de natureza


corpórea dos tipo da cera, Descartes concebe um julgamento diante do que ele não
acredita ver com a visão dos olhos e, como a experiência leva todo o edifício do
fundamento, neste caso, Descartes também conceberia um julgamento não
considerando nenhum outro sentido, o tato, a audição, o paladar, o olfato, tudo do
que pode ser movido de varias formas e não a si mesmo.

3. O único elemento que diferencia o corpo de natureza corpórea do pedaço de cera


do corpo de natureza corpórea dos homens verdadeiros, é a potência de julgar do
cogito pensante.

4. Para as inspeções de corpos de natureza corpóreas em geral, a potência de julgar se


torna o elemento essencial. Pois se caso Descartes tivesse algum problema ou
dificuldade em sua potência de julgar, os corpos de natureza corpórea de homens
verdadeiros poderiam entrar na categoria de corpos de natureza corpóreas como os
do pedaço de cera, e então Descartes poderia também assistir às suas mutações —
de sua ocupação no espaço, sua grandeza, seu número, lugar, tempo, sua duração,
sua cor, figura, som, aromas, seus sabores — com a mesma inspeção dada pela
visão de seus olhos.

5. Descartes achou um ponto fixo e indubitável: o da existência do mundo sob


controle do cogito pensante, e este foi estabelecido como uma verdade.

6. Esta verdade tem características axiomáticas. É uma verdade que possui


características especialmente axiomáticas, pois esta necessariamente teve que
excluir todos os corpos e sentidos para se conceber como uma verdade.

7. Existe um passo-a-passo a seguir para a conclusão de uma verdade, onde o


primeiro passo é duvidar da existência dos corpos e seus sentidos e só assim

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consegue-se
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8. Esta verdade tem características ontológicas, pois esta está sob controle de um ente
e este se relaciona no terreno das naturezas corpóreas.

Sobre a potência de julgar e Deus


Descartes agora irá aplicar o argumento do cogito para a existência de um Deus
enganador. Pensa que se um dia esse Deus empregasse toda a sua indústria em lhe
enganar, inclusive nas coisas mais exatas, como por exemplo que dois mais dois são
quatro e quando se enumera os lados de um quadrado, Descartes dirá que esse céu,
essa terra, essas cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores são ilusões e
enganos que servem para surpreender a sua credulidade, e considerará ele mesmo
como não tendo mão, nenhum sentido, nem carne, nem sangue; e crendo falsamente
nessa conjuntura, Descartes diz que, apegado a este pensamento e se por este meio não
está em seu poder alcançar o conhecimento de alguma verdade, pelo menos, está em
seu poder suspender os seus juízos diante deste gênio maligno. E diz:

Eis por que me guardarei cuidadosamente de


receber em minha crença qualquer falsidade, e
preparei tão bem meu espírito para todas as astúcias
desse grande enganador que, por mais poderoso e
astuto que seja, jamais poderá impor-me nada.
(idem, p. 38)
Ora, a suposição de um Deus enganador mostra o embate deste suposto gênio maligno
com um Descartes solipsista, que não vê nenhuma outra possibilidade de
conhecimento da verdade que não a sua própria. A impossibilidade de uma saída ou
diálogo com o gênio maligno coloca Descartes como um homem verdadeiro detentor
da própria verdade. A opção de suspensão do juízo muito bem colocada pela
experiência cartesiana nos convoca para uma atenção especial: ela está sob total
controle deste homem verdadeiro e se torna necessária no caso em que não haja
concordância com a outra verdade — no caso, a do gênio maligno. Se houvesse alguma
dúvida em relação a ela, a outra verdade, neste caso, a suspensão das atividades torna-
se decisória.

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momento
ficado isolado do mundo para que não houvesse nenhum agir, sendo apenas, apenas
um meditar.) (idem, p. 38)

Voltando às Meditações, Descartes nos ilumina com a imagem do escravo.

Este escravo que da mesma forma que usufruía no


sono uma liberdade imaginária, quando começa a
suspeitar que sua liberdade é apenas um sonho,
teme ser acordado e conspira com essas ilusões
agradáveis para ser mais longamente iludido por
elas. (idem, p. 38 e 39)
Nesse momento, Descartes se diz agitado pelas dificuldades das trevas corpóreas e
prefere seguir em sua libertina meditação a caminho da verdade. Pois se Descartes
resolvesse acordar de seu sonho e sentir aquela escravidão em que se tornaria crucial e
decisória suspensão de juízo, caso ele, este escravo, não achasse que suas mãos e seus
pés, presos em correntes, e sua cor de pele não fossem falsas ilusões, este escravo
poderia conceber uma outra verdade pela sua própria condição corpórea. E o que
acontece se este homem verdadeiro conceber sua potência de julgar onde sua verdade
se dá pela sua própria condição corpórea? Descartes alerta para sua preguiça em
mergulhar na imagem do escravo, que elas voltam novamente às questões que havia
descartado, as corpóreas, que este caminho não traz a ele alguma luz no conhecimento
da verdade e que elas não são suficientes para aclarar todas as trevas das dificuldades
que por ele foram agitadas. (idem, p. 38 e 39)

Sobra-nos a possiblidade de este escravo conceber um outro Deus como seu


conhecimento da verdade e de este ser diferente do Deus do sonho de Descartes, tal
qual que este escravo não tivesse dúvida da soberana verdade e bondade do seu próprio
Deus, o Deus do escravo. Encontramo-nos então diante de uma incompatibilidade de
deuses, onde o conhecimento da verdade de um poderá ser diferente do conhecimento
da verdade do outro.

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conhecimento da verdade validado pelas potências julgadoras, então temos, no
mínimo, neste caso, dois tipos de potências julgadoras e portanto uma
incompatibilidade da potência de julgar. E, se por acaso, existir a possibilidade da
potência julgadora de um homem verdadeiro ver no Deus do outro um gênio maligno?
Ou uma diferença de clarividência entre a distinção das coisas verdadeiras e falsas?
Talvez não consigamos chegar tão rápido a esta conclusão, mas, como a faísca da
menor dúvida em relação ao conhecimento da verdade por meio de deuses diferentes,
tornar-se-á algo necessariamente decisivo a suspensão de juízos. Ora, não precisamos
pensar muito em nossa história para lembrarmos que neste caso não houve suspensão
de juízos e que há incompatibilidade de deuses com diferentes distinções de verdades,
pois de fato parece que estamos diante de uma questão ontológica(!?).

Diante da possibilidade da incompatibilidade de deuses ou uma incompatibilidade de


conhecimentos verdadeiros, deveria ser obrigatório a suspensão de juízos; e para o
agir, assim, tornar-se-ia decisivo o isolamento de cada homem verdadeiro que cogitaria
fazer acontecer sua verdade, realizar a ação desta verdade. Neste caso sabe-se que esta
suspensão não tenha acontecido e talvez ainda não aconteça no terreno das naturezas
corpóreas.

A necessidade de pensar sobre questões éticas para as ciências é trazida de uma forma
bem presente nas Meditações Metafísicas através do argumento do cogito pensante e
sua autoridade diante das questões externas e corpóreas e da existência do gênio
maligno, sugerindo que o método não seria “congelado” no campo metafísico e que iria
haver produção e ação de verdades no terreno das naturezas corpóreas. Poderíamos
saber da geometria de uma bomba atômica mas não precisaríamos realizá-la como
natureza corpórea, aquela que de princípio essencial, para se chegar nela como
verdade. Necessariamente, há de se exterminar o que ela se tornará: um corpo.

No momento em que existe uma relação deste corpo de homem verdadeiro que
concebe uma verdade sob seu controle individual é que se faz necessária a potência de
julgar e a questão que era puramente metafísica entra no terreno de relações das
substâncias compostas espírito-corpóreas.

Descartes conclui na Quinta Meditação (¶15):

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E assim reconheço muito claramente que a certeza e


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a verdade de toda a ciência depende do só


conhecimento do verdadeiro Deus; de sorte que,
antes de o conhecer, eu não podia saber
perfeitamente nenhuma outra coisa. E agora, que o
conheço, tenho o meio de adquirir uma ciência
perfeita no tocante a uma infinidade de coisas, não
só daquelas que estão nele, mas também daquelas
que pertencem à natureza corporal, na medida em
que ela pode servir de objeto às demonstrações dos
geômetras, os quais não fazem caso de sua
existência. (idem, p. 107)
Como a menor das conclusões leva junto todo o edifício de fundamento, podemos
concluir:

1. As ciências estão concebendo produtos corpóreos a partir de verdades que


necessariamente tiveram que eliminar todas as naturezas corpóreas para serem
concebidas como verdadeiras;

2. Todas as vezes que um homem verdadeiro se deparar com um gênio maligno, este
deve, necessariamente, todas as vezes, suspender todos os seus juízos;

3. Suspender o juízo é necessariamente ficar isolado e não realizar nenhuma ação no


terreno das naturezas corpóreas;

4. Caso haja um homem verdadeiro e que este não consiga distinguir um gênio
maligno de um Deus perfeito, temos a possibilidade de um conhecimento da
verdade que se dá pela própria condição de natureza corpórea;

5. Caso tenhamos um homem verdadeiro em que o conhecimento verdadeiro de um


Deus seja diferente do conhecimento verdadeiro de outro Deus para um outro

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6. Existe a possibilidade de não haver suspensão de juízo em casos obrigatórios de


incompatibilidade de deuses;

7. Existe várias ações realizadas onde há incompatibilidade de deuses e diferentes


conhecimentos da verdade.

Da aplicação das verdades e da ausência de dúvidas de que elas estejam


agindo no terreno das naturezas corpóreas
Ora, quando a verdade é encontrada sob o controle de um indivíduo e este possui o
livre-arbítrio para o agir científico, é-nos possível concluir que existirão inúmeras
verdades sendo concebidas e acionadas no terreno das naturezas corpóreas, e sendo
assim, obrigatoriamente estarão se relacionando com corpos, sentidos, tamanhos,
quantidades, volumes e qualidades — todos aqueles que foram necessários eliminar
para se conceber qualquer verdade — e essas ações deveriam ser suspensas como no
passo a passo das Meditações Metafísicas. Mas o fato é corpóreo e as ações não são
suspensas em casos obrigatórios, as ciências estão produzindo suas verdades que não
estão apenas agindo metafisicamente e sim nos terrenos das naturezas corpóreas
limitadas pelo conhecimento verdadeiro de cada um e suas diferentes potências
julgadoras. Então pela lógica cartesiana podemos pensar que há uma guerra de
verdades agindo no campo da natureza corpórea.

O fato é que existe a possibilidade de incompatibilidade de deuses que nos trazem


diferentes conhecimentos verdadeiros e essas relações estão em ação. Quando não há
suspensão de juízo diante de dois conhecimentos verdadeiros diferentes, há uma
impossibilidade de convivência entre duas verdades, e uma verdade pode querer impor
sua existência e, como consequência, teríamos guerras em ação dessas verdades. Basta
olharmos pelas nossas janela e para a nossa história para que possamos antecipar o
cenário de hoje através da iluminação cartesiana e a ação libertina das ciências no
terreno dos homens verdadeiros.

Eis o problema instalado no terreno do planeta Terra e seus homens verdadeiros; então
podemos sugerir que entre relações com incompatibilidade de deuses com diferentes
conhecimentos da verdade onde não há suspensão de juízo necessariamente alguma
ação será realizada e, nada nos garante, neste momento, que não haverá guerra em

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necessariamente risco de eliminação corpórea.

De fato há um prejuízo corpóreo e sensível neste mundo e ele se dá pela falta de


suspensão dos juízos em casos decisórios, essas guerras das verdades estão agindo no
terreno das naturezas corpóreas.

. . .

SOBRE AS MEDITAÇÕES METAFÍSICAS DE RENÉ DESCARTES

Março, 2014

Departamento de Filosofia — PUC-RJ

Esp. Filosofia Contemporânea (Pós-graduação Lato Sensu)

professor: Tito Marques Palmeiro

. . .

Referências Bibliográficas
DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Trad. Maria Ermantina de Almeida
Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2011

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