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O financiamento público e privado

no Terceiro Setor na atualidade


Prof. Me. Airton Grazzioli

17/04/17
O Terceiro Setor hoje representa uma estrutura absolutamente complexa de organizações
da sociedade civil, sem finalidade lucrativa, que realizam ações no desenvolvimento de práticas
com a finalidade de contribuir para aqueles que mais precisam ou em pautas de interesse da
sociedade coletiva.
O Terceiro Setor nem sempre foi assim. Ele muda à medida que há alternação de nossa
sociedade.
De fato, num primeiro momento, e estamos falando da realidade de algumas décadas, ele
era um modelo absolutamente privado. Basta lembrar das Santas Casas, das casas de abrigo de
órfãos e desamparados, dentre outras nesse gênero, que vieram à nossa realidade há muito
tempo e que prestavam serviços aos necessitados num cenário bem mais restrito que o atual.
A partir do final do século passado, no entanto, ou seja, a partir de 1990, a realidade do
Terceiro Setor iniciou um processo de mutação bastante radical. O Terceiro Setor e o Estado se
aproximaram. Essa aproximação, facilitada pela edição de novas leis regulando a área de
atuação, tais como das OSCIP´s (organizações da sociedade civil de interesse público) e das
OS´s (organizações sociais), permitiu que no Terceiro Setor a sociedade civil melhor se
organizasse, dando início a um processo de participação política e social mais ativa. Aliás, a
própria Constituição Federal de 1988 permitiu essa inovação.
Nessa toada é que em regra as organizações da sociedade civil agem, na atualidade, ou
seja, na saúde, na educação, na assistência social, na defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico, na cultura, na segurança alimentar e nutricional, na defesa e preservação do
meio ambiente, na promoção do desenvolvimento sustentável, na pesquisa científica e
tecnológica, na promoção da ética e da cidadania, na defesa da democracia e dos direitos
humanos, dentre outras atividades nesse contexto difuso e de interesse de toda a sociedade.
Com efeito, as alterações implementadas a partir dos anos 90 do século passado fez surgir
um conjunto de instituições, estruturas e relações que podemos chamar de híbridas, ou seja, que
se utilizam de concepções privadas com práticas publicistas, ou seja, permissão para a
transferência da gestão de serviços e atividades não exclusivas do Estado para o Terceiro Setor,
enquanto setor privado.

Aspectos Jurídicos do Terceiro Setor Leitura complementar - 2


O novo modelo, portanto, permitiu a transferência de recursos públicos para as
organizações da sociedade civil enquanto entidades privadas. É o que chamamos de
financiamento público no Terceiro Setor. Além desse investimento, deve-se considerar também o
investimento privado, tanto das sociedades empresárias como dos particulares.
E por ser relevante o financiamento das organizações do Terceiro Setor, é preocupante o
que ocorre atualmente, onde o Governo, o Mercado e o Terceiro Setor sofrem uma sensível
retração, fruto da escassez de recursos. Há a expectativa, também, para tornar mais sério o
cenário, que não ocorra melhora nos próximos dois ou três anos.
A crise, além do mais, é mais séria para as organizações da sociedade civil, pois além da
escassez de recursos e retração do financiamento público e privado, veremos aumentar o
processo de exclusão social.
O cenário, portanto, não é nada desejado. É, por outro lado, preocupante.
E em momentos de crise, de relevo que as organizações do Terceiro Setor otimizem seus
recursos, principalmente os financeiros.
O que se espera do Terceiro Setor nesse momento é que adote modelos inovadores de
gestão, para lograr fazer o melhor com os recursos que dispõem no momento.

Airton Grazzioli

Airton Grazzioli, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da USP. Especialista em Direitos
Difusos e Coletivos pela Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo. Mestre
em Direito Civil pela PUC-SP. Membro do Ministério Público do Estado de São Paulo. Promotor
de Justiça. Curador de Fundações de São Paulo. Vice-Presidente da Associação Nacional dos
Procuradores e Promotores de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social – PROFIS.

Aspectos Jurídicos do Terceiro Setor Leitura complementar - 3

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