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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel 3 - Aula 17 - Carlos Gustavo Moreira
Q 1
onde C = 1− (p−1)2
.
p primo
p>2
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POT 2012 - Teoria dos Números - Nı́vel 3 - Aula 171- Carlos
PRIMOS DE MERSENNE
Gustavo Moreira
1 Primos de Mersenne
Em novembro de 2013, os dez maiores primos conhecidos são da forma
Mp =2p − 1 para p = 57885161, 43112609, 42643801, 37156667, 32582657,
30402457, 25964951, 24036583, 20996011, 13466917. Estes são os únicos primos
conhecidos com mais de 4000000 de dı́gitos.
Primos da forma 2p − 1, com p primo, têm sido estudados há séculos e são
conhecidos como primos de Mersenne; não é difı́cil demonstrar que 2p − 1 só
pode ser primo quando p é primo. Parte do interesse em primos de Mersenne
deve-se à sua estreita ligação com números perfeitos. Um número perfeito é um
inteiro positivo que é igual à soma de seus divisores próprios (como 6 = 1+2+3
e 28 = 1+2+4+7+14); os números perfeitos pares são precisamente os números
da forma 2p−1 (2p − 1) onde 2p − 1 é primo (um primo de Mersenne).
Talvez o primeiro resultado não trivial sobre primos de Mersenne seja devido
a Hudalricus Regius que em 1536 mostrou que 2p − 1 não precisa ser primo
sempre que p for primo: 211 − 1 = 2047 = 23 · 89. Em 1603, Pietro Cataldi
tinha corretamente verificado a primalidade de 217 − 1 e 219 − 1 e afirmou
(incorretamente) que 2p − 1 também era primo para p = 23, 29, 31 e 37. Em
1640, Fermat mostrou que 223 − 1 e 237 − 1 são compostos. Em 1644, o monge
Marin Mersenne (1588-1648) afirmou por sua vez (também incorretamente) que
2p − 1 era primo para
p = 2, 3, 5, 7, 13, 17, 19, 31, 67, 127 e 257
e composto para os demais valores de p ≤ 257. Esta afirmação demoraria
séculos para ser completamente corrigida.
Em 1738, Euler mostrou que 229 − 1 é composto e em 1750, verificou que
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2 − 1 é primo. Lucas desenvolveu um algoritmo para testar a primalidade de
números de Mersenne e em 1876 verificou que 2127 − 1 é primo; este número
permaneceria por muito tempo como o maior primo conhecido (ver [6]). Só em
1947 a lista dos primos até 257 foi varrida: os valores de p nesta faixa para os
quais 2p − 1 é primo são
p = 2, 3, 5, 7, 13, 17, 19, 31, 61, 89, 107 e 127.
O algoritmo de Lucas foi posteriormente melhorado por Lehmer para dar o
seguinte critério: sejam S0 = 4, S1 = 42 − 2 = 14, . . . , Sk+1 = Sk2 − 2; dado
p > 2, 2p − 1 é primo se e somente se Sp−2 é múltiplo de 2p − 1. Esta sequência
cresce muito rápido, mas basta fazer as contas módulo 2p − 1: temos assim o
chamado critério de Lucas-Lehmer (ver [5]).
Em 1951, computadores eletrônicos começaram a ser usados para procurar
grandes números primos. Desde então foram encontrados os seguintes valores
de p para os quais Mp é primo:
521, 607, 1279, 2203, 2281, 3217, 4253, 4423, 9689, 9941, 11213, 19937,
21701, 23209, 44497, 86243, 110503, 132049, 216091, 756839, 859433,
1257787, 1398269, 2976221, 3021377, 6972593, 13466917,
20996011, 24036583, 25964951, 30402457, 32582657,
37156667, 42643801, 43112609, 57885161.
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PRIMOS DE MERSENNE
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Por outro lado, não se sabe demonstrar nem que existam infinitos primos
de Mersenne nem que existem infinitos primos p para os quais Mp é composto.
conjectura-se, entretanto, que existam infinitos primos p para os quais Mp é
primo e que, se pn é o n-ésimo primo deste tipo, temos
log pn
0<A< < B < +∞
n
para constantes A e B. Existem algumas conjecturas mais precisas quanto ao
valor de
√
lim n pn ;
n→∞
Eberhart conjectura que este limite exista e seja igual a 3/2; Wagstaff por outro
lado conjectura que o limite seja
−γ
2e ≈ 1, 4757613971
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PRIMOS DE MERSENNE
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Por outro lado seja n = 2k b, com k > 0 e b ı́mpar, um número perfeito par.
Temos σ(n) = 2n = σ(2k )σ(b) donde 2k+1 b = (2k+1 −1)σ(b). Como mdc(2k+1 −
1, 2k+1 ) = 1, temos b = (2k+1 − 1)c para algum inteiro c e assim σ(b) =
2k+1 c. Mas 1, 2k+1 − 1, c, b são divisores de b = (2k+1 − 1)c; se c > 1 então
σ(b) = 2k+1 c ≥ 1 + 2k+1 − 1 + b, o que implica c ≥ 2k+1 , mas neste caso
σ(b) = 2k+1 c ≥ 1 + 2k+1 − 1 + b + c, um absurdo. Logo c = 1 e b = 2k+1 − 1
é primo pois σ(b) = 2k+1 . Pela proposição 4, p = k + 1 é primo, b = Mp e
n = 2p−1 Mp .
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PRIMOS DE MERSENNE
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√
−1 (ainda em G), o que significa que a ordem de 2 + 3 em G é exatamente 2n .
Isto é um absurdo, pois o número de elementos de G é no máximo q 2 − 1 < 2n .
Fica portanto demonstrado que se Sn−2 é múltiplo de Mn então Mn é primo.
Suponha agora Mn primo,
√ n > 2. Lembramos que √ neste caso n √é primo.
n−2 n−2
Basta provar que, em Z[ 3], Mn divide Sn−2 = (2 + 3)2 + (2 − 3)2 ,
pois neste caso Sn−2 /Mn será um inteiro algébrico racional, portanto inteiro.
Assim, devemos mostrar que
√ n−2 √ n−2
(2 + 3)2 ≡ −(2 − 3)2 (mod Mn )
√ 2n−1
⇐⇒ (2 + 3) ≡ −1 (mod Mn )
√ √ √
utilizando
√ 2 novamente o fato que (2+ 3)(2− 3) = 1. Note ainda que 2+ 3 =
(1 + 3) /2 e que 2 é invertı́vel módulo Mn , logo temos que provar que
√ n−1
(1 + 3)Mn +1 ≡ −22 (mod Mn )
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PRIMOS DE MERSENNE
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Problemas Propostos
Problema 10. Prove que se n e d são inteiros maiores que 1 com mcd(n, d!) = 1,
tem-se que n e n+d são primos se, e somente se, d!d((n−1)!+1)+n(d!−1) ≡ 0
(mod n(n + d)).
Problema 11. Sierpinski provou que existem infinitos números naturais ı́mpares
k (os números de Sierpinski tais que k · 2n + 1 é composto para todo natural n.
Prove que 78557 é um número de Sierpinski, e que existem infinitos números
de Sierpinski a partir das congruências
78557 · 20 + 1 ≡ 0 (mod 3)
78557 · 21 + 1 ≡ 0 (mod 5)
78557 · 27 + 1 ≡ 0 (mod 7)
78557 · 211 + 1 ≡ 0 (mod 13)
78557 · 23 + 1 ≡ 78557 · 239 + 1 ≡ 0 (mod 73)
78557 · 215 + 1 ≡ 0 (mod 19)
78557 · 227 + 1 ≡ 0 (mod 37).
ϕ(m)
α< < β.
m
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Conclua que p
lim n
f (M n ) = f (M ).
n→∞
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(b) Utilize o item anterior para M potência de primo para concluir que f (pk ) =
f (p)k para todo primo p.
(c) Conclua que f é totalmente multiplicativa, e portanto existe α > 0 tal que
f (n) = nα para todo inteiro positivo n.
P f (n) P g(n)
(a) Prove que, se s ∈ R (ou s ∈ C) e as séries ns e ns convergem
n≥1 n≥1
absolutamente então
X f (n) X g(n) X f ∗ g(n)
· = .
ns ns ns
n≥1 n≥1 n≥1
(d) Prove que, se f : N>0 → C é tal que f (1) 6= 0, então existe uma única
função f (−1) : N>0 → C tal que f ∗ f (−1) = f (−1) ∗ f = I, a qual é dada
recursivamente por f (−1) (1) = 1/f (1) e, para n > 1,
1 X n
f (−1) (n) = − f f (−1) (d).
f (1) d
d|n,d<n
Dicas e Soluções
Em breve
Referências
[1] F. E. Brochero Martinez, C. G. Moreira, N. C. Saldanha, E. Tengan -
Teoria dos Números - um passeio com primos e outros números familiares
pelo mundo inteiro, Projeto Euclides, IMPA, 2010.
[2] V. Brun, La série 15 + 71 + 11
1 1
+ 13 1
+ 17 1
+ 19 1
+ 29 1
+ 31 1
+ 41 1
+ 43 1
+ 59 1
+ 61 +. . .
où les dénominateurs sont nombres premiers jumeaux est convergente ou
finie, Bull. Sci. Math., (2) 43 (1919), 100-104, 124-128.