Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SÉRIES NUMÉRICAS;
UMA INTRODUÇÃO
1
1
Por sua vez, Mercator usou que a área sob a hipérbole y entre 0 e x é ln(1+x), para
1 x
chegar à expressão (C. Boyer, pgs. 265, 266)
x2 x3 x4
ln(1+x) = x - - . . . , chamada hoje de série de Mercator .
2 3 4
1
1
1
1
...
1 1 1 1 1 2
, e daí concluiu que
2 ( 2) 2 (3) 2 (4) 2 6 12 22 32 42 6
Outros nomes ilustres no Sec. XIX compõem o cenário que trata da convergência das
séries numéricas e das séries de funções, como Lagrange, Laplace, Dirichlet, Fourier, Cauchy,
Bolzano e Weierstrass. A seguir trataremos desta questão.
Exemplos de somas infinitas surgem muito cedo, ainda no Ensino Fundamental, com o
estudo das dízimas periódicas. Por exemplo, a soma
0,1 + 0,01 + 0,001 + .... = 0,111... pode ser interpretada como a soma de uma progressão
geométrica (com infinitos termos)
1 1 1 1 1 1 1 1
2 3 ... de razão , cuja soma é 2 3 ... = (veremos mais tarde as
10 10 10 10 10 10 10 9
De forma análoga, chamando por exemplo 0,333... = x temos 3, 333... = 10x . Subtraindo-
se essas equações ficamos com 9x = 3, ou seja , x = 3/9 = 1/3 . Concluímos daí que
3 3 3 1
...
10 100 1000 3
Como pode ser visto no desenrolar da história das séries infinitas, encarar somas infinitas
nos mesmos moldes das somas finitas, usando as propriedades das operações, pode nos levar a
dificuldades e conclusões equivocadas. Vejamos os seguintes exemplos:
1. A série de Grandi
Considere a soma S = 1 1 + 1 1 + 1 1 + .....
2
O que acontece neste exemplo é que as operações que são válidas para somas finitas, como a
associatividade, por exemplo, não são válidas em geral para somas infinitas.
2. O paradoxo de Zenão
3. A série harmônica
1 1 1 1
A série harmônica é a série 1 .... ....
2 3 4 n
Os termos da série harmônica estão decrescendo e tendendo para zero. À primeira vista parece
que a soma tende a um número finito.
Hoje em dia, com o uso do computador, podemos fazer cálculos experimentais interessantes:
Vamos supor que levamos 1 segundo para somar cada termo.
Uma vez que o ano tem aproximadamente 31.557.600 segundos, neste período de tempo
seríamos capazes de somar a série até n = 31.557.600, obtendo para a soma um valor
pouco superior a 17.
Em 10 anos a soma chegaria perto de 20.
Em 100 anos, esta soma estaria a pouco mais de 22.
Tudo leva a pensar que esta soma tende a um valor finito. No entanto, isto é falso! Esta série tem
soma infinita. Vimos acima, na apresentação histórica, o argumento de Oresme.
Uma série infinita é uma expressão que pode ser escrita na forma
a n a 1 a 2 a 3 .....
n 1
onde os números a1, a2, a3, .... são chamados de termos da série e an de termo
geral da série
1 1 1
Voltemos à nossa dízima 0,111... = 0,1 + 0,01 + 0,001 +.... = 10 2 3 ...
10 10
Vamos considerar o valor da soma tomando um termo, dois termos, três termos, etc. Cada soma
dessa é chamada de soma parcial e é termo de uma seqüência
1
s1 0,1
10
1 1 1 1
s 2 0,1 0,01
10 100 10 10 2
1 1 1 1 1 1
s3 0,1 0,01 0,001
2
10 100 1000 10 10 10 3
1 1 1 1 1 1 1 1
s4 0,1 0,01 0,001 0,0001
2 3
10 100 1000 10000 10 10 10 10 4
..........................................
A seqüência dos números s1, s2, s3, s4,....pode ser interpretada como uma seqüência de
aproximações do valor de 1/9.
À medida que tomamos mais termos da série infinita a aproximação fica melhor o que nos
sugere que a soma desejada deve ser o limite dessa seqüência de aproximações. Para comprovar
este fato vamos calcular o limite dessa seqüência, quando o número n de termos tomados tende
a um número cada vez maior, isto é, n .
1 1 1 1
Temos que sn 2 3 ... n (I )
10 10 10 10
Vamos dar uma outra expressão para sn de modo a facilitar o cálculo do limite
1 1 1 1 1 1 1
Multiplicando sn por obtemos s n 2 3 4 ... n n 1 (II )
10 10 10 10 10 10 10
Subtraindo agora ( I ) ( II )
1 1 1 1 1 9 1 1 1 1
sn sn n 1 1 n s n 1 n s n 1 n
10 10 10 10 10 10 10 10 9 10
1 1 1
Calculando agora lim s n lim 1 n que é o valor já esperado para a soma.
n n 9 10 9
4
No processo que fizemos no exemplo anterior, construímos uma seqüência de somas finitas e
1
o limite dessa seqüência correspondeu ao valor da soma, uma vez que 0,11111 ...
9
O exemplo acima motiva a definição mais geral do conceito de soma de uma série infinita.
Consideremos a série a n a 1 a 2 a 3 ..... e vamos formar uma seqüência s n de somas
n 1
da seguinte maneira:
s1 = a 1
s2 = a 1 + a 2
s3 = a 1 + a 2 + a 3
...........................
n
sn = a1 + a2 + a3 +...+an = sn-1 + an = ak
k 1
A seqüência s n é chamada de seqüência das somas parciais da série e sn é chamado de n-
ésima soma parcial .
Quando n cresce, as somas parciais incluem mais e mais termos da série. Logo, se quando
n + a soma sn tender a um valor finito, podemos tomar este limite como sendo a soma de
TODOS os termos da série . Mais formalmente, temos:
Seja
1
an
uma série dada e s n a sua seqüência de somas parciais.Se
lim s n S; S ( isto é, existe e é finito) dizemos que a série an
n 1
Observações:
1) Os símbolos a1 + a2 + a3 +...+ an +
.= a n a n a n tanto são usados para
n 1 1
indicar uma série como a sua soma que é um número. Rigorosamente o símbolo a n
1
só deveria indicar a série no caso dela convergir.
2) O índice da soma de uma série infinita pode começar com n = 0, no lugar de n = 1. Neste
caso consideramos a0 como o primeiro termo da série e so = ao a primeira soma parcial.
Exemplos:
1 1
1) A série tem termo geral a n e seqüência das somas parciais é
1 n n
5
s1 1
1
s2 1
2
1 1
s3 1
2 3
.....
1 1 1
s n 1 ...
2 3 n
1
b) s1
2
1 1 2
s2
2 6 3
1 1 1 2 1 3
s3
2 6 12 3 12 4
1 1 1 1 3 1 4
s4
2 6 12 20 4 20 5
n
Tudo leva a crer que s n
n 1
1 1 1
De fato: a n
n(n 1) n n 1
1
a1 1
2
1 1
a2
2 3
1 1
a3
3 4
.................
6
1 1
an
n n 1
1 n
s n a 1 a 2 .... a n 1
n 1 n 1
n
c) Para analisarmos a convergência calculamos lim s n lim 1
n n n 1
1
Logo, a soma da série é 1
1 n(n 1)
1 1 1 1 1
Podemos também mostrar que a série 11 ... ... e
0 n! 2 3! 4! n!
s0= 1
s1 = 1 + 1 = 2
1
s2 1 1 2 0,5 2,5
2!
1 1 1
s3 1 1 2,5 2,5 0,166666666 2,666666667
2! 3! 6
1 1 1 1
s4 1 1 2,666666667... 2,708333334...
2! 3! 4! 24
1 1 1 1 1
s5 1 1 2,708333334... 2,716666667...
2! 3! 4! 5! 120
1 1 1 1 1 1
s6 1 1 2,716666667... 2,718055556...
2! 3! 4! 5! 6! 720
1 1 1 1 1 1 1
s7 1 1 2,718055556... 2,718255969...
2! 3! 4! 5! 6! 7! 5040
1 1 1 1 1 1 1 1
s8 1 1 2,718255969... 2,718278771...
2! 3! 4! 5! 6! 7! 8! 40320
1 1 1 1 1 1 1 1 1
s9 1 1 2,718278771 ... 2,718281527...
2! 3! 4! 5! 6! 7! 8! 9! 362880
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
s10 1 1 2,718281527... 2,718281803...
2! 3! 4! 5! 6! 7! 8! 9! 10! 3628800
Observemos que desde a soma parcial s7 já temos precisão até a 4a casa decimal !!
7
A Série Geométrica
O nosso primeiro exemplo de série infinita 0,1 + 0,01 + 0,001 + .... é um caso particular de
uma série especial, chamada série geométrica.
n 1
Uma série do tipo a.r a ar ar 2 ar 3 ... ar n -1 .... onde a 0 é chamada
1
de série geométrica e o número r é chamado de razão da série.
Exemplos:
1 1 1 1 1
1) 0,1 + 0,01+ 0,001 + 0,0001 + ... = ... é uma série
10 10 2 3 4 n
10 10 1 10
geométrica de razão r = 1/10 e a = 1.
n
2) 3 3.2 + 3.22 3.23 + 3.24 ..... = 3.(2) é uma série geométrica de razão r = 2 e
0
a=3
O resultado seguinte nos diz quando a série geométrica é convergente e quando é divergente
n 1
A série geométrica a.r a0er R
1
a
Converge para S se r 1
1 r
Diverge, se r 1
Demonstração:
1) r 1
i) r = 1
Se r = 1 a série fica a a a a a .... e portanto a n-ésima soma parcial é sn = (n+1)a e
1
lim s n ( o sinal depende de a ) e a série diverge.
portanto n
ii) r = 1
n 1
Se r = 1 a série fica a(1) a a a a a a ..... .
1
A seqüência das somas parciais nesse caso fica a, 0, a, 0, a, 0,..... e portanto a série diverge pois
o limite de sn não existe.
2) r 1
s n a ar ar 2 ar 3 ... ar n 1 ( I )
rs n ar ar 2 ar 3 ... ar n 1 ar n ( II )
a(1 r n )
Subtraindo ( II ) de ( I ): s n rs n a ar n . Logo, s n . Calculando o limite obtemos:
1 r
n a
a(1 r ) ; se r 1
lim s n lim 1 r
n n 1 r
; se r 1
n 1 1
n
1
n-1
1
n-3
(-1) n (-1) n 1
1) 2 2) 3. 3) 3. 4) 3. 5) 6)
1 0 2 1 2 31 2 0 2n 2 3n
Teste da divergência
Se lim a n 0 então a n é divergente
n 1
lim a n 0 então a n pode convergir ou divergir
Se n 1
Observações:
i) A série a n b n converge a S R.
1
3 3n 5n n 1 4
1) n(n 1) ; 2) ; 3) 2 n ; 4) n 1 ;
1 0 15 n 1 2 3 5
Referências Bibliográficas:
1. O Cálculo com Geometria Analítica, vol II Louis Leithold
2. Cálculo Um Novo Horizonte, vol II Howard Anton
3. Cálculo vol II James Stewart
4. História da Matemática Carl Boyer
10
Em geral é difícil decidir através do estudo das seqüências das somas parciais se uma
série é convergente ou divergente, principalmente porque nem sempre é possível estabelecer uma
expressão geral para sn.
Vimos, até então, o caso da série geométrica, que sabemos através da sua razão se
converge ou não e, no caso de convergir, qual é a sua soma. Calculamos também a soma de
algumas séries em que a expressão de sn foi obtida com certa facilidade.
Vamos estudar alguns testes ou critérios que nos permitem decidir sobre a convergência
de uma série, mesmo que no caso da série ser convergente não possamos dizer o valor da sua
soma. Neste caso, podemos aproximar a soma por uma soma parcial com termos suficientes
para atingir o grau de precisão desejado.
1
I) A p- série p
1 n
1
A p-série (p>0)
1 np
converge se p > 1
diverge se 0 < p 1
Observações:
1
1) A p-série p é também chamada de série hiper-harmônica
1 n
1
2) A série harmônica é um caso particular de uma p-série ( p = 1 ) e como já
1 n
tínhamos colocado, diverge.
3) O resultado acima pode ser demonstrado através de um critério chamado de
Critério da Integral
Exemplos
1
1) diverge ( p = 1 )
1 n
1
2) A série converge ( p = 2 )
1 n2
11
1
3) A série diverge ( p = ½ )
1 n
Observações:
Exemplo: Analise o comportamento das seguintes séries usando o teste da comparação simples
1
1)
2 n 1
1 1 1 1
Solução: n n 1 . Uma vez que diverge temos que
n n 1 1 n 2 n 1
também diverge
sen(n)
2)
1 n2
sen n 1 1
Solução: sen n 1 . Uma vez que a série converge temos que
n2 n2 1 n2
sen(n)
também converge.
1 n2
Uma série alternada é uma série que se apresenta numa das formas
n 1
( 1) a n a 1 a 2 a 3 a 4 ... an > 0; n ou
1
n
( 1) a n a1 a 2 a 3 a 4 ... an > 0; n
1
12
Exemplos:
( 1) n 1 1 1 1
1) 1 ...
1 n 2 3 4
n
(1) 1 1 1
2) n ...
1 2 2 4 8
O resultado a seguir nos dá um teste para analisar a convergência das séries alternadas
Teste de Leibniz
n 1
Se a série alternada (1) a n a 1 a 2 a 3 a 4 ... (an > 0 ; n ) é tal que
1
lim a n 0
i) n
ii) a n 1 a n n ( a seqüência é decrescente )
( 1) n 1
1) ;
1 n
1 1
Solução: i) lim 0 ii) A seqüência é decrescente.
n n n
A série portanto converge. Observemos que esta série é a série harmônica ( que diverge )
alternada
1 1 1
Se considerarmos, por exemplo, a soma s 4 1 = 0,58333.. o erro cometido é menor
2 3 4
que a5 = 1/5 = 0,2
De fato, veremos mais tarde que esta série tem por soma ln2. Se calcularmos ln2 = 0,69314718...
e tomarmos a diferença 0,69314718... 0,58333.... = 0,1098... que é menor que 0,2
Esta série não é uma boa série para aproximar ln2 pois a convergência é muito lenta. Só obtemos
uma boa aproximação tomando um número muito grande de termos.
13
n π
2) ( 1) sen
2 n
π π
i) lim sen 0 ; ii) Para mostrar que a seqüênciasen é decrescente, consideramos a
n n n
π π κ
função f(x) sen e calculamos a sua derivada. f (x) 2 cos x < 0 o que garante que a
x x
π π
função é decrescente para x > 2.. ( De fato: x 2 0 . O arco está no 1o quadrante e o
x 2
cosseno é positivo )
Para enunciar os testes da Razão e da Raiz vamos introduzir o conceito de séries absolutamente
convergentes
Exemplos:
( 1) n 1
1) A série é condicionalmente convergente
1 n
( 1) n 1
2) A série é absolutamente convergente
1 n2
n π
3) A série (1) sen é condicionalmente convergente
1 n
14
senn
4) A série é absolutamente convergente
1 n2
sen n
Exemplo: Pelo resultado anterior podemos concluir que a série que não é de termos
1 n2
positivos nem alternada é convergente.
Observações:
1) Temos que u n u n converge. A recíproca não é verdadeira. u n convergir
1 1 1
n 1
( 1)
não implica que u n também converge. Exemplo:
1 1 n
2) Se u n diverge nada podemos afirmar sobre u n . Pode convergir ou divergir.
1 1
3) Se u n diverge podemos garantir que u n diverge pois, caso contrário, u n
1 1 1
seria convergente.
u n 1
Seja a série u n e considere o limite nlim k
1 un
Observações:
1) Os Testes da Razão e da Raiz são gerais podendo ser aplicados em qualquer série.
Garantem a convergência absoluta ( k < 1 ) ou a divergência da série u n ( k >1 ).
1
2) Tanto no Teste da Razão quanto no Teste da Raiz podemos concluir a divergência se os
respectivos limites forem +
Exemplo: Use os Testes da Razão ou a Raiz para analisar a convergência das seguintes séries:
2n
1)
1 n!
Em geral quando a expressão do termo geral da série envolve fatorial o critério mais indicado é o
da razão
2n u 2 n 1 n! 2n! 2 u n 1 2
un n 1 lim lim 0.
n! un (n 1)! 2 n (n 1)n! n 1 n u n n n 1
Concluímos então que a série é convergente
2n
2n 1
2)
1 n
2n
Vamos usar o teste da raiz: lim 2n 1 2n 1
n u
n lim n lim 2 . Portanto, a série
n n n n n
diverge.