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MANUAL Ano letivo: 2019/2020

CURSOS TÉCNICO PROFISSIONAL de VENDAS

Economia

Módulo IV

Moeda e Financiamento da
Atividade Económica

Professora : Raquel Peixoto


MANUAL Ano letivo: 2019/2020

OBJECTIVOS:
- Caracterizar os diferentes tipos de moeda. -Explicitar as funções da moeda.- Relacionar as
novas formas de pagamento com a evolução tecnológica.- Explicitar fatores que influenciam
a formação dos preços (custo de produção, mecanismo de mercado).
- Relacionar Índice de Preços no Consumidor (IPC) e taxa de inflação.- Distinguir formas de
cálculo da inflação.- Explicar consequências da inflação.- Integrar a variável tempo nas
decisões sobre utilização dos rendimentos.
- Referir os destinos da poupança. - Explicar as funções do investimento na atividade
económica.
- Distinguir os diversos tipos de investimento.- Justificar a importância económica do
investimento em I&D na atividade económica.
- Distinguir financiamento interno (autofinanciamento) de financiamento externo.- Distinguir
as diferentes formas de financiamento externo.- Relacionar o crédito bancário com o
financiamento externo indireto.
- Reconhecer o mercado de títulos como uma fonte de financiamento externo direto.
Conteúdos
1. Moeda
1.1. Evolução: da troca direta à troca indireta
1.2. Tipos (moeda-mercadoria, moeda metálica, moeda-papel, papel-moeda e moeda
escritural)
1.3. Funções (meio de pagamento, medida de valor e reserva de valor)
1.4. As novas formas de pagamento – desmaterialização da moeda
2. Preço
2.1 Noção ;2.2. Fatores que influenciam a sua formação
3. Inflação
3.1. Noção ;3.2. Formas de cálculo (homóloga e média)
3.3. Consequências da inflação no valor da moeda e no poder de compra
4. Poupança
4.1. Noção ; 4.2. Destinos (entesouramento, depósitos e investimento)
5. Investimento:
5.1. Noção
5.2. Funções (substituição, inovação e aumento da capacidade produtiva)
5.3. Tipos (material, imaterial e financeiro)
5.4. Importância do investimento em inovação tecnológica e I&D na atividade económica
6.O financiamento da atividade económica
6.1. Formas: autofinanciamento (capacidade de financiamento) e financiamento externo
(necessidade de financiamento).
6.2. Financiamento externo – direto e indireto

BIBLIOGRAFIA:

- Manuais de Economia do 10º 11ºe ano de diversas editoras


Ano letivo:
Módulo IV – Moeda e Financiamento da Atividade Económica
2019/2020

1. Moeda

1.1. Evolução: da troca direta à troca indireta


Diariamente nos confrontamos com os preços dos mais variados bens e serviços, nomeadamente
aqueles referentes aos produtos que pretendemos adquirir. Daí que a necessidade de moeda respeite ao
nosso quotidiano: é o dinheiro que necessitamos para comprar uma coca-cola ou uma sanduíche,
para adquirirmos senhas de autocarro, para termos uma camisola nova, para irmos ao cinema ou
a um espetáculo de rock, etc.
Na realidade é que o dinheiro nem sempre existiu e a moeda, como atualmente a conhecemos, é
o resultado de um longo percurso. A sua existência, aliás, pressupõe que:
- o nível de desenvolvimento económico permita a obtenção de excedentes económicos (isto é,
que a produção exceda as necessidades de consumo), que possam ser objeto da troca;
- se tenha evoluído de um sistema de troca direta para um sistema de troca indireta.

Como apareceu, então, a moeda?

Nas primeiras sociedades humanas não havia dinheiro nem necessidade dele, pois a troca não
existia. A produção destinava-se à satisfação das necessidades das próprias comunidades e só
ocasionalmente, quando estas se encontravam, poderia haver troca de alguns produtos excedentários.
O desenvolvimento da atividade económica permitiu a obtenção regular de excedentes, ou seja, de
uma quantidade de produtos superior às necessidades de consumo, o que, por sua vez, viabilizou a
divisão do trabalho. Cada comunidade passa a produzir mais do que o necessário, trocando o excedente
pelos bens de que necessita e que outros produzem. Progressivamente, cada comunidade passa a
especializar-se em determinados produtos, aumentando, deste modo, a produção, o que desenvolve as
condições para o incremento da divisão do trabalho e, consequentemente, das trocas.

Moeda: Bem intermediário nas trocas, aceite por todos os indivíduos, sendo utilizada- para medir
o valor de outros bens e serviços.
A troca identifica-se com a forma de circulação de bens e serviços que pressupõe um acordo de
vontades recíprocas, onde existe uma transmissão entre as partes, uma avaliação e uma negociação.
Troca direta: Troca de produtos por produtos.

Não havendo ainda moeda, praticava-se a simples troca de produtos por produtos, sem
equivalência de valor - está-se perante a chamada troca direta, onde se trocam parte dos bens que se

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produzem por outros que não se produzem. Note-se, no entanto, que, produzindo-se apenas parte do que
se necessita, torna-se indispensável encontrar alguém que deseje o que se produz e que ofereça aquilo de
que se precisa.
Assim, por exemplo, aquando da primeira divisão do trabalho - agricultura e pastorícia -, os
agricultores e os pastores trocavam entre si a parte da produção que excedia as suas necessidades de
consumo:

Milho

Agricultores Pastores

Carne de carneiro

A concretização da troca direta torna, porém, necessário que se verifique:


- dupla coincidência de vontades: quem tem um produto para trocar, precisa de encontrar alguém
que deseje esse produto e que possua o produto pretendido;
- acordo sobre os termos de troca (no exemplo acima, entre a quantidade de trigo e de carne de
carneiro).
A dupla coincidência de vontades, aliada ao facto da inexistência de uma medida comum de valor,
constituem as principais limitações do sistema de troca direta: com efeito, se cada pessoa tem
dificuldade em encontrar outra interessada na troca de determinados produtos, também a circunstância
de cada produto, por vezes não fracionável, ter tantos "preços" quantos os bens pelos quais pode ser
trocado só dificulta a troca direta, quando não a inviabiliza.
O progressivo desenvolvimento da atividade económica vem possibilitar uma crescente
especialização e um maior excedente económico, o que permite a libertação de mais gente para outras
tarefas, aumentando o leque de produtos disponíveis para troca. Daí que o sistema de troca direta
dificulte, cada vez mais, o estabelecimento das relações de troca, constituindo um entrave à própria
expansão das comunidades.
Os obstáculos colocados à troca direta acabaram por ser ultrapassados quando passou a ser
utilizado como intermediário nas trocas um bem de referência, aceite por todos os intervenientes.
Quando tal ocorreu, evoluiu-se para um sistema de troca indireta.

Troca indireta: Troca de produtos realizada por intermédio de um terceiro bem por todos aceite.

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Agora, o ato da troca é dividido em duas fases distintas:


- numa primeira, o produtor troca o resultado da sua atividade pelo bem de referência;
- numa segunda, troca o bem de referência pelo produto que pretende adquirir.

No entanto, para que um bem seja considerado de referência, servindo como intermediário geral
nas trocas, deve obedecer a determinadas características, a saber:
- ser aceite por todos os agentes que participam na troca;
- ser unidade de referência comum, em função do qual se define o valor de cada um dos outros
bens;
- possuir valor intrínseco, ou seja, possuir valor por si próprio, o que significa que tem valor
mesmo que não seja utilizado como moeda;
- ser facilmente transmissível e transportável.

Com o aparecimento de um tal bem, surge a moeda, isto é, um bem de aceitação generalizada que
é usado como intermediário geral nas trocas.
A introdução da moeda no ato da troca permitiu o incremento da atividade comercial e da
atividade produtiva, bem como do consumo.

1.2.Tipos (moeda-mercadoria, moeda metálica, moeda-papel, papel-moeda e


moeda escritural)
Moeda-mercadoria
As sociedades primitivas adotavam como moeda os bens relacionados com a sua atividade
principal. Assim, por exemplo, os pescadores utilizavam o sal e as conchas, os agricultores os cereais e
os pastores o gado - era a moeda-mercadoria.

Moeda-mercadoria: Moeda com valor intrínseco, ou seja, tem valor mesmo que não seja usada
como moeda.

Trata-se de mercadorias suficientemente escassas e, por isso, valiosas e que são utilizadas para
satisfazer necessidades comuns, o que determina a sua aceitação por todos os membros da sociedade.

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A título de curiosidade, citam-se alguns exemplos de versões primitivas de moeda, que foram
utilizadas antes da introdução dos metais:
- os animais, principalmente o gado bovino, com lugar destacado em todo o mundo antigo;
- as conchas, talvez as mais difundidas, e, em especial, os cauris, uma espécie de búzios, que se
transformaram em verdadeira moeda internacional;
- o sal, que circulava em diversos países, entre eles a Libéria e a Etiópia;
- as peles, cuja utilização se verificou essencialmente na América e na Sibéria;
- as pérolas, que tinham em África a sua maior circulação.
Todavia, progressivamente estas mercadorias tornaram-se desajustadas ao desenvolvimento das
transações comerciais, apresentando, entre outros, os seguintes inconvenientes:
- dificuldade de preservação;
- impedimento de fracionamento;
- oscilações do seu valor;
- falta de moeda, dado tratar-se de mercadorias que podiam ser usadas
para fins não monetários (consumo);

Moeda metálica
A descoberta dos metais permitiu que muitas sociedades passassem a utilizá-los como bem de
referência.

Moeda metálica: Moeda-mercadoria em metal.

Metais como o cobre, o bronze e o ferro e, mais tarde, os metais preciosos, como a prata e o
ouro, passam a ser preferidos como moeda, a princípio no seu estado natural, depois sob a forma de
barras e de objetos.
Para além disso, acresce o facto de o metal ser raro, divisível, de fácil transporte e com capacidade
de entesouramento.
Das mais variadas formas, a moeda metálica era inicialmente pesada, passando depois a ser
cunhada, ou seja, o peso e valor eram definidos e tinham a impressão do cunho oficial, isto é, a
marca de quem as emitiu que garantia o seu valor.

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Moeda cunhada: Moeda metálica em que é inscrito o seu valor facial.

De início, a cunhagem constituía um privilégio real ou senhorial, reclamando os governos, mais


tarde, o seu monopólio.
Estas moedas eram garantidas pelo seu valor intrínseco (valor comercial do metal utilizado), ou
seja, se numa moeda tinham sido utilizadas dez gramas de ouro, esta era trocada por bens de
idêntico valor.

Ao longo de muitos séculos, os países cunharam em ouro as moedas de maior valor, deixando a
prata e o cobre para valores menores. Só em finais do séc. XIX, com a utilização do cuproníquel (liga
de cobre e níquel) e, depois, outras ligas metálicas, é que a moeda passou a circular pelo seu valor
extrínseco, isto é, pelo valor cunhado na face, independentemente do metal nela contido.

Com o advento da moeda de papel, as moedas metálicas passaram a ser reservadas para pequenos
valores destinados ao troco - é a chamada moeda divisionária ou de trocos.

Moeda de papel
O desenvolvimento do comércio a longa distância conduziu a um acentuado aumento da
atividade comercial, o que obrigava ao transporte de grandes quantidades de moeda metálica
(ouro e prata), tarefa, sem dúvida, difícil e perigosa.
Para resolver o problema, os cambistas e os ourives passaram a aceitar depósitos em ouro e prata
ou em moedas nesses metais, guardando-os em segurança e emitindo, como garantia, os respetivos
certificados de depósito.Com o tempo, estes certificados passaram a ser usados como moeda. Neste
processo aparecem os certificados bancários - surge, assim, a moeda de papel.

A moeda de papel foi assumindo diferentes espécies em função do grau de vinculação à moeda
metálica.

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De início, começou por ser moeda representativa, pois, ao valor dos certificados em circulação,
equivalia o valor de ouro ou prata retido nos cofres dos bancos. Para além disso, o portador desses
certificados sabia que, a qualquer momento, poderia converter o papel em moeda metálica de ouro e de
prata - a moeda era convertível.
A preferência pela moeda de papel vai crescendo e os bancos constatam que não era pedida, a todo
o momento, nem simultaneamente, a convertibilidade da maioria das notas de papel em circulação.

No séc. XVIII, o Banco de Estocolmo emitiu, pela primeira vez, notas de banco cujo valor era
superior à quantidade de ouro retida nos seus cofres, com base na probabilidade de que os seus
possuidores não viriam reclamar, em simultâneo, a sua conversão - surgiram, assim, as primeiras
emissões de moeda de papel a descoberto.

Os restantes bancos seguiram idêntica política, passando a emitir-se moeda em valor superior ao
dos depósitos em metal nobre.
A moeda continua, no entanto, a ser convertível, tendo o público confiança na sua
convertibilidade - a moeda de papel tornou-se moeda fiduciária (do latim fidus, que significa fé).

Todavia, em alguns momentos, designadamente nos períodos de crise económica e/ou de falta de
confiança política, os bancos, perante a corrida, em simultâneo, à conversão da moeda fiduciária,
deixaram de ter capacidade de resposta. Face à situação, nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX,
muitos governos retiram a possibilidade de conversão do papel-moeda em ouro e prata. Foi decretada a
inconvertibilidade, passando, assim, a moeda fiduciária a ter curso forçado, ninguém a podendo
recusar como meio de pagamento, já que é obrigatoriamente aceite por força da lei - a moeda de papel
tornou-se papel-moeda.

Como se verifica, no regime de papel-moeda, a moeda que circula - por exemplo, o euro, a
libra e o dólar - não tem relação direta com qualquer valor de metal.

Moeda representativa: o valor dos certificados em circulação é igual ao valor dos depósitos
em ouro e prata; é convertível: a qualquer momento, os certificados são convertíveis em moeda
metálica de ouro e de prata.
Moeda fiduciária: o valor da moeda em circulação é superior ao valor dos depósitos em
moeda de ouro e de prata; convertível: a qualquer momento, pode trocar-se por moeda de ouro e
de prata.
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Papel-moeda: Moeda de papel inconvertível e de curso forçado.

Moeda escritural
No séc. XVIII, princípio do séc. XIX, muitos bancos passaram a permitir que os seus clientes
sacassem sobre os respetivos depósitos a fim de efetuarem pagamentos. Surge, assim, a moeda
escritural ou bancária, resultante da circulação dos depósitos à ordem, tendo o cheque como
instrumento principal para essa movimentação.
Mediante ordem do depositante (no início, essencialmente o cheque), os bancos comerciais
transferem os créditos de uma conta para outra, havendo em cada uma dessas operações um
movimento de escrituração nas respetivas contas correntes através de registos contabilísticos. Assim,
se, por exemplo, a fábrica Costa & Silva, Lda. que tem vindo a ser referida como produtora de fatos de
banho e bikinis da marca Belo, necessitar de pagar 20.000,00€ a um seu fornecedor, bastará que
ordene ao banco a transferência desse montante da sua conta de depósito à ordem (a qual será
debitada) para a conta desse fornecedor (que será creditada).
Com efeito, a muito rápida inovação tecnológica tem conduzido ao desenvolvimento de novos e
cada vez mais diversificados instrumentos de movimentação da moeda escritural.

Lembremo-nos, a propósito, do cartão Multibanco, da Via Verde ou da utilização do telemóvel


ou da Internet para efetuar pagamentos.
Se compras do supermercado pagar o que comprou com o cartão Multibanco, este não
funcionou como moeda, mas antes como um instrumento que movimenta a moeda escritural. Com
efeito, face a esta ordem de pagamento, o banco realiza um movimento de escrituração, debitando a
nossa conta e creditando a do supermercado.

No caso do cartão de crédito - Visa, etc. -, à empresa vendedora é-lhe creditado, de imediato, o
montante correspondente à transação, muito embora a conta do comprador só seja debitada
posteriormente, em data estabelecida com a instituição emitente dos cartões.
Cartão de crédito: Meio de adiar pagamentos para data e em condições acordadas com a entidade
que o emitiu.

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Neste sentido, não se confundam os cheques, as ordens de transferência, os cartões de débito


e de crédito, a "moeda eletrónica", etc. com moeda. Trata-se, antes, de meios ou instrumentos
destinados a movimentar a moeda escritural.

A título de curiosidade, vejamos o que se passa quando levantamos dinheiro na caixa Multibanco.
Em que se traduz essa ação? Trata-se, sem dúvida, de substituir moeda escritural por papel-moeda. O
banco procede ao registo contabilístico, debitando a nossa conta e entregando-nos moeda.

Resumo dos tipos de moeda


Moeda com valor intrínseco, definida a partir de mercadorias
Moeda-mercadoria
suficientemente escassas e que satisfazem necessidades comuns.
Moeda principal: o valor monetário ou facial é igual ao valor
Moeda metálica
metálico.
Moeda representativa:
-o valor dos certificados em circulação é igual ao valor dos metais
nobres depositados;
- a qualquer momento, os certificados são convertíveis em moeda
metálica.
Moeda de papel Moeda fiduciária:
- emissão de moeda de papel a descoberto;
- confiança por parte do público na sua convertibilidade.
Papel-moeda:
- emissão de moeda de papel a descoberto;
- curso forçado e inconvertibilidade.
Circulação dos depósitos à ordem através de cheques,
Moeda escritural ou
transferências bancárias, cartões de débito, cartões de crédito, meios
bancária
eletrónicos, etc.

Formas atuais de moeda


Moeda escritural ou Constituída pelos depósitos à ordem existentes nos bancos
bancária comerciais.
Moeda de curso Papel-moeda - conjunto das notas em circulação.
forçado Moeda divisionária ou de trocos - moeda metálica, de pequenos
(obrigatoriamente valores, destinada ao troco.
aceite por lei)

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1.3. Funções (meio de pagamento, medida de valor e reserva de valor)


A moeda surgiu para suprir as necessidades de comercialização para as populações de muitos
países. No entanto, a sua utilização é devida também a outros motivos, como é o da chamada "moeda de
coleção".
Por outro lado, não é a moeda o que as pessoas procuram, quando a desejam deter, mas sim as três
funções que lhe estão associadas.
Podemos, então, afirmar que quando os agentes económicos retêm moeda poderão estar a utilizar,
simultaneamente ou não, qualquer uma das suas três funções: meio de troca, unidade de conta e reserva
de valor.

1.4. As novas formas de pagamento – desmaterialização da moeda


Da moeda-mercadoria até aos nossos dias desenvolveu-se um longo processo de desmaterialização
da moeda, ou seja, a moeda foi perdendo o seu conteúdo material.

Com efeito, se relembrarmos o que estudámos sobre a evolução da moeda, constatamos que da
moeda-mercadoria - moeda com valor intrínseco e, por isso, desejada por si própria - se passou a
utilizar moeda de papel, a qual, sucessivamente, foi representativa, depois fiduciária e, finalmente,
papel-moeda.

Processo de desmaterialização da moeda: Processo progressivo ao longo do qual a moeda foi


perdendo o seu valor intrínseco desligando-se de um suporte material e tornando-se por fim intangível.

A muito rápida evolução tecnológica verificada ao longo do processo de desenvolvimento da


atividade económica é responsável por um crescente recurso à moeda escritural ou bancária, sendo cada
vez mais diversificados os instrumentos que viabilizam a sua utilização.
Recorde-se aqui o que ficou referido no Módulo 2 a propósito da distribuição sem loja e, mais
concretamente, da cibervenda. O pagamento de despesas e a compra de bens e serviços através de
meios eletrónicos transformou-se numa prática habitual.

Atualmente, grande parte das transações efetuadas no mesmo país ou entre países recorrem a
meios eletrónicos para movimentar a moeda escritural, o que representa mais um passo no processo de
desmaterialização da moeda.

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2. Preço

2.1 Noção
O preço de um bem ou de um serviço no mercado materializa-se na quantidade de moeda que é
necessário utilizar para o poder obter.
A moeda, ao expressar o valor de troca dos bens e serviços, é então identificada como o
equivalente geral das trocas.

Preço: quantidade de moeda que é necessário despender para se poder obter um determinado bem
ou serviço.

2.2. Fatores que influenciam a sua formação


São vários os fatores que influenciam a formação de preços de um bem, entre os quais se podem
destacar:
- custos de produção (podem ser fixos ou variáveis), que estão associados à produção do bem;
- objetivos da empresa através do reforço da sua imagem de marca para poder afirmar-se no
mercado;
- ramo de atividade a que a empresa se dedica, que pode ter uma taxa de lucro maior ou menor;
- concorrência a um nível mais ou menos competitivo;
- procura de outros bens (complementares ou substituíveis), que pode ser mais ou menos
intensa;
- estrutura do mercado, que pode ser com um número de compradores e de vendedores mais
alargado ou mais restrito;
- intervenção do Estado através quer da aplicação de impostos quer da atribuição de subsídios.

3. Inflação

3.1. Noção
Uma das funções da moeda é a de ser unidade de conta ou medida do valor, ou seja, o valor dos
bens, serviços e fatores produtivos mede-se através da moeda. Contudo, embora seja a unidade de
medida mais universal, a moeda é, dentre toda, a mais imperfeita. E porquê?

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Se nos recordarmos que o preço de um bem é o seu valor expresso em unidades monetárias, basta
pensarmos um pouco nas variações que sofrem os preços no dia-a-dia, para logo concluirmos que a
quantidade de moeda necessária à sua aquisição não é imutável, variando, pelo contrário,
continuamente.

Mas o que é a inflação?

Poderemos dizer que existe inflação porque os preços dos bens e serviços que estamos
habituados a consumir aumentam? Ou porque, num dado momento, um determinado montante de
dinheiro compra uma quantidade menor de bens e serviços?
A resposta a estas questões é, sem dúvida, negativa: o conceito de inflação não se refere,
especificamente, à subida dos preços dos bens e serviços que habitualmente compramos nem, tão
pouco, ao aumento pontual dos preços.
Pelo contrário, a inflação traduz um processo sustentado e generalizado de subida dos preços
médios dos bens e serviços.
Sustentado, na medida em que é contínuo; generalizado, porque abrange o conjunto de bens e
serviços existentes numa dada economia.
A subida do nível médio dos preços mede-se através da taxa de inflação, cujo significado
expressa, assim, o ritmo de crescimento daqueles.

INFLAÇÃO: Processo persistente e generalizado de subida dos preçosmédios dos bens e


serviços.
Taxa de inflação: Taxa de crescimento do nível médio dos preços.

Designa-se por inflação moderada uma situação correspondente a uma subida do nível médio
de preços sem distorção significativa dos preços ou dos rendimentos relativos; e inflação galopante
uma inflação com taxas anuais de 50%, 100% ou 200%.

No âmbito da terminologia relacionada com a inflação, é habitual distinguirem-se ainda quatro


outros conceitos:

- DEFLAÇÃO: processo sustentado e generalizado de descida dos preços médios dos bens e
serviços. Neste caso, a taxa de inflação é negativa.
- DESINFLAÇÃO: abrandamento da inflação, ou seja, verifica-se uma subida do nível médio
de preços, mas a ritmo cada vez menor.
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Note-se a diferença entre este fenómeno e a deflação: enquanto nesta última o nível médio dos
preços apresenta uma descida, na desinflação verifica-se uma subida só que a ritmo decrescente (a
taxa de inflação é, por exemplo, e sucessivamente, de 4%, 2,8%, 1,5%, etc., ou seja, positiva mas cada
vez menor).

Este processo, aliás, foi observado no nosso país durante os anos 90, em que foram adotadas
políticas tendentes à diminuição da taxa de inflação, de modo a reduzir o diferencial de inflação
relativamente aos nossos parceiros europeus, a fim de satisfazermos o critério de estabilidade dos
preços, necessário à adesão ao euro.

- HIPERINFLAÇÃO: situação caracterizada por taxas extremamente elevadas.


A título de exemplo, refira-se que o processo em causa ocorreu na Alemanha, Áustria, Hungria e
Polónia nos anos 20, tendo-se observado ainda episódios de hiperinflação em países da América Latina
(Brasil, Argentina e Bolívia, por exemplo) e da África (exemplo: Zaire, em 1994, com taxas mensais de
76%), bem como em Israel e em países europeus no período de transição para economias de mercado
(Rússia e outros países da Europa de Leste).

- ESTAGFLAÇÃO: trata-se de um conceito criado no princípio dos anos 70 para descrever o


fenómeno observado nos países industrializados ocidentais, nos anos 70 e 80 do séc. XX, na sequência
do primeiro (1973) e do segundo (1979), choques petrolíferos. A par da subida da taxa de inflação,
verifica-se uma diminuição ou estagnação do crescimento económico (taxa de crescimento real do PIB
negativa ou em tomo de zero), aumentando também o desemprego.
O fenómeno em causa define-se, pois, pela coexistência de inflação persistente e estagnação
económica acompanhada de desemprego. Aqui a taxa de inflação surge positiva e elevada.

3.2. Formas de cálculo (homóloga e média)


A medida da inflação
O cálculo das taxas de inflação não é determinado diretamente a partir dos preços, mas antes
com base em indicadores sintéticos, que DESIGNAMOS POR ÍNDICES DE PREÇOS. Estes
permitem medir a variação ocorrida, seja ela temporal seja espacial, no(s) preço(s) em comparação com
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os valores verificados numa dada situação de referência, que se escolhe como base do índice.
Concretamente para a inflação, o objetivo será o de medir a evolução temporal dos preços.

Os ÍNDICES DE PREÇOS podem ser - SIMPLES, se representam a evolução do preço de um


dado bem ou serviço, num determinado período de tempo.
Os preços dos bens e serviços não se mantêm inalteráveis ao longo dos anos, sofrem
aumentos ou diminuições. Para medir a evolução dos preços ao longo do tempo, é habitual utilizar-se o
índice de Preços no Consumidor (IPC).

O que são números índices. Os NÚMEROS ÍNDICES (OU SIMPLESMENTE


ÍNDICES)traduzem a evolução de uma qualquer variável ao longo do tempo, por exemplo, a evolução
dos preços nos últimos anos. Os números índices são sempre valores relativos.

Para calcular o NÚMERO ÍNDICE DE UMA VARIÁVEL, procedemos da seguinte forma:

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙 𝑛𝑜 𝑎𝑛𝑜 𝐴


NÚMERO ÍNDICE DE UMA VARIÁVEL = 𝑥100
Valor da variável no (ano − base)

O ANO-BASE é o ano de referência, ou de comparação, em geral o ano X - 1. No ano base,


índice é sempre igual a 100, pois, se o numerador e o denominador da fração forem iguais, o valor
obtido será 1 (ou 100).

O valor do índice encontrado poderá apresentar uma das seguintes situações:


- Igual a 100. Neste caso, não se verificou qualquer alteração no valor da variável em causa;
- maior do que 100. Neste caso, a variável aumentou;
- menor do que 100, o que significa que se verificou um decréscimo.

Se quisermos saber o ÍNDICE DE PREÇOS DA GASOLINA ENTRE 2011 E 2012, num


dado país, terão de proceder da seguinte forma:

Preço da gasolina em 2012 = 1,70 euros (Valor da variável no ano A)


Preço da gasolina em 2011 = 1,40 euros (Ano Base é ano n-1)

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'.
1,70
Índice = 𝑥100
1,40
Índice = 121,4

O valor do índice encontrado significa que o preço da gasolina era, em 2012, 121,4% do
preço da gasolina em 2011, ou seja, dito de outro modo, o preço da gasolina, nesse país, aumentou
21,4% entre 2011 e 2012.
Os índices de preços podem ser - AGREGADOS, se se referem à evolução dos preços de um
determinado conjunto de bens e serviços, num dado período de tempo.

O ÍNDICE DE PREÇOS NO CONSUMIDOR (IPC)constitui o indicador agregado mais


utilizado para medir a variação dos preços ao longo do tempo. No nosso país, o IPC é calculado pelo
INE com base nos preços médios dos bens e serviços considerados representativos da estrutura de
consumo da população residente em Portugal. Calcula-se o preço do cabaz num determinado ano
considerado como base e compara-se com o preço desse mesmo cabaz no(s) período(s) em análise,
determinando-se o valor do índice no(s) respetivo(s) período(s).

Para medir a evolução dos preços numa economia, num determinado período de tempo, utiliza-se
o índice de Preços no Consumidor -IPC, que constitui uma das medidas da inflação.
O preço dos bens não varia na mesma percentagem. Se todos os preços aumentassem, ou
baixassem, na mesma percentagem, seria muito simples calcular o índice de preços. Por exemplo,
se os preços duplicassem, o índice passaria de 100 para 200. Como, de facto, não é esta a situação que
ocorre, então é necessário calcular a variação média dos preços.
A esta questão acresce ainda a variação regional dos preços ou a variação de acordo com os pontos de
venda, grandes superfícies, mercados tradicionais, etc.
Assim, é necessário definir um conjunto de procedimentos para calcular o IPC, tal como se
apresenta a seguir.

1- Através de inquéritos realizados junto de uma amostra significativa de famílias das várias
regiões do país, determinam-se as quantidades de cada bem que cada família consome durante um ano e
o respetivo peso que ocupam nas despesas familiares, constituindo-se assim um «cabaz de bens e
serviços»;

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2- Calcula-se o preço desse «cabaz» para um determinado ano considerado como base
(ano-base);
3- Calcula-se o preço do mesmo «cabaz» para o ano que se pretende considerar, ano corrente;
4- Relaciona-se o preço dos dois «cabazes» obtidos.

Por hipótese, considere que o preço do cabaz em 2012 era de 750 euros e que em 2013 era de 1000
euros. Então, procederíamos da seguinte forma:

1 000
IPC 2013 = 𝑥100
750
IPC 2013 = 133,3

O que traduz o resultado obtido?


Que:
 o que se comprava em 2012 por 1 euro comprava-se em 2013 por 1,33 euros;
 o preço do cabaz em 2013 foi 133,3% do cabaz de 2012;
 os preços aumentaram 33,3% entre 2012 e 2013.

A partir do IPC, podemos conhecer o valor da taxa de inflação. A taxa de inflação é um valor
percentual, sendo no exemplo anterior de 33,3%.
Partindo ainda do exemplo anterior, para determinar o valor da taxa de inflação, deveremos
proceder da seguinte forma:

133,3
Taxa de inflação = ( − 1)𝑥100
100

Taxa de inflação = 33,3%

Devemos realçar que o IPC não mede o nível geral de preços num determinado período de tempo,
mas a variação do nível de preços nesse período, ou seja, entre o ano corrente e o ano base.
A taxa de inflação, ou seja, a taxa de variação do IPC, mede a velocidade com que esse nível de
preços se altera, apresentando o valor sob a forma percentual.

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De facto de a taxa de variação do IPC diminuir de um período para outro não significa uma baixa
de preços, ou seja, deflação, mas que se verificou uma desaceleração do ritmo de crescimento dos
preços, ou seja, verificou-se uma desinflação.

A desinflação traduz-se numa desaceleração do ritmo de crescimento dos preços. Situação em que
se continua a verificar inflação, embora a taxas de variação menores do que as verificadas no período
anterior.

TAXA DE INFLAÇÃO HOMÓLOGA E MÉDIA

A TAXA DE INFLAÇÃO MENSAL (tim) compara o valor da inflação entre dois meses
consecutivos
índice de mês n
𝒕𝒊𝒎 = ( − 1) × 100
índice de mês (n − 1)

A TAXA DE INFLAÇÃO HOMÓLOGA (tih) compara o valor da inflação de um


determinado mês com o mesmo mês do ano anterior.

í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑚ê𝑠 𝑛 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑜 𝑛


𝒕𝒊𝒉 = ( − 1) × 100
í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑚ê𝑠 𝑛 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑜(𝑛 − 1)

A TAXA DE INFLAÇÃO MÉDIA DOS ÚLTIMOS 12 MESES (tim 12) é a média simples das
últimas doze taxas comparada com a média das doze homólogas. Esta taxa pode ser calculada a
partir de qualquer mês do ano, não tendo os doze meses de corresponder ao ano civil. Se, por exemplo,
fizermos o cálculo em meados de Abril de 2008, devemos somar todos os IPC desde Abril de 2007 até
Março de 2008 e dividi-los pela soma de todos os IPC homólogos, isto é, de Abril de 2006 até Março de
2007.

í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒𝑠 𝑑𝑜𝑠 ú𝑙𝑡𝑖𝑚𝑜𝑠, 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 𝑎𝑡é 𝑎𝑜 𝑚ê𝑠 𝑛 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑜 𝑁


tim 12 = ( − 1)𝑥100
𝑆𝑜𝑚𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒𝑠 𝑑𝑜𝑠 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟𝑒𝑠, 𝑎𝑡é 𝑎𝑜 𝑚ê𝑠 𝑛 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑜 (𝑁 − 1)

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Índice Harmonizado de Preços no Consumidor


Para melhor se comparar a evolução dos preços nos diferentes países da União Europeia, e assim
se poder verificar o cumprimento do critério de convergência nominal relativo à estabilidade dos preços,
tem-se vindo a uniformizar a fórmula de cálculo do IPC, de forma a torná-lo uma base comparável.
Designa-se este índice por IHPC, índice Harmonizado de Preços no Consumidor.

Taxa de variação média anual, taxa de variação homóloga e taxa de variação mensal
De acordo com a análise que se pretende realizar, pode ainda determinar-se:

o .a taxa de variação média anual, que compara o índice médio dos últimos doze meses com o
dos doze meses imediatamente anteriores;
o .a taxa de variação homóloga, que compara o índice médio do mês corrente com o do mesmo
mês do ano anterior;
o .a taxa de variação mensal, que compara índices entre dois meses consecutivos.

O INE apresenta ainda o indicador índice de inflação subjacente, que exclui o preço dos produtos
alimentares não transformados e dos produtos energéticos. Desta forma, pretende eliminar-se algumas
das componentes que são mais expostas a oscilações temporárias dos preços.

3.3. Causas da inflação no valor da moeda e no poder de compra


Causas da Inflação:
o EXCESSO DE MOEDA EM CIRCULAÇÃO– quando a quantidade de moeda em circulação
aumenta sem o correspondente aumento da produção de bens e serviços, os preços têm tendência a subir
em virtude do aumento da procura.
o AUMENTO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO – provocado quer pelo aumento dos salários sem
o correspondente aumento da produtividade dos mesmos quer pelo aumento dos preços das matérias-
primas essenciais ao processo produtivo, acaba por se estender à generalidade dos bens e serviços (é o
caso do aumento dos preços do petróleo).
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o EXPECTATIVAS DOS AGENTES ECONÓMICOS – a criação de um clima inflacionista


contribui, frequentemente, para o agravamento do próprio processo inflacionário porque leva os agentes
económicos a tentarem antecipar os aumentos de preços, antecipando consumos (no caso dos
consumidores) ou açambarcando produtos, à espera que o se preço aumente (no caso dos produtores).

Consequências da inflação no valor da moeda e no poder de compra


Repercussões da inflação no valor da moeda
Quando a economia sofre um processo inflacionário, o valor da moeda sente efeitos quase
imediatos que têm repercussão no funcionamento geral da vida económica. As principais consequências
são as seguintes:

- DEPRECIAÇÃO DO VALOR DE MOEDA- que se traduz numa situação onde a moeda


vale menos. O aumento dos preços faz com que o consumidor compre, com a mesma quantidade
de moeda, cada vez menos produtos;

- DETERIORAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DOS CIDADÃOS - isto porque o salário


real cai face ao salário nominal. A acrescentar a esta situação, em geral, a qualidade de
vidatorna-se inferior, nomeadamente para as pessoas cujo rendimento é fixo (como é o caso dos
pensionistas), que veem o seu rendimento desvalorizar progressivamente;

- ENTESOURAMENTO DE OURO, JOIAS OU DE DIVISAS ESTRANGEIRAS - uma vez


que este tipo de bens não se desvaloriza em consequência da quebra de confiança na moeda
desvalorizada;

- AGRAVAMENTO DO PRÓPRIO PROCESSO INFLACIONÁRIO - com o receio de um


contínuo aumento dos preços pode surgir um acréscimo da procura, sem que este seja
acompanhado por uma maior produção;

- REDUÇÃO DO INVESTIMENTO - porque os empresários tendem a retrair as decisões de


investimento, visto que se torna difícil prever os custos, o que lhes cria insegurança e
desequilíbrio.

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Surgimento de indexação
Sistema de preço em função de bens e serviços com valores elevados, no intuito de não permitir
que surja algum com valor desfasado. Este processo ocorre para aumentar o valor dos bens e serviços no
futuro, por causa de aumentos do passado, com o objetivo de garantir o poder aquisitivo e o valor da
moeda.

Repercussões da inflação no poder de compra


Já vimos que a inflação consiste num processo contínuo e generalizado de aumento dos preços em
vigor dos bens e serviços numa dada economia ao longo de um dado período (geralmente um ano).
A inflação, ao incidir sobre a generalidade dos preços e salários duma economia, repercute-se em
tudo, pelo que é muito importante o seu controlo, uma vez que este fenómeno económico pode gerar
uma crise económica.
A inflação tem repercussões essencialmente ao nível do poder de compra e dos salários dos
consumidores (a diminuição do poder de compra leva à diminuição da procura e está, por sua vez,
origina diminuição das vendas).
A diminuição do poder de compra também pode ser provoca da pelo aumento da inflação, que
leva ao aumento de custos de produção, originando, por sua vez, a diminuição dos lucros, dos salários e
consequente diminuição do poder de compra.
Por outro lado, o aumento dos custos de produção motivado pela inflação reduz as vendas das
empresas, fazendo diminuir as suas margens de lucro, o que provoca diminuição dos salários e
diminuição do poder de compra.
A inflação é relevante na economia, pois pode originar um ciclo vicioso de pobreza, o que pode
ser grave e provocar uma crise de contornos imprevisíveis.

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4. Poupança
4.1. Noção
Já vimos no Módulo 2 que existe uma relação entre rendimento, consumo e poupança.
Para que as pessoas possam realizar consumo e ou poupança têm de receber rendimentos.
Numa situação em que uma família aufere um rendimento, por exemplo, de 3.000,00€ mensais, isso irá
permitir-lhe não só consumir e poupar, mas também pagar impostos ao Estado sobre o rendimento que
recebe e ainda contribuições sociais. É óbvio que também receberá por parte do Estado abonos e
pensões (Transferências Internas) e por parte dos particulares, remessas de emigrantes (Transferências
Externas).

RENDIMENTO DISPONÍVEL DOS PARTICULARES= Rendimento do trabalho +


Rendimento do capital + Transferências internas e externas - Impostos diretos - Contribuições
sociais

Ora, a poupança constitui precisamente a parte do rendimento disponível que não é


consumida, por outras palavras, é igual ao rendimento disponível menos o consumo. Ou seja, trata-
se de deixar de realizar o ato do consumo "hoje", diferindo-o para o "amanhã".

POUPANÇA: Parte do rendimento disponível que não é gasta em consumo.

E por que se poupa? Quais os objetivos que se pretendem atingir?

Dentre as várias razões existentes, é, desde logo, de salientar a respeitante a motivos de precaução
contra eventuais riscos futuros (problemas de saúde, perda de emprego, ou outros); mas poupa-se,
também quando se pretende satisfazer objetivos de longo prazo (compra de uma casa ou de um
automóvel, estudos numa faculdade, reforma confortável, etc.): por último, poupa-se com a finalidade
de aplicar o dinheiro a fim de aumentar os rendimentos.

Refira-se ainda que, para além das famílias, as empresas também poupam ao não distribuírem
a totalidade ou parte dos seus lucros, canalizando-os para o investimento. De igual forma, os
paísesrealizam as suas poupanças, as quais correspondem à soma das poupanças das famílias das
empresas e do Estado.
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4.2. Destinos (entesouramento, depósitos e investimento)

Sucintamente, podem referir-se três destinos possíveis:


1ºEntesouramento: a poupança é guardada em casa, no cofre, ou é utilizada na compra de
objetos de ouro, joias ou obras de arte;
2.° Aplicação financeira: a poupança é aplicada em depósitos bancários ou na compra de ativos
financeiros (ações, obrigações, etc.);
3.° Investimento - a poupança é orientada para a aquisição de bens de capital.

A poupança constitui uma muito importante determinante da produtividade de um país e,


consequentemente, do seu padrão de vida. Com efeito, sendo os recursos escassos, para que uma
sociedade invista mais em capital, terá de consumir menos e poupar mais do seu rendimento, ou
seja: terá de sacrificar o consumo de bens e serviços no presente para beneficiar de um maior
consumo no futuro.

Daí a relevância do indicador designado por taxa de poupança, o qual mede a parte do
rendimento disponível que se destina à poupança:

𝐏𝐨𝐮𝐩𝐚𝐧ç𝐚
𝑻𝒂𝒙𝒂 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒖𝒑𝒂𝒏ç𝒂 = 𝒙𝟏𝟎𝟎
𝑹𝒆𝒏𝒅𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒊𝒔𝒑𝒐𝒏í𝒗𝒆𝒍

5. Investimento:

5.1. Noção
Noção e importância
Sempre que os particulares poupam é porque esperam obter uma melhor situação no futuro. Mas
pode esta poupança ajudar outros igualmente? É precisamente nesta questão que se situa a distinção
entre poupança e investimento.

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Se a poupança é, como vimos, a parte do rendimento disponível que não é gasta em consumo,
o investimento traduz justamente esse sacrifício de não consumir no presente, com o objetivo de
aumentar e/ou manter a produção no futuro. Assim, o investimento consiste no ato através do qual
a poupança é aplicada na aquisição de meios de produção, tendo em vista o aumento e/ou
manutenção da produção no futuro.

Investimento: Aplicação da poupança na aquisição de meios de produção com o objetivo de


aumentar e/ou manter a produção no futuro.

Conclui-se, portanto, que o investimento origina a formação de capital, a qual se decompõe em:

- formação bruta de capital fixo (FBCF): respeita ao investimento em capital fixo, quer o
correspondente a mais capital (Formação Líquida de Capital Fixo), quer o respeitante à
substituição de capital utilizado (amortizações);
- variação de existências (VE): compreende as matérias-primas e subsidiárias e os produtos
acabados e semiacabados, representando a diferença entre a existência final e a existência inicial
de um determinado ano.

Formação de Capital = FBCF + VE

Uma questão encontra-se, porém, ainda em aberto: como pode a poupança dos particulares ajudar
as empresas, ou seja, como é a poupança canalizada para o investimento?
Ao analisar-se anteriormente a criação de moeda pelo sistema bancário, foi salientado que os
bancos comerciais desempenham a função de intermediários financeiros, captando as poupanças dos
particulares sob a forma de depósitos e concedendo crédito às entidades que o solicitam. Deste modo, as
instituições financeiras, designadamente os bancos comerciais e os bancos de investimento, procedem
à receção de depósitos, utilizando-os posteriormente na concessão de empréstimos às empresas.
Pelos depósitos que recebem (dinheiro que lhes é emprestado), os bancos pagam uma determinada
taxa de juro (taxa de juro passiva), cobrando uma taxa de juro (taxa de juro ativa) superior pelos
empréstimos que concedem. A diferença entre o juro que recebem pelos empréstimos (operações
ativas) e o juro que pagam pelos depósitos (operações passivas) constitui uma das fontes de lucro dos
bancos.

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De tudo o que até aqui foi referido, não será difícil concluir-se acerca da importância do
investimento para as empresas e para a economia em geral. Na verdade, por um lado, o aumento da
riqueza e, consequentemente, a melhoria do padrão de vida de uma sociedade só são alcançados com
crescimento económico, o qual depende, no essencial, da capacidade de poupança de uma economia;
por outro lado, o atual contexto de globalização em que a concorrência é crescente exige das empresas
uma cada vez maior capacidade competitiva. Inovação e progresso tecnológico constituem "palavras de
ordem' para qualquer empresa. O esforço empresarial dedicado às atividades de I&D constitui uma
exigência do mundo de hoje. A este respeito, uma nova e mais aprofundada leitura do terceiro fator
económico determinante do consumo tratado no Módulo 2 (Inovação Tecnológica) responde
integralmente às questões que possam ter ficado em aberto.

5.2. Funções (substituição, inovação e aumento da capacidade produtiva)


Como se sabe, ao nível de uma sociedade, a produção tem de processar-se continuamente já que
as necessidades humanas, uma vez satisfeitas, voltam a surgir. Desta forma, terminado um processo
produtivo, haverá que o iniciar novamente, o que determina a reposição dos meios de produção não
duradouros que foram utilizados e totalmente consumidos, bem como a renovação do capital fixo que é
repetidamente usado, sofrendo, por isso, um desgaste ou tornando-se obsoleto. Trata-se, assim, de repor
o capital utilizado, assegurando-se a manutenção da capacidade produtiva da economia.

Todavia, o investimento visa ainda o aumento dessa mesma capacidade produtiva, seja
através da aquisição de máquinas mais modernas, seja recorrendo à aplicação de novas técnicas
produtivas, seja em resultado da ampliação das instalações, etc.
Investe-se em inovação com o propósito de se assegurar a permanente atualização tecnológica e o
decorrente aumento da eficácia do fator trabalho.

Do exposto decorre que, de acordo com o seu destino, o investimento desempenha as seguintes
funções:
o investimento de substituição(ou de reposição), que se destina a repor a capacidade
produtiva;
o investimento de capacidade, que determina o aumento da capacidade produtiva;
o investimento de inovação, cujo objetivo se traduz em ganhos de produtividade.

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5.3. Tipos (material, imaterial e financeiro)


Até aqui temos vindo a referir-nos ao investimento efetuado em bens materiais, tais como
máquinas, edifícios, etc. É o investimento material.
Todavia, este não é o único tipo de investimento existente. Existe uma outra classificação para o
investimento que se aplica aos tipos de investimento que podem surgir numa economia. São em número
de três os considerados:
a)investimento material, que corresponde ao total das despesas efetuadas com a aquisição de
bens de produção físicos: terrenos, edifícios, instalações fabris, escritórios, viaturas, máquinas e
ferramentas, etc.;

b) Investimento imaterial, que traduz a despesa efetuada em atividades imateriais com o


objetivo de melhorar a capacidade e/ou a eficácia da produção: despesas em I&D, em educação, em
formação profissional, em publicidade e marketing, em compra de marcas e patentes, etc.;

c) Investimento financeiro, que respeita à aplicação da poupança em ativos financeiros,


designadamente ações e obrigações cotadas na Bolsa.

5.4. Importância do investimento em inovação tecnológica e I&D na atividade


económica
A sociedade humana evoluiu devido à sua capacidade de inovar. Com a descoberta do fogo, da
roda e, muito mais tarde, da máquina a vapor (que impulsionou a Revolução Industrial), a sociedade
evoluiu bastante.
Agora, existe um sem-número de inovações, especialmente as que estão ligadas às novas
tecnologias de informação (estão incluídas numa longa lista de inventos), que, ao serem postas em
prática, revolucionam a vida das sociedades de uma forma brusca e radical.

Por isso podemos facilmente reconhecer a importância que tem o investimento em inovação
tecnológica, quer ao nível das empresas quer ao nível do país.

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No entanto, a inovação tecnológica não surge por acaso mas sim como fruto da investigação,
seja ela realizada de forma isolada, como aconteceu ao longo dos séculos, ou através de equipas de
investigadores, que trabalham nas empresas, nos laboratórios ou nas universidades, como
acontece atualmente.

É, por isso, fácil de reconhecer o papel importante que a investigação tem na sociedade atual. De
tal forma é considerada importante que é identificada como indicador de desenvolvimento de um
país, pois este pode ser tanto ou mais desenvolvido consoante for a percentagem do seu
rendimento aplicada à investigação.

6.O financiamento da atividade económica

6.1. Formas: autofinanciamento (capacidade de financiamento) e


financiamento externo (necessidade de financiamento).
Sabemos que o investimento é o motor da atividade económica. É ele que garante a continuidade
e o desenvolvimento da atividade produtiva. Anteriormente, vimos que sem poupança não há
investimento.
Então, falta agora compreender como é que as empresas conseguem obter as poupanças
indispensáveis para poderem concretizar o investimento que necessitam.
As empresas nascem para obterem lucros. Uma parte dos lucros que conseguem alcançar
destina-se a remunerar os seus donos (os empresários).A outra parte do lucro que resta permanece
nas empresas e é esta componente que vai constituir a poupança das empresas, representando então
a sua chamada capacidade de financiamento. Esta situação é classificada como de
AUTOFINANCIAMENTO OU FINANCIAMENTO INTERNO.
A economia vive tempos difíceis, por isso, cada vez mais a poupança não é suficiente para as
dificuldades sentidas, nomeadamente quando as empresas necessitam de efetuar investimentos de
inovação ou de aumento da sua capacidade produtiva.

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É por isso cada vez mais recorrente que as empresas procurem obter FINANCIAMENTO
EXTERNO- necessidade de financiamento. Para esse efeito, as empresas podem proceder de duas
maneiras distintas:
a) recorrem à venda de ações ou de outros títulos - estamos perante um financiamento externo
direto;
b) recorrem às instituições de crédito - nesta situação estamos em presença de um
financiamento externo indireto.

6.2. Financiamento externo – direto e indireto

Financiamento externo direto


É um tipo de financiamento a que as empresas podem recorrer sem necessidade de utilizar
intermediários. Neste caso, as empresas podem obter diretamente poupanças através da colocação de
títulos no mercado. Este mercado tem uma classificação própria onde os títulos são transacionados
livremente em mercado próprio, que é o mercado de títulos.

Este mercado, no seu funcionamento, caracteriza-se não por um, mas por dois mercados:
a) MERCADO PRIMÁRIO- onde são colocados os títulos que ainda não foram cotados em
Bolsa;

b) MERCADO SECUNDÁRIO - onde são transacionados os títulos que já passam no


mercado primário, ou seja, aqueles que já estão a ser cotados em Bolsa. Este mercado também é
conhecido por Bolsa de Valores.

Os títulos mais transacionados nestes mercados são:


o AÇÕES: papéis representativos de uma parte do capital de uma sociedade
anónima.Estes títulos representativos de capital conferem ao seu possuidor (acionista) o direito de
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receber uma parte dos lucros distribuídos (se os houver), proporcional ao número de ações que
possui. O acionista pode vender a qualquer momento as suas ações no mercado. A cotação das ações
resulta da diferença do valor da oferta e da procura em cada momento, consoante o valor existente
no mercado.
o OBRIGAÇÕES: títulos representativos de um empréstimo efetuado por um qualquer
outro agente económico, que tanto pode ser uma empresa como o próprio Estado.

A diferença principal entre ações e obrigações é que os possuidores de ações são sócios da
empresa, e, por isso, têm direito a receber lucros (caso existam), enquanto os possuidores de
obrigações são simplesmente credores da empresa, não tendo, portanto, direito a receberem lucros,
recebendo sempre, no entanto, um valor monetário afixado previamente aquando da sua emissão.

Financiamento externo indireto


Quando as empresas não conseguem o financiamento externo direto, recorrem ao chamado
financiamento externo indireto. Este aplica-se quando as empresas recorrem às Instituições Financeiras
para obterem o montante de que necessitam para ultrapassarem as suas dificuldades financeiras.

O sector bancário que existe no mercado faz parte de um sector mais vasto que é classificado com
o nome de Instituições Financeiras. Por Instituições Financeiras entende-se, então, o conjunto das
instituições que servem de intermediárias entre a oferta e a procura de fundos financeiros.
Delas fazem parte, propriamente, as instituições financeiras monetárias, que normalmente são
classificadas de bancos, e, ainda, outras que são chamadas de instituições financeiras não monetárias.
O que distingue as instituições financeiras monetárias das não monetárias é a capacidade de as
primeiras poderem criar moeda, porque aceitam depósitos e concedem créditos. As instituições
não monetárias limitam-se a conceder crédito, não podendo receber depósitos e por isso não podem
criar moeda.

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FIM

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