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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS DIADEMA
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

UC: FUNDAMENTOS E PROCESSOS OCEANOGRÁFICOS

RELATÓRIO DE TRABALHO DE CAMPO


PARQUE ESTADUAL RESTINGA DE BERTIOGA - PRAIA DE
ITAGUARÉ - SP

Discentes:
Camila Arriel
Jadgy Back
Marina Bruza da Silva
Stefanny Ribeiro

Docentes:
Prof​a​. Dra. Juliana S. Azevedo
Prof​a​. Dra. Rosangela Calado da Costa

Diadema
2019
SUMÁRIO

1. RESUMO​……………………………………………………………………………...3
2. INTRODUÇÃO​………………………………………………………………………. 4
3. OBJETIVOS​ ………………………………………………………………………….​7

3.1. ​Objetivos Gerais​……………………………………………………………. 7

3.2. ​Objetivos Específicos​…………………………………………………….... 7

4. ÁREA DE ESTUDO​…………………………………………………………………. 8
5. METODOLOGIA​………………………………………………………………….... 10

5.1 Materiais utilizados​………………………………………………………... 10

5.2 Métodos​…………………………………………………………………….. 10

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ………………………………………………...​14


7. CONCLUSÕES ……………………………………………………………………..​17
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………………………...​18

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1. RESUMO

Conhecer a dinâmica e todos os processos físicos envolvidos no movimento


de massa de água do mar é primordial para entender melhor a dinâmica dos
ambientes costeiros e como isso influencia de forma direta a fauna e flora e, de
forma indireta, em questões socioambientais; por tanto, é de supra importância o
monitoramento e estudo de ambientes de transição como o estuário. Para o estudo
de ambientes costeiros, o local estudado foi Itaguaré - Bertioga/SP, e o objetivo do
estudo, além do reconhecimento sobre o ecossistema costeiro, foi o monitoramento
químico dos processos de mistura no estuarina por meio de dados de temperatura,
salinidade e densidade em maré baixa e alta nos diversos pontos do estuário. A
metodologia de campo compreendeu em obter amostras desses locais em horários
diferentes para que contemplasse as diferenças de marés e medir com termômetro e
refratômetro os parâmetros físicos-químicos de interesse. Usando o sistema de
classificação de estuário quanto ao seu processo de mistura, a partir dos dados
coletados, o sistema de Itaguaré pôde ser classificado como um estuário
parcialmente homogêneo. Tendo forte influência sobre a geomorfologia que
caracteriza o ambiente, a dinâmica flúvio-marinho de Itaguaré, cada vez mais sofre a
influência da maré para dentro do curso hídrico continental, em pontos mais altos do
estuário. A área sofre constante ameaças devido a especulação imobiliária e
descaso do poder público, porém o PERB deve receber atenção minuciosa por fazer
parte do abastecimento público de água potável e ser compreendida como zona de
importância ecológica, econômica e social.

Palavras-chave: ​ecossistemas costeiros; estuário; salinidade; movimento de massa


de água do mar.

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2. INTRODUÇÃO

A oceanografia é fundamental no que tange a exploração e aproveitamento


de todos os recursos disponíveis, sendo eles vivos, minerais e com potenciais
energéticos. Esse interesse abrange tanto o campo da pesquisa quanto atividades
socioeconômicas, embora uma seja complementar a outra (KRUG e CASTELLO,
2015). As ciências do mar no que diz a oceanografia física, ocupa-se do estudo das
forças que causam o movimento das água oceânicas, quais são as suas
consequências quanto o transporte, salinidade e temperatura; todos esses
elementos combinados com a incidência solar, movimento dos ventos, influência da
Lua, evaporação e precipitação, são responsáveis pela circulação da água
(​CALAZANS, 2011)​.
Os movimentos de massa de água ocorrem em camadas superficiais e
profundas; as camadas superficiais são mais susceptíveis pelas forças dos ventos,
pelo movimento de fricção, essa massa de água representa cerca de 10% da água
do mar, se move horizontalmente até 400m de profundidade, mas acima da
picnoclina que é a região onde tem variação rápida de densidade com a
profundidade, já as camadas de águas mais profundas, são lentas e se movem pela
ação da gravidade devido a diferentes densidades, por ser a temperatura e
salinidade a responsável por essa diferença de densidade, o movimento das
camadas profundas recebem o nome de circulação termohalina (​GARRISON, 2010)​;
essas massas de água apresentam valores de temperatura e salinidade que são
característicos da sua origem, o monitoramento desses dois fatores são
determinantes no que diz respeito ao clima, composição química e estrutura da
fauna e flora, por isso, obter tais dados é imprescindível no estudo do movimento,
velocidade e mistura das massas de água oceânica durante todo o transporte
(​CALAZANS, 2011)​.
A topografia da bacia oceânica assim como os continentes são barreiras
físicas para os movimentos de massa da água do mar, essas barreiras bloqueiam o
fluxo contínuo que redirecionam a água em movimento, formando assim a circulação
oceânica por todo o globo, para cada hemisfério essa circulação recebe influência de

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forma diferente dos ventos alísios e dos ventos do oeste, essa fricção com o vento
forma uma camada fluida na direção do vento e a força da gravidade empilham
outras camadas abaixo formando um gradiente de pressão, com a influência do
efeito de Coriolis, no hemisfério norte a água flui para a direita e no hemisfério sul a
água flui para a esquerda (​GARRISON, 2010)​.
Dado a importância da coleta de dados, diversos tipos de instrumentos foram
aos poucos sendo desenvolvidos com o intuito de se conhecer melhor a coluna
d’água, desde os mais simples como termômetro até os mais sofisticados como o
sonar, todos esses instrumentos auxiliam para uma melhor compreensão tanto do
assoalho oceânico quanto da circulação de massa e como esse transporte de
nutrientes influencia as costas e a oceanografia nos últimos anos é a ciência que
mais obteve vantagens quando aos avanços tecnológicos (​CALAZANS, 2011)​.
A temperatura é um parâmetro físico importante por influenciar na velocidade
das reações químicas e biológicas, assim como a densidade e transporte, como
exemplo a ser citado alguns compostos químicos podem tornar-se tóxicos à
temperaturas elevadas, pode ocorrer também a redução de oxigênio dissolvido na
água o que dificulta a vida para alguns organismos e para os animais que não
suportam grandes variações de temperatura (​CALAZANS, 2011)​.
A salinidade compreende do número total do material dissolvido em água;
através da salinidade é possível determinar a densidade, sendo essa última como
responsável pelo transporte de material; a densidade pode diminuir se a temperatura
aumentar e pode aumentar se salinidade também aumentar ou a pressão aumentar;
nos oceanos, a massa de água move-se em profundidade se for mais densa e em
superfície se for menos densa. Para medir esse parâmetro é utilizado técnicas de
laboratório como a contagem de Mohs ou pode-se fazer leitura utilizando um
aparelho portátil chamado refratômetro como exemplo, como a salinidade é
diretamente proporcional à refração da luz provocada pelos cristais de sal, pode-se
estimar o valor através do ângulo de mudança da refração (​CALAZANS, 2011)​.
O Brasil possui 7.500 Km de costa e as águas costeiras ou chamadas
também de zona nerítica, abrange toda a zona entremarés até até o limite da
plataforma continental, representa 10% de toda a área oceânica e é onde está
concentrada a maior biodiversidade devido às condições ambientais e de nutrientes

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da costa. Ambientes marinhos como baías fechadas, canais, enseadas e estuários
são ambientes produtivos e possuem características típicas de cada uma das
regiões em que se encontram, sendo essas características a turbidez, nutrientes,
salinidade, temperatura, ondas e marés (CETESB, 2007).
O estuário, sendo um ambiente de transição entre o continence e o oceano, é
onde ocorre a diluição da água do mar pela água doce vinda da drenagem
continental, todo esse ambiente e a quantidade de água disponível no estuário de
água fluvial, depende de fatores como sedimentos, substâncias orgânicas,
poluentes, eventos químicos, climáticos, cobertura vegetal, ocupação urbana e
agrícola, geologia local e evapotranspiração. Esse local de transição deve-se
receber uma maior atenção aos estudos devido a ocupações urbanas que alteram
os ambientes de drenagem. A soma entre todas as fontes de água do estuário
sempre será maior do que o sorvedouro e os fatores que podem influenciar nesse
balanço são a temperatura, umidade relativa do ar, direção e intensidade do vento,
geomorfologia, cobertura vegetal e características do solo. A dinâmica do estuário
está diretamente ligada a densidade da água (salinidade). A importância de
conhecer melhor essas zonas de descarga de água doce, além dos fatores
socioambientais e econômicos como a disponibilidade de água doce para consumo
humano, fornecimento para a indústria e agricultura, há consequências na fauna e
flora caso esse ambiente não esteja em equilíbrio, como exemplo pode ocorrer
mortalidade em crustáceos e o aumento de turbidez da água que impactaria na
produção e respiração de algas (​MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002)​.
Neste contexto, o presente estudo visou monitorar processos de mistura
estuarina e seu impacto no ecossistema, contemplando entendimento de aspectos
do meio abiótico e biótico, bem como de discussões e impactos socioambientais
envolvidos na região pertencente ao Parque Estadual Restinga de Bertioga, SP.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivos Gerais

O presente trabalho teve como objetivo principal o reconhecimento dos


ecossistemas costeiros e o monitoramento químico dos processos de mistura
estuarina presentes no sistema flúvio-marinho Itaguaré localizado no Parque
Estadual Restinga de Bertioga (PERB), SP.

3.2. Objetivos Específicos

Para atingir tais objetivos gerais, buscou-se alcançar os seguintes objetivos


específicos:
- Planejamento e determinação pré-campo da situação da maré e dos
diferentes horários de coleta;
- Em campo, coleta de amostras de água de superfície e fundo nas áreas de
baixo, médio e alto estuário na parte da manhã (baixa maré) e parte da
tarde (período de enchente, com alta maré);
- Determinação de parâmetros físico-químicos de temperatura, salinidade e
densidade das amostras coletadas;
- Análise e discussão dos dados obtidos em campo, avaliando o
ecossistemas costeiros observados, o tipo de estuário encontrado, suas
características e influência da maré.

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4. ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual Restingas de Bertioga (PERB) situado no município de


Bertioga, São Paulo (Figura 1) foi fundado em 2010 e estabelecido como Unidade de
Conservação de Proteção Integral pelo Decreto Estadual nº 56.500/10, sendo de
responsabilidade administrativa da Fundação Florestal. Para sua área, foram
designados mais de 9.000 hectares (aproximadamente 93 km​2​), desconsiderando
áreas de rodovias, dutos da Petrobrás, área indígena Guarani, manchas urbanas e
redes de alta tensão (Fundação Florestal, 2019).

Figura 1 - Mapa da Localização do PERB.

Fonte: O Eco (2010).

Para criação do PERB, foram analisados diversos estudos que ressaltam a


sua importância na região de Bertioga (SP). Sendo chamada nos anos iniciais de
“Polígono de Bertioga”, seu território representa o resultado de um projeto entre a
Fundação Florestal e a WWF Brasil para a proteção de áreas com ecossistemas de
Mata Atlântica, contendo alto grau de conservação e importância ecológica, como

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para ambientes marinhos-costeiros e a formação de corredor ecológico até porções
de Mata Atlântica protegidas pelo Parque Estadual da Serra do Mar (PESM)
(BANZATO ​et al​., 2012). Sendo assim, uma formação em contínuo necessita de
proteção para manter a integridade dos processos naturais que ocorrem na região.
Segundo a Fundação Florestal, o Parque contém 98% de todo o remanescente de
restinga da Baixada Santista e abriga 44 espécies ameaçadas de extinção, além de
37 espécies de aves endêmicas e 14 espécies raras de répteis e anfíbios.
O PERB, em sua extensão, contempla a foz do Rio Itaguaré, do qual um dos
afluentes tem água captada pela Sabesp, e outros se encontram dentro do domínio
de propriedades privadas. Em relatórios da Cetesb de 2007, esse rio apresentou um
aceitável nível de qualidade da água. Apesar dessa boa qualidade, outros estudos
mostram intrusão salina na água. É muito procurado para canoagem, banho e pesca
de arremesso. Também é considerado início de uma trilha de floresta alta e floresta
baixa de restinga e alta densidade de bromeliáceas, árvores de grande porte e
epífitas em sucessão ecológica, solo arenoso. O local de desembocadura do rio no
mar conta com a presença de mangue que margeia todo o curso d’água. É provável
a ocorrência de jacaré de papo amarelo nesses manguezais. A vegetação
predominante é composta, além do mangue, por restinga e Mata Atlântica. O
estuário do sistema Itaguaré é influenciado pelas dinâmicas fluviais, com bancos de
areia associados a ressaca e, ao fundo, suas feições também podem ser
influenciadas pela granulometria dos sedimentos arenosos e lamento-arenosos.
Segundo Baraldo (2018), ele pode ser classificado como estuário parcialmente
misturado ou de cunha-salina (CAMARGO, 2012).
Na praia de Itaguaré, a trilha parte da rodovia Rio Santos, com vegetação de
alta restinga, com restinga arbustiva em nível de aproximação com o mar. Possui
cerca de 3,5 km de extensão. Trata-se de uma praia conservada, em um ambiente
reservado, e muito procurada para prática de ​surf.​ A região pertencente ao PERB
sofre constantemente pela especulação imobiliária e é pressionada por duas áreas
urbanas: São Lourenço e Guaratuba.

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5. METODOLOGIA

5.1 Materiais utilizados

● Refratômetro analógico;
● Termômetro;
● Béqueres;
● Água destilada;
● Pipeta de plástico.

5.2 Métodos

Os materiais supracitados foram utilizados para realização da coleta de água


e aferição de parâmetros de salinidade, densidade e temperatura em diferentes
pontos do estuário de estudo e em diferentes horários e situações de maré
estabelecidos em momento pré-campo de planejamento da coleta, realizada no dia
14 de setembro de 2019.
Dessa forma, inicialmente, os discentes ali presentes que compõem a turma
de 2019 da Unidade Curricular de Fundamentos e Processos Oceanográficos, foram
divididos em cinco grupos para a coleta da água de superfície e fundo em três
pontos do estuário, todas realizadas em dois períodos, baixa e alta maré. Com base
na Tábua de Marés de São Sebastião (Tabela 1), próxima da área de estudo,
pôde-se conhecer comportamento da maré e determinar sua amplitude na região
para o dia da coleta.

Tabela 1 -​ Horários e altitude da maré com base na Tábua de Marés - Porto de São Sebastião, SP.

13/09 14/09 15/09


Horário Altitude (m) Horário Altitude (m) Horário Altitude (m)
01:47:00 1.1 02:09:00 1.1 02:26:00 1.2
08:26:00 0.0 09:02:00 0.0 09:39:00 0.0
14:28:00 1.1 14:34:00 1.1 14:45:00 1.1
21:02:00 0.3 21:21:00 0.3 21:51:00 0.3
Fonte: adaptado a partir de CPTec / INPE (2019).

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A partir destes dados, foi conhecido os horários e respectivas situações de
maré, e também definido horários de coleta até antes das 14 horas e 34 minutos,
aproximadamente, quando a maré atingiria sua máxima altitude para o período do
dia em campo, data a qual teria início a fase de lua cheia, ou seja, início dos
processos de maré de sizígia, ainda com características de maré de quadratura por
conta de sua amplitude de 0,8 metro (menor que 1 metro), estimada pela diferença
da máxima altitude (1,1m) e mínima (0,3m). A Figura 2 evidencia a diferença
observada no nível da maré no médio estuário entre os períodos da manhã e tarde.

Figura 2 - ​Imagens do médio estuário em (a) maré baixa e (b) maré alta.

Fonte: fotos por Marina Bruza.

Foram estabelecidos os três seguintes pontos de coleta para os dois


períodos: o primeiro ponto localizado no alto estuário, o qual denominamos de
estuário-rio (Figura 3), o segundo ponto pertencente ao médio estuário, chamado de
estuário-meio (Figura 4), e o terceiro, referente ao baixo estuário, que chamamos
estuário-mar (Figura 5).

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Figura 3 -​ Imagens do ponto de coleta no alto estuário (ponto “Estuário - Rio”).

Fonte: fotos por Marina Bruza.

Figura 4 -​ Imagens do ponto de coleta no médio estuário (ponto “Estuário - Meio”).

Fonte: fotos por Marina Bruza.

Figura 5 -​ Imagens do ponto de coleta no baixo estuário (ponto “Estuário - Mar”).

Fonte: fotos por Jadgy Back.

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Todas as coletas foram feitas manualmente utilizando béqueres: um para a
coleta de água superficial e outro para amostragem da água de fundo. Em seguida,
para determinação da temperatura da água em cada amostra foi utilizado
termômetro. Para determinação de salinidade e da densidade, foi utilizado
refratômetro, previamente limpo com água destilada e seco com papel-toalha a cada
utilização (para diminuição de interferências e obtenção de dados mais precisa), no
qual, utilizando uma pipeta, pôs-se uma gota de água de cada amostra sobre a
janela, fechou-se a tampa e realizou-se a leitura, olhando contra a luz, para aferição
dos dados de salinidade e densidade demonstrados no visor do instrumento. Os
dados foram anotados em planilha para posterior discussão dos mesmos.
As amostragens de superfície e fundo dos três pontos do estuário foram
realizadas pelos cinco grupos no período da manhã, começando por volta das 10
horas e 30 minutos, período em que a maré estava no início do processo de
enchente, ainda em níveis de altura mais baixos. Também foi realizada coleta em
um segundo momento, quando a maré estava mais alta, nos pontos de médio
(Figura 5) e alto estuário (ponto próximo da Tenda das Ostras e à Rodovia, como
mostrado na Figura 6) para comparação de dados entre as diferentes situações de
maré e a identificação das influências desta última nos parâmetros físico-químicos
das águas do estuário. Em razão de problemas em campo, apenas um grupo,
constituído pelas alunas Camila e Stefanny, pôde realizar coleta prevista para o
segundo período.

Figura 5 - ​Imagens do segundo período de coleta (tarde) no ponto de médio estuário (Estuário -
Meio)​.

Fonte: foto de Camila Arriel.

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Figura 6 - ​Imagens do segundo período de coleta (tarde) no ponto referente ao alto estuário (Tenda
das Ostras - próximo à rodovia).

Fonte: fotos de Camila Arriel.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da coleta de água no sistema estuarino Itaguaré, foram obtidos os


dados físico-químicos de temperatura, salinidade e densidade descritos na tabela 2.

Tabela 2 -​ Dados de temperatura, salinidade e densidade obtidos pelos grupos a partir das amostras
de água coletadas nas regiões de baixo, médio e alto estuários.

Temperatura (°C) Salinidade Densidade

Grupo /
Ponto Hora Superfície Fundo Superfície Fundo Superfície Fundo
Pesquisadores

Estuário
12:56 25,4 24,2 30 31 1,018 1,020
– Meio
Grupo 1
Camila / Tenda
Stefanny das
13:58 23,2 24,0 19 24 1,014 1,019
ostras
(Rodovia)

Estuário
11:00 24,2 24,0 10 9 1,007 1,006
– Rio
Grupo 2
Amanda / Estuário
10:33 24,0 23,0 17 15 1,014 1,010
Bárbara / – Meio
Isabella B.
Estuário
12:00 24,5 26,6 35 34 1,026 1,025
– Mar

14
Estuário
11:26 23,0 23,2 8 7,5 1,006 1,005
– Rio
Grupo 3
Camila / Jadgy / Estuário
11:45 26,4 26,4 15 15 1,011 1,011
Marina B. / – Meio
Stefanny
Estuário
10:48 25,3 24,2 15 15 1,012 1,012
– Mar

Estuário
11:26 23 23,2 8 7,5 1,006 1,006
– Rio

Grupo 4
Estuário
Beatriz / Kauê / 11:45 26,4 15 1,011
– Meio
Laura / Letícia

Estuário
10:48 25,3 24,2 15 15 1,012 1,012
– Mar

Estuário -
10:35 25,6 23,5 10 10 1,008 1,007
Rio
Grupo 5
Gabriel / Hianka / Estuário -
11:03 23 23,8 14 15 1,01 1,011
Marina / Vinicius Meio
Carlucci
Estuário -
11:44 24,5 26,6 35 34 1,026 1,026
Mar

Estuário -
10:45 25,6 23,5 10 10 1,007 1,007
Rio

Grupo 6
Estuário -
Pedro / Sofia / 11:02 25 23,8 14 15 1,011 1,011
Meio
Vinícius Monteiro

Estuário -
11:44 24 26 35 34 1,026 1,026
Mar

Fonte: Grupos 1 a 6, turma de 2019 da UC Fundamentos e Processos Oceanográficos.

Dentre os critérios e técnicas de classificação de estuários, estes podem ser


classificados quanto ao seu processo de mistura, critério o qual foi adotado para o
presente estudo. Descrita por Pritchard (1971), essa classificação é baseada em
função da hidrodinâmica do sistema, onde gradientes formados de salinidade
conforme a profundidade, e a intensidade de circulação no interior do sistema,
permitem distinguir três tipos de estuários de acordo com seu processo de mistura:

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estratificados (com demarcação de uma cunha salina), parcialmente misturados e
bem misturados.
A partir desse critério de classificação, os dados de campo obtidos
demonstram que o sistema flúvio-marinho de Itaguaré pode ser classificado como
um estuário parcialmente homogêneo, isto porque, em média, a maioria das
amostragens tiveram pequena variação nos valores de salinidade conforme a
profundidade (entre dados de superfície e fundo) nos três pontos do estuário, nas
diferentes situações de maré.
Quanto à variação de salinidade horizontal (ao longo do estuário),
observou-se que, nos horários de maré mais baixa (com altura pouco acima da
estofa de vazante, ou seja, H pouco maior que 0 m), os grupos 3 e 4, que coletaram
mais cedo no ponto próximo ao mar (às 10h48) não encontraram variação dos
valores de salinidade e densidade entre os pontos de médio e baixo estuário,
enquanto que os grupos 2, 5 e 6 (que realizaram amostragem um pouco depois, às
11h44 e às 12h) encontraram maior variação na área mais próxima ao mar, no baixo
estuário, momento em que a maré estava com altura maior durante período de
enchente, apresentando valores de 34 e 35 de salinidade, correspondente ao valor
de salinidade da água do mar que é 35, segundo dados científicos descritos em
literatura, como em Libes (1992). Outro fato a ser considerado é que, os grupos 2, 3,
4 e 5 fizeram suas amostragens em horários de marés mais baixas e encontraram
valores de 8 a 10 de salinidade no alto estuário, o que é importante salientar, uma
vez que é um valor alto para essas áreas do sistema, onde devem ser encontradas
águas com baixo teor salino variando entre 0 e 0,5 (como descritos por Azevedo
(2019) em notas de aula), onde predominam as característica das águas fluviais.
O grupo 1 pôde realizar coleta nos horários de maré mais alta, mais próximos
do horário da estofa de enchente determinado previamente que seria às 14h34min.
É possível observar por meio de seus dados, que houve aumento significativo nos
valores de salinidade no médio e no alto estuário, demonstrando a forte influência da
maré nos parâmetros químicos em todo o estuário estudado, que por consequência,
poderão influenciar diretamente a biodiversidade presente neste ecossistema.

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7. CONCLUSÕES

A dinâmica flúvio-marinha característica da região estuarina de Itaguaré


(PERB) tem forte influência na geomorfologia da região, moldando-a
aceleradamente, como demonstrado por Baraldo (2018). Os dados de campo
obtidos neste estudo, em comparação aos dados obtidos em anos anteriores (de
acordo com relatos da ​Prof​a​. Dra. Juliana S. Azevedo, de experiências passadas
com outras turmas na região)​, evidenciaram que o estuário, neste estudo
classificado como parcialmente misturado, sofre cada vez mais uma alta influência
da maré em todos os seus pontos (alto, médio e baixo estuário), favorecendo alto
grau de mistura, impactando em um acréscimo nos valores de salinidade e
densidade da água, mesmo nos pontos mais altos do estuário (distante do mar),
onde já havia sido no passado um estuário de característica de cunha-salina.
Desconhece-se as causas e processos bem como as consequências reais dessa
dinâmica na área. Porém, por consequência, esses parâmetros poderão vir a
delimitar uma diferente distribuição de organismos e da biodiversidade natural ao
longo do estuário de acordo com as variações ambientais ali estabelecidas, sendo
dessa forma, de grande importância o desenvolvimento de novas pesquisas na
região, bem como o fortalecimento de medidas de proteção do ecossistema como
um todo, de modo a minimizar impactos ambientais futuros de diversas ordens,
fontes e proporções desconhecidas, que podem ter suas causas associadas às
atividades antrópicas.
Apesar de sua importância ecológica, turística e socioambiental, o Parque
Estadual Restingas de Bertioga tem sua existência constantemente ameaçada pela
especulação imobiliária. Além disso, a água do rio que contempla o complexo
Itaguaré é utilizada para abastecimento público e dentro de seu domínio se
encontram diversas espécies endêmicas. Dessa forma, é necessário atenção
especial a essa área que carece de atenção do poder público e de ações de
proteção aos ecossistemas naturais e à comunidade locais.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANZATO, B. D. M., FAVERO, J., AROUCA, J., & CARBONARI, J., Análise
ambiental de unidades de conservação através dos métodos SWOT e GUT: O caso
do Parque Estadual Restinga de Bertioga. Revista Brasileira de Gestão
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BARALDO, K. B. ​Caracterização e comparação dos estuários dos rios Itaguaré


e Guaratuba (Bertioga, SP) com base nos parâmetros geo-físico-químicos,
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CALAZANS, D. (org.). ​Estudos Oceanográficos: do instrumental ao prático.


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CAMARGO, J. M. ​Evolução morfodinâmica e análise de estabilidade do canal


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GARRISON, T. ​Fundamentos de oceanografia​. 4° ed. Cengage Learning, 2010.

18
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Ambientes costeiros contaminados por óleo: procedimentos de limpeza - manual de
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Instituto Ekos Brasil (2008). Diagnóstico Socioambiental para criação de unidades de
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outubro de 2019.

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