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FILOSOFIA DO DIREITO
07/05/2019 07:22
Atualizado em 07/05/2019 às 13:43
Crédito: Pixabay
JOTA DISCUTE
Este texto integra a cobertura de novos temas pela equipe do JOTA. Apoiadores participam da
escolha dos temas, mas não interferem na produção editorial. Conheça o projeto!
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Não é nada incomum numa conversa que envolve estudantes de Direito surgir a
famosa pergunta “Qual sua área favorita?” e Direito Penal, Direito Civil, Direito
Constitucional ou Direito Trabalhista serem uma das respostas. Dentre tantas áreas
com características muito distintas a única coisa que as reúne é o fato de serem
normalmente classi cadas como “dogmáticas”.
Se existe algo que talvez seja sintomático certamente é o fato de que em relação a
pergunta sobre disciplina favorita muito provavelmente não se escutará como
resposta Filoso a do Direito, Teoria do Direito, Sociologia do Direito, etc. Ou seja,
di cilmente, a resposta será voltada a uma área de investigação que se dedica a
uma abordagem sem interesses imediatos com a aplicação do Direito.
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jurídico caiu em grande decadência, mas, ainda assim, é de conhecimento geral que
em muito in uencia o estudo do Direito, ainda que em sua versão deturpada.
É uma tese meramente conceitual, que vai postular que a conceituação do Direito, e
não sua aplicação, seja desprendida de uma análise de valor. Noel Struchiner
classi ca essa tese como “normativamente inerte”, no sentido de que não se
pronunciaria univocamente o positivismo sobre como se deve aplicar o Direito e sim
apenas em relação a como reconhecê-lo.
Com a adoção dessa nova tese em mente, como se extrai de Struchiner, há uma
brecha investigativa para toda uma discussão acerca de como efetivamente deveria
o Direito ser aplicado. Nesse sentido, o positivismo jurídico antes poderia ser usado
como argumento para uma aplicação técnica e não re exiva do Direito, o que
explicaria a falta de preocupação entre seus estudiosos sobre o estudo da Filoso a,
Sociologia e tantas outras. Agora, abre uma brecha para ser encarado não como o
causador do “problema de uma era de não lósofos”, mas sim como solução para o
surgimento deles.
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aprender a lidar com os chamados hard cases (“casos difíceis”) que se apresentam
em suas mais variadas formas não no momento de conceituar, mas sim de aplicar o
Direito.
Nessa medida, reforça-se, o positivismo em sua tese mais genuína não só não é
justi cativa para se excluir a importância de re exões losó cas sobre o Direito
como, surpreendentemente, pode ser compreendido como o responsável por dar a
grande brecha para tal.
Mas a nal, se a prática é o que interessa, de que maneira a zetética pode ajudar?
Considere-se, então, que a simples ideia de que um estudioso do Direito deveria ser
alguém que vá além do simples conhecimento de artigos e quando se aplicam (o
que, convêm dizer, não é algo muito complexo de se fazer) não é su ciente. Qual
seria, a nal, a importância de que alguém preocupado com a prática jurídica ainda
assim saiba zetética?
O que está por trás da preferência institucional por presumir inocente até que se
prove o contrário é, deve o juiz saber, uma preocupação fortemente rea rmada pelos
estudiosos da Filoso a do Direito por uma preferência ainda mais subentendida de
que o juiz deve se atentar ao fato de que em cenários que identi car incerteza ele
deve decidir absolvendo independente do que particularmente ache.
O que diferenciará um juiz bom de um ruim será aquele que demonstra preparo e
fundamentos, portanto, para lidar com situações em que não terá dispositivos com
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motivos anexos tão óbvios. E mais, também aquele preparado para lidar com
situações em que nem mesmo terá dispositivo, precisando recorrer, por exemplo, a
estratégias de resolução de con ito como cções jurídicas.
Agora voltando-se ao advogado, o que efetivamente vai fazer um bom advogado não
será sua capacidade de apontar artigos, isso talvez seja o menos relevante. O
diferencial de um advogado, o que o dará maiores chances de vitória numa
controvérsia será, precisamente, sua capacidade de reconhecer os mais
diversi cados métodos de se interpretar um texto e sagazmente aplicar aquele que
lhe concede o melhor resultado.
Se pensarmos em séries como How to get away with murder e a advogada Annalise
Keating, protagonista estrelada por Viola Davis, isto talvez que bem evidente, entre
outros motivos, pelo fato dela nem mesmo se preocupar em questionar aos seus
clientes sobre sua inocência.
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O que preparará esse advogado para rebater essas situações, ou eventualmente até
fazer o mesmo, é a obtenção de uma forte base não apenas prática, mas também
teórica, envolvendo conhecimentos sobre as modalidades probatórias e todas os
estudos que existem sobre suas di culdades e brechas, algo que vai, certamente,
muito além de códigos ou “senso comum jurídico”.
O que se quer enfatizar aqui, nalmente, é a tese de que, até mesmo para um
estudioso do Direito que não tem pretensões de seguir área acadêmica e de
pesquisa, o estudo e a atenção a todas essas discussões de fundo propriamente
teórico são de extrema importância. E o positivismo jurídico, em sua compreensão
mais genuína de corrente jus losó ca, não é o que in uencia o desapego a esses
outros estudos, mas sim o que efetivamente dá brecha a eles, uma vez que não se
manifesta propriamente sobre a aplicação do Direito.
A zetética não é, como muitos tratam ainda que não manifestamente o digam, inútil,
mas é precisamente a chance de garantir que se forme um estudioso do Direito
capaz de estar preparado para questões muito mais complexas que fogem ao
escopo da dogmática e que inevitavelmente esbarrarão na prática jurídica.
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NINO, Carlos Santiago. Introdução à análise do direito. São Paulo: Martins Fontes,
2010, págs. 36 a 45.
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TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. São
Paulo: Marcial Pons, 2016, págs. 88 a 93.
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