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Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
1
- Sentença de fls. 245-249.
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Argumentaram que as degravações constantes dos autos eo
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áudio são ilícitos, pois não houvera autorização da assembleia para as
gravações, tendo sido promovidas de forma unilateral. Fizeram referência à “Teoria
dos Frutos Envenenados” aduzindo, para tanto, que sendo aquelas provas ilícitas,
todas as demais estariam contaminadas, causando nulidade ao processo. Aduziram,
ainda, que o ônus da prova no presente caso cabe à apelada, não havendo nos
autos nenhuma prova concreta de fato apto a ensejar o suposto dano moral por ela
sofrido e, portanto, não há falar em sua condenação à reparação civil.
Sustentaram, alfim, que são pessoas simples e com padrão
financeiro médio, auferindo renda apenas para o sustento próprio e de suas famílias
com o mínimo de dignidade e, por isso, o valor dos danos morais arbitrados no
importe de 50.000,00 (cinquenta mil reais) foge dos padrões da razoabilidade.
Anotaram que a apelada alega ser ajudada pelos pais, mas que, na verdade, possui
padrão financeiro razoável. Nesse diapasão, caso seja reconhecido o dever de
indenizar, defenderam que o quantum arbitrado a título de danos morais deve ser
reduzido a patamar também razoável, o que deverá ser feito também em relação aos
honorários de sucumbências, pois arbitrados fora dos padrões razoáveis, fugindo do
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estipulado pelo art. 20, § 3º, do CPC .
A apelada, devidamente intimada, contrariara o apelo, pugnando
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pelo seu desprovimento e pela manutenção integral da sentença combatida .
O apelo é tempestivo, está subscrito por advogado regularmente
constituído, fora preparado e corretamente processado.
É o relatório.
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[3] - Fls. 22/32.
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[4] - Fl. 105.
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- Apelação de fls. 261/275.
5
- Contrarrazões de fls. 285/301.
[7] - Instrumentos de mandato de fls. 182/183; guia de preparo de fl. 276 e Certidão de fl. 570.
VOTOS
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- Fls. 245 e v e 246.
contaminação das demais provas produzidas aos autos, nos termos preceituados
pela 'Teoria dos Frutos Envenenados'. O inconformismo, contudo, desmerece
considerações mais alentadas, uma vez que, a despeito de o alegado restar carente
de lastro jurídico-legal, fato é que o provimento sentencial hostilizado sequer se
baseara nesses documentos para desvendar o desate da controvérsia.
Em primeiro lugar, deve ser assinalado que, conquanto a ação tenha
sido julgada desfavoravelmente aos apelantes, ante a cominação da obrigação
indenizatória a título de danos morais que lhes fora imposta, verifica-se que,
efetivamente, o juízo a quo não estribara sua decisão nos teores contidos nas
degravações colacionadas aos autos, mas sim nas demais provas documentais que
instruíram o processo, em especial as atas de assembleias gerais do condomínio e
cartas enviadas a outros condôminos, com base nas quais, importante frisar,
entendera como caracterizadas as ofensas verbais e escritas lançadas à apelada
pelos apelantes, oportunidade em que reputara os dizeres como pejorativos e
ultrajantes, içando também como fundamento a atribuição desonrosa à apelada
sobre o uso indevido dos bens do condomínio, atingindo diretamente o seu
patrimônio moral.
Ora, a resolução da controvérsia pautara-se tão-só e exclusivamente
do cotejo dos demais documentos, igualmente coligidos aos autos pela apelada, e
da aplicação dos preceitos legais regentes ao caso. De mais a mais, contrariamente
do alegado pelos apelantes, indigitadas degravações não tiveram o condão de
contaminar o subsequente acervo documental reunido, notadamente porque, além
de não poderem ser qualificadas como ilegais - conforme se verá adiante -, restara
inconteste de dúvidas que a resolução da lide demandou simplesmente a
emolduração dos fatos delineados em cotejo às demais provas colacionadas (atas
assembleares e atos convocatórios) aos dispositivos que lhes confere tratamento
normativo, culminando no provimento hostilizado que, segundo a ótica analisada
pelo julgador monocrático, fora empreendido sob o prisma de que a apelada lograra
êxito integral na comprovação de suas alegações e na demonstração de direito que
invocara.
Aliado, ainda, ao fato relevante de que as apontadas
degravaçõesnão tiveram o condão de agregar qualquer elemento relevante à
solução da controvérsia, uma vez que as demais provas lastreadas aos autos foram
bastante para sua elucidação, aventados argumentos acerca da ilegalidade dessas
gravações não implicam qualquer nulidade. Com efeito, o cerne da questão que se
instaurara envolve aparente conflito de interesses jurídicos, à medida em que os
apelantes, a quem fora imputada a prática de ofensa moral, prezam pela
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- Fls. 26.
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- Fls. 41/45.
agressão aos direitos da personalidade que lhe são inerentes que, afetando sua
dignidade, honorabilidade e intimidade e impingindo-lhe sofrimentos de natureza
íntima, afetaram sua auto-estima, desqualificaram sua credibilidade e certamente lhe
ensejaram abatimento moral e psicológico. As agressões que a atingiram, em suma,
provocaram indelével nódoa ao seu nome, à sua honra, à sua dignidade e
intimidade, inclusive porque não ficaram restritas à pessoa da litigante, alcançando
considerável repercussão no âmbito do condomínio em que residira ante a forma
como foram perpetradas, consubstanciando-se, inexoravelmente, como fato gerador
do dano moral.
Com efeito, sob a órbita do estado de direito e da vida em sociedade
não subsiste lastro para se cogitar que as imprecações endereçadas materialmente
pelos apelantes à apelada não são ofensivas e atentadas contra os direitos da sua
personalidade. Restara evidente que, mediante a análise das provas documentais
constante dos autos, em especial as atas de assembleias gerais do condomínio e
cartas enviadas a outros condôminos, ficaram caracterizadas as ofensas verbais e
escritas lançadas à apelada pelos apelantes, com dizeres pejorativos e ultrajantes,
além da atribuição desonrosa a ela sobre o uso indevido dos bens do condomínio,
atingindo diretamente o seu patrimônio moral e, portanto, causando o dever de
indenizar. As assertivas tornadas públicas, em suma, colocaram sob dúvida não só
higidez da conduta social da apelada, mas sua idoneidade como síndica do
condomínio, afetando, pois, sua honorabilidade e dignidade, que restaram
maculadas junto aos demais condôminos, pessoas do convívio social de ambos. O
havido, implicando ataque e ofensa aos direitos da personalidade da apelada,
consubstanciam, pois, fato gerador do dano moral.
Deve ser assegurada à apelada, pois, uma satisfação de ordem
material, que não constitui, como é cediço, pagamento da dor, pois que é esta é
imensurável e impassível de ser ressarcida, ou forma de eliminação das ofensas,
porque já impregnadas no âmago da sua personalidade, mas representa a
consagração e o reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, do valor inestimável e
importância dos direitos da personalidade, que devem ser passíveis de proteção
tanto quanto os bens materiais e interesses pecuniários que também são legalmente
tutelados. Assinale-se que a prova do dano, na espécie, se satisfaz com a simples
demonstração dos fatos que teriam ensejado-o e qualificaram-se como sua origem
genética, pois não há como ser negado que as ofensas que lhe foram assacadas
atingiram substancialmente sua honorabilidade, dignidade, intimidade e decoro,
afetaram sua auto-estima e provocaram-lhe abatimento e sofrimento, vulnerando a
intangibilidade da sua personalidade.
DECISÃO