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SENNE, M. N. ; GOMES, L. T. .

O construtivismo nas aulas de História: desejo e


método.. In: MARTINO, Vânia de Fátima; DAVID, Alessandra.. (Org.). Ensino de História
I: Estudos e Experiências.. 1ed.Curitiba: Editora CRV, 2018, v. 1, p. 13-32.1

RESENHA

Rodolfo Nunes Dias2

A obra de Marina Novaes de Senne e de Leonardo Teixeira Gomes que tem, segundo
os autores, um formato mais voltado para o ensaio do que para o texto científico busca
empreender uma articulação capaz de criar novas experiências educacionais. A obra se inicia
apresentando um diálogo entre um professor de didática e um grupo de estudantes de História
durante o questionamento de uma estudante sobre o aprendizado de línguas estrangeiras. Uma
das respostas do professor atravessa o grupo que fica sem argumentos para negar a ineficácia
do método tradicional de ensino. Tal diálogo colocado logo no início da obra tem a intenção
despretensiosa de proporcionar reflexões sobre estratégias metodológicas possíveis para
atuação do professor de História.
Trata-se de um texto o qual se relaciona com questões indispensáveis da filosofia e
psicologia da educação com objetivo central de fomentar o pensamento sobre metodologia. A
justificativa da obra se dá nas poucas mudanças estruturais nas aulas e mais precisamente nas
aulas de História do ensino básico. Um dos exemplos citados para tal afirmativa é a
permanência até os dias atuais de práticas de ensino que promovem menos a construção de um
saber e acaba dando prioridade à instrução. É como se o professor propusesse uma atividade

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Marina Novaes de Senne possui bacharelado e licenciatura em História pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005). Especialista em Educação em Valores Humanos pelo
Instituto Sri Sathya Sai de Educação (2011). Mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (2009). Doutora pelo Programa Educação Escolar da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2016). Professora do CENTRO UNIVERSITÁRIO
ESTÁCIO DE RIBEIRÃO PRETO- regime parcial- 20h (2012). Coordenadora da Escola Miró.(2013) e
Professora Colaboradora/Orientadora do Programa de Mestrado em Planejamento e Análise de
Políticas Públicas da FCHS- UNESP de Franca. Informações coletadas do Lattes em 20/10/2019
Leonardo Teixeira Gomes é Doutorando em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, campus de Araraquara (2015). Possui graduação em Direito pela Faculdade
de Direito de Franca (2000) e graduação em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2005). Especialização em Psicodrama com foco sócio-educacional (2007).
Especialista em Educação em Valores Humanos (2013). Atualmente professor da Escola Miró -
Ribeirão Preto/SP. Informações coletadas do Lattes em 13/11/2019
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Graduando em História – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP – Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Franca – Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900,
CEP: 14409-160, Franca, São Paulo, Brasil. E-mail: rodolfo.dias@unesp.br
inovadora em um primeiro momento apenas para ficar com a consciência tranquila para em
seguida voltar a lousa e escrever um bom resumo sobre o conteúdo da aula.
Nesse contexto se percebe uma urgente necessidade de revisão da didática e mais
especificamente da didática em Ciências Sociais. Em referência a Gallo (2014) e a ideia de que
a escola deve operar no mínimo, múltiplo e comum, introduzem, então, a idéia de que o trabalho
dos educadores e gestores “deve se atentar para as coisas miúdas que ocorrem na escola, atender
toda a diversidade e deve ser fundamentada no desejo de um bem comum” (SENNE, M. N. ;
GOMES, L. T., 2018, p.16).
Os autores do ensaio estruturam suas argumentações com base em outras obras como
as de Walter Kohan (2013), Carmen Pérez (2014), Rancière (2002), Ortega e Gasset (2000) e
Larrosa (2002) para questionar os objetivos da educação para além de modismos
metodológicos, para se pensar e produzir uma educação revolucionária. Em seguida, é
introduzida a reflexão acerca do construtivismo como um referencial explicativo que se utiliza
de diversas perspectivas teóricas. Tal referencial pode servir como uma “ferramenta útil para
tomar decisões inteligentes, inerentes ao planejamento, aplicação e avaliação do ensino”
(SENNE, M. N. ; GOMES, L. T., 2018 apud SOLÉ; COLL, 2009, p. 10).
Segundo os autores, é fundamental pontuar que a atuação do professor em sala de aula
não está dissociada do compromisso de transformação e atuação social e portanto é essencial
refletir sobre a intenção pedagógica considerando os aspectos sociológicos da educação. Na
proposta construtivista, a intenção pedagógica passa por uma aspiração de formar sujeitos
autônomos. Para seguir a discussão, os autores se apoiam nas categorias propostas por Zabala
(1998) para analisar o aspecto didático do processo educativo que consiste em sete variáveis
metodológicas: a sequência de atividades, o papel do professor e dos alunos, a organização
social das aulas, utilização do espaço e do tempo, organização dos conteúdos, materiais
curriculares e o sentido da avaliação. Ainda que essas variáveis se relacionem de forma direta,
separá-las pode ajudar no processo de reflexão e análise do percurso didático.
Para se pensar a prática docente os autores propõem analisar a maneira que se
encadeiam e articulam as diferentes atividades ao longo de uma unidade didática. Dessa
maneira, o referencial construtivista tem na sequência didática um tipo de unidade didática
potente para trabalhar com uma perspectiva mais processual do processo de ensino e
aprendizagem. Ao longo da obra são propostos alguns exemplos de elaboração de sequência
didática e são apontados diversos aspectos positivos para o processo de ensino e aprendizagem
para então dar importante destaque para o objetivo de organizar estudos em uma sequência de
atividades que garanta: boas perguntas, trabalho em grupo, diversidade de conteúdo, ajudas
ajustadas, diferente momentos avaliativos, desafios alcançáveis e possibilidades que possam
servir de auxílio no caminho para a prática reflexiva.
Na sequência da obra, os autores problematizam a relação entre professor e aluno que
deve ser transformada para que se possa sustentar a ideia de construção de conhecimento. É
preciso pensar quanto, de fato, nossos alunos são protagonistas de sua aprendizagem e uma
forma de se explorar isso é o protagonismo vinculado ao fato desses alunos poderem selecionar
os conteúdos de interesse para o estudo, ou até mesmo construírem coletivamente os critérios
de avaliação assim como o percurso que será seguido e as etapas de estudo. Contudo, não
adianta o aluno decidir o quer estudar se ainda estiver comprometido com uma compreensão
de que se aprende porque outro explica; é preciso que ele seja ator principal em seus
desequilíbrios e desejos.
A organização social da sala de aula é outra variável metodológica que recebe destaque
por permitir que se fuja das experiências homogeneizadoras, ou seja, é importante para que se
possa atender melhor a diversidade, para que se possa contar com uma diversidade de formação
e proposta de atividades da mesma forma como a organização entre as pessoas. É preciso pensar
que o modelo de sentar individualmente voltado para a lousa a maior parte do tempo reproduz
uma concepção de aprendizagem. Os vários modelos de organização da sala de aula citados no
texto indicam as inúmeras possibilidades para a construção do conhecimento.
O fato de estarmos tão marcados pelo modelo tradicional faz com que os professores
ousem pouco na configuração do espaço tempo que é outra variável metodológica apontada
pelos autores. O espaço da sala de aula deveria ser mais próximo ao mundo fora da escola, um
espaço associado a maneira como se constrói conhecimento no mundo real. O construtivismo
acredita também em uma formação integral dos alunos, assim é preciso ser trabalhado em sala
de aula os diferentes tipos de conteúdo: atitudinal, procedimental e conceitual. Embora esses
conteúdos estejam intimamente relacionados, a reflexão que se propõe é: “em que medida dou
espaço para a formação global de meus alunos”? Muitas vezes é comum um projeto curricular
abordar conteúdos conceituais como República Velha, Governo Vargas, Segunda Guerra
Mundial e etc. mas não tenham previsto trabalho com interpretação de mapas, fontes e escrita
de textos reflexivos. A organização dos conteúdos devem estar comprometidas com a formação
global dos alunos e com a intenção pedagógica de formar sujeitos autônomos.
Reflexões acerca dos materiais curriculares, bem como de outros recursos didáticos e
do sentido e papel da avaliação são as variáveis que encaminham a parte final da obra. Segundo
os autores, é preciso também pontuar a necessidade de reflexão acerca da existência, das
características e dos uso dos materiais curriculares e outros recursos didáticos. O caminho ideal
para essa prática reflexiva é que os professores sejam autores de seu próprio material didático
e que possam com esse material garantir uma atividade que atenda as necessidades individuais
e grupais. A avaliação por sua vez é um componente importante da prática docente e, também,
do movimento reflexivo dessa prática, mas não difere muito de qualquer outra intervenção
pedagógica. Portanto, seria um grande equívoco qualquer movimento que aliena a função da
avaliação de seu papel de dilatar os processos de aprendizagem. Tem-se diferentes tipos de
avaliação, mas o que determina o seu vínculo com uma perspectiva construtivista de educação
é menos o seu formato e mais a sua intenção.
Feita a articulação de teorias e experiências educacionais, a obra pretende nortear uma
busca de compreensão acerca do processo de construção de conhecimento e se esquiva da
pretensão de dar uma resposta para tal, uma vez que para os autores, quando encontrarmos a
resposta de como deve ser a educação, voltamos a não entender mais nada.

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