Disciplina: História Moderna I Professor: Martha Daisson Hameister Graduanda: Kelleny Brasil Rodrigues Período: 3º (terceiro) Data: 25 de junho de 2013
MULLETT, Michael. A Contra-Reforma e a Reforma Católica nos Princípios da Idade
Moderna. Lisboa: Gadiva, 1985.
Na introdução de seu livro, Mullett expõe que o objetivo do texto é apresentar
uma nova visão sobre a Contra- Reforma. Temos uma breve exposição do pensamento de alguns estudiosos que pautaram seus trabalhos numa abordagem mais tradicional do assunto. Exemplos de pesquisadores dessa vertente são Green – que atribuiu grande ênfase à fundação da Companhia de Jesus - ; H. O. Evenett – que situa o processo numa perspectiva de curta duração - ; B. J. Kidd – o qual também inseriu o processo em um curto período de tempo e deu grande peso à Inquisição e ao o Concílio de Trento. Reafirmando seu objetivo de apresentar uma visão diferente sobre a Contra- Reforma, Mullet situa as origens do processo antes do século XVI e o apresenta numa perspectiva de longa duração, tendo seu desenvolvimento completo só a partir de 1600 ou 1650. Nesse sentido, o autor afirma que para que se compreenda adequadamente a Contra- Reforma, é preciso adotar uma visão mais ampla do processo, isto é, deve-se dar atenção a outros fatores influentes no processo, além daqueles enfatizados pela corrente tradicional: o Index, a Inquisição e uma suposta curta duração. Como ponto de partida para seu trabalho, Mullett destaca as contribuições de John Bossy, o qual privilegia indivíduos que considera elementos-chave para a análise – o povo vulgar, o católico fiel, o bispo local e o pároco – e também as de Jean Delumeau – que enfatiza o longo tempo necessário para implementar de fato as mudanças, uma vez que haviam diversos interesses investidos, corruptos e amovíveis e rotinas administrativas que sofriam de subdesenvolvimento. Dessa forma, Mullett propõe um trabalho que enfoca três períodos principais: a preparação da Contrarreforma (entre o final da Idade Média e início do século XVI); o trabalho da Reforma Católica aliado ao Concílio de Trento (entre 1545-1563); o longo período de implementação das decisões (durante a segunda metade do século XVI). Mullet, então, faz breves considerações acerca dos significados dos diferentes termos usados para denominar o processo o qual ele aborda no livro. Isto é, enquanto “Contrarreforma” sugere um agressivo ataque católico à Reforma Protestante, “Reforma Católica” supõe um genuíno e espontâneo melhoramento no catolicismo, sendo frequentemente adotado por estudiosos católicos. Partindo dessa reflexão, o autor defende que todas as reformas desse período – Protestante, Radical e Católica – possuem uma origem comum situada numa realidade de reanimação cristã no final da Idade Média, que englobava a consolação na religião cristã no contexto de pestes do século XIV; o movimento de Contra-Renascença que se opunha ao resgate de valores pagãos Greco- Romanos, presentes no Renascimento e o saque de Roma (encarado, assim como as pestes, como um castigo e aviso divino). Mullet também destaca a importância dos bispos como agentes indispensáveis da Contrarreforma, uma vez que levaram a cabo as decisões do Concílio de Trento – fazendo reformas sistemáticas de seus bispados, inspecionando padres, estabelecendo escolas e seminários e cuidaram da pregação e administração dos sacramentos. Afirmando que a Reforma Católica não foi um evento estimulado puramente contra a Reforma Protestante - mas também proveniente da necessidade de uma extensa reforma, já expressa nos concílios do século XV e princípio do XVI -, Mullett destaca a existência de duas fases importantes, concernentes ao processo: uma primeira localizada na Itália, com um espírito protetor, introvertido e de defesa à Reforma surgida na Alemanha em 1517; e um segundo momento, no qual a postura defensiva deu lugar à de ataque e de missão, de caráter internacional. As características mais importantes da Contrarreforma seriam a limpeza, o disciplinamento e a inspeção dos bispados. O autor também volta a defender que os reformadores católicos eram produto da mesma mentalidade reformadora que produziu Martinho Lutero na Alemanha, João Calvino na França e Thomas Cranmer na Inglaterra . Frisando a importância do sacerdócio naquele contexto, Mullett destaca alguns pontos acerca desse elemento. Começa por afirmar que o a Contrarreforma foi um processo implementado pelos sacerdotes e dirigido aos leigos, o que não causa surpresa devido à histórica diferenciação pregada ela igreja, de que o sacerdote encontrava-se num plano elevado em relação aos leigos. Entretanto, a vida dos leigos piedosos poderia se aproximar da do clero caso os primeiros fossem devotos e ativos na Reforma Católica, podendo até ter concedidas ordens. A contribuição mais significativa do Concílio de Trento para o sacerdócio foi a construção de seminários – principalmente nas catedrais que não possuíam universidades -, o qual era utilizado para a criação de padres que deveriam ser melhores e diferentes dos leigos. Nesse sentido, os sacerdotes passaram a adotar um comportamento grave, reservado, uma vida sem sexo e distância de tabernas e botequins. Além disso, tornaram-se práticas sistemáticas os sermões, as pregações – ponto no qual reformadores católicos convergiam com os protestantes - e as aulas de catequese. As estratégias dos sacerdotes para impactar no universo popular incluíram, em grande parte, o papel educador atribuído ao clero, como no caso da ordem dos Jesuítas, os quais implementaram o teatro como forma muito semelhante ao sermão. Os Franciscanos também buscaram apelo popular, através de outra característica: seus trajes. Esses padres vestiam-se com hábitos de tecidos mais grosseiros – os quais afirmavam que era uma réplica exata do de São Francisco de Assis -, andavam descalços, não aparavam suas barbas e usavam grandes capuzes quadrados. Tais elementos materializavam a busca por uma espiritualidade prática e de ação durante a Reforma Católica. Um meio essencial de espalhamento da doutrina católica reformada foram as missões enviadas a localidades distantes daquelas europeias. Entretanto, Mullett ressalta que esses procedimentos não devem ser vistos em termos estritamente espirituais, uma vez que acarretaram consequências sociais, políticas e econômicas. É fundamental considerar que o povos convertidos não necessariamente adotavam a fé católica de forma efetiva, uma vez que sua conversão era estabelecida por meio de coerção, do prestígio e da persuasão. Na conclusão de seu livro, Mullett volta a destacar que a Contrarreforma não era primeiramente um movimento de oposição à Reforma Protestante, como mostrado pelo autor no que tange às missões. Além disso, é preciso observar que a reforma Católica emergiu no contexto de acentuação da autoridade dos estados nacionais e territoriais no século XVI e XVII, no qual os governantes pretendiam aumentar sua autoridade sobre a Igreja (tanto católica quanto protestante) a havia a diminuição do poder do papa sobre a igreja católica internacional e sobre os estados da Europa. A partir de uma religião que objetivava, mais do que anteriormente, ser sentida – fosse por meio da confissão, da eucaristia ou da arte barroca -, a Contrarreforma foi um grande marco na história cultural e política da Europa moderna e desempenhou importante papel na europeização do mundo não europeu.