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doi: 10.1590/S0102-01881998000100010
Annateresa Fabris
Escola de Comunicação e Artes
Universidade de São Paulo
COMENTÁRIO BIBLIOGRÁFICO
RESUMO
O que é a imagem hoje? A coexistência de diferentes tipos de
imagem não permite mais conceder primazia à representação,
alicerçada na relação entre imagem e realidade exterior. O modelo,
fruto de abstrações formais, está tomando cada vez mais o lugar da
imagem especular, marcando a passagem da natureza para a
linguagem e redefinindo o regime da visualidade contemporânea.
Palavras-chave: imagem, representação, modelo, simulação.
ABSTRACT
What is an image nowadays? The coexistence of several kinds of
images does not allow anymore to confer priority to representation,
founded on the relationship between image and external reality.
The model, generated by formal abstractions, replaces oft and oft
specular image. It designates the passage from nature to language
and a new system for contemporary visuality.
Keywords: image, representation, model, simulation.
Num breve, mas denso ensaio publicado em 1989, Alain Rénaud
propõe uma reflexão instigante sobre o estatuto da imagem nos
dias de hoje, que não pode deixar de ser levada em consideração
por todos aqueles que desejam discutir a problemática da
visualidade contemporânea.
Uma vez que isso implica por fim a uma visão idealista da arte,
segundo a qual a imaginação, separada das condições técnico-
materiais de produção e funcionamento, o autor articula uma
proposta de leitura centrada na pop art e no hiperrealismo para
discutir uma questão central da imagem clássica, o conceito de
identificação. A leitura de Renaud é instigante, pois ele detecta a
crise da ordem da representação não na abstração, mas em
operações fundadas na figuração que corroem a figura até
transformá-la apenas em superfície, em pura imagerie. Exemplar
nesse sentido, a proposta de Warhol, que transforma a figura
humana numa forma-superfície, a testemunhar uma existência
alusiva, uma identidade pelicular, a antecipar as interfaces de
conversão da imagem numérica.
Uma mudança técnica é ipso facto uma modificação do coletivo cognitivo, implica
novas analogias e classificações, novo mundos práticos, sociais e cognitivos3.
Tal como Rénaud, Lévy não deixa de ter uma visão histórica da
relação entre técnica, tecnologia e sociedade. Em Les Téchnologies
de l'Intelligence, insere a rede numérica na continuidade de uma
história das tecnologias intelectuais e das formas culturais a elas
associadas4, que faz consistir em mais dois tempos específicos, o da
oralidade ("palavra e memória") e o da escrita ("escrita e história").
NOTAS
1
RÉNAUD, Alain. "Pensare l'Immagine Oggi. Nuove Immagini, Nuovo Regime del
Visibile, Nuovo Immaginario". In V.A., Videoculture di Fine Secolo. Napoli, Liguori,
1989, pp. 11-27. [ Links ]
2
DORFLES, Gillo. "Interferenze tra Arte e Tecnica in Rapporto ai Nuovi Media". In
Epipháneia, Napoli, nº (0), mag. 1995, pp. 32-33. [ Links ]
3
LEVY, Pierre. Les Téchnologies de l'Intelligence. Paris, Seuil, 1993, p. 166.
[ Links ]
4
Idem, p. 86.
5
Idem, p. 112.
6
QUÉAU, Philippe. Éloge de la Simulation. Seyssel, Éditions du Champ Vallon, 1986,
pp. 31-32 e 186-187. [ Links ]
7
"Nouvelles Images, Nouveaux Regards". In V.A., L'Empire des Techniques. Paris,
Seuil, 1994, pp. 128-129. [ Links ]
8
LÉVY, P. op cit., p. 16.
9
Idem, pp. 129; 131; 135; 138; 147 e 158.
10
"Les Techniques et l'Humanisme". In V.A., L'Empire des Techniques, op cit., p. 236.
11
Idem, p. 237.