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http://dx.doi.org/10.15202/25254146.

2017v2n1p1

ci. ambientais
UMA ABORDAGEM DAS UNIDADES DE
TRATAMENTO DE RIOS (UTRs) NA GESTÃO
SANITÁRIA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Maria Clara Rezende Silva


Graduanda em Engenharia Civil pelo CEFET/RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
mariaclararez@gmail.com

Andréa Sousa da Cunha Fernandes


Mestre em Ciências pela UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Professora do Departamento de Engenharia Civil - CEFET/RJ
andreascunha@gmail.com

RESUMO

O crescimento desordenado acarretado pela falta de planejamento urbano é uma realidade


que afeta grandes cidades do Brasil. O Rio de Janeiro é uma dessas cidades com crescimento
desordenado e por isso necessita recuperar regiões em que o meio ambiente estão muito
impactadas. O sistema hídrico é um dos que mais sofrem impacto, tais como os rios, que
perdem a função de drenar as bacias hidrográficas apenas, se tornam canais de esgoto a céu
aberto. Assim surgiu como solução a implantação de unidade de tratamento de rios (UTRs).
Este trabalho apresenta a tecnologia FLOTFLUX® utilizadas nas UTRs, assim como a influência
da Lei 11.445/2011 nos planos municipais de saneamento ambiental, contemplando uma
análise das UTRs instaladas e em funcionamento no Rio de Janeiro dentro da gestão sanitária
do município.

Palavras-chave: Unidade de tratamento de rios. UTR. UTR Flamengo. Gestão sanitária. Rio de
Janeiro.

AN APPROACH TO THE RIVER TREATMENT UNITS (UTRs) IN THE


SANITARY MANAGEMENT OF RIO DE JANEIRO MUNICIPALITY
ABSTRACT

The disorderly growth brought about by the lack of urban planning is a reality that affects large
cities in Brazil. Rio de Janeiro is one of those cities with disorganized growth and therefore
needs to recover regions in which the environment is very impacted. The water system is one
of the most impacted, such as rivers, which lose the function of draining the river basins only,
become sewage channels in the open. Thus, the implantation of a river treatment unit (UTRs)
emerged as a solution. This work presents the FLOTFLUX® technology used in the UTRs, as
well as the influence of Law 11.445 / 2011 on the municipal environmental sanitation plans,
including an analysis of the RTUs installed and operating in Rio de Janeiro within the municipal
health management.

Keywords: Unit of a river treatment. UTR. UTR Flamengo. Sanitary management. Rio de Janeiro.

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UMA ABORDAGEM DAS UNIDADES DE TRATAMENTO DE RIOS (UTRs)

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1 INTRODUÇÃO

Com a criação de cidades e grandes civilizações o conceito de saneamento básico nasce,


conforme a tipologia da palavra “sanear” vem do latim sanu, que significa tornar saudável,
habitável, higienizar e limpar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “saneamento é o controle de todos
os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o
bem estar físico, mental e social”. Sendo assim, pode-se dizer que saneamento é o conjunto
de medidas socioeconômicas com objetivo de auxiliar vida humana sem lesar tanto o meio
ambiente mantendo a salubridade ambiental (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015).
De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu capítulo
VI, artigo 225, que trata do meio ambiente:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso


comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

2 SANEAMENTO NO BRASIL

A Cidade do Rio de Janeiro foi a terceira cidade do mundo a ser beneficiado pelas redes de
esgotos sanitárias, com a vinda da empresa inglesa CITY a partir de sua concessão. Em 1864, a
primeira estação de tratamento do país foi construída no RJ por essa empresa que ficou até 1947,
com isso, sendo responsável por toda rede e tratamento de esgoto do Rio Antigo. (CEDAE, sd a).
Assim como na construção de uma estação de tratamento de esgoto (ETE) o RJ foi pioneiro
no país, aconteceu o mesmo com estação de tratamento de água (ETA), mas segundo Barros
(2014), a ETA do RJ foi pioneira a nível mundial (utilizando tecnologia nova do decantador de
Dortmund). (BARROS, 2014; CEDAE, sd b).
O país viveu um período muito longo sem grandes investimentos na área de infraestrutura,
muito relacionado com o momento de recuperação econômica que o país viveu. No PLANSAB
(2014), é mencionado que de 1996 até 2002 o Brasil viveu um processo de limitações das
informações acerca dos investimentos realizados no setor de saneamento básico, com isso o
setor de saneamento só voltou receber um valor significativo de investimento em 2007, com
Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC).
Apesar de ser um período sem grandes investimentos no setor, o assunto era discutido
de outras formas, como em 1995, a Lei de Concessão nº 8.987 regulamentou o artigo 175 da
Constituição Federal, que previu a concessão de serviços públicos e autorizou a outorga desses
serviços. Assim como, foram revistos estratégias de privatização com outros projetos de lei para
saneamento (BARROS, 2014).
A partir de 2003, o setor passou a ser reformulado e se tornou responsabilidade do
Ministério das Cidades (assim como a política de desenvolvimento urbano e as políticas setoriais
de habitação, mobilidade, transporte urbano e trânsito, além de planejamento urbano territorial
e regularização fundiária) (Ministério das Cidades, 2013).

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“Atualmente, o termo ‘saneamento ambiental’, que já dá nome à Secretaria Nacional
responsável por tal temática no âmbito do governo federal, vem se consolidando a
partir de uma nova visão que considera a necessidade de se tratar de forma articulada
o saneamento básico aos diversos aspectos relacionados à salubridade ambiental: o
controle da poluição do ar, das águas, do solo, visual, sonora, o controle de vetores de
doenças, o reuso das águas de chuva etc.” (MINISTERIO DAS CIDADES LIVRO II – LEI
NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO, 2009)

Coube a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental direcionar essas ações que resultou
na formulação da política pública de saneamento básico, com a aprovação da Lei nº11.445 em
2007 (Ministério das Cidades, 2013).
Foi a partir da Lei Nacional de Saneamento que as esferas governamentais (Federal,
Estadual e municipal) tiveram responsabilidade interligadas para uma organização a favor
da universalização dos serviços para a sociedade. Um ponto de partida para se pensar uma
nova forma de gestão integrada é exatamente o diálogo entre as instâncias setoriais de
planejamento.

2.1 Saneamento Básico no Rio de Janeiro

No estado do RJ a responsabilidade de manter a captação, tratamento, adução, distribuição


das redes de água, além da coleta, transporte, tratamento e destino final dos esgotos gerados
dos municípios conveniados do Estado do Rio de Janeiro é da Companhia Estadual de Águas e
Esgotos (CEDAE) desde 1975 oriunda da fusão da Empresa de Águas do Estado da Guanabara
(CEDAG), da empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do
Estado do Rio de Janeiro (SANERJ). Não são todos os municípios que são atendidos pela CEDAE,
tornando o serviço privatizado para outros municípios. Contudo a CEDAE é encarregada pelo
saneamento da maioria dos municípios e também pela capital do estado.
O Plano Municipal de Saneamento Básico para os serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário do Rio de Janeiro (PMSB-AE) (decreto nº34290/2011) tem como objetivo
principal o desenvolvimento de alternativas e soluções de engenharia para suprir a necessidade
de abastecimento de água e coleta/tratamento de esgoto. O planejamento é feito para 20 anos
com projeções até 2030, de acordo com a Lei federal de Saneamento Básico, conforme site da
Prefeitura do RJ, a secretaria responsável é a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC).
Segundo Plano Municipal de Saneamento Básico do Rio de Janeiro (PMSB, 2011) são metas
sobre abastecimento de água e coleta de esgoto conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Metas do Plano Municipal de Saneamento Básico


ANO 2008 2015 2016

Índice de Perdas (%) 32 20 20

Cobertura mínima abastecimento de água (%) 94 99 99

Cobertura mínima coleta de esgoto (%) 56 - 75


Fonte: (Decreto Municipal Nº 34.290/2011)

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2.2 Os Rios

Rios são uma corrente natural de água que irá desaguar em outro corpo de água
semelhante, tal como lagoas, baías ou mar. Os rios são as ramificações e eixo central de uma
bacia hidrográfica de acordo com a definição de Jorge Uehara (1998, p.104 apud Gorski, 2008).
No Rio de Janeiro são diversas as bacias hidrográficas, podem ser vistas na Figura 2 do
Instituto Pereira Passos, que delimita a região de cada bacia.

Figura 2 – Bacias do Rio de Janeiro

Fonte: (PMSB (AE) do RJ – IPP, sd)

Historicamente, os rios são parte essencial para estrutura das civilizações, com isso as
cidades crescem em volta desses corpos hídricos. Os rios são importantíssimos para abastecimento
de água das cidades, e para receber o esgoto, preferencialmente depois do tratamento, como
pode ser visto de forma simplificada, na Figura 3, a importância dos rios no ciclo de uso da água
pelo homem. (Von Sperling, 1996)

Figura 3 – Ciclo de uso da água

Fonte: (VonSperling, 1996).

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Com o crescimento desordenado das cidades, rios e mares próximos são os principais
prejudicados, pois com a falta de saneamento, redes de esgoto e tratamento adequado
permite que os dejetos provenientes de residência e indústrias sejam despejados de qualquer
forma. Essa realidade é muito presente no município do Rio de Janeiro. A fim de recuperar,
melhorar a qualidade dos rios foi desenvolvida uma tecnologia de tratamento de esgoto no
curso dos rios.

2.3 Unidade de Tratamento de Rios

Com intuito de melhorar a condição dos efluentes uma empresa elaborou uma tecnologia
intitulada sistema FLOTFLUX®. O tratamento FLOTFLUX® consiste na aplicação conjunta,
sequencial e em fluxo e níveis variáveis de técnicas usadas nas Estações de Tratamento de
Água, e também nas Estações de Tratamento de Esgoto, para segregação de materiais: a
Coágulo/Floculação e a Flotação. Além das técnicas de segregação físico-química o processo
conta também com a remoção do lodo formado na superfície da água por equipamentos
especiais. Podendo ou não, dependendo do uso da água resultante, o tratamento se completa
com a desinfecção do efluente. A grande diferença entre no tratamento está pelo fato de ser
através da flotação e não da decantação como nas ETEs convencionais, assim como permitir o
tratamento sem alterar o curso de um rio ou canal.
As unidades FLOTFLUX® são adequadas de acordo com atuação do corpo d’água (os rios)
para sua operação, o que permite a eficiência em variados tipos de leitos de rios e canais, ou até
mesmo em tanques artificiais. Com essa maleabilidade do sistema, é possível a melhoria de rios
e canais urbanos, reservatórios e lagos como aprimoração de outros processos em Estações de
tratamento de esgoto.
São impostas como meta do processo FLOTFLUX® “a redução de substâncias poluentes
indicadoras de qualidade como os coliformes, DBO e DQO, Fósforo Total, óleos e Graxas e pela
diminuição de taxas de parâmetros perceptíveis como a cor, turbidez e o odor da água tratada.”
Com isso, permite o aumento da taxa de oxigênio nas águas, que é o que mantém conserva a
vida aquática.
Os processos que compõem o sistema FLOTFLUX® é apresentado na Figura 4.

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Figura 4 – Tecnologia FLOTFLUX®

Fonte: DT ENGENHARIA (s.d)

3 UNIDADE DE TRATAMENTO DE RIOS (UTRs) DO MUNICÍPIO DO RJ

No Rio de Janeiro existem 5 UTRs instaladas, que são: UTR Flamengo; UTR São Conrado; UTR
Arroio Fundo; UTR Guaratiba; e UTR Irajá. Entretanto, apenas 4 delas estão em funcionamento, a
UTR Irajá foi construída dentro do Plano Guanabara Limpa para reduzir carga orgânica despejada
na Baía de Guanabara em 80 % até as olimpíadas, mas por um problema em assumir o custo de
manutenção, entre município e o estado do RJ fez com que a obra fosse finalizada no fim de 2015
esteja parada desde então (Konchinski, 2016). A fim de exemplificação o item 3.1 apresentará a
UTR Flamengo.

3.1 UTR Flamengo

A unidade de tratamento do Rio Carioca foi construída, segundo Sirkis (2006), pelo Governo
do Estado do Rio de Janeiro com recursos da Petrobras, por uma indenização do acidente na Baía
de Guanabara em 2000. Com as obras finalizadas em 2002 a operação da mesma só começou em
2003, com a DT Engenharia operando e a SERLA (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas)
fiscalizando. Mas foi em 07/01/2007 que o município do Rio de Janeiro após firmar um laço
chamado de Convênio de Cooperação com o Estado do Rio de Janeiro, assumiu o controle da
Unidade de Tratamento de Rios.
Nessa UTR, é tratado o corpo hídrico chamado Rio Carioca, que é um rio que foi canalizado
segundo PMSB-drenagem (2015), em 1906 no governo de Pereira Passos e que passa em bairros

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bem desenvolvidos da cidade do RJ, são eles Cosme Velho (nascente) passando por Laranjeiras
e tendo sua foz na praia do Flamengo, como pode ser visto na Figura 5. O Rio Carioca pertence
a Bacia da Baía de Guanabara, mais especificamente a sub-bacia do Rio Carioca identificada na
Figura 6, demonstra toda a região que o rio drena até a baía de Guanabara. Essa unidade tem
capacidade de tratar até 300 litros por segundo.

Figura 5 – Mapa Rio Carioca com Ortofoto

Fonte: (Adaptado de Mapa Digital do RJ – Ortofoto, 2012)

Figura 6 – Sub-bacia Rio Carioca

Fonte: (Editado Mapa PMSB (AE), sd)

A UTR Flamengo foi analisada duas vezes, na primeira em abril de 2016, foi feita o
primeiro contato com a tecnologia de perto, na segunda vez consolidou-se o conhecimento
sobre o procedimento e verificar a influência do tratamento no entorno, perguntando aos
frequentadores da praia. Todas as vistorias foram feitas com representante da empresa Rio-
Águas (órgão fiscalizador) e a bióloga da DT Engenharia Raquel Lopes, a foto da região e as fotos
do tratamento da vistoria são ilustrados na Figura 7 e Figura 8.

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Figura 7 – Foto aérea UTR Flamengo

Fonte: (Editado Vídeo institucional DT Engenharia, sd)

Figura 8 – Processo da UTR Flamengo

Fonte: (Adaptado de Vídeo institucional DT Engenharia, sd)

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Na segunda vistoria, verificou-se com algumas pessoas que caminhavam na Praia sobre a
melhora na condição da água da praia depois de instalada a UTR, todos responderam que existiu
uma evolução com o tratamento da foz do Rio, mas que está longe de se tornar uma praia limpa.
De fato, os relatórios de balneabilidade da Praia do Flamengo realizados pelo INEA de 2007 até
2016 confirmam isso. O Gráfico 1 foi elaborado a partir desses relatórios do INEA, apresentando
o panorama da Praia do Flamengo quanto as suas condições de banho.

Gráfico 1 – Relatório de balneabilidade praia do Flamengo

Fonte: (As Autoras, 2017)

Contudo o maior período que a praia se tornou balneável foi de maio a outubro de
2016, coincidindo com período das olimpíadas e paraolimpíadas. Para isso, outras obras no
entorno foram feitas a fim de melhorar a qualidade das águas da baía e nesse caso só pode ser
considerado legado olímpico comparando com mesmo período deste ano. O que acontece é
que a praia do Flamengo não sofre influência apenas pelo rio carioca, existem diversos fatores
tais como marés, correntes marítimas que influenciam na qualidade da água, ainda mais
considerando a localização da mesma que pertence a Baía de Guanabara, cuja despoluição
ainda não foi solucionada.
Outro ponto a ser considerado foi levantado pela Bióloga Raquel Lopes segundo ela existe
uma galeria pluvial localizada após o tratamento, o que dificulta a eficácia do processo. Em uma
das vistorias fiz uma busca a fim de descobrir esta galeria, mas o rio após o tratamento é coberto
por decks não possibilitando a visualização, entretanto um levantamento da FIOCRUZ justifica
esse relato. No estudo da FIOCRUZ é alertado sobre o surgimento de uma superbactéria que
estaria presente no curso do rio Carioca, em que apenas 2 pontos de coleta dos 5 estão ausentes
da superbactéria, são eles na nascente do corpo hídrico e logo após o tratamento. Contudo, a
superbactéria reaparece na foz do rio, comprovando a presença da galeria mencionada ou até
mesmo de ligações clandestinas, o estudo da FIOCRUZ é ilustrada na Figura 9.

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Figura 9- Pontos de coleta para estudo FIOCRUZ no Rio Carioca

Fonte: (Site FIOCRUZ, 2014)

De acordo com relatório de “contribuições e propostas da COPPE” de 2016 justifica a


necessidade de UTR da seguinte Forma:

“Medidas de tratamento de rio, como UTRs, se justificam e são úteis apenas quando
o rio em questão é um curso d’água com baixíssima vazão base e quando objetivo
mais imediato se refere à preservação do corpo receptor final (um sistema de lagoas,
por exemplo). Essa escolha, porém, não traz melhorias para o ambiente urbano que
circunda tal corpo hídrico e nem para sua população”

Com isso, atualmente a UTR do Flamengo ainda tem sua importância, principalmente
por permitir que menos esgoto deságue na Baía de Guanabara. Considerando a ineficiência do
sistema de esgotamento sanitário da região, e que o Rio Carioca seja hoje um “canal de esgoto”,
a região bem desenvolvida, e grande parte do corpo hídrico canalizado dificulta descobrir
os pontos das ligações clandestinas de esgoto nas redes e galerias pluviais, prejudicando a
recuperação do corpo hídrico como um todo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresenta um problema que o município do Rio de Janeiro vivencia há tempos,


que é a ineficiência dos serviços de saneamento básico. Mais especificamente a drenagem
de águas pluviais e o esgotamento sanitário que teve como solução uma nova tecnologia de
tratamento da água no curso dos rios, as chamadas UTRs.
A partir da lei 11.445/2007 o município se torna responsável por elaborar o PMSB
(Plano Municipal de Saneamento Básico). No Rio de Janeiro foi dividido em PMSB (AE –

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Abastecimento de água e Esgotamento sanitário) e PMSB drenagem, mesmo com essa divisão
as UTRs, que são controladas pela prefeitura do Rio, não são citadas como intervenção ou
medida sanitária, apenas é exposto um novo plano de implantação de 4 UTRs para melhorar
o complexo Lagunar de Jacarepaguá. Com isso, o panorama da real da situação sanitária da
cidade não foi apresentado, nem um estudo que justifique a permanência das unidades, tanto
sobre o custo quanto sobre eficácia.
Logo, a tecnologia FLOTFLUX® que trata como esgoto um corpo hídrico, que é responsável
pelo escoamento de uma bacia hidrográfica, deveria ser apresentada em conjunto com um
plano que recuperasse de forma efetiva todas as ineficiências dos serviços de saneamento
básico. Ainda que o plano de saneamento não seja complementar à instalação de uma UTR, e
que a mesma fique instalada por tempo indeterminado, deve ser apresentado o resultado de
eficiência da unidade, algo que comprove a necessidade assim como o efeito positivo que a
mesma contribui.
No caso da UTR Flamengo, além da implantação dessa unidade outras obras foram feitas
no entorno, o que pode ter colaborado para melhoria da qualidade das águas. O sucesso dessas
intervenções não puderam ser comprovadas pois o período de comparação deve ser de pelo
menos um ano após a condição de melhora.
A Prefeitura tem um custo de aproximadamente 22 milhões de reais/ano para manutenção
das UTRs, que são medidas que colaboram para reduzir a carga orgânica nos corpos hídricos,
lagoas e praias, mas não solucionam a falta de estrutura de saneamento da cidade. Além, de
não contribuir com a recuperação os rios, aceitar o mesmo como canal de esgoto deixando
de reconhecer o rio como área de lazer ou até mesmo transporte aquaviário, como pode ser
visto na proposta de Operação Urbana Consorciada das Vargens, uma vez que revisa todas as
instalações e serviços voltados para saneamento básico.
Cabe rever o conceito de trabalhar com instalações que só remediam e apresentam
um reparação em menos tempo, mas que não sanam o problema de forma efetiva. É fato
que as UTRs podem ter seu valor, se planejadas de forma corretas, auxiliando um plano
maior e mais completo de saneamento, podendo ser chamada de estrutura temporária.
Outra observação se dá pela fiscalização e monitoramento das unidades que para confirmar
o funcionamento deveria ser feita por outra agencia/órgão e não pelos responsáveis como
é o caso da Prefeitura do Rio.
Fica evidente que a cidade do Rio de Janeiro precisa recuperar praias e lagoas reintegrando-
as a sociedade, de forma urgente, mas não cabe a prefeitura assumir essa responsabilidade
sozinha. É de extrema necessidade aproximar as três esferas do governo (federal, estadual e
municipal) a fim de planejar um solução para universalizar os serviços do saneamento básico, tal
como proposto pela lei soberana nº11.445/2007.
Para o planejamento ideal é preciso considerar controle social, citado na lei nº11.445/2007,
ou seja, garantir à sociedade acesso às informações. O que de fato não ocorre hoje com as UTRs,
visto que não é exposto ao público os resultados do monitoramento, bem como a explanação
das mesmas no PMSB. A busca pelo desenvolvimento sustentável e ambientalmente adequado
é um dever no direcionamento das ações públicas para uma boa gestão pública, intervindo na
consequência gerada pelo crescimento desordenado das cidades.

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