Introdução ao Direito Processual Penal – como sistema de
persecução penal
Introdução ao Direito Penal
O Direito Penal está indissoluvelmente atrelado ao “princípio da excepcionalidade”, uma vez que ameaça a própria liberdade do indivíduo (vide prevê a possibilidade de puni-lo através de penas de reclusão). Eis seu caráter excepcional, porque ele será considerado quando todos os outros âmbitos do Direito não bastarem, portanto, em situações um tanto quanto mais graves, que ameaçam bens jurídicos constitucionais. Logo, por consequência, infere-se que ele está intimamente atrelado à proteção ferrenha dos direitos fundamentais das pessoas (tais como direito a vida; bens fundamentais para se viver em sociedade). *Entretanto, vale-se ressaltar que alguns tipos penais não tutelam bens jurídicos, tais como aqueles que tratam de formação de quadrilha, ou seja, tutelam organizações criminosas. Em suma, o Direito Penal, consiste no ramo do Direito encarregado de definir condutas penalmente relevantes (fatos humanos mais perturbadores da vida social) e imputar-lhes sanções. Introdução ao Direito Processual Penal Inerente à caracterização do Direito do Processo Penal, por sua vez, é o princípio denominado: “nulla poena sine judicio” que se refere à premissa de que, não há condenação ou pena sem processo, ou seja, sem intermédio de um mediador (ou seja, de um juiz imparcial, cujos poderes sejam juridicamente limitados) e a observação do devido processo penal. Além disso, uma outra nomenclatura que se remete à essa ideia, é o princípio da necessidade, que aborda exatamente o fato de que a existência da pena é condicionada pela existência, primeiramente, de um processo penal. Portanto, tendo em vista o exposto, depreende-se que o Processo Penal é um instrumento do Estado para efetivar o Direito Penal, ou seja, para executá-lo, através de trâmites, procedimentos, etapas e regras especificas. Por conseguinte, compreende-se que o Estado detém o direito subjetivo de punir (aquele que comete um crime), em outras palavras, a titularidade de penar. Direito, esse, que é sintetizado pela expressão em latim: “jus puniendi” (persecução penal, reconstrução histórica do fato), ou seja, o direito à persecução penal, que consiste na atividade do Estado que busca a repressão das infrações penais. Por fim, esse direito à pretensão punitiva, bem como sua evolução, está, também, intimamente ligado à evolução do conceito de pena. Na medida em que o direito do Estado de punir, surge no momento em que a definição de pena, extravasa sua ligação errônea com a alusão errônea à vingança, e passa a ter um caráter muito mais voltado à ressocialização e reeducação do indivíduo.
Principal diferença entre Processo Penal e Civil
Diferentemente do que se verifica no âmbito do Processo Civil, no Processo Penal, não há solução do conflito (mediante aplicação de pena) por via extraprocessual. Enquanto que no Processo Civil, há, por exemplo a possibilidade (ao tratar de direitos disponíveis) de se recorrer à uma arbitragem por exemplo, ou seja, uma via extraprocessual para resolução do conflito. O Direito Penal, portanto, não se efetiva senão pela via processual. Por fim, ainda é possível verificar que essa diferenciação se opõe a “teoria geral do processo”, que congloba todas as definições de processo no âmbito jurídico, ou seja, de maneira equitativa, equivalente.
O papel do MP no Processo Penal
Primeiramente o conceito de “objeto” aqui não deve ser confundido com a finalidade do Direito Processual Penal, nem com o fundamento (constitucional) à que deve sua existência, tampouco com sua natureza jurídica. O objeto do processo penal (aquilo que irá originá- lo, dar causa ao nascimento do processo) é a pretensão acusatória - ou seja, a faculdade de solicitar tutela jurisdicional, que é uma condição indispensável para que ao final o juiz exerça o poder de punir. O titular da pretensão acusatória, por sua vez, é exatamente o Ministério Público, titular da ação penal.
Natureza jurídica do processo penal – conceito “extra” para
compreender melhor o Direito Processual Penal São três as principais teorias que abordam a natureza jurídica do processo penal, sendo elas, as seguintes: - Processo como relação jurídica: consiste em uma relação jurídica de natureza pública (porque envolve um ente a serviço do Poder Público, mas propriamente da administração da justiça) que se estabelece entre as partes, e entre as partes e o juiz, dando origem à uma série de direitos e obrigações processuais. Tendo em vista essa definição, entende-se que, segundo ela, o acusado não deve ser considerado um mero objeto do processo, e sim, parte integrante. - Processo como situação jurídica: consiste no conjunto de conjunto de situações processuais (ou seja, dos atos processuais) que culminam na sentença. O idealizador dessa teoria, dá grande importância a esses procedimentos, a esses atos, considerando que a inobservância de algum deles, pode culminar em uma sentença injusta. - Processo como procedimento em contraditório: por fim, essa teoria define a natureza jurídica do processo penal como “direitos e obrigações probatórias” que se desenvolvem por meio das “situações jurídicas”, que geram um maior aproveitamento do processo.
Fundamentação constitucional do DPP - introdução aos princípios
constitucionais do processo penal Além de estar relacionado com a finalidade de pretensão punitiva, conforme mencionado anteriormente, o Direito Penal, atua na proteção das garantias constitucionais, vide que prima exatamente pela repressão do delito, e por uma observação rigorosa de um devido processo legal. Logo, entende-se que que a repressão do delito, está inerentemente atrelada ao respeito às garantias mencionadas, porque visa suprimir as condutas que se vão contra essas garantias. A Constituição, portanto, representa uma orientação para as normas do CPP, e ainda apresenta os limites de atuação do DPP, ao estabelecer princípios orientadores do processo.
- Princípio do Juiz Natural (art. 5, inciso LIII): estabelece que devem
haver regras objetivas que versem sobre competência jurisdicional, que garantam a imparcialidade do órgão julgador; - Princípio do Devido Processo Legal (art. 5, inciso LIV): o processo deve seguir as etapas e requisitos previstos em lei; - Princípio do Contraditório e Ampla Defesa (art. 5, inciso LV): pressupõe que ninguém poderá ser condenado por uma sentença de um processo do qual não fez parte, ou seja, não teve chances de se defender; - Princípio da Presunção de Inocência (art. 5, inciso LVII): “ninguém será culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Por sua vez, são algumas regras constitucionais orientadoras do
processo, as seguintes: - Exigência de Publicidade e Fundamentação das Decisões Judiciais (art. 93, inciso IX): as decisões judiciais devem ser bem fundamentadas (embasamento legal) e as partes devem ter acesso à essas decisões; - Titularidade exclusiva da ação penal pública por parte do Ministério Público (art. 129, I).
Distinção entre: ação, procedimento e processo
- Ação: a ação penal se inicia com a admissão da denúncia ou queixa,
pelo juiz. O magistrado, por sua vez, tem dupla função: autorizar medidas cautelares e atuar na defesa da garantia de direitos fundamentais (através de um julgamento justo, imparcial). - Procedimento: consiste na sequência de atos processuais encadeados (modo em que se executa os atos processuais). - Processo: se inicia com a citação do acusado, e consiste no instrumento através do qual se obtém prestação jurisdicional, que irá culminar numa sentença.
Etapas do Processo Penal
INQUÉRITO POLICIAL: apura fatos referentes ao crime; perícia; e
apuração de provas (não se pode condenar alguém, tendo em vista exclusivamente essa fase) – é a primeira fase da persecução penal OFERECIMENTO DE DENÚNCIA OU QUEIXA (pelo MP) acusação – início da segunda fase “jus puniendi” INÍCIO DA AÇÃO – RECEBIMENTO DE DENÚNCIA OU QUEIXA (pelo juiz) OITIVA DE TESTEMUNHA OU INTERROGATÓRIO DO RÉU SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA – encerramento da segunda fase EXECUÇÃO PENAL – fase de cumprimento da sentença
Sistemas processuais penais
A ideia de “sistema processual penal” refere-se à estrutura do processo penal de um país, que por sua vez é bastante condicionado, por uma orientação ideológica, seja libertária ou punitiva. Além do exposto, considera-se que a posição (função) aferida ao juiz é o que funda a estrutura processual. - Inquisitório: (predominou de meados do século XII até o final do século XVIII, início do XIX em alguns países) esse sistema concentrava nas mãos do magistrado inúmeras funções, que são, inclusive, antagônicas entre si: investigar; acusar; defender e julgar. Esse sistema tem essa nomenclatura pois decorreu do contexto da Inquisição (movimento através do qual a igreja perseguia os hereges, ou seja, aqueles contrários ao catolicismo). Em suma, então, esse sistema concentra o mister de acusar e julgar, principalmente, nas mãos do magistrado (naquele contexto denominado inquisidor. Portanto, verifica-se que nesse sistema não há a proteção do princípio do contraditório, vide que o acusado, em suma não tem acesso ao processo, quase todo dirimido pelo juiz, portanto há desigualdade entre as partes. - Acusatório: (predominou até o século XII) o juiz tem a função apenas de julgar, e não de acusar, isso caberá, nesse sistema à outro órgão. Além disso os atos probatórios (apresentação de provas) são responsabilidade das partes. Portanto, esse sistema corrobora muito mais com o princípio do juiz natural, ou seja, a imparcialidade do mediador, do que o anterior, isso, porque, os pré-julgamentos pelo inquisidor são muito evidentes (uma vez que os atos probatórios cabem a ele). Por fim, é importante ressaltar que, também no que se refere a esse sistema, as partes recebem tratamento igualitário (reforçando a premissa do princípio do contraditório). - Misto: (a partir do final do século XVIII, início do XIX) tal sistema advém principalmente do contexto da Revolução Francesa. Em suma, dividiu o processo em duas fases: pré-processual e processual, sendo que a primeira estaria muito mais relacionada ao sistema inquisitório, enquanto a segunda, ao sistema acusatório (vide que distingue a função de acusar – aferida do MP – da de julgar – aferida ao juiz). O sistema brasileiro é considerado misto, porém, essa afirmação é considerada um tanto quanto redundante, uma vez que todos os sistemas contemporâneos são mistos. Muitas críticas, são dirigidas a esse sistema, considerando que as fases enunciadas não são tão claras, plenas, no sentido de que, na segunda, o juiz, por exemplo, pode declarar de ofício ato probatório, ou seja, pode trazer à tona prova, o que é uma característica do sistema inquisitório.
*Princípio da Correlação: ideia de que o juiz não pode condenar o réu
à determinada pena, se o MP, primeiramente, não a solicitar.