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[KAMERAPHOTO] 2010
A Kameraphoto, primeiro colectivo de fotógrafos português, nasceu em 2003, da
vontade de criar uma plataforma autónoma, garante de liberdade e criatividade para os
seus associados e para a fotografia produzida em Portugal. No sentido de reforçar o
incentivo, a promoção e a divulgação da fotografia, temos o prazer e o orgulho de
apresentar o programa de formação KMaster.
O curso tem a duração de um ano lectivo e divide-se por três períodos. O primeiro
decorre de 18 de Outubro a 8 de Dezembro (por ser feriado, a aula de dia 8 poderá ser
remarcada, em função da disponibilidade dos alunos). O segundo começa a 17 de
Janeiro, estendendo-se até 6 de Abril. O terceiro inicia-se a 16 de Maio e termina a 6
de Julho. Na semana seguinte, a 14 de Julho, a KGaleria inaugura a exposição com os
trabalhos desenvolvidos pelos alunos. O regime de duas aulas semanais soma um total
de 168 horas.
Inscrições:
Para a admissão, deverá ser entregue uma candidatura, constando de uma carta de
motivação (máximo de 3000 caracteres), um curriculum vitae, contactos e um
portfolio. O portfolio deve ter entre 12 e 30 imagens, podendo ser um só projecto ou
imagens de vários trabalhos, em suporte de papel ou em CD. A data limite de
candidatura é 27 de Agosto de 2010 e esta deverá ser entregue ou enviada para:
KMaster
Rua da Vinha, 43 A
1200-475 Lisboa
PORTUGAL
Os alunos do curso são convidados a participar num dos workshops, à sua escolha,
que decorrerão ao longo do ano lectivo de 2010-11.
Em 1958, Robert Frank publicou o livro The Americans. Esta obra tem os EUA como
objecto, a estrada como meio e já não é somente sobre cada fotografia, como se pode
dizer que seja Images à la Sauvette, (1952), de HCB, livro-catálogo, inventário dos
virtuosismos do mestre francês. Pelo contrário, em The Americans, a fotografia não é
um assunto resolvido, resgatada do tempo. Neste caso, a fotografia é um objecto
temporal, um acto contínuo e uma construção permanente. Cada imagem usa a sua
imperfeição ou incompletude como uma transposição para um outro lugar, para uma
outra página, para uma outra fotografia. A leitura visual desta obra transpõe o limite
de cada imagem e os significados emergem da transversalidade que a atravessa.
Uma reportagem tem uma história que começa antes da fotografia. O fotógrafo
observa e relaciona-se com o meio em seu redor. É na percepção de um tempo e de
um lugar, na empatia e intimidade para com o assunto, que se define o rumo
fotográfico do trabalho. Trata-se, de facto, de um rumo. Uma reportagem não é um
conjunto de boas imagens. É uma construção que se aproxima mais da montagem
dum filme ou da escrita dum livro. O valor de cada imagem não existe só por si
(como um fotograma de um filme ou uma palavra de um romance não valem só por
si), mas antes no papel narrativo que as imagens estabelecem entre elas. Cada
fotografia expõe a iconografia, os ambientes e os intérpretes de um acontecimento,
mas é nos intervalos, nos espaços percorridos de umas para as outras, que se definem
o sentido e o valor da reportagem.
A fotografia mais chocante, mais lembrada e mais divulgada da guerra no Iraque foi
tirada por um amador com uma pequena máquina digital. Em 2006, soldados
americanos pousavam para a câmara, dominando presos iraquianos em posições
humilhantes. A presença duma máquina fotográfica justificou que se montasse uma
cena, que os intervenientes fossem dispostos numa pose trabalhada e que o momento
fosse registado. A relação da fotografia com o mundo que a rodeia não é, de todo,
passiva. Reconhece a realidade como subjectiva, como uma construção mental e
cultural, da qual participa e na qual intervém. A fotografia documental, que é falível e
não contempla tudo, serve-se da encenação para superar as suas contingências
próprias: interpreta a realidade e extrai-lhe o elemento simbólico, aquele a ser
trabalhado e que lhe permite representar o todo pela parte. Mas não abdica nunca do
real. No caso de Abu Ghraib, o resultado das fotografias é um pungente retrato de
algo maior, dum facto histórico irredutível a um disparo fotojornalístico e que,
somente pelo poder evocativo e metafórico de um pormenor encenado, pôde ser
registado numa imagem.
Esses dois tempos em que uma fotografia encenada existe – o instante do disparo e
um tempo mais lato evocado pela imagem – definem a construção dum retrato. Num
retrato convergem dois elementos: um físico, por natureza, na casualidade duma
situação específica, gravada na expressão do retratado e no ambiente em que se insere
e um outro, intangível e imutável, que o define além da imagem, que o identifica, a
ele e ao seu lugar no mundo. A realidade serve como evocação dum conceito, neste
caso o carácter de alguém. O corpo é o objecto do retrato, porém é circunstancial e
volátil. O assunto do retrato vai além da fisionomia e a sua assertividade não se revela
quando sabemos o nome do fotografado, mas antes quando as circunstâncias de um
disparo exprimem o seu carácter e a sua história, quando o instante nos fala de uma
vida.