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Conceito de Migração

Existe uma grande dificuldade em delimitar e conceituar o fenômeno


migração, muito por ser um fenômeno essencialmente social e com
multiplas facetas e determinações. A migração tende a assumir feições
de acordo com as caracteristicas específicas das relações e contextos
sociais, grupos e individuos a serem estudados, o que entra em conflito
com a tendência heterogenica da conceituação acadêmica, que
necessita de certa uniformidade conceitual ou delimitação, para que
melhor possa explicar determinados fenômenos.
Não bastando essa pluraridade de possiveis delimitações acerca do que
seja a migração, ainda temos dentro do termo diferentes qualificações,
que se dão de acordo com o tipo de deslocamento espacial que
representam.
A migração pode ser qualificada como: Migração contínua, migração
circular, migração intermitente, migração de retorno, migração
interregional e migração intraregional, e muitas outras qualificações que
podem servir como representação dos diferentes movimento migratórios
possiveis.
Para que o conceito não fique algo vago e relativo a possíveis
interpretações, neste trabalho, em que traremos como foco as
migrações nordestinas e suas influências na desigualdade de renda da
própria região, utilizaremos o conceito de migração, de migrante, de
migração laboral e de migrante ambiental definidos pela Organização
Internacional para as Migrações(OIM).

Migração é definida como:

“Movimento de população para o território de um outro Estado ou dentro


do mesmo que abrange todo movimento de pessoas, seja qual for o
tamanho, sua composição ou suas causas; inclui a migração de
refugiados, pessoas deslocadas, pessoas desarraigadas, migrantes
econômicos.”
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Migrante é definido como:

“Em nível internacional não há uma definição universalmente aceita do


termo “migrante”. Esse termo, geralmente, abrange todos os casos em
que a decisão de migrar é tomada livremente pela pessoa em
decorrência (concernida) de 'razões de conveniência pessoal' e sem a
intervenção de fatores externos que a obriguem. Desta forma, esse
termo se aplica às pessoas e a seus familiares que vão para outro país
ou região com vistas a melhorar suas condições sociais e materiais,
suas perspectivas e de seus familiares.”

Migração laboral é definida como:

“Movimento de pessoas do seu Estado para outro Estado com a


finalidade de aí encontrar emprego. A migração laboral está regulada
nas leis sobre migração da maioria dos Estados. Além disso, alguns
Estados desempenham um papel activo na regulação da migração
laboral externa e procuram oportunidades no estrangeiro para os seus
nacionais.”

Migrante ambiental é aplicado como:

“O termo aplica-se a pessoas ou grupos de pessoas que, devido a


alterações ambientais repentinas ou progressivas que afectam
negativamente as suas vidas ou as suas condições de vida, vêem-se
obrigados a deixar as suas residências habituais, ou escolhem faze-lo,
temporariamente ou permanentemente, e que se deslocam dentro do
próprio país ou para o estrangeiro.”
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Migrações: Contextualização e as motivações para os fluxos


nordestinos

A busca pelas motivações em relação aos movimentos migratórios no


Brasil nunca foi uma grande prioridade nos estudos sobre o tema. A
busca nas pesquisas e estudos sempre caminhava por um viés
quantitativo, buscando conhecer os processos através da quantidade de
migrantes, deixando a questão do porquê, a questão do que motivava os
deslocamentos populacionais pelo país em segundo plano.
As duas principais linhas teóricas que foram utilizadas na interpretação
do fato, que buscavam entender as migrações anteriores ao século XXI,
eram a Neoclássica e a histórico-estruturalista.
A neoclássica interpretava os movimentos migátórios brasileiros como
fruto de um cálculo racional-economico, em que o indivíduo buscaria
sempre instalar moradia em uma região, cidade ou estado que lhe
proporcionasse maiores benefícios, melhores salários e melhores
ofertas de emprego em detrimento a sua região de origem ou de
moradia atual, em que esses pontos citados fossem menos vantajosos.
Enquanto isso, a linha histórico-estruturalista interpretava a questão
como fruto das necessidades vividas pelos grandes fluxos de migrantes
em seus territórios de origem e pelas diretrizes apontadas pelo processo
de desenvolvimento capitalista no Brasil. Apesar dos diferentes viéses
interpretativos das duas correntes, os resultados obtidos apontavam
para pontos em comum, que ligavam as motivações dos processos
migratórios como direcionados à questão do trabalho e ao protagonismo
dos jovens no processo.
Trazendo o enfoque para a região nordeste, podemos dizer que as
principais motivações para os fluxos migratórios nordestinos são as
questões da estagnação econômica, as diversas manifestações de
desigualdade social e o elevadíssimo nível de desemprego da região,
principalmente nos períodos anteriores a década de 70 e posteriores a
90. Algumas políticas de investimento industrial no Nordeste, como um
processo de desconcentração econômica nacional, auxiliaram a reduzir
as migrações nordestinas de saída e aumentar os fluxos migratórios de
retorno.
Durante o período de ascensão da industrialização brasileira, a
migração tanto nordestina como de todo o país teve uma forte tendência
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a se apontar para as principais metrópoles mais industrializadas e que


tinham maior aporte financeiro no processo. Os fluxos nordestinos desse
período tiveram forte apelo a possivel, e real, chance de mobilidade
social e ascensão econômica em relação as precariedades vivdas nas
regiões mais estratificadas e com baixo investimento econômico do
Nordeste. Essa motivação perdeu a força na década de 80 com a crise
econômica vivida no periodo, uma das causas motivadoras do grande
aumento da migrações de retorno ocorridas no período.
Outro grande agente motivador para as migrações nordestinas a partir
da década de 30 é o fator clima, que gera o que podemos chamar de
migrante ambiental. As grandes secas, juntamente com os desmandos
governamentais, intensificaram e até geraram em algumas localidades
a fome, a pobreza e a estagnação econômica intensificando ainda mais
os problemas sociais exiistentes nos semi-aridos e caatinga da região.
As secas , que já são um problema por si só, foram intensificadas ainda
mais pela existência dos monopólios dos recursos naturais que ainda
restavam e pelos oligopólios rurais, que, por décadas, utilizaram de
processos de intenso desmatamento e desflorestamento de áreas no
semi-arido que tinham alta susceptibilidade de desertificação, utilizando
as áreas para agricultura, principalmente monocultura, e pastagens para
utilização na pecuária.

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