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ARQUÉTIPOS DA UMBANDA

Desenvolvido e Ministrado por Rodrigo Queiroz

Aula Digitada 03 Parte 03


Obs.: este documento é a transcrição fiel do discurso das vídeo-aulas, portanto poderá conter erros
gramaticais mantendo a originalidade da origem.

Muito bem. Voltando falando dos Caboclos, então falei muito da questão dos conceitos das
falanges. Agora, ficou claro então que Caboclo como símbolo é o indígena, mas também o homem
simples, o homem da natureza, o indivíduo que se relaciona com o mundo, ele se integra a tudo
no universo, tem muito disso. Agora, Caboclo é um grau – vamos separar as coisas, esquece lá seu
Caboclinho lá que você toma um passe, que você curte, que você tem fé, que te ampara, esquece
isso - e vamos entender Caboclo como estrutura. É um grau de evolução que está pontificado, o
grau Caboclo está no quarto nível de evolução, os espíritos que entram para esse grau eles estão
no trânsito entre terceiro e quarto grau e – só um paralelo – Preto Velho também é um grau de
evolução e que está no quarto nível é igual. Caboclo e Preto Velho estão no mesmo nível de
evolução, é o mesmo grau de evolução só que com campos de atuação específicos completamente
diferentes. Nós somos levados a crer que Caboclo é inferior a Preto Velho porque o Preto Velho é
o velhinho, mas isso tudo é símbolo não significa nada em relação a evolução. Então, aí a gente
começa a entender que a Umbanda tem como pilar no plano físico, pilar, alicerce mesmo:
Caboclo e Preto Velho, tudo o que acontece em estruturas de linhas de trabalho é dali para baixo,
é disso pra baixo. Embora, tenhamos a presença, é, do Povo do Oriente, de mestres de magia,
mas não é um frequência, interagem com nós, mas eles são mais ascencionados. Agora, a
sustentação, o “batidão” que administra, que cuida da religião: Caboclo e Preto Velho, não é?
Sabemos disso, falar de Caboclo é falar de uma linha muito comum para todo mundo, todo
Terreiro de Umbanda, de fato, tem que ter Caboclo. Todo Terreiro de Umbanda tem que ter Preto
Velho, pode não ter mais nada, mas Caboclo e Preto Velho tem que ter, pode ter de tudo, mas
Caboclo e Preto Velho tem que ser a base do Terreiro e é: é para todo mundo. Então, não é nada
de novo, nada de estranho que eu estou falando, mas estejamos entendendo mais, enfim. Caboclo
é um grau, isso dito, isso entendido então é importante saber que esse grau, o grau - não o
Caboclo, não a falange – o grau é sustentado por pai Oxóssi. O grau é sustentado por pai Oxóssi,
mas há Caboclos, há falanges de todos os Orixás, assim sucessivamente depois com todas as
linhas, mas é importante saber quando eu falo: “Grau Caboclo, o grau é sustentado por Oxóssi”,
por isso que os pontos cantados para qualquer falange se fala, muitas vezes se fala de Oxóssi, fala
das matas, se fala dessa influência, dessa vibração da natureza. Então, Oxóssi é o Orixá que
sustenta o grau, uma coisa, dentro do grau tem milhares de falanges e as falanges são associadas
a vários Orixás. Há falange que engloba três, quatro Orixás, há falanges que significa que aquele
espírito está aberto iniciado nos setes Tronos, em todos os Orixás, mas ele tem um específico.
Então, vou dizer: Caboclo do Sete Troncos, um exemplo, significa que sete ele é iniciado nos sete
mistérios, ou seja, ele acessa a força de todos os Orixás, mas o campo específico dele é o campo
de Obá – tronco é símbolo de Obá, então, é um exemplo. Quando você, toda a falange tem nome
e sobrenome nenhum é Caboclo é Caboclo Pena, uma hora ele tem que dar a cor ou o modelo
dessa pena, ele tem que dar um sobrenome, uma hora vai dar. Então, Caboclo Pedra, não tem, é
Caboclo Pedra Vermelha, Caboclo Pedra Branca, Caboclo Pedra Roxa, Pedra Verde, enfim. Isso é o
nome e o sobrenome que vai traduzindo, vai revelando origem, campo de ação daquela falange,
está bem? Então, entendido que o grau Caboclo, que Caboclo é um grau, que é regido por Oxóssi
vamos estabelecendo entendimento e ali as falanges.
A cúpula, os mestres da luz que deram origem ao Movimento Umbanda Astral quando
definiram que era hora dela se materializar no plano físico – tudo isso já foi dito – então, eles
determinaram esses símbolos, a religião Brasileira que vai refletir a identidade do Brasil e a
cultura do Brasil para aquele povo Brasileiro. Então, Caboclo é um índio, mas não é só um índio
assim por si só, é o nativo, é o resgate do nativo. E o que a gente tem que entender por fim, no
dia-a-dia do Terreiro, no dia-a-dia do convívio com os espíritos humanos que vem como Caboclo, o
que ele representa? É um índio isso basta? Então, significa que a gente vai começar a comer
tapioca, vai começar comer mandioca? O que é mesmo isso? O que é essa relação, todo esse
símbolo, todo esse arquétipo manifestado no Terreiro que é um convívio muito frequente dentro
de um Terreiro, o que quer dizer? Então, um ponto principal é a linha dos Caboclos que faz da
Umbanda uma religião ecológica, uma religião da natureza, uma religião do meio ambiente que
hoje é moda, hoje se falar disso é marketing, é uma coisa em alta, mas há cem anos a Umbanda
fala dessas coisas, há cem anos os espíritos que vem como Caboclo na Umbanda fala do amor à
natureza, fala do cuidado que se deve ter com a natureza, do respeito, da reverência, da
veneração que devemos ter a natureza porque quando respeita a mata, o verde, eu me relaciono
com o sagrado. Quando eu respeito as águas desde uma postura ecológica e de não exagerar, de
se lavar sem exagero, sem demora, até eu r numa cachoeira bater cabeça, reverenciar, pedir
licença, sentir que ao entrar debaixo da queda estou recebendo uma benção, ao entrar no mar eu
estou sendo envolvido por algo sagrado, isso tudo é a integração do homem à natureza – coisa que
quando a Umbanda começou a surgir, a se desenvolver o homem estava já se distanciando e vem
se distanciando cada vez mais - É que nos últimos anos nós temos um apelo ecológico, há um olhar
de cuidado, mas não há um sentimento de integração de fato. Hoje, o homem sabe que sem água
ele morre, ele sabe que sem oxigênio ele morre e ele está cuidando disso, está evitando algumas
coisas. Então, a política no mundo está criando protocolos pra cuidar disso, pra gente não se
extinguir, seres ignorantes pra fazer isso. Mas, a Umbanda não coloca isso só como legitimidade
sagrada, ela coloca isso como integração: é você integrado entender e sentir que você é parte da
natureza. Você não respeita os limites da água porque você não quer morrer é porque você é
parte disso e isso é parte de você. É porque respeitar, conservar, plantar o verde te deixa mais
próximos de Deus, te aproxima do divino, te integra. Então, a gente vai ficando meio “besta”
parece, a gente olha pra erva, a gente conversa, a gente faz carinho, a gente sente o perfume, a
gente se sente melhor, a gente toma banho de erva, aqueles matos, a gente mistura tudo e joga
no corpo e a gente sabe, isso tudo é poderoso, há uma energia, há uma vida ali. Nós nos
relacionamos com os animais com muito respeito, com muito amor, com muita devoção, a
Umbanda não usa, não usa desde nunca, imolação animal, a oferenda animal. “Ah no meu
Terreiro tem isso porque no meu Terreiro é de Omolocô, meu Terreiro é Umbandomblé, meu
Terreiro tem influência Africana”, o seu Terreiro faz, o que eu estou falando é que a Umbanda
não faz, não é? Para seu Terreiro fazer deve ter as suas particularidades como dito: são
influências. Mas, Umbanda – eu sei o peso do que eu estou falando – a Umbanda no astral, a
Umbanda preconizada, na origem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, não faz, não se vale do uso
de imolação, não acha importante, não é sagrado isso pra Umbanda. Eu respeito e entendo os
Terreiros que tem influências Africanas e que usam essa ritual, mas é importante saber que na
hora que faz imolação animal no Terreiro de Umbanda já não é mais Umbanda é qualquer outra
coisa que justifique aquilo, mas não é mais Umbanda, entende? O sagrado no culto Africano, o
sagrado no Candomblé em relação a esse método ofertatório já não é sagrado na Umbanda. Eu sei
que isso é pesado, é difícil, você pode ser alguém que faz isso e está se sentindo ofendido, não é
essa a intenção, mas é uma reflexão, há que se pensar. Os tempos mudaram, a Umbanda é firme
nessa posição, então quando você fizer imolação, você tem que saber o que você está fazendo,
porque você está fazendo, de onde vem essa influência, agora não é influência da Umbanda. O
índio não fazia isso, o índio caçava para alimentar a tribo, alimentar os seus, ora ele era caçado
também por animais mais ferozes e ele virava alimento, é muito índios morreram na boca de um
animal. Então, quem era mais hábil naquela caça levava o troféu e era alimento, não havia ritual
de oferecer a nenhuma divindade, nenhum totem animais, era muito custoso caçar, era muito
difícil caçar também, não é um negócio simples, pescar era difícil também, então não se valeria
disso e acima de tudo havia uma reverência ao caçar, abater um javali, abater um animal. Havia
uma entrega ao sagrado, havia um pedido de permissão para se alimentar daquela carne porque
ele sabia que aquele animal estava doando a vida dele para manter a vida dos seus, é uma troca.
Então, dessa integração à natureza estamos falando, dessa presença do Caboclo, do indígena, do
ser da natureza, não é o ser do campo, o ser do campo são outras representações que vão ter na
Umbanda, o ser da natureza, o ser nativo que brota do chão porque é interessante que
antropologicamente a gente consegue identificar ainda como é que surge os índios naquelas
regiões nativas. Qual é a origem de fato deles ali naquela região nativa? Como é que foi essa
migração? A sensação que se dá é que eles brotaram do chão e que de certa maneira talvez na
origem da gênese as coisas aconteceram mais ou menos dessa forma foram colocados, espalhados.
Então, é o ser que nasce e se vê, a árvore é o seu semelhante, a terra é seu semelhante. No
material de apoio tem os textos de alguns chefes indígenas que colocam com muita força essa
integração, essa noção de que eu não posso vender a minha terra pra o homem branco porque na
minha terra está o sangue, está o corpo, a alma dos meus ancestrais, então, a terra é a minha
família o que eu colho dos rios, eu colho da terra é fruto do que os meus ancestrais oferecem
também. Sabe, quando eu falo de integração é importante entender o que eu estou falando é
pensar no seu familiar mais próximo que você mais ama, então o índio tem essa relação com a
natureza como um familiar, consanguíneo. É forte, é sério, é profundo essa relação, não é
modismo. Ele nasce e já se vê como um semelhante da natureza, tudo na natureza é seu irmão, é
seu igual.
Vamos continuar falando isso no próximo bloco.

DIGITAÇÃO – Equipe Umbanda EAD

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