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Botão. (Um conto sobre amores não correspondidos).

Não tenho ideia de como aconteceu. Começou com um sonho estranho, eu acho. Depois
disso, veio aquela sensação maravilhosa correndo em minhas veias quando estávamos
juntos e, um pouco depois, apareceu o ciúmes. Não sabia como era se apaixonar por
alguém, julguei que estes foram os primeiros sintomas até chegar uma enxurrada de
outras sensações, algumas boas e outras horríveis. Tal como uma ansiedade imensa que
me dominava e uma necessidade absurda de manipular situações, era só você chegar e
tudo surgia.

Depois de um tempo tudo passou a existir dentro de mim independente de sua


presença. Você dominava meus pensamentos, mexia com minha imaginação e trazia
lágrimas aos meus olhos. Fazia eu me questionar o tempo todo, pois já não conseguia
entender mais nada. Seria aquilo o amor, de que tanto falam? Ou seria apenas uma
carência exacerbada?

De início jurei não te amar. Vi que estava ignorando a crua realidade e idealizando uma
perfeita união que, obviamente, não existia. Depois, cai de amores novamente. Fiquei
confusa. E escolhi que seria apenas uma amizade. Até porque essa foi a sua escolha
também, mas no mais profundo de minha alma não estava feliz com essa decisão.
Minhas oscilações não me davam nenhuma credibilidade. Eu não era capaz de acreditar
no amor que supostamente eu sentia. Era só uma bobagem passageira.

O tempo passou e mostrou que eu estava errada. Eu queria tanto você. O que eu sentia
por você era diferente do que por qualquer outra pessoa. Havia uma necessidade
incontrolável de estar perto de você, de te procurar sempre que não estava em meu
campo de visão, de manipular qualquer situação para ganhar uma conversa e de matar
qualquer outra que estivesse em seu caminho.

Então eu descobri quem eu era: possessiva, egocêntrica e manipuladora. Doeu enxergar


esses defeitos. Mas escolhi mudar. E eu trabalhava nessa mudança dia-a-dia. Eu não
tinha e nem tenho o direito de te prender. Ninguém tem. Todo o ódio que eu criei por
sua causa teve que se dissolver calmamente. Abri mão de tudo que era ruim. E sobrou o
amor.

Após tantos rodeios continuei te amando, dessa vez, de verdade. Pois, acima de todos
os meus próprios conflitos egoístas, eu coloquei você. Queria que você fosse feliz, seja
lá o que fosse acontecer. Tornei-me uma pessoa melhor. E desisti de você de novo.
Num processo que levou cerca de um mês, coloquei em minha cabeça e no meu coração
que não era pra ser.

E eu desisti e estava convicta disso até você conversar comigo uma, duas ou três vezes.
E aquilo voltou. Forte e resistente. Como se nunca tivesse saído, somente tirado uma
soneca para recuperar a energia. Aquela situação prosseguiu. Sem reciprocidade
alguma. Minha razão dizia veementemente que era inútil, nunca daria certo. Meu
coração suspirava de esperança toda vez que te via.
Se me permite a metáfora, aquela paixão era como um botão de uma flor. Plantaram a
semente, ela brotou. Ao seu redor cresceram diversas ervas daninhas que arranquei
pacientemente. Sobrou somente um botão. Que eu esperei, por muito tempo, que
abrisse em uma bela flor. Porém não abriu. Em alguns momentos de raiva, eu pegava
um machado e arrancava aquilo de mim. E deixava as raízes, pois não tinha coragem de
desistir. Havia esperança. Havia muita esperança. O botão surgia novamente. Eu queria
que desse flor. Queria tanto. Porém eu sabia que era em vão. Sabia que só seguiria em
frente se eu conseguisse arrancar as raízes.

E eu consegui.

Não tenho ideia de como aconteceu. Nem mesmo eu sabia o que estava fazendo. Senti
uma forte agonia tomar conta de mim e durou menos de um dia. As raízes foram
arrancadas, o botão murchou. Ainda amo você. Mas agora, de uma forma
completamente diferente.

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