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INSTITUTO FEDERAL GOIANO – CAMPUS URUTAÍ

BACHARELADO EM AGRONOMIA
Avaliação de Impactos Ambientais

PRAD

Discente: Samuel Guisoni Pereira e


Juliana Caixeta de Souza
Docente: Fenelon Lourenço de Sousa Santos

08 de Agosto de 2022
1. INTRODUÇÃO

O PRAD é tratado como um documento que orienta a execução e o acompanhamento ou


monitoramento da recuperação ambiental de uma determinada área degradada. O PRAD deve
contemplar aos seguintes quesitos (BRASIL, 2013):
a) Caracterização da área degradada e entorno, bem como do(s) agente(s) causador(es) da
degradação;
b) Escolha de proposta de recuperação para a área degradada;
c) Definição dos parâmetros a serem recuperados com base numa área adotada como
referência ou controle;
d) Adoção de um modelo de recuperação;
e) Detalhamento das técnicas e ações a serem adotadas para a recuperação;
f) Inclusão de proposta de monitoramento e avaliação da efetividade da recuperação; e
g) Previsão dos insumos, custos e cronograma referente à execução e consolidação da
recuperação.
O PRAD deve ser elaborado e acompanhado por profissional habilitado e deve ser vinculado
a um registro de anotação de responsabilidade técnica (ART) no conselho de classe (BRASIL,
2013).
O PRAD teve sua origem no artigo 225, da Constituição Federal de 1988, e no Decreto-Lei
n. 97.632/89, que regulamentou a Lei n. 6.938/81, obrigando a recuperação da área degradada como
parte do Relatório de Impacto Ambiental, podendo ser empregado de forma preventiva ou corretiva,
em áreas degradadas por ações de mineradoras. No início, o PRAD era aplicado apenas na atividade
mineradora, na década de 1990, foi estendido como forma de condicionante e ajustes de conduta
ambiental para outras atividades degradadoras, sendo incorporado como um programa
complementar da maioria dos Estudos de Impacto Ambiental e Relatórios de Impacto Ambiental e
em Termos de Ajuste de Conduta (TAC), firmados entre empresas e o Ministério Público (BRASIL,
2013).
O presente PRAD visa detalhar as ações necessárias a recuperação de área degradada
próxima a curso d'água, que segundo o IBRAM indicou desmatamento de vegetação nativa para
implantação de cultivos de milho e hortaliças na Área de Preservação Permanente. Vale destacar
que historicamente a propriedade foi utilizada para a produção e comercialização de hortaliças. O
PRAD em questão foi feito em uma propriedade localizada em Brasília, precisamente no Park Way.
A propriedade possui CAR ativo com o número de recibo: DF-5300108-
242E.F521.00A8.45CB.B234.27B6.B09C.EC7C.
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA E SEU ENTORNO

A propriedade com área 4,72 hectares foi adquirida pelo atual proprietário há alguns anos e
desenvolve atualmente atividades de olericultura irrigada. No que se refere a uma avaliação
histórica de uso do solo, o GOOGLE EARTH possui imagens que comprovam que no ano de 2002
a citada propriedade já desenvolvia atividades de olericultura irrigada e a área já se encontrava
desmatada (Figura 1).
O presente PRAD visa detalhar as ações necessárias a recuperação de área degradada
próxima a curso d'água, que segundo o Relatório de Auditoria e Fiscalização do IBRAM, indicou
desmatamento de vegetação nativa feita pelo proprietário para implantação de cultivos de milho e
hortaliças na Área de Preservação Permanente. Vale destacar que historicamente a propriedade foi
utilizada para a produção e comercialização de hortaliças (Imagem 1).
Segundo a Lei Complementar nº 803 de 25 de abril de 2009 (PDOT), a área está localizada
na Zona Urbana de Expansão e Qualificação. De acordo com o Plano de Manejo da APA do
Planalto Central, aprovado pela Portaria nº 28/2015-ICMBio, a área está localizada na Zona de
Proteção de Mananciais (ZPM). Vale destacar que uma avaliação histórica de imagens áreas obtidas
pela programa GOOGLE EARTH (Imagem 1) indica se tratar de um desmatamento feito em
período anterior ao ano 2002, e, somado a isso, a mesma possui dimensões inferiores a 1 (um)
módulo fiscal e é gerenciada por agricultora familiar.
Com isso, o objetivo desse PRAD é a realização da limpeza e coleta de lixo oriundo de
enxurradas do córrego Vicente Pires; Proteção das margens da APP contra entrada de animais
(cavalo); Estabilização do solo presente nas margens do curso d'água; e adensamento da vegetação,
por meio do plantio e manutenção de sementes florestais nativas do cerrado.
Figura 1: visualização aérea da área (Google
Earth) no ano 2002.

3. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO

A fitofisionomia aplicada ao caso é mata de galeria. As Matas de Galeria constituem


florestas perenifólias que ocupam geralmente as cabeceiras de drenagens, onde os cursos d’água
ainda não escavaram canal definitivo, ao longo das linhas de drenagens ou os fundos de vale
(Ribeiro & Walter, 2008). Ocupam áreas de solos dos tipos Cambissolos, Plintossolos, Gleissolos
ou Neossolos, podendo ocorrer ainda, sobre Latossolo, como aquele ocupado pelos cerrados
adjacentes (Ribeiro & Walter, 2008).
Tendo em vista ser a área em estudo caracterizada como área rural consolidada (Art. 61-A.
§ 1º da LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012 e LEI Nº 12.727, DE 17 DE OUTUBRO DE
2012), a recuperação será feita em 5 (cinco) metros das respectivas faixas marginais, contados da
borda da calha do leito regular. Por conseguinte, a área a ser recuperada terá o tamanho aproximado
de 723 m², sendo importante destacar a existência de erosões nas margens da propriedade causado
pela velocidade e volume de água do córrego no período chuvoso (Imagens 2 e 3), e, por
conseguinte, exigindo ações de contenção de solos anteriores a revegetação da mesma.
Figura 3: calha/borda do rio atual e solo erodido
Figura 2: calha/borda do rio atual x original
pela água do córrego.
resultante da erosão hidrica causada pelo córrego.

4. TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

O primeiro passo da recuperação da área será feita pela limpeza e coleta de lixo oriundo de
enxurradas do córrego Vicente Pires, sendo importante destacar que essa atividade possui um
caráter permanente e será executada após cada período chuvoso. Em seguida, será montada e
mantida em operação cerca elétrica visando a proteção das margens da APP contra entrada de
animais (cavalo). Em terceiro lugar, será feito o plantio de capim vetiver (Chrysopogon zizanioides)
visando a estabilização de solos existentes nos 5 metros de APP (164 metros lineares das margens
do córrego / 723 m²), sendo indicado o espaçamento de 1 metro x 1 metro para o uso dessa planta
que historicamente vem sendo utilizada em projetos de engenharia civil por possuir elevada
capacidade de enraizamento / fixação de taludes.
Por fim, uma vez que o solo esteja estabilizado, será feito o plantio e manutenção de plantas
nativas do cerrado, seja por semeadura direta ou mudas visando o atendimento do inciso 13-IV do
Art. 61-A da LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE
2012 e LEI Nº 12.727, DE 17 DE OUTUBRO DE 2012. Art. 61-A:
§ 13. A recomposição de que trata este artigo poderá ser feita, isolada ou
conjuntamente, pelos seguintes métodos:
IV - plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas
com nativas de ocorrência regional, em até 50% (cinquenta por cento) da área total a
ser recomposta, no caso dos imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3º ;
A recuperação da área com espécies nativas será feito com o semeio direto de sementes
(florestais e plantas de cobertura) seguindo as indicações feitas por SILVA (2017), feitos em
covas/berços com dimensões estimadas de 40 cm x 40 cm x 40 cm e distância entre covas/berço
variável.

Figura 4: densidade
de semeio (kg/hectare) e os respectivos nomes populares, científicos, grupos ecológicos/funcionais
e comportamento quanto ao armazenamento das espécies utilizadas no PRAD

Somam-se a sementes florestais descritas acima o uso de 20 kg/ha de Crotalária Paulínia


(Crotalaria paulinea) com 95% pureza e 95% viabilidade, e 20 kg/ha de Feijão Guandu (Cajanus
cajan) com 95% pureza e 93% viabilidade para evitar a colonização da área por gramíneas
invasoras (COSTA et. al., 2008; NAVE et al., 2015).
A manutenção da área será feita por meio da roçagem das gramíneas no entorno das
covas/berços, totalizando de quatro a seis operações por período chuvoso.
5. MONITORAMENTO

Para o monitoramento da eficácia das ações propostas neste PRAD serão usados os
parâmetros definidos na Nota técnica COFLO/SUGAP/IBRAM nº 01/2018 - indicadores ecológicos
para a recomposição da vegetação nativa no Distrito Federal.
O Protocolo de monitoramento da recomposição da vegetação nativa no Distrito Federal
(Souza;Vieira, 2017) é resultante de trabalhos integrados entre instituições no âmbito da Aliança
Cerrado, o qual conta com contribuição técnica do IBRAM e consiste na publicação oficialmente
adotada para avaliação dos resultados da recomposição da vegetação nativa. Entre os procedimentos
estabelecidos, cabe destacar a delimitação do polígono de recomposição, que é uma área
ambientalmente homogênea com relação à vegetação e uso do solo, que receberá o mesmo método
de recomposição em um mesmo período, e para o qual será identificada a formação de vegetação a
ser recomposta e serão aferidos os indicadores ecológicos. Pelo método de interceptação de pontos
em linha de 25 m será aferido o indicador de cobertura de copas e do solo e por meio de parcelas
amostrais de 100m2 serão aferidos os indicadores de densidade de regenerantes e número de
espécies, cujos procedimentos, número e distribuição das parcelas amostrais em função do tamanho
dos polígonos de recomposição estão especificados no Protoloco de Monitoramento (Souza;Vieira,
2017).
A definição dos indicadores ecológicos para as formações campestres, savânicas e florestais
que compõe o bioma Cerrado, fundamentou-se nas seguintes constatações e recomendações (Vieira
et al 2017):
Para formações florestais a cobertura de 80% de copas tem potencial de inibir
significativamente a presença de gramíneas exóticas invasoras, atrair dispersores de sementes e
recuperar a qualidade do habitat favorecendo o ingresso de novas espécies; a densidade de
regenerantes acima de 3.000 indivíduos por hectare poderá garantir que os indivíduos do dossel já
formado sejam substituídos e o número mínimo de 20 espécies pode garantir a presença de
diferentes classes sucessionais cumprindo diferentes funções ecológicas.
Para formações savânicas e campestres as medidas de cobertura devem contemplar os
estratos herbáceo e arbustivo predominantes nessas formações identificando: lenhosas nativas,
capim nativo, vegetação nativa, gramíneas exóticas e cobertura total (nativas ou exóticas), e que a
proporção destes componentes seja equilibrada, com porcentagem mínima de 30% de capins
nativos e lenhosas nativas para formações savânicas, nas quais os valores de densidade regenerantes
de 3.000 indivíduos por hectare e o mínimo de 20 espécies nativas devem ser mantidos. Assume-se
que a cobertura do solo de 80% por espécies nativas para ambas formações irá garantir a resiliência
a mudanças ambientais e a invasões de espécies exóticas. Para os capins exóticos recomenda-se
fixar os valores máximos de forma que não comprometam a área restaurada ao longo do tempo.

6. CRONOGRAMA FISICO-FINANCEIRO E CUSTOS

Tabela 1: Cronograma físico


Detalhes da 1º mês 6º mês 12º a 16º 18º mês 24º a 29º 30º a 36º
operação mês mês mês
Limpeza da x x x x x x
área e
retirada de
lixo
Aquisição, x x x x x x
montagem e
manutenção
de cerca
(elétrica)
Aquisição e x
plantio de
mudas de
capim
vetiver
Semeadura x
de sementes
nativas do
cerrado
(adensament
o)
Manutenção x x x
(controle
seletivo a
gramíneas)
Monitorame x x x x x
nto
Observação: O período do cronograma físico, coincide com o início do período chuvoso

Tabela 2: Cronograma financeiro


Detalhes da Unidade de Quantidade Custo unitário Custo Total (R$)
operação medição (R$)
Limpeza da área e dia/homem 1,0 60,00 60,00
retirada de lixo
Aquisição de kit completo 1,0 520,00 520,00
cerca (elétrica)
Montagem de dia/homem 0,5 60,00 30,00
cerca (elétrica)
Aquisição de unidade 250 1,00 250,00
capim vetiver
Plantio de mudas dia/homem 2,0 60,00 120,00
de capim vetiver
Aquisição de kg 6,0 60,00 360,00
sementes nativas
do cerrado
Aquisição de kg 3,0 12,00 36,00
plantas de
cobertura
Semeadura de dia/homem 1,00 60,00 60,00
coquetel de
sementes
Manutenção dia/homem 10,00 60,00 600,00
(roçada)
Monitoramento dia/homem - - -
TOTAL 2.036,00

7. IMAGENS DO GOOGLE EARTH

Figura 6: visualização aérea da área (Google Figura 5: Delimintação da área a ser


Earth) no ano 2008. recuperadada (5 metros) x área cercada
(atualmente).
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Instituto Brasileira do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Manual de
recuperação de áreas degradadas pela mineração: técnicas de revegetação. 96p., Brasília:
IBAMA,1990.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Roteiro de Apresentação para Plano de Recupe-ração de


Área Degradada (PRAD) Terrestre. 3. ed. - São Paulo: MMA, 2013.

CORRÊA, R S. Recuperação de áreas degradadas pela mineração no Cerrado – manual para


revegetação. Brasília: Universa, 2006. 187 p.

COSTA, C.P.A; LOBO, D.; LEAO, T.; BRANCALION, P.H.S.; NAVE, A.G.; GANDOLFI, S.;
SANTOS, A.M.M.; RODRIGUES. R.R.; TABARELLI, M. Implementando Reflorestamentos com
Alta Diversidade na Zona da Mata Nordestina: Guia Prático. Recife/PE. 2008.

FERRARI, J. C. & SOUZA, M. D. de. Uso do lodo de esgoto para recuperação de áreas
degradadas. 2007. In: CONGRESSO INTERINSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA,
2007, Campinas. Anais... Campinas: ITAL, 2007. 5 p. Embrapa Meio Ambiente (CNPMA).
disponível no link < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/15660/uso-do-
lodo-de-esgoto-para-recuperacaode-areas-degradadas>

NAVE, A.G.; RODRIGUES, R.R.; BRACALION, P.H.S.; FARAH, F.T.; SILVA, C.C.;
LAMONATO, F.H.F. Manual de restauração ecológica técnicos e produtores rurais no Extremo Sul
da Bahia. Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF/ESALQ/USP). Piracicaba/SP.
2015.

PINTO J. R. R; BORDINI M. C. P; PORTO C. A; SOUSA-SILVA J. C; Princípios e técnicas usadas


na recuperação de áreas degradadas. Livro: Conservação de áreas de preservação permanente do
cerrado: caracterização, educação ambiental e manejo. Editora CRAD, Brasília, 2011.

REIS, A. Imitando a natureza. Apostila do Curso Restauração de Áreas Degradadas: Universidade


Federal de Santa Catarina e Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, MG. Belo Horizonte,
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RIBEIRO, J.F.; WALTER, B.M.T. As Principais Fitofisionomias de Cerrado. In: Sano, S.M.;
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SILVA, J.O. A influência do preparo de solo e tratamento de sementes com fungicidas na semeadura
direta florestal mecanizada no cerrado – estudo de caso na Fazenda Elo Florestal Inkora
(Planaltina/DF). Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização lato sensu em Recuperação de
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http://www.sema.df.gov.br/recuperacerrado/>

VIEIRA, D.L.M., SARTORELLI, P.A.R., SOUSA, A.P., REZENDE, G.M. 2017. Avaliação de
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Iniciativa para o Uso da Terra. Disponível em < http://www.inputbrasil.org/publicacoes/avaliacao-
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