Você está na página 1de 2

Os dons espirituais potencializam o talento humano

Nascemos com capacidades e talentos naturais. Estes são responsáveis pela facilidade
ou prazer que encontramos para realizar certos trabalhos, é uma inclinação, predileção
por tais afazeres. Temos como exemplo: as habilidades manuais, de raciocínio lógico, o
talento musical, a capacidade espacial, interpessoal, entre outras. Eles nos vêm como
dons de Deus, infundidos na pessoa, geralmente transmitidos pela genética ou ao se
desenvolver uma prática. São os chamados dons naturais.
Existem também os dons do Espírito Santo. A respeito deles São Paulo recomenda
“Aspirai aos dons mais elevados” (cf. At 12, 31). São, de fato, mais elevados, pois vêm
de uma realidade sobrenatural, que está acima das realidades terrenas. Trata-se dos
dons de Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade, Temor de
Deus – e ainda: Línguas, Discernimento, Fé, Cura e Milagres.
Contudo, estes dons espirituais “mais elevados” manifestam-se por meio de nossas
características humanas, ou seja, em nossas capacidades naturais. “As perfeições
invisíveis de Deus – não somente seu eterno poder, mas também a sua eterna
divindade – são percebidas pelo intelecto” (Rm 1, 20). E quando pedimos a intervenção
dos dons do Espírito, estes perpassam nossas capacidades humanas de duas formas.
A primeira é percebida mais facilmente. Uma vez que nos colocamos disponíveis à ação
sobrenatural do Espírito Santo e pedimos Sua comunicação conosco, Ele age nas
faculdades humanas, geralmente na memória e nos sentidos, inspirando-nos com
imagens, lembranças, trechos bíblicos, com uma palavra específica de exortação ou
revelação, por uma sensação física ou a impressão-intuição acerca de algo até então
desconhecido.
Tudo isso para revelar o que ocorre de sobrenatural e terreno, que está oculto aos
olhos humanos, mas, que nos ronda e nos cerca.
É assim que aprendemos nos Seminários de Dons e suas oficinas, desenvolvemos o
modo de Deus falar em nós, a linguagem d’Ele conosco, para edificação da comunidade
e própria.
E a segunda forma, que talvez poucas pessoas tenham percebido, é o modo como os
dons espirituais ampliam os horizontes das nossas capacidades humanas. Os dons
sobrenaturais depositam algo em nossos dons naturais que os capacitam ainda mais. A
Sabedoria do alto potencializará o saber humano, o discernimento dos espíritos
aperfeiçoará a sensibilidade de discernir humanamente, o dom da Fé, vindo da escolha
de Deus por cada um, alça a pessoa a querer conhecer mais do Senhor, fazendo de sua
fé um príncipio de vida, embasado também em conhecimento teológico, e assim por
diante.
Apesar de alguns nomes entre estas manifestações do Espírito e o talento humano
serem os mesmos, não são iguais, nem uma “forma mais elevada” de nossas
capacidades naturais. Exemplificando: a Ciência vinda de Deus é conseguir ver as coisas
como o Senhor as vê, conhecimento da total realidade, das forças terrenas e angélicas,
enquanto, ciência humana, se resume ao estudo de aspectos do cosmos, sobretudo do
ser humano. Um cientista pode ter autoridade em tudo o que estuda e pesquisa, mas a
Ciência de Deus lhe virá pela fé, numa revelação daquilo que ele não pode alcançar por
esforço próprio.
A capacidade pessoal passa a ser uma predisposição para, em conjunto com o Espírito
Santo, manifestar ambos: o dom natural e o sobrenatural. Faz parte da identidade do
indivíduo, e em algum momento da sua vida, quando aprouver ao Senhor, Ele
providenciará uma situação em que a pessoa possa dar abertura a esse Espírito de
Deus, e então o dom natural vai ser potencializado.
Quanto mais usamos os dons espirituais, tanto mais entramos em sintonia com Deus e
com nós mesmos, e, dessa forma, tanto mais nos tornamos homens e mulheres com
apurada sensibilidade aos dons naturais que temos.
Será que Jesus usava, em todos os momentos, somente Sua divindade? Quando
penetrava os pensamentos dos que Lhe armavam ciladas (cf. Lc 20, 23; Mt 9,3-4), seria
impossível vir este discernimento por meio de Sua inteligência e da percepção
humana? Se assim fosse, não haveria sentido em Jesus ter assumido em tudo a nossa
humanidade, exceto o pecado. (cf. Hb 4, 15b).
Assim como a pessoa humana do Cristo pertence “in proprio” à pessoa divina do Filho
de Deus, Sua vontade e inteligência têm como primazia a revelação do ser espiritual da
Trindade (cf. Catecismo da Igreja Católica, art. nº 470), nossa humanidade nos é dada
para revelar uma identidade espiritual – quem somos no coração de Deus.
Tudo o que somos deve ser alcançado pelo Espírito para conseguirmos transfigurar um
dia o que será nossa natureza celeste.
Deixe os dons do alto invadirem sua humanidade, todos os seus talentos, essa é apenas
uma forma de descobrirmos como somos e seremos verdadeiramente na eternidade,
diante do Senhor.

Você também pode gostar