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Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 2016.


Instituto de Letras.
Estágio em Língua Italiana I. Observação.
Professora: Carmem Praxedes
Aluna: Yasming Pereira.
Avaliação da disciplina. Relatório das aulas assistidas para observação do estágio como
disciplina.

A disciplina Estágio em Língua Italiana I é oferecida na grade curricular como


obrigatória aos alunos que cursam a Licenciatura em Letras na UERJ - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro e a sua proposta é permitir a observação do aluno-estagiário
nas aulas ministradas por docentes bolsistas, ainda graduandos, que lecionam para a
comunidade externa e interna da universidade. Na teoria ela é um mecanismo de
aprendizado e de percepção que promove uma melhor compreensão sobre o processo
de ensino de línguas, mas na prática ela também apresenta um cenário específico e
detalhado de algumas dificuldades das mais diversas ordens questionadas neste
relatório.

Este relatório é um recurso produzido pelo aluno-estagiário que ao observar o


produz com o intuito de levantar questões passíveis de serem analisadas durante as
aulas, como: aula, professor, didática, conteúdo, abordagem, métodos de ensino, livro
usado em aula, questionamentos, interesse, material didático, a qualidade de ensino e
do local, além do grau de aprendizado do aluno. A professora Carmem Praxedes, além
das diretrizes habituais sugeridas na realização da disciplina, incluiu na bibliografia
obrigatória da ementa o livro “Intelligenze e didattica delle lingue” de Paolo Torresan
que a partir da Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner aborda os tipos
de inteligências identificados na formação do ser humano. E o modo como elas podem
ser usadas em prol da composição da didática em aula.

As aulas observadas são aquelas ministradas pelo Licom (Línguas para


Comunidade) - um Programa do Instituto de Letras que propõe cursos e oficinas de
Línguas Materna e Estrangeiras para a comunidade - oferecido pela e na UERJ. As
turmas são mistas e admitem alunos das mais diversas idades, entre jovens e idosos. O
livro usado na realização de exercícios é o “Chiaro A1” da Editora Alma Edizioni que é
voltado para o ensino da Língua Italiana para estrangeiros. Ele é voltado à gramática,
ao ensino estrutural da língua de acordo com a sintaxe, tem uma vasta produção e
oferta textual em italiano, incita a leitura e a compreensão da língua e aborda algumas
questões culturais e geográficas do Itália. A realização da aula fica inteiramente
vinculada ao contato e à execução de exercícios oferecidos no livro.
Sobre as aulas

As aulas realizadas pelo projeto Licom são ministradas por alunos da


graduação em Letras e abordadas com o uso do livro específico de ensino de línguas
para estrangeiro. No início do semestre os professores informam o uso do livro para as
aulas do curso, e a partir de então, o início da aula e a sua continuidade acabam por
depender do manuseio da obra e da realização dos exercícios. Foi observado durante
as aulas assistidas que se propõe o uso da língua no campo formal, mas como modo de
reconhecimento de uma variante, também se trabalha no livro, de certo modo e em
certo grau, o uso da língua no campo informal.

Na aula de 19/11/2016 (Profª. Paula) a professora abordou sobre adjetivos


possessivos, plural e a formação de frases. Também foi trabalhada a leitura de textos
em italiano em sala e surgiram algumas dúvidas sobre vocabulários. Há muita
cordialidade durante a produção das aulas e atenção quanto as dificuldades dos
alunos. Em algum momento uma aluna comentou que nunca entenderia os
parâmetros da língua italiana no uso do plural. A conversação ainda apresenta
algumas dificuldades na execução e como modo de amenizar tal coisa a professora
incita o diálogo sobre comportamento social e sobre nossas relações com os nossos
vizinhos.

Na aula de 21/11/2016 (Profª. Priscilla) houve uma correção de exercícios


sobre pronomes indiretos, plural (que incluía dentro do tema a concordância verbal
com o número e o gênero), o uso das flexões do verbo esserci (c’é e ci sono), a
pronúncia, a leitura de textos e algum debate simples sobre temas culturais. Observou-
se que quanto ao uso do plural e o uso da partícula “C’é”, por exemplo, há alguma
dificuldade na concordância de elementos. Um exemplo que pude extrair foi:
“_______ uma festa com molti personi”, nesta frase a aluna deveria preencher o
espaço com o verbo esserci no singular ou no plural de acordo com o entendimento
dele. O preenchimento dela inicial foi por ci sono, porque ela adotou como referência
“molti personi”, quando na verdade a referência seria “festa”, e por isso, o uso
adequado para a norma padrão da língua seria a escolha da partícula “C’é”. Em algum
momento, a mesma aluna perguntou como ela poderia falar a sua idade em italiano e
ela mesma sugestionou perguntando: “Poderia ser “Io sono 25 anni”?”. A professora
comentou que não, porque pelo uso padrão da língua italiana deve-se usar: “Io ho 25
anni”. Ao ouvirmos isso observamos, mesmo sem comprovação científica a não ser a
própria observação, que a aluna adotou sem receios a estrutura sintática da língua
inglesa “I am 25 years old” e fez por substituição posições o uso da estrutura sintática
inglesa na língua italiana. Ainda que o uso da aluna não seja o correto a sua
inteligência linguística permitiu essa observação já que o verbo “to be” na língua
inglesa pode tanto servir para “ser” como para “ter”, logo, de acordo com a aluna o
mesmo poderia ocorrer para o verbo essere na língua italiana. Além de a aluna
constatar por assimilação, ela acaba dialogando, sem sequer imaginar, com teorias
lingüísticas que afirmam que a interlíngua é exatamente esse momento em que o
aluno aprende a L2 a partir de seu conhecimento sintático, morfossintático e léxico da
sua língua mãe. Sendo que, neste caso, a aluna usou como bagagem lingüística todo o
seu conhecimento, inclusive, sobre a língua inglesa também como L2.
Na aula de 21/11/2016 (Profª. Juliana) percebeu-se alguma dificuldade
quanto ao vocabulário o que denota falta de leitura ou leitura precária de
compreensão. O uso do livro no dia foi para abordar as preposições a partir de
exercícios e leituras de textos do livro. Em nenhuma das aulas os alunos se recusaram
a participar dos exercícios ou a ler os textos, também não houve propostas de outras
atividades diferentes das atividades do livro. Nessa aula uma dúvida falada em sala foi
a de uma aluna que ao ouvir a frase: “Viene da Marco stasera” comentou o seguinte:
“A estrutura do italiano é diferente do português”. E observamos com esse comentário
que a constatação dela paira sobre o campo sintático num diálogo continuo com o
campo semântico, que dentro do sistema linguístico italiano não permitem que ela
compreenda que alguém vem da casa do Marco esta noite. Ela observa uma diferença
sintática quando cita a palavra estrutura e também quando compara a estrutura
italiana a do português, que geralmente estabelece uma referência bem marcada de
local de onde se vem ou para onde se vai. Referência que faltou à frase me destaque
em italiano. Houve leitura de textos e trabalhou-se a ideia de compreensão geográfica
no país.

Na última aula do dia 21/11 realizada pela profª. Juliana trabalhou-se como
tema do dia os artigos determinativos, o plural e o singular. Para estabelecer um
diálogo e estimular a fala foi feita a seguinte pergunta: “Quali sono i lavori più comuni
in Brasile?”. Em verdade a pergunta tinha por referência a Itália, mas ela foi inserida na
realidade brasileira como modo de produzir o diálogo e aproximar-se da realidade da
aluna. É um modo de criar identificação entre o tema e o estudante.

A primeira aula assistida em 23/11 (Prof.ª Julianna) a professora exercitou a


compreensão textual, o vocabulário e alguns costumes e hábitos no café da manhã.
Houve o uso de um áudio para a compreensão auditiva da fala, já que falta aos alunos
o contato com um nativo. A partir do que se compreendia no áudio realizava-se o
exercício de preenchimento de palavras em lacunas vazias na frase. Esse exercício foi,
naquele momento, o mais diferente de todos os realizados em todas as aulas.
Diferente do que se esperava, ele também era uma composição do livro usado nas
aulas. Após o áudio, houve pelo menos 40 minutos voltados exclusivamente para a
realização de exercícios.

No dia 23/11 (Prof.ª Pricilla Acioly) houve uma produção de diálogo sobre o
que mais se gosta na cidade em que se vive. Pôde-se trabalhar posteriormente como
usar elementos como accanto, verso, di fronte e vicino e com isso trabalhou-se o
senso de distância e proximidade. Também estudou-se sobre o uso da partícula NE e
os pronomes de complemento para objeto direto (lo, li, La, le). Foi uma aula sem
referência ou diálogos com o livro discutido em sala com a professora Carmem
Praxedes.

Houve a segunda aula da prof.ª Juliana no dia 23/11, mas não há nenhum
elemento que pudesse ser retomado ou discutido neste relatório.
Na aula de sábado em 03/12 (Prof.ª Paula) a professora realizou exercícios no
singular e plural e fez a introdução do tema sobre passato prossimo. Na última aula da
professora houve queda de energia e uma das alunas não conseguiu entrar em aula,
por causa da falta de elevadores. E neste dia, eles programaram a data do último
exame, bem como, outras alternativas de exames finais para que conseguissem
realizar o final do curso. A iminência da greve na UERJ despertou a necessidade de se
debater sobre modos alternantes de se conseguir finalizar o curso. Nesta mesma aula
também se debateu sobre plurais e as dificuldades nesta turma eram as mesmas de
outras turmas.

Como um instrumento de ensino que se estende da comunidade interna à


externa da UERJ o Licom é hoje um dos melhores meios de ensino de línguas ofertados
a um grande público. Um público diverso, grande e plural na sua totalidade. Como
crítica eu poderia salientar que atualmente a metodologia do ensino no Licom exige
um modo que engessa qualquer capacidade criativa existente no professor. Em sala,
comentei com a minha professora-tutora Carmem Praxedes que a exigência do uso do
livro acaba minimizando qualquer ação criadora daquele que ensina. Uma ação tão
natural à própria função de professor acaba por restringir a capacidade de criar o
próprio material e por consequência, a capacidade de aprendizagem através da
criação. Quem cria, entende melhor a língua que ensina, porque está em contato
direto com o próprio objeto de estudo. O próprio cérebro acaba realizando as mesmas
coisas, se sempre for condicionado a fazer do mesmo modo as mesmas coisas. Por
isso, quando um professor realiza, teleguiado por um livro, os mesmos moldes de
exercícios de um livro, baseando todo o tempo da sua aula ao exercício e ao comando
determinados por aquela obra, ele nunca fará algo diferente durante toda a sua aula.
Uma proposta que pode ser adotada por essa metodologia e que traria alguma
flexibilidade a esse gesso de ensino no Licom é permitir que o docente da língua realize
os exercícios do livro e que uma porcentagem do seu tempo de aula seja usada
somente por práticas ou exercícios produzidos por ele. Se a aula possui 3 horas, logo,
ao menos 50 minutos seriam exclusivos à apresentação da produção autoral do
professor. Desse modo, ele acabaria por exercer a função do professor não somente
quando dentro de aula, mas também fora da aula ao realizar os seus próprios planos
de aulas. Planos que são desnecessários nesse momento, porque os professores se
guiam por um livro que não atende às necessidades de formação educacional do aluno
e sequer às necessidades da formação profissional do professor.

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