Você está na página 1de 14
LU{S MANUEL TELES DE MENEZES LEITAQ outor em Direito Professor da Faculdade de Direito de Lisboa O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA NO DIREITO CIVIL (Estudo dogmatico sobre a viabilidade ragdo unitéria do instituto, face A contraposigao rentes categorias de enriquecimento sem causa). Dissertagio de Doutoramento em Ciéncias Juridicas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 2204 fr. Konpensrrmner / KRAMER, op. cits p69. VL ACLAUSULA GERAL DO ART. 473.°,N.° 1 DO CODIGO CIVIL. nal, procuremos examinar, interpretacio que se deverd + Oenriquecimento imente ao conceito de enriquecimento referido no art. 473.°, » Cédigo Civil, este deve ser entendido no sentido de vantagem patrimonial, excluindo-se assim do mbito deste i reptessto dos beneticis de ios, considerando queda mesma forma que se admite a reparaggo do dano nio ‘pela eso via a abtengio de prazerespiitual&eusta da lsd do dirt alheio Parte i Estudo de Direito Positive 831 De acordo com a concepgiio contréria, o enriquecimento no cons- ‘uma Vantagem patrim essa deslocagdo patrimonial228, No ambito do uso e fruigo de bens tagens que diminvem o entiquecimento devem estar em conexio causal com ter derivado da mesma circunstincia que 0 produriu. Com base nesta ntog%o, 0 autor propugna as sepuintessolugtes! as despesas que o enriquecido faz custa do seu priprio feaham sido motivadas exclusivamente pelo entiquecimento, iquscido, em virude de ter recebido sem essa um reldgin de cro, oferece a outrem oscu de pra, nfo dei de se considerar que o enrique nto diminui em virude desst alienagao, "quanto 3s despesas motivids pela aquisigio da coisa, estas 36 serio de or dlerar diminuigéo do enriguecimento se raprestago ni tem conexdo cas da propriedaie e, ou € 0 alienante que tem que termos do § 816 T BGB, ou send o adquirente a ex o € objecto de uma condicia distin, Wit), § segundo a qual 0 antes no que tena "maser seguida por VON MAYR, Der Bereicherungsansprach. ‘ho constituir 0 enriquecimenta @ abjecto adguirgo Parte It Bstudo de Direto P 835 © enriquecimento pode ainda consistir na obtengdo de vantagens imoniais no apreensiveis em termos materiais, como sucede com as des de servicos (como, por exemplo, o ensino) ou com utilidades ico de um vefculo). Nao podendo estas ‘gens ser restituidas em espécie, teré de se Thes aplicar a restituigdio do > prevista no art. 479.2, n° 12215, No fimbito da determinacdo do enriquecimento tem ainda que yar em consideragto a poupanca de despesas, que de outra forma im realizado. No parece aceitével a tese que gencraliza a pou- i de despesas, como critério genérico determinante do obtide a custa jutrem, aplicando-0, por exemplo, no Ambito das prestagdes de Gos ¢ da utilizaco de bens alheios?2!6. Efectivamente, nesses casos, e se obtém A custa de outrem € uma vantagem patrimor I, enquanto a poupanca de despesas constitu um mero reflexo st! vantagem no patriménio do enriquecido. A poupanga de despesas funcionar, porém, para determinago do eventual desaparecimento isténcia do entiquecimento, apss a aquisigao, em caso de boa fé wiquirente (art. 479.°, n° 2), sendo assim relevante para esse fr. Lich em Minchener Kommentar... (it), § 818, n° 12, a pp. 1405 € Schuldreche I (eit), pp. 317. fr. Bsnpecent / Letnany, op. cit pp. 874 € ss. (ined. esp. cit, pp. 952 © LTE BERGER, op. iquecimento. Assim, © autor conelui que se alguém trugio de uma casa e esta vier a ser destutda por um ineéndio, qualquer caso tivesse que fazer esst despesa, nde Funcionar como defesa contra a imposigio de considera, porém, que em caso de pagamenta de pria poupanga de despesss, 0 que jd nao parece Parte 11 Estudo de Direito Posiivo a7 © empobrecimento teria que set entendido de forma diferen- amente ao conceito de dano patrimonial, vigente em sede iade civil. Efectivamente, no ambito da responsabilidade 562. C. C,) ou mediante a alteragaio sado para a que teria nessa data se 2 da Céidigo Civil). No ambito do wento sem causa, pelo contrério, 0 empobrecimento era almente entendido como a perda resultante da deslocago de um. re dois patriménios, sendo assim determinével mediante s dos que vigoravam para a responsabilidade civil, cuja aplicagao xeluida, mesmo que por analogia??=2 A descoberta da Eingriffskondittion veio alterar a radical separagdo os de dano na responsabilidade civil e no enriquecimento sem fectivamente, 0 conceito de deslocagio patrimonial nao poderia ir mais para a aplicago do enriquecimento sem causa nas hipsteses de ‘30 ou disposi¢a0 nao autorizadas de bens alheios. © reflexo ituagdes varia extraordinariamente consoante se tome em conside- patriménio do empobrecido ou o patriménio do entiquecido, o que ‘que estes tenham de deixar de ser vistos simplesmente como pélos de uma deslocagio patrimonial para passarem a ter uma isolada das consequéncias provocadas pela intervengiio em Val, hi apenas que verifese qual a ‘que uma deslocagio Parte I~ Esaudo de Direito Positive Bal spenas se pode basear na situagdo de facto efectiva, Iago do principio da boa fé, consagrado no § 242 . Esta fundamentagio simultinea do empobrecimento e do enri- ormente acolhida pela doutrina?233, Este tiltimo critério corresponde, porém, a um citeulo vicioso, jé que enriquecimento nem o empobrecimento aparecem como resultado algum fendmeno, mas antes fundamentam-se reciprocamente um no deixam-se ambos induzir de t6picos como o do “comportamento me 2 ordem” (ordaungsméiBigen Vorgehen) e do “venire contra proprium” (que a doutrina deduziu do § 242 B.G.B.). Considera- ‘que qualquer obtenedo de vantagens a partir de bens alheios obriga 0 Parte I~ Esnudo de Direito Positive 863 juecimento, 0 relevo fundamental € dado & restituigio do obtido & tt de outrem, considerando-se que essa obtencZo obriga ao pagamento ‘lor correspondente & vantagem adquirida, por forma idéntica a0 que sucedido se tivesse sido celebrado um contrato entre as partes?2, vonsequéncia, o requisito do empobrecimento no sentido de dano monial acabou por tormar-se apenas aparente, através do postulado do portamento conforme & ordem?2”, ote, a manutengdio do requisito do dano patrimonial s6 se wvés do recurso a fiegdes que passam ou pela aceitagtio la rentincia & sua consideragio polo da deslocagao patrimonial (referindo-se qu doutrina dominante na vem assim a questionar 0 to da obtengo do enriquecimento “3 custa de outrem”. No ambito jecimento por prestaglio, afirma-se que esse requisito no tem, Uma vez que a sua funcdo ¢ estabelecer uma relagtio entre 0 or ¢ 0 devedor da pretensio de enriquecimento ¢ essa relagio jf se elecida através da realizagio da prestagdo®*2, No mbito do mento por intervengilo, a teotia do contetido da destinagio 1 que 0 enriquecimento € obtido & custa de outrem quando ele se iante uma ingeréncia no contetido da destinago de um direito i ‘de um dano da companhia Dretensio de enriquecimento. Cir. ARNDT TICHMANN, M1, Konan, Parte I~ Estulo de Direito Post enriquecimento por intervengio esse Ima Vez que nem todos os que benefi monial t@m que restituir 0 enriquecimento, a quem seja prejudicado havendo que determinar se se verifica ou no uma afectagio do lo da destinagdo de determinada posigdo juridica do lesado™25. $6 determinagio dessa afectacao nao se identifica com qualquer dano nial, que pode nao existir como sucede nas hipsteses de utilizagdo alleios?™6, 856 neste dmbito a andlise do caso referido no “Ac. RP 85, em que apds ter reconhecido em acgio prego de 1.250.000800. 4 instalagzo do tereeiro no Ioeado leva que os AA. celebrar um contrato de arrendamento com ele, apés 6 que exigem ao R. a iantia recebida pelo trespasse, com fundamento em enrique buna indefere, parém, a acco Ine com a afetagio de uma posiglojurtica dos autores, 0 que 0 pretenso iespasse mpliea. A nica pretensio que 0s autores poderiam tr seria a restituigdo do dds coisa correspondente A sua ocupagio, nunca a dos ganos obtidos Parte It ~ Estudo de Direito Positivo a7 imputago do enriquecimento & esfera de outra pessoa, sendo essa lagtio que justifica que alguém tenha que restituir 0 enriquecimento se gerou no seu patriménio®™8, Essa imputagdo pode resultar de varias como a realizagio de uma prestagio por parte do empobrecido, a do conteiido da destinagao de uma posigao juridica de que ele realizagio de uma despesa ou a impossibilidade de satisfagio to em virtude dessa situagdo. Verifica-se, assim, uma grande lade das situagSes comespondentes ao conceito de “a custa de fo por prestacao, Sendo assim, nio faz sentido a sua definigao em io abstractos, nfo se podendo continuar a apresenté-lo como um posto unitério deste instituto, A unificagao destas situagdes resulta ‘mente de em todas elas se verificar um beneficio para outrem, 0 recomhecer que é precisamente o conceito de enriquecimento 0 lutinador deste instituto. trina da exigencia do requisito de imediagio e sua eritica referiu que a tradicional doutrina unitéria, fundada no conceito ico patrimonial, exigia como requisito dessas deslocagdes que common lave. Cte. Gore / Joss, 33 (one alma que “the general gain tothe defendant need legally protected interest emo pressposto da eivindicagio™ fenhuma destas concepgdes 6 aceit auséneia de causa ju et de ccd indeterminado € susceptivel de um: e uma coneretizagiio, sepeieas 8 que ats fizémos referéncia, Eon cove if, aliés, i fy alt. sTectuada peo legisiador(embora de wa for rma ineon de causa ju © posterior desaparecimento da causa 01 ldo. Como esta concretizacio diz respei de enriquecimento por prestagiio229 entanto, apenas a hipsteses |p. 491. Neste sentido, veja : 2° Para Lise, em Mine) fieaglo legal dos casos de co) seneia de causa justi no Aimbito do enrique- outras categorias de enriquecimento sem a testituigao. A realizagdo ou nio desse fim € por referéneia a uma relagdo obrigacional, cuja execugdo se ner razio nio existe subjacente a essa prestacto, io ob causam finitam) ou ndo se verificar tio ob rem), Nao &, porém, a inexisténcia dessa relagio I que constitu a auséncia da causa juridica da prestago, mas io realizagio do fim visado com a mesma%25, como nos é Cir. Meu, em Soergels TUNES VARELA, op-ctp. (Cf, Wenven LORENZ, pp. $83. Neste sentido, es (cit).pp. 380 €%.. 12, n2 76, a de causa em sentido fa como existete pelo autor da prestagio, a causa 2 frente e ndo atris da prestagio, consistindo no na consideragio da relagto igacional, mas anes na previsio do rest nuit mai intengdo do que Nao concordamos, por (Cie. REUTER / MARTINEX, 0p. c jonal para a sua conservagiio ir & auséncia de causa ju Fudimentar, baseado apenas na inexisténeia de not conservaciio excepcional do entiquecimento, + NO enriquecimento por de causa justificativa é m uma Vez que se reconduz a ver causa minor da aquisigao em relagdo ao terceiro, como 0 gratuito e 0 negécio paulianamente impugnado, Conclui-se, por iss0, que também a auséncia de causa j no pode ser entendida unitariamente nas diferentes categorias d Cimento sem causa, exigindo-se sempre a integracao do caso ni gotia espectfica de enriquecimento sem causa para se poder determi Seu contetido ea sua relevancia enquanto pressuposto do ins ta do efeito que se pretendia obter com a prestagao (of. ar. ‘A norma acusa, em grande parte, a influéneia do § 818 de 0 nosso Cédigo ndo prever expressamente que a restituicio © receptor venha a obter com base num direito adquirido, ou com nizagio pela destruigio, deterioracdo ou subtracgo de um obj fo, a0 contririo do que dispde 0 § 818, 1B.G.B. A obrigagao da restituigo por enriquecimento sem causa diferen se bastante do regime geral consagrado no Cédigo Civil para o mprimento das obrigagées, em primeira lugar, pelo facto de determi 1e a impossibilidade de restituigao em espécie nao extingue a obrigaci ccontririo do que resultaria do art. 790.°, implicando antes a rest valor correspondente22 e, em segundo lugar, por prever uma causa de 2502 Tratu-se de uma solugio que s6 tem paralelo no art. 1149°, re contrato de mituo. 6 de nota, no entanto, que Pues DE LIMA/ANTUNES VARELA, 0p ll,

Você também pode gostar