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05/11/2018 5 paradoxos da lógica e da matemática | Superinteressante

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5 paradoxos da lógica e da matemática


Por Redação Super
 21 dez 2016, 10h12 - Publicado em 31 out 2014, 15h46

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Por Luiza Lages

Um paradoxo é uma declaração que vai contra o senso comum, expectativas ou de nições. Na
loso a e na lógica, por exemplo, os paradoxos são importantes argumentos críticos, e já foram
responsáveis pela organização ou reorganização de fundamentos de várias áreas do
conhecimento. Parece complexo, não? Mas a gente te explica com calma. De uma vastidão de
problemas paradoxais da lógica e da matemática, trazemos cinco deles que já deram um nó na
cabeça de muita gente. Dá uma olhada:

1. Paradoxo de Russell (e Paradoxo do Barbeiro)

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Em 1901, enquanto trabalhava em seu livro Os princípios da Matemática, Bertrand Russell


descobriu um paradoxo que expunha uma falha nos fundamentos da Teoria dos Conjuntos, de
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Georg Cantor – o que abalou o mundo da matemática e levou cientistas a repensarem a lógica
moderna. Segundo a teoria de Cantor, um conjunto pode conter outros conjuntos, inclusive a si
mesmo. Por exemplo, o conjunto das ideias é uma ideia. Mas isso não é verdade para todos os
conjuntos, já que existem alguns que não podem conter a si mesmos. É o caso do conjunto de
todos os números, que não é um número, ou do conjunto de todas as frutas, que não é uma
fruta.

Aí Russell resolveu complicar a história. O matemático pegou esse conjunto dos conjuntos que
não contém a si mesmos (aquele que inclui o conjunto de todos os números e o de todas as
frutas) e perguntou: “Esse conjunto pertence a si mesmo?”. Existem duas repostas possíveis:
sim, ele pertence a si mesmo, ou não, não pertence a si mesmo. Se a resposta é que ele
pertence a si mesmo, ele é um conjunto que não pertence a si mesmo (porque essa é a
característica que de ne os participantes desse conjunto especí co). E se a resposta for que ele
não pertence a si mesmo, então ele é um conjunto que pertence a si mesmo. Tá aí o paradoxo
de Russell: a resposta a rmativa leva a negação, e vice-versa.

Mas esse paradoxo não ca restrito à matemática, e pode ser entendido também no contexto da
autorreferência, que é quando uma a rmação faz referência a si mesma. Ele também é
conhecido como o Paradoxo do Barbeiro, contado pelo próprio autor para melhor explicar suas
ideias: em uma cidade com uma lei rígida quanto ao uso da barba, a regra é que todo homem
adulto é obrigado a se barbear diariamente, mas não precisa fazer a própria barba. Existe um
barbeiro na cidade para esses casos, para o qual a lei diz que “o barbeiro deverá fazer a barba
daqueles que optarem por não fazer a própria barba”. Dessa a rmação, surge o paradoxo, já que
como resultado o barbeiro não pode se barbear. Por ser o barbeiro, fazer a própria barba
signi caria ser barbeado pelo homem que faz a barba só daqueles que optaram por não fazer a
própria barba. E ele não pode ir ao barbeiro, pois isso signi caria fazer a própria barba, o que não
é a função do barbeiro.

2. Paradoxo do Mentiroso

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Ainda no terreno da autorreferência, há um paradoxo que existe nas mais variadas formas desde
os lósofos da Grécia Antiga. Ebulides de Mileto, no século 4 a.C., perguntou: “Um homem diz
que está mentindo. O que ele diz é verdade ou mentira?”. Mais uma vez, encontramos uma
a rmativa que leva à negação e uma negação que leva à a rmativa. Se o homem estiver
mentindo, então ele está falando a verdade. Se o homem estiver falando a verdade, então ele
está mentindo. O problema revelado aqui é da ordem do senso comum: o que entendemos por
verdade e mentira nos leva a contradições.

O Paradoxo do Mentiroso já foi registrado assumindo diferentes formas, contando diferentes


histórias, em diversos tempos e culturas. Uma das mais populares é o Paradoxo do Pinóquio. O
personagem da literatura infantil, criado por Carlo Collodi, a rma: “O meu nariz vai crescer”.
Quem conhece a história sabe que o nariz do boneco de madeira cresce a cada vez que ele
conta uma mentira. Bem, se o nariz do boneco crescer, então a a rmação era verdadeira e nada
deveria ter acontecido. Se o nariz não crescer, então a a rmação era uma mentira e o nariz
deveria ter crescido.

A partir de uma a rmação derivada da proferida por Ebulides em sua forma mais simples (“Esta
a rmação é falsa”), Kurt Gödel demonstrou o Teorema da Incompletude, na lógica moderna. Em
linguagem aritmética, o matemático disse que “esta a rmação é indemonstrável”. Se um axioma
(princípio matemático que não precisa de demonstração) desenvolvido tendo como base essa
estrutura é falso, então ele é falso e demonstrável, o que é incoerente. Se o axioma é verdadeiro,

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então ele é verdadeiro e indemonstrável, e, portanto, incompleto. Assim, qualquer teoria na qual
seja possível formular uma a rmação como essa é necessariamente incompleta.

Leia também:
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5 campeonatos de esportes da mente

3. O problema de Monty Hall

No nal dos anos 80, o humorista Sérgio Mallandro apresentava o programa infantil
Oradukapeta, no SBT. O quadro mais popular do programa era a “Porta dos desesperados”, em
que crianças da plateia escolhiam uma entre três portas. Atrás de uma delas havia prêmios, e
das outras duas, monstros fantasiados. Agora vamos lá, suponha que você é um participante e
escolheu a porta 1. Outro participante escolhe a porta 2 e a abre primeiro, revelando um
monstro. Quando o apresentador pergunta se você deseja trocar a porta selecionada, qual seria
a melhor decisão?

Muitas pessoas diriam que a chance de encontrar um prêmio é agora de uma chance em duas, e
que tanto faz qual for a decisão nal. Mas em 1975, nos Estados Unidos, a escritora Marilyn vos
Savant disse em sua coluna na revista Parade que, em uma situação similar, o participante
deveria optar por trocar de portas. Segundo ela, a troca levaria a uma probabilidade de 2/3 de
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ganhar o prêmio, enquanto a chance de levar a melhor ao permanecer com a escolha inicial seria
de apenas 1/3.

Isso acontece porque, ao escolher uma porta, a chance de acerto é inicialmente de 1/3. Já tendo
sido revelada uma porta falsa, caso a troca seja efetuada, deve-se somar ao 1/3 de chance da
porta restante, o 1/3 de probabilidade que era conferido à porta revelada, chegando então a
duas em três chances de acertar.

Muitos leitores, entre eles especialistas, não foram convencidos pelas explicações da colunista,
e escreveram à revista alegando que a proposta deveria estar errada. Com a polêmica, foram
conduzidas simulações e provas matemáticas foram desenvolvidas para mostrar que, apesar de
fugir ao senso comum, vos Savant estava certa.

O problema de Monty Hall ganhou o nome do apresentador do programa de TV Let’s Make a


Deal, que funcionava com uma dinâmica bem próxima à da Porta dos Desesperados, de Sérgio
Mallandro. É um paradoxo classi cado como verídico pelo sistema do lósofo e lógico Willard
Van Orman Quine, já que apresenta resultados tão pouco intuitivos que parecem absurdos, mas
que são demonstrados como verdadeiros.

4. Aquiles e a tartaruga

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O que aconteceria se uma tartaruga apostasse corrida com um atleta? A resposta parece fácil,
mas o lósofo pré-socrático Zeno de Eleia complicou as coisas com um de seus paradoxos do
movimento. A história contada para explicar o problema proposto pelo pensador é a seguinte:
Aquiles e uma tartaruga decidem apostar uma corrida e, como a velocidade de deslocamento do
herói da mitologia grega é muito maior que a do pequeno réptil, ele dá uma vantagem para a
tartaruga, que começa a prova à frente.

Quando Aquiles alcança o ponto A, de onde saiu a tartaruga, ela já está à frente, no ponto B. E
quando ele chega ao ponto B, a tartaruga já se encontra no ponto C. Ao Aquiles alcançar o ponto
C, ela já está em D, e assim sucessivamente. Dessa forma, o guerreiro nunca conseguiria
ultrapassar a tartaruga. Matematicamente, seria como pensar em um limite: o limite da
expressão teria o espaço entre os dois corredores tendendo a zero – e isso signi ca dizer que a
expressão se aproximaria cada vez mais do número 0, sem nunca alcançá-lo.

Um dos problemas é que Zeno desconsiderou a variável do tempo. O paradoxo supõe que a
soma de in nitos intervalos de tempo é in nita, mas a soma dos in nitos intervalos de tempo
que Aquiles gasta para se aproximar da tartaruga, na verdade, converge para um valor nito.
Então o herói só não conseguiria alcançar a tartaruga em um intervalo de tempo especí co.
Apesar das incoerências, o paradoxo foi importante para pensarmos os in nitos, a noção de
referencial e movimento.

5. Paradoxo do enforcamento inesperado

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Um juiz decreta a sentença de um homem condenado, e conta para o prisioneiro que ele vai ser
enforcado na próxima semana, entre segunda e sexta-feira, em um dia inesperado, ao meio-dia.
O homem entende a sentença de tal forma que ca aliviado, certo de que não vai ser executado.

O raciocínio dele é o seguinte: quando chegar a quinta a noite e ainda não houver ocorrido a
execução, ele irá saber que esta não pode mais acontecer na sexta, já que isso seria esperado, o
que contradiz a sentença – que deixou claro que ele seria enforcado em um dia inesperado.
Então, se chegada a quarta-feira e a execução não houver acontecido, a mesma não poderá ser
na quinta, pelo mesmo motivo apresentado antes. E assim por diante, não poderá ocorrer na
quarta, na terça e nem na segunda. Mas na quarta-feira o prisioneiro é enforcado, uma vez que a
lógica desenvolvida por ele tornou a sua execução inesperada.

Os lógicos entendem que o problema do paradoxo está em sua natureza de autorreferência e na


sentença contraditória do juiz que, ao estipular um tempo determinado (meio-dia) e contado
(uma semana) para o enforcamento, não poderia também falar em inesperado. Para a
epistemologia, o paradoxo pode também ser um problema associado ao conhecimento – o que
sabemos e o que esperamos entra em jogo.

 
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Bônus: Paradoxo do avô

Um viajante no tempo volta ao passado para um momento em que seus avós ainda não se
conheciam, mata seu avô e, como consequência, impede o próprio nascimento. O problema é
que, sem ter nascido, o viajante não pode voltar no tempo para matar seu avô, o que signi ca
que ele nasceu.

Nem da lógica e nem da matemática, essa é a descrição do Paradoxo do avô, que foi proposto
pela primeira vez pelo escritor de cção cientí ca René Barjavel, em sua obra Le Voyageur
imprudent, de 1943. O autor provou que qualquer um pode desenvolver um paradoxo, e que um
paradoxo é um olhar crítico sobre como se vê e como se organiza o mundo.

A natureza contraditória do Paradoxo do avô, que mostra a impossibilidade dos eventos


ocorrerem como descritos, está associada a uma visão de como é a ligação entre passado e
futuro. Em diferentes cenários, com diferentes perspectivas sobre a estrutura temporal, o
paradoxo não faria sentido. Por exemplo, a partir da noção de que o passado é imutável, seria
impossível matar o avô. Também podemos pensar que a viagem no tempo cria ou se associa a
uma linha do tempo alternativa, em um universo paralelo, em que, ao matar o avô, aquele que
seria o viajante não chega a nascer.

TUDO SOBRE
MATEMÁTICA

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