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Escrita e Leitura – PósLit UnB

Professora Aline - UFMG


“como a escrita de si serve com acesso ao problema de representar o irrepresentável, na
medida em que essa representação se torna índice da representatividade?”

Atualidade: boom de autorreferências. Falamos de nós mesmos em diferentes instancias


Trabalho: escrever sobre si, diferença do que existia num diário sec XIX e a escrita de si nas
redes sociais (Lumman fala que o diário deve ser secreto, por exemplo)
Pode misturar imagens e textos no trabalho, como um post.
O que acontece quando nos colocamos como objetos da autoescrita.
Até o inicio do sec XX a escrita de si serve para ocupação de si mesmo. A emergência de um
espaço interior depende da emergência pessoal. Surgimento de um individuo que tem um
espaço interior a ser preenchido. O diário cumpre essa função de reocupação de si.
Pensar a partir de uma experiência. Como isso funciona hoje? Como nos criamos nos posts?
Quem é a pessoa que aparece na rede social? (lumman diz que quando nos mostramos já não
somos nós)
Laboratório de registro autorreferente, de escrita de si. Escrever sobre a própria vida.
Entradas: citação de Canetti “ Trata-se, prosseguindo, dos encontros com pessoas de países
que
nem sequer conheço, ou com outras de países que conheço muito bem; das histórias e destinos
de amigos que perdi de vista por muito tempo e subitamente reencontro; da luta pela vida
daqueles que me são próximos, luta contra doenças, operações, perigos que se estenderam por
décadas, contra o esmorecimento de sua vontade de viver. Trata-se de todos os traços de
avareza e inveja, que me irritam e que desprezo desde minha infância, mas também dos de
generosidade,
bondade e orgulho, que amo com idolatria; do ciúme (minha forma privada de jogo de poder),
um tema que Proust de fato esgotou e para o qual, no entanto, cada um tem sempre de
encontrar a sua própria solução. Trata-se, sempre, de toda espécie de delírio; o qual, embora
eu tenha tentado já muito cedo dar uma configuração, em nenhum instante perdeu seu fascínio
para mim; da questão da fé, da fé em geral e em todas as suas manifestações, para a qual me
inclino por
causa de minhas origens, mas à qual jamais me dedicarei a fundo, enquanto não tiver
desvendado sua natureza. Finalmente, e da forma mais obsessiva, trata-se da morte, que não
posso reconhecer, embora nunca a perca de vista, e cujo rastro preciso seguir até seus últimos
esconderijos, para destruir-lhe a atração e o falso brilho.

Yung, memorias sonhos e reflexões: relações inescapáveis do eu e o inconsciente


http://scriptoriumm.com/2017/01/memorias-sonhos-e-reflexoes-jung-resenha/

“não posso me experimentar como um problema científico”


Autorreferencia não é necessariamente reflexiva e ficcional. Não é ficção, não é científico,
então o que é?
Foucault – escrita de si. escrever sobre si é criar a si mesmo.
Práticas de si (pag 146) até escolher a própria roupa é se escrever. mas não no sentido
ficcional, por mais exclusivos que sejamos, nunca somos absolutamente singulares. O tempo
todo estamos reinventando nossa maneira de ser a partir de um repertório pré-moldado.
Seguimos padrões e mesmo não seguir a regra é confirmar a regra. A construção de si mesmo
ultrapassa a autobiografia. Desse ponto de vista, tirar uma selfie é configurar a nós mesmos.
O que escolhemos, pq escolhemos?

A validação não passa mais pelo crivo do verdadeiro. Exemplo: a foto da comida bonita que
não precisa ser gostosa. A foto numa festa onde n se estava divertindo. (pq nunca faço selfies
em festas, mostrando extrema alegria)

O autentico visa a eficiência de si mesmo (lionel “truidin”)

Quebrar a regra social é ser autêntico. Ser sincero é se esforçar para cumprir o que a
sociedade espera de si. Sinceridade é uma virtude, autenticidade não é
“a lavanderia” – NETFLIX

5ª entrada: historiador que fala de lugar de memória. Tentar se explicar como se explica o
outro. O olhar frio que se lança aos outros, lançar em vc msm. Trajetória.estilo um texto
memorial, fio condutor que cria a egostória. Transformar suas escolhas em algo que mostre
um motivo... tentar racionalizar a história de cada um, como se fosse a história de outro.
Constituir-se é ser constituído.

A tajetoria de cada, como agente e como produto da história, como chegou e o que trouxe até
o presente momento. Sujeito que não é 100% agente. Modelagem de personalidade, escolhas
pequenas e consequências disso. Escolha ampliada

Ainda existe um “eu”?

O “eu” ampliado, pensar sobre ele, sobre escrever sobre ele, implica em ver o conjunto das
vivencias e seus registros as possibilidades a serem analisadas, para a possibilidade da
constituição de uma existência individual. Autonomia num mundo em que o “eu” tá
completamente diluído, em que o inconsciente existe, qual a possibilidade de autonomia de
uma existência individual?

Tudo que escolhemos, eh de forma autônoma e autorreflexiva?

Ambiente teórico-cultural onde se criam produções de si mesmo, como autobiografia, por


exemplo.

A biblioteca de alguém é autorreferente, o que se lê, quem se lê...

A escrita de si é o acontecimento do que não aconteceu.

- como considerar o estatuto da escrita de um diário? A pessoa escreve sempre de seu ponto de
vista, não se sabe o que é realmente verdade.
Como esses pontos aparecem, se é que aparecem dentro da criação de cada um (das 5
inscrições)

Quando começamos (humanidade) a escrever sobre nós mesmos?


Emergência da subjetividade moderna: o eu que escreve sobre si a partir de uma ideia, pelo
menos desde Santo Agostinho... talvez seja o primeiro texto autorreferencial.

Como a escrita sai de si e retorna a si?


Quando o individuo começa a achar que seu escrito é importante, o corpo começa a entrar na
escrita.

Luman: o ser se aparta do mundo para conhecer o mundo, para vê-lo em sua totalidade
Homem se torna objeto de si mesmo, consciência autorreflexiva, o homem sendo objeto de si
mesmo (século XIX). Homem objeto e sujeito de conhecimento. Foucault conta essa história
de como o homem chega ao advento das ciências humanas (homem objeto de si)

O individuo moderno é o que vai abandonando seu posto.


Vazio de sentido – modificação do estatuto da natureza, que não é mais a criação do divino e
pode agora ser quantificado e estudado. O homem moderno vai descobrindo que a vida não
tem sentido.
Não tem um sentido dado, mas tem o sentido que cada um dá a sua vida.
Lidar com o aparecimento histórico do vazio de sentido e lidar ao mesmo tempo com a
autoafirmação pessoal.

PARA AMANHA:
Boom de escrita autobiográfica, teoria do discurso autorreferencial
Alan Deliberrá

22/10
O que significa escrever a si mesmo? Práticas de si é uma ação e algo que se configura sobre
o escritor. Constituição de si e ser constituído por, ao mesmo tempo

Paul Deman: tudo na prática de si é autobiográfico.

Quem somos como espécie? Quem escreve/pensa? Qual é o tema do pensamento? O que é ser
uma criatura humana? Quem somos nós? (uma pergunta leva a outra e mantém o ciclo)

O que é o ninguém? O que é uma não pessoa que se opõe a um “si mesmo”?

Tríade: conhecer-se, amar-se e lembrar de si. Um é possível sem o outro?

Guinada subjetiva: linguistic turn, anos 60, postula sobre a opacidade da linguagem.
Consciência de que as palavras não são transparentes as coisas.
A maneira como se diz é tao importante quanto como se diz.

Derrida diz que não há nada fora do texto. O que temos é um mundo de linguagem e
representação. (antiquado)
Junto com a virada linguística, vem a virada subjetiva. Fala sobre “A Morte do Autor”. É
quando a vivência começa a gerar interesse.

Trajetória de personificação do sujeito, a vida de um idinviduo é a maneira mais bem


elaborada de história, para Dilthen. O sentido da historia se revelava na vida individual, onde
se encontrava um exemplar do que acontecia em forma universal. Hoje não é mais possível
pensar nessa representação universal.

Em que medida é possível a autoconstituição de uma forma reflexiva e autônoma? Essa


escrita continua que nos torna quem somos é suficiente p nos tornar reflexivos e autônomos?
Ou presos na imediaticidade, representamos papeis e nos anulamos enquanto seres
autônomos, que criam suas próprias regras?

O sujeito moderno: substrato é o que recebe algo. O ego se torna esse substrato, aquilo que
suporta ou toma forma de algo, seja como for. Não era destino do sujeito se tornar uma pessoa
humana....
Mminese, tipo de memória, surge a partir de uma sensação física. Vem a partir de nossos
sentidos (visão, olfalto...) anaminese: aquilo que se deseja mas não necessariamente se
concretiza nos nossos sentidos (a expectativa/desejo cria uma memória).

Escrever sobre si perpassa mais a memoria anamnética.

Transformação do sujeito substrato em um sujeito agente de uma ação: amar, conhecer,


lembrar.

Quiasma da agência. Envolve comutação de pricipios, mobiliza regras, teoremas, definições e


sobrepõe formas discursivas. O substrato não se torna, simplesmente, em agente. O sujeito n
deixa de ser receptor, ele é as duas coisas... esse é o paradoxo do mundo moderno.
Ele recebe atributos, padrões, cumpre agências em função dos padrões recebidos.

Luhman sobre o amor: como sabemos que alguém esta apaixonado? Pq ele cumpre uma serie
de padrões. Ou seja, nem mesmo o sentimento do amor, marcante para a intimidade, é
acessível de maneira pura. Não se chega ao sentimento sem passar pelos padrões
estabelecidos pela sociedade.
Admite-se muitas formas de estar apaixonado, mas vc precisa se encaixar em uma delas para
ser considerado, e para se considerar, um apaixonado.

Descartes é forçado a admitir algo como sujeito, no momento em que ele consente essa
agencia, o sujeito já havia se transformado em agente. A via de conceito teológico de
(quem??) hipóstase (santíssima trindade)

Transforma o diagnóstico da guinada subjetiva em algo mais amplo, baseado no medievo


cristão, coloca a pessoa no centro de suas reflexões e inquietações mais profundas.

O individo estoico não está interessado em transformar o mundo, mas em se distanciar desse
mundo. O individuo moderno ve o mundo como território a ser experimentado, palco onde
viverá. Por isso a modernidade traz o individualismo. Transformar o mundo significa domar o
mundo.
Na modernidade, o mundo é aberto, pq o humano se dedica a transforma a transformar o
mundo em função do que há dentro de si (que é nada, mas td bem). Transforma, então o
mundo em função de algo que ele projeta e deseja: anamnese.

Pq a escrita de si se torna fundamental? Pq questionando seus limites de asseveração, de


constituição de uma verdade é possível se perguntar quem somos nós que estamos no mundo.

O corpo como um papel. Experimentar-se vai além da escrita literalmente dita, mas cada
escolha, cada passo é escrever sobre si. Esse é o sujeito da escrita de si.

Nossa relação com nos mesmos não é transparente nem completa. Não sabemos tudo sobre
nós mesmo.

Eixo integrador de pensamento, sentimento, ações e desejo.

23/10
Autorreferencia deve ser o eu que escreve e que desempenha a ação

24/10
Freud, consciência
Ancestralidade, o que há antes do tempo e sempre estará la

O inconsciente é indestrutível, está no meio do dualismo entre corpo e alma (ânima/mente)

Pulsão e compulsão

Pulsão sempre se liga a uma imagem, dos sonhos dos desejos... se dá por meio de sintomas e
fixações

Concepção dualista: duas substancias irredutíveis uma a outra.

Freud é considerado as vezes dualista por trabalhar sempre com pulsão de vida e pulsão de
morte.
Do ponto de vista da pulsão, não há duas, mas apenas uma pulsão, como se ela sem
comportasse em modos variantes, sendo a mesma dinâmica pulsional sempre, variante em seu
modo de inscrição

Pulsão de morte é constituída por dois fenômenos básicos (algo que pode singularizar a
pulsão de morte, em relação à de vida... polos diferentes).

1 - caráter de repetição: quando existe, dentro da unidade psicofísica, força, energia vital,
existe força que nos faz mover. Na pulsão de morte há reiteração constante de certos vínculos,
representantes do insconsicente. Ela não se deixa reduzir: quem tem fobia, ve sempre a
possibilidade de sofrer aquela fobia. A vontade de tentar anular essa sensação, não faz essa
possibilidade desaparecer. A tendência à repetição fala de como repetimos tendências antigas
e penosas na nossa psiqué (na memória).
O inconsciente tende a descarga absoluta a que a pulsão existe. Repetir os caminhos
desagradáveis sem conseguir se desvencilhar dela. Freud chama de força irreprimível. A
fixação em um pesamento ruim sobre algo que aconteceu, padrões de relacionamentos ruins,
inisitir no mesmo erro constatemente, tudo isso é ação da pulsão de morte. O ato de relevar e
seguir em frente é a pulsão de vida. Freud chama essa prisão de demoníaca.

Pulsão de morte atua como força de repetição, suga a energia, inescapável

2- ambivalência: tendência a manutenção de uma posição sim e não (ama e odeia a mesma
pessoa). Quando está preso a um afeto, a sensação é essa de amor e ódio, quer deixar mas n
consegue, se torna cativo da relação. Ambíguo, pq tem razão para os dois sentimentos
existirem.
Ambivalente e repetitiva, fúria de uma destruição.

Pulsão de vida: autoconservção e erótica. Força que faz o humano procurar manter sua
existência. (há algo em nos que quer voltar ao estado inrogâncio –morte... quanto algo que
quer se conservar – vida)
Pulsão de vida está sempre em relação à pulsão de morte
Eros, princípio de coesão da vida. Assume funções de conservar, religar, reconciliar... o
sagrado também faz isso. Enquanto a pulsão de morte tende a diluir, dissolver, desligar.

Não é perturbadora

Impulso ao estado anterior, todo o tempo: ancestralidade.

O inconsciente aparece em nossos discursos nas nossas relações e ligações

“Consciência aparece no lugar da lembrança”

O eu que escreve, ao invés de ser o que se preenche performaticamente, não seria um eu num
processo de esvaziamento de si mesmo?

Escrita de si performática: como o eu é


Escrita de si autorreflexiva: ao invés de ir se enchendo, vai se esvaziando... pq se a consicena
ta no lugar de uma lembrança de algo que n tem imagem (pq o inconsciente n consegue
imaginar), torna-se a ruina do eu... desmoronamento, ao contrario da outra, que preenche

Mallarmé

Concepção do eu que escreve sobre si, se forma e se cria na essência de si msm. Freud destrói
esse eu. O finitude é crucial

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